segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

25.262 Uma vida fora de época. A História da Mulher-Homem

 
No ano de 1879, em 6 de Março, começava a correr no Porto a notícia de que tinha dado entrada numa esquadra de polícia, para averiguações, uma mulher que habitualmente se disfarçava de homem.
O Jornal “O Comércio do Porto” noticiava os pormenores do caso acontecido no dia anterior.
O alvo das averiguações chamava-se pelo baptismo, Maria da Trindade, tendo nascido, em 1859, segundo dados obtidos a partir de declarações dela própria na esquadra da polícia, em Quintela (Sernancelhe), mas, ainda de tenra idade, mudou-se para a Granja do Tedo.
Maria da Trindade, de seu nome Antónia Custódia das Neves, desde cedo teve desejos de encarnar um perfil masculino, embora se tratasse de uma bonita rapariga, não denotando, porém, qualquer natureza hermafrodita. Nas brincadeiras escolhia para comparsas os rapazes – uma “Maria Rapaz”.
Por volta dos dez anos de idade, começou a vestir-se como um rapaz e, enquanto jovem, desempenhou tarefas em quintas no Alto-Douro, sempre ao lado de homens feitos, não desmerecendo deles.


 
Maria da Trindade, a Mulher-Homem

 
 
Ainda jovem, na Granja do Tedo, apaixonou-se por uma rapariga a quem dedicou poemas.
 
 
 
Dizer que me tens amizade
Isso é no mesmo instante
Na ausência se conhece
O amor que é constante
 
Quando fores minha esposa
Serás feliz e venturosa
Terás tudo quanto possuo
Minha bela, minha rosa.
 
 
Um dia, deixou de vez o seu passado feminino e a Granja do Tedo e rumou ao Porto, como António, em 1875. Teria 16 anos de idade.
Pensava que, assumindo-se como homem, podia ultrapassar alguns escolhos que a vida lhe colocaria pela frente.
No Porto, o “António Custódio das Neves” namorou com muitas costureirinhas e criadinhas de servir, que se perdiam de amores pelo “António”, vendeu cautelas de lotaria e bilhetes às portas de teatros.
Parece, no entanto, que a sua Rosa, da Granja do Tedo, não estaria esquecida.

 
Diz, minha Rosa,
Sem impostura;
Se amas a outrem
Com mais ternura.
 
Oh! Não me percas
O teu amor;
Espera por mim,
Minha alva flor.
 
Espero de em breve
Aí voltar,
Então mil vezes
Te hei-de abraçar.
 
 
Sabes tu que este meu peito
Só para ti está aberto,
Ninguém mais o ocupará
No povoado ou no deserto.
 
Vivo por ti, só por ti;
Deves conhecê-lo há muito;
Não te esqueças pois de mim
Como estando de ti junto.
 
 
 
 
Como sabia ler e escrever e fazer contas, empregou-se num armazém de vinhos na Rua do Bonjardim.
Seria nesta rua que, em 5 de Março de 1879, “António Custódio das Neves”, alvo com certeza de uma denúncia anónima, foi “interpelado” pelo chefe da 1ª esquadra de polícia, José Ribeiro dos Santos.
Em face da ausência de justificação para a sua vida militar e dos documentos respectivos, foi “levado” para a esquadra da polícia e, a seguir, entregue ao poder judicial.
O “interpelado” disse ter profissão, trabalhar como caixeiro em casa de António Joaquim da Silva, mas acabaria por se descobrir que, afinal, era uma mulher, passando a incorrer no crime de falsa identidade.
Foi, quando, a Antónia Custódia das Neves passou a ser a mulher-homem.
A notícia completa publicada no Jornal “O Comércio do Porto” de 6 de Março de 1879 é apresentada a seguir:  
 
 
 
In revista “O Tripeiro”, 3ª Série, N.º 4, 15 Fevereiro de 1926
 
 
 
Curiosa é a descrição da indumentária do detido.


