segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

25.262 Uma vida fora de época. A História da Mulher-Homem

 
No ano de 1879, em 6 de Março, começava a correr no Porto a notícia de que tinha dado entrada numa esquadra de polícia, para averiguações, uma mulher que habitualmente se disfarçava de homem.
O Jornal “O Comércio do Porto” noticiava os pormenores do caso acontecido no dia anterior.
O alvo das averiguações chamava-se pelo baptismo, Maria da Trindade, tendo nascido, em 1859, segundo dados obtidos a partir de declarações dela própria na esquadra da polícia, em Quintela (Sernancelhe), mas, ainda de tenra idade, mudou-se para a Granja do Tedo.
Maria da Trindade, de seu nome Antónia Custódia das Neves, desde cedo teve desejos de encarnar um perfil masculino, embora se tratasse de uma bonita rapariga, não denotando, porém, qualquer natureza hermafrodita. Nas brincadeiras escolhia para comparsas os rapazes – uma “Maria Rapaz”.
Por volta dos dez anos de idade, começou a vestir-se como um rapaz e, enquanto jovem, desempenhou tarefas em quintas no Alto-Douro, sempre ao lado de homens feitos, não desmerecendo deles.


 
Maria da Trindade, a Mulher-Homem

 
 
Ainda jovem, na Granja do Tedo, apaixonou-se por uma rapariga a quem dedicou poemas.
 
 
 
Dizer que me tens amizade
Isso é no mesmo instante
Na ausência se conhece
O amor que é constante
 
Quando fores minha esposa
Serás feliz e venturosa
Terás tudo quanto possuo
Minha bela, minha rosa.
 
 
Um dia, deixou de vez o seu passado feminino e a Granja do Tedo e rumou ao Porto, como António, em 1875. Teria 16 anos de idade.
Pensava que, assumindo-se como homem, podia ultrapassar alguns escolhos que a vida lhe colocaria pela frente.
No Porto, o “António Custódio das Neves” namorou com muitas costureirinhas e criadinhas de servir, que se perdiam de amores pelo “António”, vendeu cautelas de lotaria e bilhetes às portas de teatros.
Parece, no entanto, que a sua Rosa, da Granja do Tedo, não estaria esquecida.

 
Diz, minha Rosa,
Sem impostura;
Se amas a outrem
Com mais ternura.
 
Oh! Não me percas
O teu amor;
Espera por mim,
Minha alva flor.
 
Espero de em breve
Aí voltar,
Então mil vezes
Te hei-de abraçar.
 
 
Sabes tu que este meu peito
Só para ti está aberto,
Ninguém mais o ocupará
No povoado ou no deserto.
 
Vivo por ti, só por ti;
Deves conhecê-lo há muito;
Não te esqueças pois de mim
Como estando de ti junto.
 
 
 
 
Como sabia ler e escrever e fazer contas, empregou-se num armazém de vinhos na Rua do Bonjardim.
Seria nesta rua que, em 5 de Março de 1879, “António Custódio das Neves”, alvo com certeza de uma denúncia anónima, foi “interpelado” pelo chefe da 1ª esquadra de polícia, José Ribeiro dos Santos.
Em face da ausência de justificação para a sua vida militar e dos documentos respectivos, foi “levado” para a esquadra da polícia e, a seguir, entregue ao poder judicial.
O “interpelado” disse ter profissão, trabalhar como caixeiro em casa de António Joaquim da Silva, mas acabaria por se descobrir que, afinal, era uma mulher, passando a incorrer no crime de falsa identidade.
Foi, quando, a Antónia Custódia das Neves passou a ser a mulher-homem.
A notícia completa publicada no Jornal “O Comércio do Porto” de 6 de Março de 1879 é apresentada a seguir:  
 
 
 
In revista “O Tripeiro”, 3ª Série, N.º 4, 15 Fevereiro de 1926
 
 
 
Curiosa é a descrição da indumentária do detido.


“Trajava jaqueta de ratina, calça de casimira, chapéu branco de feltro e camisa com peito de folhas com botões de ouro.
No colete via-se-lhe uma corrente de ouro e no bolso o respectivo relógio”.
Fonte: Dr. João Lobato Costa, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, ano XXI, Setembro de 2002
 
 
 
Os periódicos esgrimiram argumentos sobre um assunto que não era comum naqueles tempos.
Seria o Jornal “Actualidade” que iria tomar o partido de Antónia Custódia das Neves e fazer cair para o lado dela a opinião pública.
Dizia-se, no âmbito dessa argumentação que:
Se apresentava publicamente como António e sempre tinha sido conhecida como tal, pois vestiu-se sempre como homem e assim era conhecida;
Ao adoptar uma faceta masculina, a acusada tinha como intenção defender-se melhor da sociedade; ser uma pessoa muito competente e zelosa na sua profissão.
E, no habitual choradinho, apontava-se uma infância infeliz e de abandono, que o afinco e a vontade de ganhar o pão de cada dia, ultrapassavam.
O tribunal mandou-a em liberdade, fruto das boas referências transmitidas por quem foi ouvido como testemunha. A partir daí, readquiriu a sua “condição” de mulher.

