Chamava-se à Rua Rodrigues Sampaio que, actualmente, liga a
Praça D. João I à Praça do Município, Rua do Paraíso porque, nos inícios do
século XVIII, corria ao longo de uma quinta com a mesma designação e que
pertencia à influente e próspera família Huet Bacelar.
A área ocupada pelo cinema Rivoli, Café Garça Real e Caixa
Geral de Depósitos, seria o local do palacete dessa família, cuja quinta se
estendia até ao Laranjal (Avenida dos Aliados).
Esta propriedade já aparece assinalada nas plantas antigas
(século XVIII) do Bairro dos Laranjais e era conhecida pela Quinta de Lourenço
Huet, tendo desaparecido, completamente, com a urbanização do Bairro dos
Laranjais, ordenada por João de Almada e Melo.
Nas pesquisas que fez, Cunha e Freitas diz que esta artéria
teve várias designações e cita-as " … ao Paraíso e Rua do Paraíso, em
1723; Lugar do Paraíso e Viela do Paraíso, em 1724".
E, em anos posteriores, encontrou mais estas referências
"… Viela do Mendes, na Rua do Paraíso (1772); Rua do Paraíso,
acima da Viela do Tintureiro, defronte da Cancela Velha (1767); Rua do
Paraíso, defronte do Pardieiro; e Rua defronte do Pátio do Paraíso (1772).
O chamado Pátio do
Paraíso compreenderia o logradouro à entrada do antigo palacete, que tinha
a sua fachada principal voltada para a Rua do Bonjardim, pois ainda não existia
a Praça D. João I, e referia-se ao espaço hoje ocupado pelo cinema Rivoli,
Caixa Geral de Depósitos, Café Garça Real.
Naquele logradouro exercitavam-se os Bombeiros Voluntários
do Porto e, no antigo palacete, tinham a sua sede e o seu quartel, desde de
1875, quando foi constituída a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários
do Porto.
Bombeiros Voluntários do Porto no Pátio do Paraíso
Por aquele palacete já tinha passado, na década de 1840 o
conceituado Colégio do Paraíso que,
em 1849, era referido pelo Almanak do Porto e Villa Nova de Gaia.
Por lá, também esteve a Alquilaria
Marinhas da firma Carneiro & Marinhas, que se gabavam de ter as
melhores carruagens da cidade puxadas pelos melhores cavalos.
Casa da Quinta do Paraíso
Rua Rodrigues Sampaio, em 1936
Na foto acima, os prédios ao fundo, corriam ao longo da Rua
do Bonjardim.
À esquerda, vemos o prédio da Associação de Jornalistas e
Homens de Letras do Porto (AJHLP) inaugurado cerca de seis anos antes.
No rés-do-chão do prédio teve vida efémera o “Restaurante
Lagostim” e pelos anos de 50 do século XX, por lá já estava a casa de artigos
de fotografia a “Filmar”.
A foto foi obtida em 1936, precisamente, no dia em que
ocorria o leilão dos móveis daquele restaurante.
À direita, ficava o Pátio do Paraíso, onde os Bombeiros
Voluntários do Porto tinham o seu quartel. Os arcos faziam parte de um projecto
para um novo quartel, que acabou por ser reformulado e que, por essa razão,
acabaram por ser demolidos.
Ao fundo, aquela parede era do prédio da “Pensão do
Joãosinho”.
Um pouco mais à frente, após virar a esquina, encontrava-se
o Teatro Rivoli.
O terreno vago viria a ser o chão da sede da Ordem dos
Engenheiros.
Os prédios da Rua do Bonjardim seriam poucos anos depois
demolidos para abertura da Praça D. João I.
Da esquerda para a direita, à data, a primeira casa com
apenas uma nesga visível era a Fábrica do Pão-de-Ló do Tuna, seguia-se a casa
de torrefacção de café e mercearia de António Augusto.
Na casa a seguir, no seu primeiro andar, tinha o seu
consultório o médico homeopata, Dr. Rodrigo Guimarães.
Depois, seguia-se a Farmácia Homeopática de Cândido Alves,
que viria a ser um dos proprietários do café “A Brasileira” e o armazém de
solas e cabedais de José Bento Pereira.
A partir daí, era, porta-sim e porta-não, as confeitarias e
padarias, das Rezendes, das Brenhas, das Palaias, etc, fornecedores das
vendedeiras das feiras nortenhas e do pão de ló, pela Páscoa.
Mais abaixo, no nº 125, esteve a “Fotografia Americana”,
onde Manuel de Sousa Ferreira imprimia os passes anuais para os passageiros dos
carros americanos da Companhia Carris de Ferro do Porto.
Rua Rodrigues Sampaio, em 1951, em perspectiva idêntica à
anterior, pela qual se observa, que a sede da Ordem dos Engenheiros ainda não
foi construída (inaugurada em 1958) e a Praça D. João I já foi rasgada
À esquerda da foto acima, está a Associação de Jornalistas e
Homens de Letras do Porto.
Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto –
Cortesia de Rui Miguel Melo
Em 1925, o Pátio do Paraíso foi vendido pelo seu proprietário,
o 2º conde de Fijô, José de Castro Falcão Corte-Real (1877-1945), à Câmara Municipal
do Porto e, desde aquela data até 1947, os B.V. do Porto ficaram alojados num
velho edifício apelidado de “barracão”, que daria lugar ao actual quartel, na
Rua Rodrigues Sampaio.
A partir daqui, O Teatro Nacional, que existia junto do
antigo palacete, a sul, pode ser substituído por um outro mais moderno, o
Rivoli.
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