De recordar que a praia da Granja foi descoberta, no século
XVIII, pelos monges Agostinhos de Grijó e foi lá que os frades Crúzios do
Mosteiro de Grijó construíram a Quinta da Granja, que habitavam nos meses de
Verão.
As benfeitorias introduzidas na propriedade, em determinado momento cessaram, no tempo de D. José I, que influenciado pelo Marquês do Pombal, solicitou ao papa Clemente XIV, que extinguisse oito mosteiros, entre os quais o de S. Salvador de Grijó.
Os seus bens e rendas passaram, então, para a órbita do convento de Mafra e as chaves foram entregues ao cura de Grijó.
As instalações dos crúzios em Grijó e na Granja ficariam, a partir desse momento, ao abandono.
O mosteiro de Grijó teria sido aproveitado para hospital de guerra pelos miguelistas na luta fraticida entre D. Miguel e D. Pedro.
Com a vitória dos liberais, segundo o Édito Real promulgado por D. Maria II, em 1835, foi permitido ao Estado apropriar-se dos bens móveis e imóveis dos mosteiros.
No caso da Quinta da Granja seria arrematada em hasta pública por Ana Joaquina de Melo, que ao fim de três anos a vendeu a António Alves que a teve como sua propriedade durante vinte e um anos.
Então, foi comprada por Frutuoso José da Silva Ayres (1803-1881), conhecido na cidade do Porto por possuir um armazém de vinhos e um botequim junto da muralha, na Porta de Carros – o Botequim do Frutuoso.
Aquando da compra, Frutuoso José da Silva Ayres tinha 57 anos, era oriundo de Vouzela, morava na Rua do Bonjardim e tinha casado na igreja de Santo Ildefonso, em 1829, com Maria Maximina de Gouveia Osório Braga.
As benfeitorias introduzidas na propriedade, em determinado momento cessaram, no tempo de D. José I, que influenciado pelo Marquês do Pombal, solicitou ao papa Clemente XIV, que extinguisse oito mosteiros, entre os quais o de S. Salvador de Grijó.
Os seus bens e rendas passaram, então, para a órbita do convento de Mafra e as chaves foram entregues ao cura de Grijó.
As instalações dos crúzios em Grijó e na Granja ficariam, a partir desse momento, ao abandono.
O mosteiro de Grijó teria sido aproveitado para hospital de guerra pelos miguelistas na luta fraticida entre D. Miguel e D. Pedro.
Com a vitória dos liberais, segundo o Édito Real promulgado por D. Maria II, em 1835, foi permitido ao Estado apropriar-se dos bens móveis e imóveis dos mosteiros.
No caso da Quinta da Granja seria arrematada em hasta pública por Ana Joaquina de Melo, que ao fim de três anos a vendeu a António Alves que a teve como sua propriedade durante vinte e um anos.
Então, foi comprada por Frutuoso José da Silva Ayres (1803-1881), conhecido na cidade do Porto por possuir um armazém de vinhos e um botequim junto da muralha, na Porta de Carros – o Botequim do Frutuoso.
Aquando da compra, Frutuoso José da Silva Ayres tinha 57 anos, era oriundo de Vouzela, morava na Rua do Bonjardim e tinha casado na igreja de Santo Ildefonso, em 1829, com Maria Maximina de Gouveia Osório Braga.
Morrendo-lhe a esposa, abandonou os seus
negócios na cidade do Porto e desterrou-se na Granja, onde idealizou promover a
urbanização da Quinta da Granja, ao mesmo tempo que se dedicava à actividade
agrícola.
Em 1864, o comboio vindo de Lisboa chegava às Devesas e a linha cortava a propriedade em duas partes.
O plano de urbanização de Frutuoso José da Silva Ayres compreendia duas ruas longitudinais Norte/Sul, paralelas à via-férrea e duas outras transversais na direcção Poente/Nascente, tendo oferecido às autoridades civis os terrenos necessários à abertura das artérias.
Eram do empreendedor do plano de urbanização as primeiras sete casas, que mandou construir para cada um dos seus sete filhos, localizando-se no começo da estrada de ligação da Praia da Granja à Praia da Aguda.
Em 1864, o comboio vindo de Lisboa chegava às Devesas e a linha cortava a propriedade em duas partes.
O plano de urbanização de Frutuoso José da Silva Ayres compreendia duas ruas longitudinais Norte/Sul, paralelas à via-férrea e duas outras transversais na direcção Poente/Nascente, tendo oferecido às autoridades civis os terrenos necessários à abertura das artérias.
Eram do empreendedor do plano de urbanização as primeiras sete casas, que mandou construir para cada um dos seus sete filhos, localizando-se no começo da estrada de ligação da Praia da Granja à Praia da Aguda.
Jorge Vilas (jornalista)
A partir do século XVIII, a Santa Sé tinha instituído o título episcopal de Betsaida, uma sede titular já suprimida da Igreja Católica.