 
 
“António Custódio das Neves” (A mulher-homem)
 
 
 
 
A “Voz do Povo”, que se publicou entre 1878 e 1880, dedicava-lhe, então, naquele mês de Março, um poema.


 
 
In “A Voz do Povo”, Março de 1879


 
Em Abril de 1879, com 20 anos de idade, Antónia Custódia das Neves casou, na igreja de Santo Ildefonso, com António Joaquim da Silva Júnior, de 19 anos, filho do taberneiro da Rua do Bonjardim onde trabalhara.
Viria a falecer, em 20 de Março de 1888, num incêndio ocorrido no Teatro Baquet, no qual terão morrido 120 pessoas.
António Joaquim da Silva Júnior, também presente, mas que sobreviveu à tragédia, contava que por três vezes conduziu pessoas para o exterior do braseiro pensando serem a Antónia.
 
 
 
Teatro Baquet, Rua de Santo António, em 1875
 
 
 
 
 
Teatro Baquet na Rua de Santo António
 
 
 
Daquela tragédia ficou a lembrança num memorial de homenagem às vítimas no Cemitério de Agramonte.
 
 
 
Memorial às vítimas do Teatro Baquet no cemitério de Agramonte
 
 
 
Um poeta satírico daquele tempo evocou a infeliz Antónia Custódia na quadra seguinte:
 
 
Era um rapaz às direitas
a Maria da Trindade
Todas as moças bem-feitas,
Inda a choram com saudade
 
 
 
António Joaquim da Silva Júnior haveria de exercer durante anos as funções de fiscal no Teatro Águia d’Ouro, tendo falecido, algures, na década de 1920.
Em 1879, seria publicado no Porto um livro com o título “Maria Coroada ou Scisma da Granja do Tedo, Verdadeira História da Mulher-Homem ou Homem-Mulher- António Custódio das Neves ou Antónia Custódia das Neves”.
Os autores eram Patrício Lusitano e Pantaleão Froilaz, pseudónimos, respectivamente, de Pinho Leal e do Dr. Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia.
Surge, então, a teoria de que Antónia Custódia das Neves era filha de Maria das Neves ou Maria Coroada, uma profetiza que liderou entre 1840 e 1847, na Granja do Tedo, uma seita religiosa com laivos e folclore associados à crendice popular, que acabou interditada pela autoridade administrativa, à data, sediada em São Cosmado.
Aliás, dizem que teria sido a sua mãe que instruiria as suas filhas, argumentando, que sendo este mundo comandado por homens, a metamorfose em causa se justificava.
Assim sendo, as declarações de Antónia Custódia das Neves, na esquadra da polícia, quanto à paternidade, eram falsas, ou, então, ela própria desconhecia as suas origens.
O certo, é que viria a descobrir-se, mais tarde, no Douro, uma irmã de Antónia Custódia das Neves, igualmente vestida de homem, que exercia a profissão de moleira.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

25.261 Quinta do Paraíso e Pátio do Paraíso

 
Chamava-se à Rua Rodrigues Sampaio que, actualmente, liga a Praça D. João I à Praça do Município, Rua do Paraíso porque, nos inícios do século XVIII, corria ao longo de uma quinta com a mesma designação e que pertencia à influente e próspera família Huet Bacelar.
A área ocupada pelo cinema Rivoli, Café Garça Real e Caixa Geral de Depósitos, seria o local do palacete dessa família, cuja quinta se estendia até ao Laranjal (Avenida dos Aliados).
Esta propriedade já aparece assinalada nas plantas antigas (século XVIII) do Bairro dos Laran­jais e era conhecida pela Quinta de Lourenço Huet, tendo desaparecido, completamente, com a urbanização do Bairro dos Laranjais, or­denada por João de Almada e Melo.
Nas pesquisas que fez, Cunha e Freitas diz que esta artéria teve várias designações e cita-as " … ao Paraíso e Rua do Paraíso, em 1723; Lugar do Paraíso e Viela do Paraíso, em 1724".
E, em anos posteriores, encontrou mais estas referências "… Viela do Mendes, na Rua do Paraíso (1772); Rua do Paraíso, acima da Viela do Tintureiro, defronte da Cancela Velha (1767); Rua do Paraíso, defronte do Pardieiro; e Rua defronte do Pátio do Paraíso (1772).
O chamado Pátio do Paraíso compreenderia o logradouro à entrada do antigo palacete, que tinha a sua fachada principal voltada para a Rua do Bonjardim, pois ainda não existia a Praça D. João I, e referia-se ao espaço hoje ocupado pelo cinema Rivoli, Caixa Geral de Depósitos, Café Garça Real.
Naquele logradouro exercitavam-se os Bombeiros Volun­tários do Porto e, no antigo palacete, tinham a sua sede e o seu quartel, desde de 1875, quando foi constituída a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto.

