Em 1858, Albino Francisco de Paiva Araújo não consegue a autorização da «concessão para estabelecer um caminho-de-ferro dos denominados Americanos», embora esta tenha sido obtida pelo Barão da Trovisqueira (também conhecido por ter presidido vários anos à Câmara de V. N. de Famalicão) em 1870, cerca de dez anos depois do primeiro pedido.
Um decreto de 15 de
Agosto de 1870 definia, por meio de cláusulas, as condições em que lhe era
dada, ou à empresa que ele representasse, autorização para estabelecer à sua
custa, na estrada pública entre a cidade do Porto e a povoação da Foz, esse
meio de transporte em via-férrea.
Partiria da Porta
Nova, em Miragaia, por nessa altura ainda se trabalhar na abertura da Rua Nova
da Alfândega.
Acontece, que não tardou que a referida concessão passasse
para a posse de José Dionísio de Melo e Faro e António Tavares Basto.
“Em 1873 era autorizado
um ramal que principiando no lado norte do Largo dos Mártires da Pátria seguia
toda a Rua da Restauração até entroncar na Alameda de Massarelos na citada
via-férrea desta cidade à Foz e a Matosinhos. A empresa que recebeu por
transferência do barão da Trovisqueira a exploração da linha marginal e do
ramal tomou o extenso nome de Companhia Carril Americano do Porto à Foz e
Matosinhos. A inauguração de tão importante serviço público foi em 15 de
Maio de 1872, um ano antes de idêntico acontecimento se assinalar em Lisboa…
…Só em Agosto do
ano seguinte (1874) seria assinado, nos Paços do Concelho, o contrato por meio
do qual o negociante Vieira de Castro e o engenheiro Evaristo Nunes Pinto
podiam estabelecer o caminho-de-ferro pelo sistema americano através das ruas
da cidade, ligando bairros entre si e a estação do caminho-de-ferro de norte e
sul com o centro da cidade. (Nascia a Companhia Carris de Ferro do Porto)”.
Fonte - Artigo de J. Fernando Lopes In: portoarc.blogspot.pt
Carro “americano” foi o nome dado em Portugal em meados do
século XIX a um meio de transporte ligeiro colectivo de passageiros, precursor
do carro elétrico. Também se movia sobre carris, mas por tracção animal. Os
primeiros foram construídos nos Estados Unidos, daí o nome de “americano”, pelo
qual eram muitas vezes conhecidos.
Prestou o seu serviço à cidade do Porto, entre 1872 e 1904.
No outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos em 1832, os
“americanos” faziam o percurso Nova Iorque-Harlem, e em Nova Orleães em 1834. O
fenómeno do “americano” iria propagar-se pela Europa (Londres, Berlim, Paris,
etc.).
Inicialmente, a linha férrea sobre a qual deslizava era
saliente, transtornando a circulação pedestre e provocando acidentes.
Os “americanos” acabariam, para obstar aquela situação, por
se movimentarem sobre carris embutidos no pavimento (trâmueis, de tramway) em
1852, uma invenção de Alphonse Loubat.
Este tipo de transporte assente no carril (sendo este
elemento tecnológico o elemento facilitador para o incremento da velocidade),
impôs a normalização do pavimento urbano.
A tracção era efectuada por muares ou cavalos, tornando-se
um transporte urbano indicado para operar em zonas densamente povoadas.
O Carro Americano no Museu do Carro Eléctrico
“…estes carros (os americanos) eram pintados de cores diferentes e
iluminados por velas de estearina, colocadas nos cantos superiores direitos,
vindo mais tarde a ser usado o petróleo na sua iluminação. No período da noite
a luz transparecia através de vidros de diferente colorido, de acordo com o seu
destino. De dia, o destino ia indicado numa chapa".
Fonte: Wendel Reis
em O Tripeiro, Série V, Ano 1, em 1945
No “Museu dos Transportes” o último “americano” – Fonte:
portoarc.blogspot.pt
O decreto de 15 de Agosto de 1870 fixa as cláusulas e
condições mediante as quais dá autorização para se estabelecer na estrada
pública, entre a cidade do Porto e a povoação da Foz, podendo prolongar-se até
Matosinhos, um caminho-de-ferro para transportes de passageiros e mercadorias,
servido por cavalos.