A tudo que se passou na Granja, até ao início da década de 1880, assistiu Frutuoso José da Silva Ayres, já que no dia 9 de Março de 1881, quando apanhou um comboio para se dirigir ao Porto para visitar um dos filhos, que fazia anos, morreu na carruagem, sem que alguém se tivesse apercebido.
Frutuoso José da Silva Ayres tinha estado ligado a diversas
instituições como a Ordem do Carmo, a Misericórdia do Porto, e o Colégio de
Nova Sintra e era uma personagem ilustre da cidade.
A Granja, naqueles tempos, ainda antes da viragem de séculos, já era muito procurada pelas élites sociais.
Em 1876, Ramalho Ortigão publica “As Praias de Portugal”, onde faz um retrato da Granja, entre o elogio e a crítica, de extraordinária perspicácia: “A Granja é uma povoação diamante, uma estação bijou, uma praia de algibeira (…) ao chegar tem a gente vontade de a examinar ao microscópio; ao partir apetece levá-la, entre as camisas, como um sachet”.
Também, em 1876, foi celebrado a 7 de Setembro, na Granja, o Pacto da Granja, onde surgiu um novo partido político, o Partido Progressista, como resultado da junção do Partido Histórico e do Partido Reformista, liderado por Anselmo José Brancaamp, como oposição ao Partido de Fontes Pereira de Melo, o poderoso Partido Regenerador.
Já em pleno século XX, Sophia de Melo Breiner (1919-2004) teve a sua vida ligada à Granja, local onde passava os meses de veraneio e conheceu o seu companheiro, durante 40 anos, o Dr. Francisco Sousa Tavares (1920-1993) e escreveu algumas poesias e contos, a partir da conhecida “Casa Branca”, fronteira ao mar.
Já em pleno século XX, Sophia de Melo Breiner (1919-2004) teve a sua vida ligada à Granja, local onde passava os meses de veraneio e conheceu o seu companheiro, durante 40 anos, o Dr. Francisco Sousa Tavares (1920-1993) e escreveu algumas poesias e contos, a partir da conhecida “Casa Branca”, fronteira ao mar.
“Era uma vez uma casa
branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete janelas e uma
varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia
onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e
roxas”.
A Menina do Mar - Sophia de Melo Breiner
Aos 25 anos, numa carta dirigida a Miguel Torga, Sophia de
Mello Breyner confessava:
“A Granja é o sítio do mundo de que eu mais gosto. Há aqui qualquer
alimento secreto”.
Em 1891, a Granja receberia uma estimada personalidade da corte, D. Maria Pia (1847-1911), para passar uma breve temporada, quando
seu filho Carlos já era rei, desde 28 de Dezembro de 1889, por morte de seu pai e, por isso, Maria Pia já estava viúva.
Dez anos antes, com o seu marido, D. Luís I, já tinha visitado o lugar, mas em condições pessoais muito diferentes.
No início de Outubro de 1891, chegava à Granja acompanhada
pelo seu filho e Duque do Porto, o infante D. Afonso (1865-1920), para passar
um período de descanso, tendo ocupado a “Villa Amélia”, que funcionaria
como Paço Real.
Esta residência era a morada de veraneio do capitalista
Henrique Burnay (1838-1909), a quem D. Luiz tinha atribuído, em 1886, o título
de conde – Conde de Burnay.
A atribuição da denominação de “Villa Amélia”, àquela morada, homenageava
a condessa Maria Amélia Carvalho de Burnay.
Junto, situava-se a capela de Santa Cruz.
“Villa Amélia”, do conde de Burnay, na Granja, junto da estação ferroviária. Pelo pinhal, à esquerda, passaria a Rua da Quinta do Bispo
A “Villa Amélia” era um típico chalet, de planta em L e com
as águas dos seus telhados com uma inclinação acentuada e as empenas
triangulares.
Um parque anexo dotado de pequenas pontes e um lago foi
gizado no pinhal das Lagoinhas.
A condessa de Burnay, já na condição de viúva, ordenaria uma intervenção no seu chalet, a pedido do seu filho Eduardo, executada, em parte, por
Álvaro Miranda, que tinha uma oficina de marcenaria na Granja e que lhe daria o
aspecto do típico solar português. A inauguração do dito solar ocorreria no dia 22 de Agosto de 1916.
Álvaro Pinto de Miranda é conhecido, também, por ter
colaborado com o desenhador Manuel Duarte no projecto da casa-oficina do pintor
António Carneiro, um seu amigo, entre 1925-1930, ao Bonfim, e tido, ainda,
intervenções em várias outras vivendas na Granja, inclusive no restauro do Hotel
da Granja.
Inaugurado, em 1876, pelo seu promotor, Henrique Burnay
(1838-1909), o Hotel da Granja, também conhecido como Grande Hotel, após servir
durante dezenas de anos, acabaria por ficar ao abandono ainda no século XX e
seria transformado num condomínio habitacional em 2006.
Evolução do edifício do Hotel da Granja, a partir da intervenção de 1928
Em 1909, o Hotel da Granja é gerido por Frederico Bramão e,
em 1813, já é o seu proprietário.