“Trajava jaqueta de ratina, calça de casimira, chapéu branco de feltro e camisa com peito de folhas com botões de ouro.
No colete via-se-lhe uma corrente de ouro e no bolso o respectivo relógio”.
Fonte: Dr. João Lobato Costa, In revista “O Tripeiro”, 7ª Série, ano XXI, Setembro de 2002
 
 
 
Os periódicos esgrimiram argumentos sobre um assunto que não era comum naqueles tempos.
Seria o Jornal “Actualidade” que iria tomar o partido de Antónia Custódia das Neves e fazer cair para o lado dela a opinião pública.
Dizia-se, no âmbito dessa argumentação que:
Se apresentava publicamente como António e sempre tinha sido conhecida como tal, pois vestiu-se sempre como homem e assim era conhecida;
Ao adoptar uma faceta masculina, a acusada tinha como intenção defender-se melhor da sociedade; ser uma pessoa muito competente e zelosa na sua profissão.
E, no habitual choradinho, apontava-se uma infância infeliz e de abandono, que o afinco e a vontade de ganhar o pão de cada dia, ultrapassavam.
O tribunal mandou-a em liberdade, fruto das boas referências transmitidas por quem foi ouvido como testemunha. A partir daí, readquiriu a sua “condição” de mulher.

 
 
“António Custódio das Neves” (A mulher-homem)
 
 
 
 
A “Voz do Povo”, que se publicou entre 1878 e 1880, dedicava-lhe, então, naquele mês de Março, um poema.


 
 
In “A Voz do Povo”, Março de 1879


 
Em Abril de 1879, com 20 anos de idade, Antónia Custódia das Neves casou, na igreja de Santo Ildefonso, com António Joaquim da Silva Júnior, de 19 anos, filho do taberneiro da Rua do Bonjardim onde trabalhara.
Viria a falecer, em 20 de Março de 1888, num incêndio ocorrido no Teatro Baquet, no qual terão morrido 120 pessoas.
António Joaquim da Silva Júnior, também presente, mas que sobreviveu à tragédia, contava que por três vezes conduziu pessoas para o exterior do braseiro pensando serem a Antónia.
 
 
 
Teatro Baquet, Rua de Santo António, em 1875
 
 
 
 
 
Teatro Baquet na Rua de Santo António
 
 
 
Daquela tragédia ficou a lembrança num memorial de homenagem às vítimas no Cemitério de Agramonte.
 
 
 
Memorial às vítimas do Teatro Baquet no cemitério de Agramonte
 
 
 
Um poeta satírico daquele tempo evocou a infeliz Antónia Custódia na quadra seguinte:
 
 
Era um rapaz às direitas
a Maria da Trindade
Todas as moças bem-feitas,
Inda a choram com saudade
 
 
 
António Joaquim da Silva Júnior haveria de exercer durante anos as funções de fiscal no Teatro Águia d’Ouro, tendo falecido, algures, na década de 1920.
Em 1879, seria publicado no Porto um livro com o título “Maria Coroada ou Scisma da Granja do Tedo, Verdadeira História da Mulher-Homem ou Homem-Mulher- António Custódio das Neves ou Antónia Custódia das Neves”.
Os autores eram Patrício Lusitano e Pantaleão Froilaz, pseudónimos, respectivamente, de Pinho Leal e do Dr. Pedro Augusto Ferreira, abade de Miragaia.
Surge, então, a teoria de que Antónia Custódia das Neves era filha de Maria das Neves ou Maria Coroada, uma profetiza que liderou entre 1840 e 1847, na Granja do Tedo, uma seita religiosa com laivos e folclore associados à crendice popular, que acabou interditada pela autoridade administrativa, à data, sediada em São Cosmado.
Aliás, dizem que teria sido a sua mãe que instruiria as suas filhas, argumentando, que sendo este mundo comandado por homens, a metamorfose em causa se justificava.
Assim sendo, as declarações de Antónia Custódia das Neves, na esquadra da polícia, quanto à paternidade, eram falsas, ou, então, ela própria desconhecia as suas origens.
O certo, é que viria a descobrir-se, mais tarde, no Douro, uma irmã de Antónia Custódia das Neves, igualmente vestida de homem, que exercia a profissão de moleira.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