Um novo decreto de 27 de Dezembro de 1870 determinava a
anulação da concessão, se até 30 de Junho de 1872 não estivesse concluída e
entregue à exploração.
No Porto, este serviço teve abertura provisória em Março de
1872, e os veículos faziam a viagem da porta da Alfândega Nova até ao Castelo
da Foz (o primeiro troço inaugurado) em cerca de 15 minutos.
A exploração foi executada por uma empresa organizada, que
tinha tomado o nome de “Companhia Carril Americano do Porto à Foz e
Matosinhos”, a “Companhia de
Baixo”, e que explorava ainda, um ramal de ligação que começando a norte da
Cordoaria, e seguindo pela Rua da Restauração, acabava em Massarelos.
Anúncio no Comércio do Porto em 7 de Março de 1872
“Jornal do Porto” 10 de Março de 1872
A 15 de Maio, era inaugurada a ligação entre o Porto e a
margem esquerda do rio Leça.
Noticiava o «Diário da Tarde» que, na chegada a Matosinhos, ocorrera "um «lunch» de 100
talheres, em casa do sr. comendador João José Reis."
Por seu lado, “O Comércio do Porto” narrava que depois de
terem saído da Alfândega Nova, pelas 11 horas e meia, os veículos puxados a
cavalos, transportando um conjunto de ilustres convidados, ao passarem na Foz
do Douro, o Castelo de S. João da Foz salvou com artilharia o cortejo e a Banda
de Infantaria 5, que ia num dos carros, tocou o hino de Sua Majestade D. Luís.
Refere ainda aquela notícia que dois dos carros chegaram a descarrilar as rodas
dianteiras durante o percurso. Porém sem qualquer problema, a não ser o atraso
de alguns minutos.
A propósito do mesmo acontecimento, o “Jornal do Porto” de
16 Maio 1872, na sua página 2, contava:
O almoço referido, na notícia acima, decorreria no palacete
cedido, para o efeito, por João José dos Reis (1820-1888), 1º visconde (1873) e
depois 1º conde (1880) de S. Salvador de Matosinhos. Um capitalista com
negócios no Brasil, onde se encontrava à data da sua morte tendo, todavia, sido
o seu corpo transladado para Matosinhos, como tinha sido seu desejo.
Por cá, fundou diversas companhias de seguros: Garantia,
Confiança e Fidelidade, além da Companhia Comércio e Lavoura. Foi ainda, um
benemérito de obras de cariz assistencial em Matosinhos, no Porto e, também, em
Lisboa.
No Brasil, para lá de ter presidido a grandes empresas, foi
o fundador do Brasilian and Portuguese Bank, depois chamado English Bank of Rio
de Janeiro, com a sua sede principal em Londres.
Entre 25/10/1886 e 9/7/1887, João José dos Reis esteve em
Matosinhos, pela última vez, após 21 anos de ausência no Brasil. Na ocasião, junto
do seu palacete, no Largo do Areal, criou uma creche e, juntamente com outras
personalidades fundou, em Matosinhos, a Escola João Gonçalves Zarco.
O Largo do Areal desapareceu com as obras de expansão do
Porto de Leixões, após execução do plano de 1955. Situava-se, imediatamente,
antes da Ponte de Pedra, de 19 arcos, que fazia o atravessamento do rio Leça.
Localizavam-se neste largo a Adega do Areal e o palacete do conde de S. Salvador
de Matosinhos, que acabaria por ser a sede da Legião Portuguesa.
Palacete do conde de S. Salvador de Matosinhos, a meio da
foto. Mais atrás, divisa-se o palacete do conde do Alto do Mearim
Palacete do conde de S. Salvador de Matosinhos pronto a ser demolido, situado no Largo do Areal, no terminos da Rua do Conde do Alto do Mearim
No anteriormente referido Largo do Areal, começava a Alameda de Matosinhos que se estendia para lá da ponte do eléctrico e, a meio, apresentava a estátua de Passos Manuel que, mais tarde, foi transferida para a Praça da República.