 
 
Bombeiros Voluntários do Porto no Pátio do Paraíso

 
 
Por aquele palacete já tinha passado, na década de 1840 o conceituado Colégio do Paraíso que, em 1849, era referido pelo Almanak do Porto e Villa Nova de Gaia.
Por lá, também esteve a Alquilaria Marinhas da firma Carneiro & Marinhas, que se gabavam de ter as melhores carruagens da cidade puxadas pelos melhores cavalos.


 
 
Casa da Quinta do Paraíso

 
 
Em 30 de Março de 1907, Os Bombeiros Voluntários do Porto inauguraram na sua sede um pequeno cinema que se chamaria "Salão Portuense" que, em Julho, já era o "Cinematógrafo do Paraíso" e, em Outubro, "Salão d'Élite".
A partir de 3 de Fevereiro de 1910, data da fundação do Orfeão do Porto, por não ter instalações próprias, esta instituição começou a usar um espaço cedido pelos Bombeiros Voluntários do Porto. 
Esta situação vigorou até o orfeão se ter mudado para a Praça da Batalha, por onde está ainda nos nossos dias.
  

 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1936
 
 
 
 
Na foto acima, os prédios ao fundo, corriam ao longo da Rua do Bonjardim.
À esquerda, vemos o prédio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) inaugurado cerca de seis anos antes.
No rés-do-chão do prédio teve vida efémera o “Restaurante Lagostim” e pelos anos de 50 do século XX, por lá já estava a casa de artigos de fotografia a “Filmar”.
A foto foi obtida em 1936, precisamente, no dia em que ocorria o leilão dos móveis daquele restaurante.
À direita, ficava o Pátio do Paraíso, onde os Bombeiros Voluntários do Porto tinham o seu quartel. Os arcos faziam parte de um projecto para um novo quartel, que acabou por ser reformulado e que, por essa razão, acabaram por ser demolidos.
Ao fundo, aquela parede era do prédio da “Pensão do Joãosinho”.
Um pouco mais à frente, após virar a esquina, encontrava-se o Teatro Rivoli.
O terreno vago viria a ser o chão da sede da Ordem dos Engenheiros.
Os prédios da Rua do Bonjardim seriam poucos anos depois demolidos para abertura da Praça D. João I.
Da esquerda para a direita, à data, a primeira casa com apenas uma nesga visível era a Fábrica do Pão-de-Ló do Tuna, seguia-se a casa de torrefacção de café e mercearia de António Augusto.
Na casa a seguir, no seu primeiro andar, tinha o seu consultório o médico homeopata, Dr. Rodrigo Guimarães.
Depois, seguia-se a Farmácia Homeopática de Cândido Alves, que viria a ser um dos proprietários do café “A Brasileira” e o armazém de solas e cabedais de José Bento Pereira.
A partir daí, era, porta-sim e porta-não, as confeitarias e padarias, das Rezendes, das Brenhas, das Palaias, etc, fornecedores das vendedeiras das feiras nortenhas e do pão de ló, pela Páscoa.
Mais abaixo, no nº 125, esteve a “Fotografia Americana”, onde Manuel de Sousa Ferreira imprimia os passes anuais para os passageiros dos carros americanos da Companhia Carris de Ferro do Porto.
 
 
 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1951, em perspectiva idêntica à anterior, pela qual se observa, que a sede da Ordem dos Engenheiros ainda não foi construída (inaugurada em 1958) e a Praça D. João I já foi rasgada

 
 
À esquerda da foto acima, está a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.


 
 
Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto – Cortesia de Rui Miguel Melo
 


 
Em 1925, o Pátio do Paraíso foi vendido pelo seu proprietário, o 2º conde de Fijô, José de Castro Falcão Corte-Real (1877-1945), à Câmara Municipal do Porto e, desde aquela data até 1947, os B.V. do Porto ficaram alojados num velho edifício apelidado de “barracão”, que daria lugar ao actual quartel, na Rua Rodrigues Sampaio.
A partir daqui, o Teatro Nacional, que existia junto do antigo palacete, a sul, pode ser substituído por um outro mais moderno, o Rivoli.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

