segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

25.142 Arranque de construção de ponte a tiro de dinamite

 
Em 1881, D. Luiz, a rainha Maria Pia e os príncipes acompanhados do presidente do conselho Fontes Pereira de Melo e do ministro do reino Thomaz Ribeiro e das obras públicas Hintze Ribeiro visitaram o Porto, tendo chegado à cidade, à Estação Ferroviária de Campanhã, no ocaso do dia 24 de Novembro de 1881, uma 5ª Feira.
Aquela estação tinha sido inaugurada, em 21 de Maio de 1875, nos terrenos da antiga quinta do Pinheiro e, por isso, designada por Estação do Pinheiro até 1877, quando ganhou o nome actual.
 
 
 

Estação de Campanhã, c. 1900 – Ed. Photo Guedes
 
 
 
Após umas visitas a estabelecimentos de instrução e de assistência e de terem estado presentes em dois espectáculos de caridade nos Teatros do Príncipe Real e no Real Teatro S. João, os soberanos, no Domingo seguinte, seriam recebidos com pompa na Associação Comercial, onde puderam assistir às obras que decorriam na cobertura metálica do pátio central e na escadaria.
 
 

Associação Comercial, em 1881
 
 
 
No dia seguinte, 2ª Feira, aconteceu no Palácio de Cristal uma sessão magna da Sociedade Humanitária portuense com a distribuição de diversas distinções aos muitos beneméritos, nos quais se incluíam o rei e a rainha.
 
 
 

Nave central do Palácio de Cristal
 
 
Naquela cerimónia seriam distinguidos, entre muitos outros, os humildes cidadãos Cego de Maio (José Rodrigues Maio), pescador da Póvoa de Varzim e Cabo Simão (Simão da Costa Neves), sargento da Companhia de Incêndios de V. N. de Gaia, cujos feitos ficaram para a posteridade.
O primeiro (ficaria com uma pensão diária de 400 réis, a cargo do rei), pelos inúmeros salvamentos que efectuou entre a comunidade piscatória da vila poveira e o segundo (ficaria com uma pensão diária de 400 réis, da responsabilidade da rainha), pelas mesmas razões, mas cujo palco de actuação foi o rio Douro.
Ambos seriam agraciados, também, com a Ordem de “Torre e Espada”.
À noite, decorreria na nave do Palácio de Cristal um sarau musical oferecido aos soberanos pela Associação Comercial, que teria a actuação do violinista Nicolau Ribas, que seria agraciado, no dia seguinte, com a Ordem de S. Thiago.
 
 

Lançamento de fogo de vistas (fogo-de-artifício) no Palácio de Cristal, em 1881
 
 
A gravura acima foi publicada na revista “Occidente” (Nº 108 de Dezembro de 1881) e enviada para a sua redacção, em Lisboa, pelo correspondente artístico presente à visita de Luiz I ao Porto.
Na noite de 3ª feira, ainda no Palácio de Cristal, realizar-se-ia um grande baile, que teve a comparência, para além dos homenageados, de 4000 convidados.
Para a multidão seria servido um bufete, enquanto a comitiva real teria à sua disposição o restaurante do Palácio de Cristal.
Sobre este baile, a revista “O Tripeiro” de Maio de 1952, pág. 26, escreve:
 
“Baile real, no Palácio de Cristal: na 1ª quadrilha dançou a Rainha D. Maria Pia com Francisco Inácio Xavier (presidente da Associação Comercial), D. Luís com a Viscondessa de Silva Monteiro, D. Carlos com a Viscondessa de Samodães; na 2ª quadrilha dançou a rainha D. Maria Pia com Visconde de Silva Monteiro, el-rei com a Condessa de Resende (mãe) e a rainha com o presidente da Câmara e Conde de Samodães”.
 
 
No dia 30 de Novembro, 4ª Feira, a comitiva real deslocou-se numa visita, breve, a Braga.
No dia 1 de Dezembro, 5ª Feira, realizou-se no Paço (Palácio dos Carrancas) a fundação dos “Albergues Nocturnos do Porto” ficando nomeada uma comissão provisória com o cardeal bispo do Porto, a presidir e como secretários, o presidente da Câmara Dr. Correia de Barros e presidente da Junta geral do Distrito, José Guilherme Pacheco.
Para vogais foram destacados os viscondes da Trindade, de Silva Monteiro, de Alves Machado, Dr. José Frutuoso Ayres de Gouveia, Joaquim Pinto da Fonseca, Francisco José de Araújo, Dr. Henrique Carlos Miranda e Conselheiro Adriano Machado.
Nesse dia, a real comitiva deslocar-se-ia a igreja da Lapa, a que se seguiria na serra do pilar à inauguração dos trabalhos de lançamento da ponte metálica, que acabaria por substituir a ponte Pênsil.
Durante a cerimónia, que teve lugar, o rei accionou um botão que por intermédio de um fio eléctrico, comunicava com uma carga de dinamite introduzida num maciço rochoso, que explodiu com fragor. Estava, assim, aberto caminho para a construção da pretendida ponte.
 
 
 

Ponte Pênsil, c. 1850
 
 

Construção da ponte Luiz I, em 1885
 
 

Ponte Luiz I, em 1907 – Fonte: HC White Co., Library of Congress; cortesia de Porto Desaparecido
 
 
À noite, foi levado a cabo o tradicional baile no Clube Portuense, que no ano anterior se tinha fundido com a Sociedade Filarmónica Portuense, criando o Grémio Portuense.
Dia 2 de Dezembro, 6ª Feira, o dia começaria com uma visita à tenebrosa cadeia da Relação, seguindo-se a presença do rei na nave do Palácio de Cristal, onde seria servido um “lunch” a centenas de crianças asiladas em diversos estabelecimentos.
À noite, foi servido no Paço um jantar de despedida para o qual foram convidados as autoridades da cidade e representantes de instituições de beneficência.
No Sábado, a família real, numa visita realizada por caminho-de-ferro até à Régua, desfrutou das deslumbrantes paisagens da região duriense, tendo o rei ficado alojado no palacete acabado de construir de D. Antónia Ferreira (Ferreirinha), em Caldas de Moledo.
Dois anos antes, em 1879, já tinha o comboio chegado à Régua.
 
 
 

Gare da Régua, na década de 1880 – Ed. Emílio Biel
 
 
 

Palacete da Ferreirinha, em Caldas de Moledo, Régua – Cortesia de João Pedro Sequeira
 
 
 
No Domingo, regressada ao Porto, a comitiva real embarcada em Campanhã, seguiria por comboio para Lisboa, sendo acompanhada até à Granja, por destacadas personalidades da sociedade tripeira.
 
 

Vendedeiras de doces, junto à Estação de Campanhã, c. 1900

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