Desenvolvimento da
CCFP no início do século XX.
Numeração e
renumeração dos veículos
Ao longo dos tempos, os carros eléctricos apresentaram três
pinturas características: o ocre e o creme que remonta à década de 1950 e
substituíram o amarelo e o branco, que foi adoptado na década de 1930 após um
período em verde e branco.
Com a expansão da rede de carros
eléctricos, passam a ocorrer alguns acidentes que, pela sua frequência, levam a
que o Dr. Lopes Martins proponha, em 15 de Setembro de 1904, a colocação na frente dos veículos de redes de
protecção que impedissem os peões atropelados de rolar para baixo dos carros e
que, a saída dos passageiros se efectuasse, apenas, pelo lado esquerdo.
Mais tarde, seriam adoptadas, para o mesmo efeito, umas grelhas características.
Entretanto, os carros eléctricos tipo Brill semi-convertíveis, eram os
mais numerosos e duradouros de todos os tipos de eléctricos do Porto.
Entre os anos de 1909 e 1912, a CCFP encomendou um total de
65 desses carros à firma “J. G. Brill” de Filadélfia.
"Em 1909, a Brill forneceu 20 eléctricos (números originais 251-270) de
quatro rodas construídos de acordo com o design patenteado "Grooveless
Post" semi-convertível.
As janelas deste tipo abrem para cima, entrando numa "bolsa"
entre o tejadilho e o tecto, dado que o tecto destes eléctricos tem a forma de
"barril".
Em 1910, uma segunda remessa de 25 eléctricos (números originais 271-295) deste tipo foi entregue por Brill. Os salões destes eléctricos eram 33 cm mais compridos, facto que pode ser reconhecido comparando a largura dos pilares dos cantos.
Em 1912 uma terceira remessa de 20 eléctricos (números originais 171-190) foi entregue praticamente igual à segunda remessa. Os salões destes eléctricos eram 7½ cm mais compridos."
Fonte: "tram-porto.ernstkers.nl/"
Em 1910, uma segunda remessa de 25 eléctricos (números originais 271-295) deste tipo foi entregue por Brill. Os salões destes eléctricos eram 33 cm mais compridos, facto que pode ser reconhecido comparando a largura dos pilares dos cantos.
Em 1912 uma terceira remessa de 20 eléctricos (números originais 171-190) foi entregue praticamente igual à segunda remessa. Os salões destes eléctricos eram 7½ cm mais compridos."
Fonte: "tram-porto.ernstkers.nl/"
A partir de meados da década de 1920, as oficinas da CCFP, constroem
novos eléctricos baseados naquele tipo, mas maiores.
Provavelmente também alguns carros de modelos mais antigos,
foram usados para fornecer peças para carros novos ou reconstruídos. Todo
este processo durou cerca de 20 anos e a maioria dos dados sobre as reconstruções
feitas perderam-se.
Existiram os seguintes sub-tipos do Brill:
Brill-23 (carros originais feitos pela Brill em 1909-1912);
Brill-28 (carros novos e reconstruídos feitos pelas oficinas
em 1925-1937);
Brill-32 (carros novos feitos pelas oficinas em 1926-1928);
Brill-28 com Plataforma Salão (carros reconstruídos pelas
oficinas em 1938-1946).
Embora este tipo de eléctrico se apresentasse obsoleto logo
nos anos 30 do século passado, ainda assim a CCFP (antigo nome da STCP) construiu vários usando o mesmo chassis e caixa até aos anos 40,
mais propriamente, entre 1925 e 1938.
A designação destes
carros ficou ligada, ao seu truck rígido Brill 21 E.
Três desses carros com os números 112, 113 e 114, foram
construídos inicialmente pela “Construtora”.
O processo de renovação da frota foi lento e com as
reconstruções posteriores, os carros também ganharam portas de plataforma,
degraus retrácteis e num caso, um telhado mais moderno. Nos anos posteriores, os
degraus passaram novamente a ser fixos.
A maioria dos carros que foram alterados era do tipo
Brill-23, mas, também o foram três carros Ingleses, e com origem na
Construtora, um dos de 6 janelas e outro de 7 janelas.