25.260 Duas fundações que dignificam a cidade do Porto

 
Fundação Engenheiro António de Almeida
 
 
António Manuel de Almeida nasceu na freguesia de S. Pedro, em Vila Real, no seio de uma família modesta, em 5 de Novembro de 1891.
Dotado de uma grande força de vontade, as suas origens não obstaram a que tirasse o curso de Engenharia Civil e de Obras Públicas com elevada classificação. Casou aos 29 anos com Olga Ana Andresen.
Entretanto, vai trabalhar como administrador do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa e é incumbido de abrir uma filial no Porto.
Passando a habitar um andar do prédio da dependência bancária acabaria, anos mais tarde, por adquirir um terreno na Rua de Tenente Valadim, no Porto, junto do Centro Hípico do Porto, que por lá se manteve entre 1911 e 1938, com o objectivo de construir uma moradia para sua habitação.
Em 1935, a família muda-se para a “casa nova”, como passou a ser chamada.
Por intervenção de Olga Andresen, posteriormente, a habitação haveria de ser ampliada e por si decorada com peças de diversas proveniências, mas de alta qualidade e gosto.
Quando faleceu, a 9 de Outubro de 1968, António Manuel de Almeida deixou uma casa recheada com peças valiosíssimas, dignas de um museu, e uma colecção de numismática.
Entre o espólio da “casa nova”, sobressaem, também, as porcelanas da Companhia das Índias e da fábrica de Maissen, peças de prata e quadros de pintores consagrados.
Após a morte de António Manuel de Almeida, a Fundação Eng.º António de Almeida resultaria de uma sua disposição testamentária, que vai ganhar forma sob acção do Dr. Fernando Aguiar Branco, que será o seu Presidente.
Assim, a 5 de Maio de 1969, surge no Porto, uma instituição particular de utilidade pública geral, perpétua e com personalidade jurídica.
Será objecto da Fundação Eng.º António de Almeida a divulgação de manifestações de arte, de exercer a caridade e de promover a educação.
As obras necessárias para instalação no prédio da Rua de Tenente Valadim da Fundação Engº António de Almeida, levaram a que a inauguração fosse feita em Julho de 1973.
Após a revolução de 25 de Abril parte do património da fundação é nacionalizado, tendo, por esta razão, sido adiados planos de ampliação das instalações pela construção de novos edifícios.
Paulatinamente, a Fundação Engº António de Almeida continuou a crescer e a fazer parte do quotidiano dos portuenses.
Na década de 1990, foi adquirida uma parcela de terreno anexa à casa-museu.
Foram, então, construídos mais três novos edifícios.
A actividade é profícua, com a realização de congressos, conferências, exposições e festivais de música.
Reportando-nos, apenas, ao auditório, ele é constituído por três salas: uma em anfiteatro para 300 pessoas; outra, com acesso a um terraço de 300 m2, para 700 pessoas e uma mais pequena com capacidade para 200 pessoas.
Uma referência aos jardins envolventes a todo o complexo dotado de uma flora com algumas espécies exóticas.

 
 
Jardins da Fundação Engº António de Almeida – Cortesia de Luís Ferreira Alves
 
 
 

Salão da “Casa Museu” da Fundação Engº António de Almeida – Cortesia de Luís Ferreira Alves
 
 
 
Todos os anos é atribuído o prémio Eng.º António de Almeida aos alunos que façam a divulgação do país e da língua no estrangeiro.
Contam-se já por milhares, os alunos que foram agraciados.
Apoios diversos a outras instituições, acções de promoção de diversas obras literárias e uma actividade importante no campo editorial têm sido uma constante da existência da Eng.º António de Almeida.

 
 
Vista aérea das instalações da Fundação Eng.º António de Almeida - Ed. Luís Ferreira Alves, in revista “O Tripeiro”, 7ª série, Ano XVI, Abril/Maio 1997
 
 
Legenda da vista anterior:
 
1 Casa Museu
2 Casa Jardim
3 Administração
4 Auditório
 

A Fundação Eng.º António de Almeida não desdenharia apresentar entre os milhares de acções culturais levadas a cabo nas suas instalações, apresentar como um dos pontos mais altos, a homenagem prestada à pianista Helena Sá e Costa, em 25 de Maio de 1996.
 
 
 
 

Helena Sá e Costa agradece a homenagem que recebeu na Fundação Eng.º António de Almeida 


 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda
 
 
 
“A Fundação foi instituída em 1964. É uma instituição privada, sem fins lucrativos, que tem por missão a realização de atividades educativas, culturais e sociais que promovam a sociedade do conhecimento e contribuam para a inclusão social, proporcionando simultaneamente oportunidades de ocupação de tempos livres”.
Fonte: facm.pt
 
 
A Fundação seria instituída em Stº Tirso, em 1964, e a sua sede passou, posteriormente, por uma alteração estatutária, em 1973, para o Porto, fixando-se, sucessivamente, num prédio na Rua de Costa Cabral e, depois, na Rua Raimundo Macedo, até que, finalmente, a 1 de Abril de 1991, se instalou na Avenida da Boavista, numa nova sede construída de raiz, cujo projecto é do Arquitecto Francisco Braancamp de Figueiredo.
 