Em Fevereiro de 1914, o proprietário é Francisco dos Santos
Silva que, nesse ano, solicita autorização para acrescentar mais um andar.
Em 26 de Setembro de 1926, ocorre um incêndio no último piso
do edifício. O hotel encerra.
Em 1 de Março de 1928, é solicitado às entidades competentes,
pelo novo gerente da sociedade proprietária do imóvel, Companhia Hoteleira da
Granja, a execução de obras de recuperação do edifício.
A partir de 1934, era o hotel já explorado por Fernando Lago
pela firma “Fernando Lago & Cia.” que possuía o Grande Hotel de Espinho.
Em 1947, Fernando Lago compra o Hotel da Granja e pede
licenciamento de obras em 1948.
Após falecimento de Fernando Lago, em 1970, o Hotel da
Granja já pertence à firma “Fernando Lago, Sucessores”.
Nas
duas últimas quatro décadas o hotel acabaria por encerrar.
Hotel da Granja encerrado
Fachada posterior do antigo Hotel da Granja, após a
intervenção de “Manuel Correia Fernandes, Arquitecto & Associados, Lda”
Junto da Vila Amélia localizava-se a Capela de Santa Cruz da
Granja.
A Irmandade de Santa Cruz da Praia da Granja, que hoje
administra a capela, sucedeu à Pia Associação de Santa Cruz da Praia da Granja
criada na Capela de Santa Cruz da Praia da Granja, em 21 de Novembro de 1921,
por D. António Barbosa Leão, bispo do Porto.
Em perspectiva, actual, é visível, à esquerda, a capela de
Santa Cruz e, à direita, o edificado em que se tornou o antigo chalet da
família Burnay que, durante algumas semanas, funcionou como Paço Real - Fonte: Google maps
A “Villa Amélia” onde se hospedou D. Maria Pia e o Duque do
Porto foi, sem dúvida, um dos maiores chalets da Granja, construído antes de
1879, e só tinha rival no denominado chalet do Dr. Forbes (José António Forbes
de Magalhães) construído na mesma ocasião e que, mais tarde, viria a pertencer
à família Albuquerque.
Voltando à visita de Maria Pia, em homenagem ao senhor
infante, a 8 de Outubro, a rainha ofereceu um jantar de gala no «Paço», às
figuras mais importantes das colónias balneares da Granja e de Espinho e,
durante a estadia, foram organizadas as mais brilhantes soirées na Assembleia
da Granja, bazares a favor dos pobres, touradas em Espinho, etc.
Família Burnay, na Granja, em 1890 – Cortesia “Casa de
Mateus”: Ed. Albino Pereira da Silva (Photographo)
Batalha de Fores diante da Assembleia da Granja – Fonte:
Revista Brasil – Portugal, 1 de Outubro de 1912
Em 16 de Outubro de 1891, uma 6ª Feira, Maria Pia passava na
Granja o seu 44º aniversário natalício tendo, para o efeito, recebido, aí, os
cumprimentos das personalidades importantes da cidade do Porto, inclusive do
seu bispo o cardeal D. Américo.
Houve um comboio especial para irem dar os parabéns à
Granja, composto pela máquina 20 e 4 carruagens de 1ª, 3 de 2ª, uma de 3ª e
dois “fourgons”, sendo vendidos 251 bilhetes, incluindo 74 para os internados
na Oficina de S. José, que foram em 3ª classe. A música de Infantaria 18
percorreu a Granja demorando-se no palácio real e na casa dos Condes de Vila
Real.
À data, o conde de Vila Real era D. José Luís de Sousa
Botelho Mourão e Vasconcelos (1843 - 1923), 8.º morgado de Mateus.
O “Jornal do Porto”, de 17 de Outubro de 1891, página 2,
deste acontecimento, não deixaria de dar o devido relevo.
Maria Pia partiria para Lisboa no dia 18 de Outubro de 1891,
um Domingo.
O Porto, a partir de então, ficava aguardando a chegada de
D. Carlos para a inauguração, nos finais do mês seguinte, da Exposição
Industrial do Palácio de Cristal.
Estes acontecimentos tinham como antecedentes o Ultimato
Inglês ocorrido no começo do ano anterior (1890) e a malograda revolução de 31
de Janeiro de 1891.
No fim do século XIX, gente conhecida da alta finança,
economistas, engenheiros, advogados de renome e a élite da sociedade frequentavam
a Praia da Granja.
A referência a essas personalidades e famílias é feita pelo
jornalista Jorge Vilas no texto seguinte.
É o engenheiro António Paes de Sande e Castro, na sua
monografia de 1973, que titulou como “A Granja de Todos os Tempos”, que
referindo-se ao ano de 1969 diz. “A vida agora é bem diferente do que era antes.
Há mais residentes, mas menos veraneantes. Acentua-se, e de que maneira, a
invasão da praia por famílias inteiras que vêm de fora da terra”.