Do original Brill-23 não existe actualmente nenhum, mas,
vários desses eléctricos modernizados, ainda existem.
O nº 113 dos STCP foi um eléctrico do tipo Constructora de 7
janelas, que tem plataformas prolongadas e os degraus retrácteis – Ed. Tim Boric
O Eléctrico nº 131 dos STCP com degraus retrácteis e portas
de plataforma
O STCP nº 124 – Fonte: Colecção Ernst Kers
O carro eléctrico da foto acima era um Brill-23, com
plataformas estendidas e portas de plataforma, degraus retrácteis e,
excepcionalmente, também com um telhado sem lanternim.
Desde sempre, os veículos tinham associado um número de
identificação que, em alguns casos, sofreram alterações ao longo do tempo.
A situação, em 1934, era a mostrada no quadro seguinte.
A designação de
Serviço de Transportes Colectivos do Porto surge em 1946, com o resgate duma
concessão feita pela Câmara Municipal do Porto a um grupo de empresários, para
o transporte de pessoas. Esta concessão durou 40 anos e cresceu sempre durante
esse período.
Construção de
viaduto em S. Mamede de Infesta, em 1934, quando um Brill 28 com o nº 230
passava no local
Aquele momento da
transição de detentor da concessão foi escolhido para ser feita uma renumeração
profunda da frota.
Brill-23, Brill-28, Brill-28 com plataforma salão (7 Janelas) e Brill 32 (italiano)
Brill-23 (23 lugares
sentados)
Em Fevereiro de 1940, havia ainda 38 eléctricos Brill-23.
Quando o STCP assumiu em 1946, ainda 27 carros permaneceram
do tipo Brill-23, em parte ainda com antigos equipamentos elétricos.
Eles foram renumerados entre 120-146.
Uma parte foi depois reconstruída pela STCP como já vimos.
Brill-23 com nº 143
Carro elétrico n.º 122, em S. Francisco, EUA, em 1983 – Cortesia “Porto Desaparecido” (facebook.com/)
O carro elétrico da foto acima serviu na cidade do Porto,
até ser adquirido pela americana "San Francisco's Municipal Railway",
no final da década de 1970. Nos dias de hoje, presta serviço em Dallas.
Atendendo à numeração, deverá ser um “Brill-23”.
Um Brill-23 com o nº 128, em Arca d’Água - Ed. Porta Nobre
Na foto acima, um dos eléctricos que foram adquiridos novos, em
Filadélfia, entre 1909 e 1912.
Brill-28 (28 lugares
sentados)
Quando o STCP assumiu em 1946, havia 49 carros Brill-28,
recebendo os números 150-168 e 170-199.
Se os carros eram construções totalmente novas ou se eram
reconstruídos dos carros Brill-23, não se sabe exactamente.
Brill 28 com o nº 198 (adquirido em 1912) e, atrás, um outro
Brill 28 com o nº 188 (adquirido em 1910)
Na foto acima, o carro eléctrico da linha 8 manteve o número
durante a renumeração, enquanto o da linha 7, com o nº 188, antes tinha o nº
288.
Brill-28, nº 191. Antes era o nº 291, adquirido em 1910
Brill-28 com
plataforma salão
Em muitos aspectos, semelhantes ao Brill-28, estes carros
tinham plataformas mais longas que aumentavam a capacidade de passageiros em
pé. Esta característica, presente antes apenas nos eléctricos Brill de bogie de
1926 a 1928, pode ser facilmente reconhecida pelas janelas estreitas perto das entradas. Mas foram instalados também
truks extendidos (base das rodas de 2,25 m em lugar de 2,15 m) e freios de ar.
No total, foram renumerados 25 destes carros pelo STCP 169 e
200-223.
O STCP converteu o Brill-28 nº 160 para este tipo também.
Mais tarde, em muitos deles, embora não em todos, foram colocadas luzes
traseiras e portas em lugar de grelhas retractéis.Esta série constituía o tipo mais numeroso em circulação nos últimos anos do sistema de eléctricos clássicos no Porto.