 
“António Cupertino de Miranda nasceu em 21 de janeiro de 1886, em Famalicão, segundo filho duma família de proprietários agrícolas, partiu para o Brasil em 1915, por motivos políticos, lá permanecendo por mais de 30 anos. Exerceu a atividade de professor, dedicou-se ao jornalismo. A partir de 1918, começou a sua atividade de representação e procuradoria.
Assumiu o papel de delegado da Casa Bancária Cupertino de Miranda & Cª, como secretário geral do Banco Aliança no Brasil.
(…) Regressa a Portugal a 7 de agosto de 1948, com 62 anos. Sem descendentes diretos, leva uma vida quase ascética e aproveita esta nova fase para meditar e fazer um balanço da sua vida.
Nasce a ideia de criar uma Fundação”.
Fonte: facm.pt



Irmão de Artur Cupertino de Miranda e Augusto Cupertino de Miranda, fundadores da “Casa Cupertino & Irmão, Lda”, em 1918, António Cupertino de Miranda vai construir a ponte desta entidade bancária no Brasil.
O culminar de um percurso de sucesso irá levar o grupo bancário até 31 de Dezembro de 1942, quando é fundado o Banco Português do Atlântico.
Entretanto, antes, em 1926, a filial existente no Rio de Janeiro, do portuense Banco Aliança, findava o prazo de autorização para o seu funcionamento e a não renovação do mesmo, obriga a que entre em liquidação.
Contudo, o negócio financeiro que aí esteve instalado, seria cedido ao recém-criado Banco Aliança do Rio de Janeiro, no qual o portuense Banco Aliança deteve importante participação, até 1938, e António Cupertino de Miranda desempenhou o cargo de Secretário-Geral da instituição, como delegado de “Cupertino de Miranda & Cia”.
 
 
 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, a partir de 1973, na Rua de Costa Cabral, nº 575



 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, a partir de 1981, na Rua Raimundo Macedo
 


Quando ocorre a revolução de 25 de Abril, a Fundação tinha o seu património constituído quase exclusivamente por acções do Banco Português do Atlântico e devido à nacionalização da Banca, ocorrida em 11 de Março de 1975, fica sem património.
O Dr. António Cupertino de Miranda, que dá o seu nome à fundação, pouco tempo sobrevive à data histórica de imposição do fim da ditadura e morre, em 16 de Novembro de 1974, com 88 anos.
Em 1981, inicia-se o processo de pagamento das indeminizações provenientes das nacionalizações e começará, então, a reestruturação financeira da Fundação e o administrador Dr. Alberto Correia de Almeida decide iniciar a criação de uma colecção de papel fiduciário (ou seja, que faz fé, que dá confiança) composto por notas do Banco de Portugal, cheques, letras, cédulas, acções, exemplares de papel selado e uma colecção de lotarias que, mais tarde, irá permitir abrir um Museu do Papel-Moeda.
Em 1991, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda ocupa, então, a sua sede na Avenida da Boavista, fronteira ao Parque da Cidade.
Em 1996, a 20 de Janeiro, após ampliação das instalações da Avenida da Boavista, inaugura-se o Museu do Papel-Moeda, que é o núcleo diferenciador desta instituição.
 
 
 
 

Actual sede da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda – cortesia de Manuel de Sousa, in wikipédia
 
 
 
A partir da inauguração do Museu do Papel-Moeda, a Fundação tem vindo a aumentar as estruturas físicas, sendo a área construída de 4.000m2.
A Fundação está dotada com duas salas de exposição permanente. Enquanto a primeira conta a história do dinheiro de papel em Portugal e inclui uma importante colecção de notas, onde estão representadas todas as emissões do Banco de Portugal e do Banco Nacional Ultramarino, a segunda exibe mais de 5.000 miniaturas de automóveis e ainda outras colecções de barcos, comboios e aviões.

 
 
 

Colecção de papel-moeda do museu da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda


 
 

Colecção de miniaturas auto do museu da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda
 
 
 
 
 

Alguns exemplares da colecção numismática do Museu do Papel Moeda

 
 
Para além de um restaurante aberto diariamente, a sede dispõe de auditórios e de salas de exposições, equipadas com modernos sistemas áudio e projecção de vídeo, videoconferência e tradução simultânea.

 

sábado, 16 de novembro de 2024

25.259 Dois hotéis que são referência há mais de um século

 
Grande Hotel da Batalha
 

Grande Hotel da Batalha ocupou o prédio onde, antes, tinha estado o Hotel Maria, cujo proprietário, Manuel Bento Rodrigues, em Julho de 1913, solicitava à Câmara do Porto uma série de obras para o acesso ao piso térreo e, em Outubro desse mesmo ano, dava conta à mesma entidade de que pretendia construir uma “devanture” em ferro, naquele mesmo piso, que obteria a licença de obra nº 1252/1913,
 
 
 

Desenho de “devanture”, ornamentando o rés-do-chão, integrante de projecto referente à licença de obra nº 1252/1913
 
 
 
 
A “devanture”, atrás mencionada, pode ser apreciada na foto seguinte, quando foram homenageados durante uma visita à cidade do Porto, os aviadores Brito Paes, Sarmento Beires e Manoel Gouveia.
 
 
 
 

Grande Hotel da Batalha, em 1924
 
 
 
O Grande Hotel da Batalha tinha sucedido, então, ao Hotel Maria.
Nesse mesmo local, tinha estado, sucessivamente, o Hotel Estrela do Norte fundado em 1862 e transferido para a Rua de Entreparedes e o Hotel Batalha fundado em 27 de Outubro de 1864.