25.261 Quinta do Paraíso e Pátio do Paraíso

 
Chamava-se à Rua Rodrigues Sampaio que, actualmente, liga a Praça D. João I à Praça do Município, Rua do Paraíso porque, nos inícios do século XVIII, corria ao longo de uma quinta com a mesma designação e que pertencia à influente e próspera família Huet Bacelar.
A área ocupada pelo cinema Rivoli, Café Garça Real e Caixa Geral de Depósitos, seria o local do palacete dessa família, cuja quinta se estendia até ao Laranjal (Avenida dos Aliados).
Esta propriedade já aparece assinalada nas plantas antigas (século XVIII) do Bairro dos Laran­jais e era conhecida pela Quinta de Lourenço Huet, tendo desaparecido, completamente, com a urbanização do Bairro dos Laranjais, or­denada por João de Almada e Melo.
Nas pesquisas que fez, Cunha e Freitas diz que esta artéria teve várias designações e cita-as " … ao Paraíso e Rua do Paraíso, em 1723; Lugar do Paraíso e Viela do Paraíso, em 1724".
E, em anos posteriores, encontrou mais estas referências "… Viela do Mendes, na Rua do Paraíso (1772); Rua do Paraíso, acima da Viela do Tintureiro, defronte da Cancela Velha (1767); Rua do Paraíso, defronte do Pardieiro; e Rua defronte do Pátio do Paraíso (1772).
O chamado Pátio do Paraíso compreenderia o logradouro à entrada do antigo palacete, que tinha a sua fachada principal voltada para a Rua do Bonjardim, pois ainda não existia a Praça D. João I, e referia-se ao espaço hoje ocupado pelo cinema Rivoli, Caixa Geral de Depósitos, Café Garça Real.
Naquele logradouro exercitavam-se os Bombeiros Volun­tários do Porto e, no antigo palacete, tinham a sua sede e o seu quartel, desde de 1875, quando foi constituída a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Porto.

 
 
Bombeiros Voluntários do Porto no Pátio do Paraíso

 
 
Por aquele palacete já tinha passado, na década de 1840 o conceituado Colégio do Paraíso que, em 1849, era referido pelo Almanak do Porto e Villa Nova de Gaia.
Por lá, também esteve a Alquilaria Marinhas da firma Carneiro & Marinhas, que se gabavam de ter as melhores carruagens da cidade puxadas pelos melhores cavalos.


 
 
Casa da Quinta do Paraíso

 
 
Em 30 de Março de 1907, Os Bombeiros Voluntários do Porto inauguraram na sua sede um pequeno cinema que se chamaria "Salão Portuense" que, em Julho, já era o "Cinematógrafo do Paraíso" e, em Outubro, "Salão d'Élite".
A partir de 3 de Fevereiro de 1910, data da fundação do Orfeão do Porto, por não ter instalações próprias, esta instituição começou a usar um espaço cedido pelos Bombeiros Voluntários do Porto. 
Esta situação vigorou até o orfeão se ter mudado para a Praça da Batalha, por onde está ainda nos nossos dias.
  

 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1936
 
 
 
 
Na foto acima, os prédios ao fundo, corriam ao longo da Rua do Bonjardim.
À esquerda, vemos o prédio da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) inaugurado cerca de seis anos antes.
No rés-do-chão do prédio teve vida efémera o “Restaurante Lagostim” e pelos anos de 50 do século XX, por lá já estava a casa de artigos de fotografia a “Filmar”.
A foto foi obtida em 1936, precisamente, no dia em que ocorria o leilão dos móveis daquele restaurante.
À direita, ficava o Pátio do Paraíso, onde os Bombeiros Voluntários do Porto tinham o seu quartel. Os arcos faziam parte de um projecto para um novo quartel, que acabou por ser reformulado e que, por essa razão, acabaram por ser demolidos.
Ao fundo, aquela parede era do prédio da “Pensão do Joãosinho”.
Um pouco mais à frente, após virar a esquina, encontrava-se o Teatro Rivoli.
O terreno vago viria a ser o chão da sede da Ordem dos Engenheiros.
Os prédios da Rua do Bonjardim seriam poucos anos depois demolidos para abertura da Praça D. João I.
Da esquerda para a direita, à data, a primeira casa com apenas uma nesga visível era a Fábrica do Pão-de-Ló do Tuna, seguia-se a casa de torrefacção de café e mercearia de António Augusto.
Na casa a seguir, no seu primeiro andar, tinha o seu consultório o médico homeopata, Dr. Rodrigo Guimarães.
Depois, seguia-se a Farmácia Homeopática de Cândido Alves, que viria a ser um dos proprietários do café “A Brasileira” e o armazém de solas e cabedais de José Bento Pereira.
A partir daí, era, porta-sim e porta-não, as confeitarias e padarias, das Rezendes, das Brenhas, das Palaias, etc, fornecedores das vendedeiras das feiras nortenhas e do pão de ló, pela Páscoa.
Mais abaixo, no nº 125, esteve a “Fotografia Americana”, onde Manuel de Sousa Ferreira imprimia os passes anuais para os passageiros dos carros americanos da Companhia Carris de Ferro do Porto.
 
