domingo, 26 de dezembro de 2021

25.144 Um aniversário natalício passado na Granja

 
De recordar que a praia da Granja foi descoberta, no século XVIII, pelos monges Agostinhos de Grijó e foi lá que os frades Crúzios do Mosteiro de Grijó construíram a Quinta da Granja, que habitavam nos meses de Verão. Mais tarde, a quinta tornou-se propriedade do estado e vendida em sequência da extinção das ordens religiosas, em 1860, a Fructuoso José da Silva Ayres ​(1804-1881), casado com Maria Máxima de Gouveia Osório Braga. É este capitalista que funda a Praia da Granja, tal como a conhecemos, como estância balnear.
O casal teve como filho D. António Frutuoso Aires de Gouveia Osório (Porto, 13 de Setembro de 1828 — Porto, 17 de Dezembro de 1916), bispo titular de Betsaida (na grafia da época bispo de Bethsaida) e arcebispo de Calcedónia, foi um professor de Direito da Universidade de Coimbra, especialista em assuntos penitenciários, e prelado católico que, entre outras funções, foi Ministro da Justiça e Cultos.
Este prelado haveria de ter o seu nome ligado à capela da Granja, como bispo de Betsaida.
A partir do século XVIII, a Santa Sé instituiu o título episcopal de Betsaida, uma sede titular já suprimida da Igreja Católica.
Em 1876, Ramalho Ortigão publica “As Praias de Portugal”, onde faz um retrato da Granja, entre o elogio e a crítica, de extraordinária perspicácia: “A Granja é uma povoação diamante, uma estação bijou, uma praia de algibeira (…) ao chegar tem a gente vontade de a examinar ao microscópio; ao partir apetece levá-la, entre as camisas, como um sachet”.
 
 
Também, em 1876, foi celebrado a 7 de Setembro, na Granja, o Pacto da Granja, onde surgiu um novo partido político, o Partido Progressista, como resultado da junção do Partido Histórico e do Partido Reformista, liderado por Anselmo José Brancaamp, como oposição ao Partido de Fontes Pereira de Melo, o poderoso Partido Regenerador.
Já em pleno século XX, Sophia de Melo Breiner (1919-2004) teve a sua vida ligada à Granja, local onde passava os meses de veraneio e conheceu o seu companheiro, durante 40 anos, o Dr. Francisco Sousa Tavares (1920-1993) e escreveu algumas poesias e contos. A partir da conhecida “Casa Branca”, fronteira ao mar.
 
“Era uma vez uma casa branca nas dunas, voltada para o mar. Tinha uma porta, sete janelas e uma varanda de madeira pintada de verde. Em roda da casa havia um jardim de areia onde cresciam lírios brancos e uma planta que dava flores brancas, amarelas e roxas”.
A Menina do Mar - Sophia de Melo Breiner
 
 
Aos 25 anos, numa carta dirigida a Miguel Torga, Sophia de Mello Breyner confessava:
 
“A Granja é o sítio do mundo de que eu mais gosto. Há aqui qualquer alimento secreto”.
 
 
 
Voltando a D. Maria Pia, que com o seu marido tinha andado pela Granja, dez anos antes, agora, em 1891, aí voltava em condições muito especiais.
Seu filho Carlos já era rei desde 28 de Dezembro de 1889, por morte de seu pai e, por isso, Maria Pia já estava viúva.
No início de Setembro de 1891, chegava à Granja acompanhada pelo seu filho e Duque do Porto, o infante D. Afonso (1865-1920), para passar um período de veraneio balnear, tendo ocupado a “Villa Amélia”, que funcionaria como Paço Real.
Esta residência era a morada de veraneio do capitalista Henrique Burnay (1838-1909), a quem D. Luiz tinha atribuído, em 1886, o título de conde – Conde de Burnay.
A atribuição da denominação de “Villa Amélia”, àquela morada, homenageava a condessa Maria Amélia Carvalho de Burnay.
 
 

“Villa Amélia”, do conde de Burnay, na Granja, junto da estação ferroviária. Pelo pinhal, à esquerda, passaria a Rua da Quinta do Bispo 
 
 

Vista actual do prédio que, outrora, foi a "Villa Amélia" - Fonte Google maps


 
 
A “Villa Amélia” era um típico chalet, de planta em L e com as águas dos seus telhados com uma inclinação acentuada e as empenas triangulares.
Um parque anexo dotado de pequenas pontes e um lago foi gizado no pinhal das Lagoinhas.
Já no século XX, teria uma intervenção a mando de Maria Amélia Carvalho Burnay, a pedido do seu filho Eduardo, executada, em parte, por Álvaro Miranda, que tinha uma oficina de marcenaria na Granja e que lhe daria o aspecto do típico solar português. Junto, situava-se a capela de Santa Cruz.
Álvaro Pinto de Miranda é conhecido, também, por ter colaborado com o desenhador Manuel Duarte no projecto da casa-oficina do pintor António Carneiro, um seu amigo, entre 1925-1930, ao Bonfim, e tido, ainda, intervenções em várias outras vivendas na Granja, inclusive no restauro do Hotel da Granja.
Inaugurado, em 1876, pelo seu promotor, Henrique Burnay (1838-1909), o Hotel da Granja, também conhecido como Grande Hotel, após servir durante dezenas de anos, acabaria por ficar ao abandono ainda no século XX e seria transformado num condomínio habitacional em 2006.