 
 
 

In jornal “O Commercio do Porto” de 27 de Outubro de 1864
 
 
 
O Hotel Batalha não vingou muito tempo, sendo substituído pelo Hotel Particular que, por sua vez, cederia o espaço ao Hotel Oriental que, em 1877, já lá estava instalado.


 
 

Publicidade ao Hotel Oriental, em 1877
 
 
 
Foi então a vez de por lá se instalar o Hotel Gibraltar, de Manoel António Fernandes e, finalmente, o Hotel Maria.
Em 1913, surgiria o Grande Hotel da Batalha, após uma grande intervenção para melhoria das suas instalações.

 
 
 


Interiores do Grande Hotel da Batalha, após a intervenção, em 1913
 



À esquerda, o Grande Hotel da Batalha, em 1915
 



Publicidade ao Grande Hotel da Batalha, em 1930

 
 
O Grande Hotel da Batalha seria remodelado com um projecto de 1937 do arquitecto José Porto (1883-1965), cujas obras foram dadas como concluídas, em 20 de Maio de 1940.


 
 

Publicidade ao Grande Hotel da Batalha, em 1941, após a remodelação do arquitecto José Porto
 
 
 
 
Em 7 de Dezembro de 1944, os irmãos António e José Abrantes Jorge, donos do Hotel Aliança, situado na Rua Sampaio Bruno, compram o Grande Hotel da Batalha à “Sociedade Exploradora do Grande Hotel da Batalha no Porto”.
António Abrantes Jorge viria a ser representante à Câmara Corporativa, representando a União dos Grémios da Indústria Hoteleira e Similares do Norte e, ainda, vereador na Câmara Municipal do Porto.
O Grande Hotel vai, então, ser sujeito a obras de vulto a cargo do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães, que se estenderam por alguns anos permitindo, no entanto, o funcionamento do hotel.
O pedido de licenciamento respectivo é feito à Câmara Municipal do Porto, na qualidade de requerente, por “Silva Ferraz e Companhia, Limitada”, obtendo a licença nº 219/1945.

 
 
 

À esquerda, o Grande Hotel da Batalha, antes das obras iniciadas em 1945




Grande Hotel da Batalha, após remodelação profunda, com um projecto de 1945 do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães


 
 

Interiores do Grande Hotel do Porto, após as obras de remodelação
 
 
 
 
 
 

Extrato de notícia publicada no jornal “Diário de Lisboa” de 6 de Novembro de 1955 – Cortesia da “Fundação Mário Soares”

 
 
 

Grande Hotel da Batalha, em 1955

 
 
 

A meio da foto, o “Grande Hotel da Batalha”, na década de 1960

 
 
 
À esquerda do Grande Hotel da Batalha é a Rua de Cima de Vila.
Próximo do fim do milénio, a cadeia Mercure adquire o “Grande Hotel da Batalha” e passa a ser, a partir de 2003, o hotel “Mercure Porto Batalha”, após grandes obras de remodelação.
O edifício passa a ter 6 andares, 149 quartos e 9 suites e, ainda, uma sala de conferências.
 
 
 
 

“Hotel Mercure Batalha”
 
 
 
 
Em 2008, o hotel “Mercure Porto Batalha” passa a designar-se hotel “Mercure Porto Centro”, mas, actualmente, já é o hotel “Mercure Porto Centro Santa Catarina”.





Hotel “Mercure Porto Centro Santa Catarina”
 


 
 
 
Grande Hotel do Porto
 

 
Grande parte dos terrenos, a poente da Rua de Santa Catrina, nomeadamente, onde mais tarde foi erguido o Grande Hotel do Porto era, na primeira metade do século XIX, quintas e terrenos lavradios pertencentes à grande empresária D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha do vinho do Porto.
Como se pode observar, abaixo, na planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833), grande parte daquela área estava por urbanizar.

 
 
 

Rua Santa Catarina (a meio na vertical) em planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833)
 
 
 