Nº 203, Brill-28 com plataforma salão
Nº 205, Brill-28
com plataforma salão
Nº 213, Brill-28 com plataforma salão
Nº 218, Brill-28 com plataforma salão
Nº 220, Brill-28 com plataforma salão
Brill-32 (32 lugares sentados) ou Italianos (8 Janelas)
Em 1927/8 as oficinas da CCFP construíram esta série de 12
carros eléctricos de quatro rodas. Sob muitos aspectos são semelhantes aos do
tipo Brill-28, sendo um pouco mais longos porque tem um salão com oito janelas
em lugar de sete. Os seus motores originais com 55 hp foram substituídos pelo
tipo italiano com motores de 68 hp. Esta foi a origem do seu apelido
"italianos". Na renumeração dos STCP o nº 250 está no museu de
Massarelos. Os 254 e 260 foram para os EUA e os 252 e 258 encontram - se em
Buenos Aires (Argentina).
“De uma série de 12
veículos construídos nas oficinas da “Companhia Carris de Ferro do Porto”,
conhecidos por “italianos” devido à
origem dos motores, de 32 lugares sentados com distribuição 2+2 e 2 lugares nos
cantos, revestidos a palhinha. Das principais características destacam-se os 2
motores Companhia Generale Ellectricita (CGE) e Combinadores General Electric
(GE) B 54 E”.
Fonte: Engº Fernando Pinheiro Martins
Carro Eléctrico nº 250, Brill-32
Parece ser um “Italino” (Brill-32)
O Eléctrico da foto acima que se vê a subir na década de 50
do século XX a Rua dos Clérigos, com a identificação nº 19 do percurso, fazia a
ligação da Praça da Liberdade com Matosinhos, via Palácio.
Parece ser um “Italino” (Brill-32) da linha 4, ligando
a Praça da Liberdade a Pereiró (via Carvalhosa), na década de 1940
Inglês (7 Janelas)
“Veículo Inglês nº 247 de 1925, com 23 lugares
sentados de distribuição 2+1 (uma fila de dois lugares ao comprimento do
veículo e outra de um, separadas por um corredor), bancos em palhinha e de 7
janelas”.
Fonte: Engº Fernando Pinheiro Martins
Carro Inglês nº 247
Carro Inglês, nº 205 na Praça da Liberdade c. 1912/3 –
Colecção Ernst Kers
Já em 1909 a CCFP tinha ordenado a compra de cinco carros
com 23 lugares de passageiros em bancos transversais, à UEC de Preston, na
Inglaterra, observando-se um exemplar na foto acima. De notar que este modelo originalmente tinha a frente sem curvatura, tendo-a ganho nos exemplares que foram posteriormente reconstruídos já com os STCP.
A numeração original era 202-206, mas já em 1913 foi
transformada em 296-300. Os equipamentos eléctricos vieram da
Siemens-Schuckert.
Com a renumeração da CCFP em 1946 passaram a 175, 170, 247,
171 e 267. A STCP voltou a renumerar e os veículos ficaram numerados de 115 a 119.
Excepto para os 117 e 118 que também tem ampliado
plataformas salões. Apenas o 119 conseguiu portas em vez de portas dobráveis.
O 115 e o 119 foram retirados em 1967, o 117 em 1973, o 116,
após um acidente, no final de 1976. O 118, que funcionou até a década de 1980,
sobrevive como 247 no museu de Massarelos.
Carros Eléctricos de Bogie
Bogie
Um bogie, bogia
ou truque (do inglês: truck) constitui um conjunto de rodas, sapatas de freio,
rolamentos, molas, eixos, cilindros de freio, barras estabilizadoras entre
outras coisas. Todos os veículos ferroviários que têm dois ou mais conjuntos de
rodas possuem bogies. Os carros e vagões antigos não dispunham de bogies e eram
montados apenas com dois eixos (quatro rodas), mas com o progresso das estradas
de ferro surgiu a ideia de colocar a caixa principal do vagão sobre dois
veículos independentes pequenos, denominados "bogies".
