quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

25.261 Quinta do Paraíso e Pátio do Paraíso

 
Chamava-se à Rua Rodrigues Sampaio que, actualmente, liga a Praça D. João I à Praça do Município, Rua do Paraíso porque, nos inícios do século XVIII, corria ao longo de uma quinta com a mesma designação e que pertencia à influente e próspera família Huet Bacelar.
A área ocupada pelo cinema Rivoli, Café Garça Real e Caixa Geral de Depósitos, seria o local do palacete dessa família, cuja quinta se estendia até ao Laranjal (Avenida dos Aliados).
Esta propriedade já aparece assinalada nas plantas antigas (século XVIII) do Bairro dos Laran­jais e era conhecida pela Quinta de Lourenço Huet, tendo desaparecido, completamente, com a urbanização do Bairro dos Laranjais, or­denada por João de Almada e Melo.
Nas pesquisas que fez, Cunha e Freitas diz que esta artéria teve várias designações e cita-as " … ao Paraíso e Rua do Paraíso, em 1723; Lugar do Paraíso e Viela do Paraíso, em 1724".
E, em anos posteriores, encontrou mais estas referências "… Viela do Mendes, na Rua do Paraíso (1772); Rua do Paraíso, acima da Viela do Tintureiro, defronte da Cancela Velha (1767); Rua do Paraíso, defronte do Pardieiro; e Rua defronte do Pátio do Paraíso (1772).
O chamado Pátio do Paraíso compreenderia o logradouro à entrada do antigo palacete, que tinha a sua fachada principal voltada para a Rua do Bonjardim, pois ainda não existia a Praça D. João I, e referia-se ao espaço hoje ocupado pelo cinema Rivoli, Caixa Geral de Depósitos, Café Garça Real.
Naquele logradouro exercitavam-se os Bombeiros Volun­tários do Porto e, no antigo palacete, tinham a sua sede e o seu quartel, desde de 1875, quando foi constituída a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto.

 
 
Bombeiros Voluntários do Porto no Pátio do Paraíso

 
 
Por aquele palacete já tinha passado, na década de 1840 o conceituado Colégio do Paraíso que, em 1849, era referido pelo Almanak do Porto e Villa Nova de Gaia.
Por lá, também esteve a Alquilaria Marinhas da firma Carneiro & Marinhas, que se gabavam de ter as melhores carruagens da cidade puxadas pelos melhores cavalos.


 
 
Casa da Quinta do Paraíso
 
 
 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1936
 
 
 
 
Na foto acima, os prédios ao fundo, corriam ao longo da Rua do Bonjardim.
À esquerda, vemos o prédio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) inaugurado cerca de seis anos antes.
No rés-do-chão do prédio teve vida efémera o “Restaurante Lagostim” e pelos anos de 50 do século XX, por lá já estava a casa de artigos de fotografia a “Filmar”.
A foto foi obtida em 1936, precisamente, no dia em que ocorria o leilão dos móveis daquele restaurante.
À direita, ficava o Pátio do Paraíso, onde os Bombeiros Voluntários do Porto tinham o seu quartel. Os arcos faziam parte de um projecto para um novo quartel, que acabou por ser reformulado e que, por essa razão, acabaram por ser demolidos.
Ao fundo, aquela parede era do prédio da “Pensão do Joãosinho”.
Um pouco mais à frente, após virar a esquina, encontrava-se o Teatro Rivoli.
O terreno vago viria a ser o chão da sede da Ordem dos Engenheiros.
Os prédios da Rua do Bonjardim seriam poucos anos depois demolidos para abertura da Praça D. João I.
Da esquerda para a direita, à data, a primeira casa com apenas uma nesga visível era a Fábrica do Pão-de-Ló do Tuna, seguia-se a casa de torrefacção de café e mercearia de António Augusto.
Na casa a seguir, no seu primeiro andar, tinha o seu consultório o médico homeopata, Dr. Rodrigo Guimarães.
Depois, seguia-se a Farmácia Homeopática de Cândido Alves, que viria a ser um dos proprietários do café “A Brasileira” e o armazém de solas e cabedais de José Bento Pereira.
A partir daí, era, porta-sim e porta-não, as confeitarias e padarias, das Rezendes, das Brenhas, das Palaias, etc, fornecedores das vendedeiras das feiras nortenhas e do pão de ló, pela Páscoa.
Mais abaixo, no nº 125, esteve a “Fotografia Americana”, onde Manuel de Sousa Ferreira imprimia os passes anuais para os passageiros dos carros americanos da Companhia Carris de Ferro do Porto.
 
 
 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1951, em perspectiva idêntica à anterior, pela qual se observa, que a sede da Ordem dos Engenheiros ainda não foi construída (inaugurada em 1958) e a Praça D. João I já foi rasgada

 
 
À esquerda da foto acima, está a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.


 
 
Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto – Cortesia de Rui Miguel Melo
 


 
Em 1925, o Pátio do Paraíso foi vendido pelo seu proprietário, o 2º conde de Fijô, José de Castro Falcão Corte-Real (1877-1945), à Câmara Municipal do Porto e, desde aquela data até 1947, os B.V. do Porto ficaram alojados num velho edifício apelidado de “barracão”, que daria lugar ao actual quartel, na Rua Rodrigues Sampaio.
A partir daqui, O Teatro Nacional, que existia junto do antigo palacete, a sul, pode ser substituído por um outro mais moderno, o Rivoli.

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