Estátua de Passos Manuel, na Avenida da República, com a Rua de Serpa Pinto, arborizada, à sua direita
O sucesso protagonizado pelo novo transporte foi imenso,
conforme noticiava o “Jornal do Porto”, em 21 de Maio, na pág. 2.
Desde 24 de Maio de 1872 os carros americanos, nas suas viagens do Porto para a Foz e Matosinhos, iniciam a viagem a partir da Rua dos Ingleses e não, como até aí, da Alfândega Nova.
Anúncio no “Jornal do Porto” em 22 de Junho de 1872
A 27 de Março de 1873, é atribuída pela Câmara do Porto a
concessão de se estabelecer o caminho-de-ferro pelo “Sistema Americano” pelas
ruas da cidade, atribuída a um grupo constituído por António Manuel Lopes
Vieira de Castro, e Evaristo Nunes Pinto e surge a “Companhia Carris de
Ferro do Porto”, a “Companhia de Cima”.
Nos meses e anos próximos seria feita a exploração de linhas
de transporte até Campanhã, Bolhão e Aguardente (actual praça do Marquês de
Pombal), assim como o serviço entre a Praça de Carlos Alberto e Cadouços, na
Foz do Douro, via rotunda da Boavista e Fonte da Moura, mais tarde estendido a
Matosinhos.
“O primeiro serviço
público de transportes para Paranhos foi estabelecido no ano de 1873 por meio
dos carros americanos que iam do Bolhão ao Largo da Aguardente e da Praça de D.
Pedro ou do Carmo (frente à igreja) ao Carvalhido”.
Fonte: Horácio Marçal In S. Veríssimo da Paranhos
Em 12 de Agosto de 1874, ocorre a abertura duma linha desde
a Praça Carlos Alberto até Cadouços na Foz, via Boavista e Fonte da Moura, pela
“Companhia
Carris de Ferro do Porto”, que viria a ficar conhecida por “Companhia de Cima”, na sequência da
concessão atribuída ao grupo constituído por António Manuel Lopes Vieira de
Castro, e Evaristo Nunes Pinto.
Esta nova companhia já tinha estatutos aprovados desde
Agosto de 1873.
À direita da gravura, na Praça da Batalha, c. 1900, observa-se um americano - Ed. Leopoldo Wagner, In "Álbum do Porto"
A seguir está a cópia da notícia saída no Jornal do Porto,
sobre a inauguração do Americano entre o Carmo e Cadouços em 1874.
Notícia do “Jornal do Porto” em 13 de Agosto de 1874
Para complemento da notícia anterior o jornal inseria o menu
do repasto que se seguiu.
“Jornal do Porto”
O “Americano
Imperial” tinha bancos sobre o tejadilho – Fonte: portoarc.blogspot.pt
A foto anterior foi tirada no início da Rua D. Pedro.
Em 13 de Junho de 1875 a linha dos carros americanos para
Campanhã foi aberta. Esta linha seguia da Praça D. Pedro uma rota pelas ruas D.
Pedro, do Bolhão e Santa Catarina. Brevemente todo o percurso da Foz (Cadouços)
para Campanhã seria feito por uma linha.
A linha do Bolhão à Aguardente foi estendida em 12 de Maio
de 1877 à Cruz das Regateiras (Hospital Conde de Ferreira).
Em 1882 a linha da Praça D. Pedro para Ingleses (Infante)
foi aberta, e a exploração feita como extensão da linha de Costa Cabral.
Fontes: Wendel Reis
em O Tripeiro, Série V, Ano 1, em 1945; portoarc.blogspot.pt
“Jornal do Porto” 15 de Maio de 1877
Americano subindo a Rua dos Clérigos – Ed. Aurélio Paz dos
Reis; Fonte: Colecção CPF
“Na foto acima o Americano iniciando a subida da Rua dos
Clérigos com seis mulas e outro na Praça da Liberdade acrescentando outras para
ajudar a subir a rua”.
Com a devida vénia a
Rui Cunha; In: portoarc.blogspot.pt
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