Bogie Americano (10 Janelas) de 1904
Carro Eléctrico nº 249
“O carro 249 foi o
primeiro carro com bogies no Porto. Foi encomendado em Junho de 1904, à firma
J. G. Brill, tendo sido entregue em 1905. Tinha dois bogies Brill 27 G1 de
rodas iguais e quatro motores, um por eixo. Em 1960 esses bogies foram,
temporariamente substituídos por bogies similares aos dos carros eléctricos 270
e 277. Os quatro motores iniciais foram substituídos por dois motores GE 270 de
68 HP, um por bogie.
Em face do resultado
satisfatório conseguido com este carro em linhas com pequenos declives, a
C.C.F.P. decidiu adquirir trucks à companhia alemã Bergische Stahl Industrie of
Remscheid (BSI) que, em 1920, conseguiu licença da firma Brill, com os quais
foram construídos, entre 1926 e 1928, os oito carros, 270 a 277, Brill 40 com
bogies. Estes carros tinham dez janelas de cada lado e 40 lugares sentados.
Embora construídos vinte anos mais tarde eram, com pequenas alterações, cópias
perfeitas do carro 249.
O facto destes carros
terem apenas dois eixos motores, suportando cada um deles apenas 60% da carga
do bogie, limitava muito o seu emprego, devido aos arranques mais difíceis em
declives acentuados e com o tempo húmido. As suas plataformas tinham portas em
vez de cancelas e o seu equipamento eléctrico era GE com motores de 55 HP”.
Fonte: Engº Fernando Pinheiro Martins
Carro Eléctrico nº 249
Em Outubro de 1972 este veículo foi vendido ao Rockhill
Trolley Museum (nos EUA), onde ainda hoje se encontra.
Brill-Bogie de anos
1926/8
Carro Eléctrico nº 273
Em 1926, foram construídos dois eléctricos com bogies nas
oficinas da CCFP. Sob vários aspectos eram iguais ao carro de bogie de 1904
fornecido por Brill. As diferenças mais significativas eram os bogies de
tracção máxima e as plataformas extendidas com portas (plataformas salão).
Ambos os eléctricos (numerados 200-201) sobreviveram ao incêndio da Boavista.
Em 1928 foram construídos mais seis eléctricos deste tipo,
ligeiramente mais compridos, mais largos e mais pesados. Foram numerados pela
CCFP de 268-273. Os STCP renumeraram os 268-269 em 274-275 e os 200-201 em
276-277. Esta série fazia serviço sobretudo nas mesmas linhas que os Belgas e
os Bogie-fumistas.
A maioria dos eléctricos desta série desapareceu das ruas com
o corte da linha 1 e o encerramento da linha 19, em 1993, e o encerramento da
linha 1, em 1994. Só o 277, fazia alguns serviços extra na linha 18 entre a
Boavista e a Foz durante o Verão de 1995.
Actualmente, o carro eléctrico que transitou pelas ruas da
cidade do Porto, com o nº 273, é desde 1995, pertença do espólio do National
Tramway Museum, em Crich, na Inglaterra, após ter sido vendido, naquele ano,
pelo STCP.
Com poucas alterações sofridas, desde 1928, além de uma
actualização de seus motores, foi sujeito a duas mudanças de pintura.
Carro Eléctrico nº
274 e Atrelado nº 1 de 1908
“Veículo construído no
ano de 1928, nas oficinas da “Companhia Carris de Ferro do Porto”, sendo uma
cópia do primeiro carro de bogies adquirido à empresa americana “John George
Brill Company, Ltd em 1904. Veículo de 40 lugares e 10 janelas e com mais de 17 toneladas. Das principais
características destacam-se os 2 motores The British Thomson Houston BTH e
combinadores Siemens Schukert.
O atrelado é idêntico
ao Carro Eléctrico mas sem o trólei.
De referir ainda a
comodidade oferecida aos passageiros devido à suspensão destes veículos”.
Fonte: Engº Fernando Pinheiro Martins
Carro Eléctrico nº 274 com atrelado nº 1
Nº 275 Bogie Americano (10 Janelas) (32 pessoas sentadas)
Carro Eléctrico nº 277 Bogie Americano (10 janelas)
Bogie Americano 10 janelas, em frente ao palacete da família
Moreira, na Avenida Montevideu
Sem comentários:
Enviar um comentário