 
O quarteirão entre o que são hoje as ruas de Santa Catarina, Sá da Bandeira, Passos Manuel e Formosa pertencia a Francisco da Cunha Magalhães e a D. Antónia Ferreira.
Os terrenos onde foi levantado o Grande Hotel do Porto, pertenceram a D. Adelaide Ferreira, vulgo a “Ferreirinha” da Régua que tinha uma casa apalaçada nesse local.
Essas terras eram atravessadas por um ribeiro que vinha desde a Rua das Carvalheiras na Fontinha onde nascia e junto à Estação de S. Bento era um dos cursos de água que formavam o rio da Vila e alimentava uma fonte, já demolida, na esquina da Rua de Santa Catarina e da antiga Viela das Pombas (actual António Pedro) que por isso se chamava Fonte das Pombas.
Na frontaria essa fonte tinha gravada uma alusão à batalha efectivada na Ponte Ferreira durante o Cerco do Porto.
Na planta acima, é possível ver o percurso do ribeiro referido que nasce nas Carvalheiras e o traçado da Rua de Santa Catarina a meio, na vertical, partindo dos largos de Santo Ildefonso e da Batalha e ainda, notar, como é óbvio, que as ruas de Sá da Bandeira começada em 1877 e de Passos Manuel começada em 1874 e o Mercado do Bolhão (por cujo solo passa o referido ribeiro), ainda não tinham surgido. Para urbanizar a actual Rua do Ateneu Comercial do Porto foi necessário encanar o ribeiro.
O terreno onde ficava a Fonte das Pombas foi, a partir de 1904, disputadíssimo, tendo saído como vencedor, entre diversos pretendentes, o proprietário da vizinha Camisaria Confiança, que indemnizou um outro concorrente que, aí, já tinha começado a construir.
Um ano depois, acabou por vendê-lo a outro, de nome Avelino Correia, num negócio deveras escuro, que obrigou a Fazenda a processar o Cunha da camisaria e o Avelino, por simulação de negócio.
A água daquele ribeiro viria, mais tarde, a ser utilizada nos sanitários do Café Brasil (ainda existente) ao fundo da Rua da Madeira, junto da Estação de S. Bento.
O Grande Hotel do Porto, inaugurado em 27 de Março de 1880, é um dos hotéis de maior prestígio da cidade, e nasceu por vontade de Daniel Martins de Moura Guimarães, um rico comerciante de arte que foi para o Brasil com 17 anos e regressou ao Porto em 1867.
Aqui chegado e após viajar pela Europa, desafiou o arquitecto Silva Sardinha para traçar um hotel de referência na cidade.
Sendo Daniel Moura Guimarães um apaixonado pelas artes e pelas viagens, autor de um guia que o torna célebre, o “Guia do Amador de Bellas-Artes” (1871), no qual descreve a arte, o património e os aspetos mais relevantes dos locais que visita.
É, pois, com base nos conhecimentos adquiridos, e tendo como objetivo reproduzir, no Porto, o charme das capitais europeias, que decide construir um hotel semelhante aos que conhecera.
 
 
“O “Hotel do Porto”, talhado desde os alicerces para ser uma casa de hospedagem de primeira ordem, é propriedade do sr. Daniel Martins de Moura Guimarães e entra amanhã em exercício das suas funções de hospitalidade, inaugurando-se com o jantar ao bando que festeja a execução capital do menos perverso do Judas, o de palha.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 26 de Março de 1880; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pág.588
 
 
 
Como se observa na notícia acima, o hotel foi inaugurado em Sábado de aleluia e foi, por detrás da sua fachada vitoriana foi, ao longo dos tempos, testemunha de amores e espionagem, poiso de fugitivos e ilustres.
À data de inauguração, o hotel oferecia uma série de serviços que constituíam uma enorme novidade.
 
 
 
“O hotel oferecia 40 quartos, cinco suítes, (uma delas a suite real) e outros espaços: Sala de Leitura, Sala de Música, Sala de Jogos e Sala da Senhoras. Nas traseiras do Hotel, na Rua do Ateneu Comercial do Porto, situavam-se os balneários, abertos ao público com água quente e fria, algo muito raro à época. Daniel Moura Guimarães convidou o Dr. Ricardo Jorge e o Dr. Augusto Brandão para diretores de duches e Paulo Lauret para professor de ginástica, naquilo que seria à altura um antecessor dos modernos spa’s.
O Grande Hotel do Porto oferecia serviço de banquetes, bailes e festas que atraíam as figuras notáveis do Reino, da política, da arte e da sociedade”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
 
 
 
Quando o imperador D. Pedro II e sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina Maria, vieram exilados para a cidade do Porto, em 1889, aquando da implantação da República no Brasil, foi no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina, que se hospedaram e, num dos seus quartos, que a imperatriz morreu na manhã do dia 28 de Dezembro de 1889.
Em 9 de Dezembro de 1999, seria descerrada uma lápide, colocada na fachada do hotel, que passou a assinalar esta última visita do imperador e imperatriz do Brasil. Estiveram presentes na cerimónia, entre outras personalidades, D. Luís e D. Teresa de Orleães e Bragança, bisneta de D. Pedro II e D. Miguel de Bragança, Duque de Viseu e trineto do homenageado.



Placa homenageando a passagem do imperador do Brasil pelo Grande Hotel do Porto





Eça de Queirós era, também, hóspede frequente da unidade hoteleira, e o Duque de Windsor também aqui esteve, e tem sala com o seu nome.
 
 
 
 
 

Publicidade ao Grande Hotel do Porto, em 1898


 
 

À direita, o Grande Hotel do Porto e, à esquerda, a Camisaria Confiança, em 1899





Fachada do Grande Hotel do Porto engalanada para o Carnaval de 1905





Em 1912, à porta do Grande Hotel do Porto, uns passageiros entram numa caleche de aluguer – Ed. Alberto Marçal Brandão (1848-1919)
 




Fachada do Grande Hotel do Porto, em 1913, quando era seu único proprietário, desde há alguns anos, José de Oliveira Basto
 
 
 
A fachada do hotel da gravura anterior manter-se-ia até 1917 quando, José de Oliveira Basto, brasileiro de torna-viagem que, a partir do fim do século XIX, se torna co-proprietário do hotel e, depois, único proprietário, pois compra a parte adquirida aos herdeiros de Moura Guimarães, vai realizar obras de vulto no hotel.



