Em 1881, D. Luiz, a rainha Maria Pia e os príncipes
acompanhados do presidente do conselho Fontes Pereira de Melo e do ministro do
reino Thomaz Ribeiro e das obras públicas Hintze Ribeiro visitaram o Porto,
tendo chegado à cidade, à Estação Ferroviária de Campanhã, no ocaso do dia 24
de Novembro de 1881, uma 5ª Feira.
Aquela estação tinha sido inaugurada, em 21 de Maio de 1875,
nos terrenos da antiga quinta do Pinheiro e, por isso, designada por Estação do
Pinheiro até 1877, quando ganhou o nome actual.
Após umas visitas a estabelecimentos de instrução e de
assistência e de terem estado presentes em dois espectáculos de caridade nos
Teatros do Príncipe Real e no Real Teatro S. João, os soberanos, no Domingo
seguinte, seriam recebidos com pompa na Associação Comercial, onde puderam
assistir às obras que decorriam na cobertura metálica do pátio central e na
escadaria.
No dia seguinte, 2ª Feira, aconteceu no Palácio de Cristal
uma sessão magna da Sociedade Humanitária portuense com a distribuição de
diversas distinções aos muitos beneméritos, nos quais se incluíam o rei e a
rainha.
Naquela cerimónia seriam distinguidos, entre muitos outros,
os humildes cidadãos Cego de Maio (José Rodrigues Maio), pescador da Póvoa de
Varzim e Cabo Simão (Simão da Costa Neves), sargento da Companhia de Incêndios
de V. N. de Gaia, cujos feitos ficaram para a posteridade.
O primeiro (ficaria com uma pensão diária de 400 réis, a
cargo do rei), pelos inúmeros salvamentos que efectuou entre a comunidade
piscatória da vila poveira e o segundo (ficaria com uma pensão diária de 400
réis, da responsabilidade da rainha), pelas mesmas razões, mas cujo palco de
actuação foi o rio Douro.
Ambos seriam agraciados, também, com a Ordem de “Torre e
Espada”.
À noite, decorreria na nave do Palácio de Cristal um sarau
musical oferecido aos soberanos pela Associação Comercial, que teria a actuação
do violinista Nicolau Ribas, que seria agraciado, no dia seguinte, com a Ordem
de S. Thiago.
A gravura acima foi publicada na revista “Occidente” (Nº 108
de Dezembro de 1881) e enviada para a sua redacção, em Lisboa, pelo
correspondente artístico presente à visita de Luiz I ao Porto.
Na noite de 3ª feira, ainda no Palácio de Cristal,
realizar-se-ia um grande baile, que teve a comparência, para além dos
homenageados, de 4000 convidados.
Para a multidão seria servido um bufete, enquanto a comitiva
real teria à sua disposição o restaurante do Palácio de Cristal.
Sobre este baile, a revista “O Tripeiro” de Maio de 1952,
pág. 26, escreve:
“Baile real, no
Palácio de Cristal: na 1ª quadrilha dançou a Rainha D. Maria Pia com Francisco
Inácio Xavier (presidente da Associação Comercial), D. Luís com a Viscondessa
de Silva Monteiro, D. Carlos com a Viscondessa de Samodães; na 2ª quadrilha dançou
a rainha D. Maria Pia com Visconde de Silva Monteiro, el-rei com a Condessa de
Resende (mãe) e a rainha com o presidente da Câmara e Conde de Samodães”.
No dia 30 de Novembro, 4ª Feira, a comitiva real deslocou-se
numa visita, breve, a Braga.
No dia 1 de Dezembro, 5ª Feira, realizou-se no Paço (Palácio
dos Carrancas) a fundação dos “Albergues Nocturnos do Porto” ficando nomeada
uma comissão provisória com o cardeal bispo do Porto, a presidir e como
secretários, o presidente da Câmara Dr. Correia de Barros e presidente da Junta
geral do Distrito, José Guilherme Pacheco.
Para vogais foram destacados os viscondes da Trindade, de
Silva Monteiro, de Alves Machado, Dr. José Frutuoso Ayres de Gouveia, Joaquim
Pinto da Fonseca, Francisco José de Araújo, Dr. Henrique Carlos Miranda e
Conselheiro Adriano Machado.
Nesse dia, a real comitiva deslocar-se-ia a igreja da Lapa,
a que se seguiria na serra do pilar à inauguração dos trabalhos de lançamento
da ponte metálica, que acabaria por substituir a ponte Pênsil.
Durante a cerimónia, que teve lugar, o rei accionou um botão
que por intermédio de um fio eléctrico, comunicava com uma carga de dinamite
introduzida num maciço rochoso, que explodiu com fragor. Estava, assim, aberto
caminho para a construção da pretendida ponte.
À noite, foi levado a cabo o tradicional baile no Clube
Portuense, que no ano anterior se tinha fundido com a Sociedade Filarmónica Portuense, criando o Grémio
Portuense.
Dia 2 de Dezembro, 6ª Feira, o dia começaria com uma visita
à tenebrosa cadeia da Relação, seguindo-se a presença do rei na nave do Palácio
de Cristal, onde seria servido um “lunch” a centenas de crianças asiladas em
diversos estabelecimentos.
À noite, foi servido no Paço um jantar de despedida para o
qual foram convidados as autoridades da cidade e representantes de instituições
de beneficência.
No Sábado, a família real, numa visita realizada por
caminho-de-ferro até à Régua, desfrutou das deslumbrantes paisagens da região
duriense, tendo o rei ficado alojado no palacete acabado de construir de D.
Antónia Ferreira (Ferreirinha), em Caldas de Moledo.
Dois anos antes, em 1879, já tinha o comboio chegado à
Régua.
No Domingo, regressada ao Porto, a comitiva real embarcada
em Campanhã, seguiria por comboio para Lisboa, sendo acompanhada até à Granja,
por destacadas personalidades da sociedade tripeira.
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