 
 

Publicidade ao Hotel da Granja, In Diário Ilustrado de 6 de Julho de 1877


 

Evolução do edifício do Hotel da Granja, a partir da intervenção de 1928



 

Publicidade ao Grande Hotel da Granja, em 1913



Em 1909, o Hotel da Granja é gerido por Frederico Bramão e, em 1813, já é o seu proprietário.
Em Fevereiro de 1914, o proprietário é Francisco dos Santos Silva que, nesse ano, solicita autorização para acrescentar mais um andar.
Em 26 de Setembro de 1926, ocorre um incêndio no último piso do edifício. O hotel encerra.
Em 1 de Março de 1928, é solicitado às entidades competentes, pelo novo gerente da sociedade proprietária do imóvel, Companhia Hoteleira da Granja, a execução de obras de recuperação do edifício.
A partir de 1934, era o hotel já explorado por Fernando Lago pela firma “Fernando Lago & Cia.” que possuía o Grande Hotel de Espinho.
Em 1947, Fernando Lago compra o Hotel da Granja e pede licenciamento de obras em 1948.
Após falecimento de Fernando Lago, em 1970, o Hotel da Granja já pertence à firma “Fernando Lago, Sucessores”.
Nas duas últimas quatro décadas o hotel acabaria por encerrar.



Hotel da Granja encerrado
 
 

Fachada posterior do antigo Hotel da Granja, após a intervenção de “Manuel Correia Fernandes, Arquitecto & Associados, Lda”
 
 

  

Junto da Vila Amélia localizava-se a Capela de Santa Cruz da Granja.



Capela de Santa Cruz da Granja
 
 
A Irmandade de Santa Cruz da Praia da Granja, que hoje administra a capela, sucedeu à Pia Associação de Santa Cruz da Praia da Granja criada na Capela de Santa Cruz da Praia da Granja, em 21 de Novembro de 1921, por D. António Barbosa Leão, bispo do Porto.
 
 

Capela de Santa Cruz, actualmente, na Rua da Estação (EN109)

 
 

Em perspectiva, actual, é visível, à esquerda, a capela de Santa Cruz e, à direita, o edificado em que se tornou o antigo chalet da família Burnay que, durante algumas semanas, funcionou como Paço Real - Fonte: Google maps
 
 
 
A “Villa Amélia” onde se hospedou D. Maria Pia e o Duque do Porto foi, sem dúvida, um dos maiores chalets da Granja, construído antes de 1879, e só tinha rival no denominado chalet do Dr. Forbes (José António Forbes de Magalhães) construído na mesma ocasião e que, mais tarde, viria a pertencer à família Albuquerque.
Voltando à visita de Maria Pia, em homenagem ao senhor infante, a 8 de Outubro, a rainha ofereceu um jantar de gala no «Paço», às figuras mais importantes das colónias balneares da Granja e de Espinho e, durante a estadia, foram organizadas as mais brilhantes soirées na Assembleia da Granja, bazares a favor dos pobres, touradas em Espinho, etc.
 
 
 

Família Burnay, na Granja, em 1890 – Cortesia “Casa de Mateus”: Ed. Albino Pereira da Silva (Photographo)
 
 
 

Praça de Touros, de Espinho, em 1905
 
 
 

Festa, em 1909, na Assembleia da Granja
 
 

Batalha de Fores diante da Assembleia da Granja – Fonte: Revista Brasil – Portugal, 1 de Outubro de 1912
 
 
 
 
Em 16 de Outubro de 1891, uma 6ª Feira, Maria Pia passava na Granja o seu 44º aniversário natalício tendo, para o efeito, recebido, aí, os cumprimentos das personalidades importantes da cidade do Porto, inclusive do seu bispo o cardeal D. Américo.
Houve um comboio especial para irem dar os parabéns à Granja, composto pela máquina 20 e 4 carruagens de 1ª, 3 de 2ª, uma de 3ª e dois “fourgons”, sendo vendidos 251 bilhetes, incluindo 74 para os internados na Oficina de S. José, que foram em 3ª classe. A música de Infantaria 18 percorreu a Granja demorando-se no palácio real e na casa dos Condes de Vila Real.
À data, o conde de Vila Real era D. José Luís de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos (1843 - 1923), 8.º morgado de Mateus.
O “Jornal do Porto”, de 17 de Outubro de 1891, página 2, deste acontecimento, não deixaria de dar o devido relevo.



 


Maria Pia partiria para Lisboa no dia 18 de Outubro de 1891, um Domingo.
O Porto, a partir de então, ficava aguardando a chegada de D. Carlos para a inauguração, nos finais do mês seguinte, da Exposição Industrial do Palácio de Cristal.
Estes acontecimentos tinham como antecedentes o Ultimato Inglês ocorrido no começo do ano anterior (1890) e da malograda revolução de 31 de Janeiro de 1891.

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