 
Extrato de artigo da autoria de Simão de Laboreiro, sobre o Grande Hotel do Porto, In jornal “A Situação” (jornal Republicano da manhã), em 28 de Agosto de 1818


 
Na sequência das obras surge, na cobertura de edifício, um Terraço Panorâmico.
O Terraço era uma novidade na cidade do Porto e atraía muitas personalidades que aproveitavam para apreciar a vista que oferecia. 
 
 
 
 

Terraço do Grande Hotel do Porto
 
 
 
Após as obras mencionadas, transposta a entrada do hotel, apresentava-se um grande vestíbulo, de acesso à sala de leitura, à sala de visitas, à sala de estar e ao corredor, dotado de colunas.
Nos 23 anos que se seguiram às obras executadas sob a orientação de José d’Oliveira Basto, as instalações do hotel foram sucessivamente intervencionadas e melhoradas, sem necessidade de interromper o seu funcionamento.
Este foi, também, o hotel onde ficaram alojados Gago Coutinho e Sacadura Cabral, alguns meses após a sua travessia do Atlântico Sul e onde, foram alvo de uma manifestação de carinho popular, por parte da população, a 4 de Dezembro de 1922.
Antes, em Dezembro de 1917, aquando do golpe de estado de Sidónio Pais, nas instalações foi preso o primeiro-ministro Afonso Costa, aí hospedado.
O hotel será, entretanto, vendido, em 1919.
 
 
“O hotel é vendido a D. Ângelo Vasquez Enriquez e António Maria Lopes. Os novos donos continuam a ampliação e reforma do espaço: é criada uma nova cozinha, no vão que existia entre o hotel e a então Camisaria Confiança”.
Fonte: “grandehotelporto.com”




Grande Hotel do Porto na homenagem aos aviadores


 
Publicidade ao Grande Hotel do Porto, em 1934 

 
 

Cozinha do Grande Hotel do Porto
 
 
 

À direita, o Grande Hotel do Porto com os carros estacionados à sua porta
 
 
 
Chegados à década de 1940, é introduzido o Livro de honra e surge o Salão de Inverno.
 
 
“Um novo espaço nasce no Grande Hotel do Porto. O Salão de Inverno apresentava uma claraboia e um fogão de sala, que funcionava nos meses de inverno. A decoração foi da responsabilidade da Casa Nascimento. Hoje é aqui que encontramos a Sala Douro”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
 


 

Bar, Sala de Fumo e Salão de inverno do Grande Hotel do Porto
 

 
 

Grande Hotel do Porto, na década de 1940
 
 
 
Entre 1940 e 1960, uma série de obras são realizadas e António Maria Lopes, nascido em Braga, torna-se o único proprietário da unidade hoteleira e, pelas décadas que se seguiram, a sua família teve sempre uma palavra decisiva na sua gestão.
António Maria Lopes, um grande industrial de moagem (Moagem Victória), foi, ainda, um dos fundadores da União das Associações de Hotelaria e Restauração do Norte e director da Associação Comercial do Porto, teve ainda oportunidade de fundar, em Lisboa, em 1937, o Victória Hotel, e ter sido proprietário do Atlântico do Monte Estoril.
Quanto às obras realizadas, para além da implantação de um segundo elevador, nas áreas comuns é criada uma boutique na antiga Sala de Leitura e o bar é remodelado.
Os quartos são equipados com novo mobiliário e passam a ser alcatifados.
Até aos nossos dias as obras de remodelação dos espaços são constantes, destacando-se as levadas acabo em 2002, e o hotel, presentemente, apresenta 95 quartos.



 
Hall de recepção, restaurante e fachada principal do Grande Hotel do Porto, actualmente
 
 
 

No Grande Hotel do Porto, Guilhermina Suggia conheceria Dr. Carteado Mena e acabariam por contrair matrimónio em 1927.
O ministro de Salazar, António Ferro era frequentador para “curar as feridas de Lisboa”, confessou em livro de memórias.
Por lá se alojavam, também, quando visitavam a cidade do Porto, os escritores Assis Pacheco, Luís de Sttau Monteiro, o poeta Teixeira de Pascoaes, pseudónimo de Joaquim Teixeira de Vasconcelos, o historiador José Hermano Saraiva e o músico António Vitorino d’Almeida, entre outras personalidades.
Outra figura pública, do mundo da música, Pedro Abrunhosa, diz estar ligado ao Grande Hotel do Porto por ser trineto do fundador, Daniel Moura Guimarães e neto de Álvaro Machado, que terá exercido as funções de director da unidade hoteleira, em meados do século XX.
Em 2021, a Câmara Municipal do Porto abriu o procedimento de classificação como Monumento de Interesse Municipal (MIP) do Grande Hotel do Porto, por considerar que o imóvel representa um “valor cultural de significado relevante”.