 
 
Rua Rodrigues Sampaio, em 1951, em perspectiva idêntica à anterior, pela qual se observa, que a sede da Ordem dos Engenheiros ainda não foi construída (inaugurada em 1958) e a Praça D. João I já foi rasgada

 
 
À esquerda da foto acima, está a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.


 
 
Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto – Cortesia de Rui Miguel Melo
 


 
Em 1925, o Pátio do Paraíso foi vendido pelo seu proprietário, o 2º conde de Fijô, José de Castro Falcão Corte-Real (1877-1945), à Câmara Municipal do Porto e, desde aquela data até 1947, os B.V. do Porto ficaram alojados num velho edifício apelidado de “barracão”, que daria lugar ao actual quartel, na Rua Rodrigues Sampaio.
A partir daqui, o Teatro Nacional, que existia junto do antigo palacete, a sul, pode ser substituído por um outro mais moderno, o Rivoli.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

25.260 Duas fundações que dignificam a cidade do Porto

 
Fundação Engenheiro António de Almeida
 
 
António Manuel de Almeida nasceu na freguesia de S. Pedro, em Vila Real, no seio de uma família modesta, em 5 de Novembro de 1891.
Dotado de uma grande força de vontade, as suas origens não obstaram a que tirasse o curso de Engenharia Civil e de Obras Públicas com elevada classificação. Casou aos 29 anos com Olga Ana Andresen.
Entretanto, vai trabalhar como administrador do Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa e é incumbido de abrir uma filial no Porto.
Passando a habitar um andar do prédio da dependência bancária acabaria, anos mais tarde, por adquirir um terreno na Rua de Tenente Valadim, no Porto, junto do Centro Hípico do Porto, que por lá se manteve entre 1911 e 1938, com o objectivo de construir uma moradia para sua habitação.
Em 1935, a família muda-se para a “casa nova”, como passou a ser chamada.
Por intervenção de Olga Andresen, posteriormente, a habitação haveria de ser ampliada e por si decorada com peças de diversas proveniências, mas de alta qualidade e gosto.
Quando faleceu, a 9 de Outubro de 1968, António Manuel de Almeida deixou uma casa recheada com peças valiosíssimas, dignas de um museu, e uma colecção de numismática.
Entre o espólio da “casa nova”, sobressaem, também, as porcelanas da Companhia das Índias e da fábrica de Maissen, peças de prata e quadros de pintores consagrados.
Após a morte de António Manuel de Almeida, a Fundação Eng.º António de Almeida resultaria de uma sua disposição testamentária, que vai ganhar forma sob acção do Dr. Fernando Aguiar Branco, que será o seu Presidente.
Assim, a 5 de Maio de 1969, surge no Porto, uma instituição particular de utilidade pública geral, perpétua e com personalidade jurídica.
Será objecto da Fundação Eng.º António de Almeida a divulgação de manifestações de arte, de exercer a caridade e de promover a educação.
As obras necessárias para instalação no prédio da Rua de Tenente Valadim da Fundação Engº António de Almeida, levaram a que a inauguração fosse feita em Julho de 1973.
Após a revolução de 25 de Abril parte do património da fundação é nacionalizado, tendo, por esta razão, sido adiados planos de ampliação das instalações pela construção de novos edifícios.
Paulatinamente, a Fundação Engº António de Almeida continuou a crescer e a fazer parte do quotidiano dos portuenses.
Na década de 1990, foi adquirida uma parcela de terreno anexa à casa-museu.
Foram, então, construídos mais três novos edifícios.
A actividade é profícua, com a realização de congressos, conferências, exposições e festivais de música.
Reportando-nos, apenas, ao auditório, ele é constituído por três salas: uma em anfiteatro para 300 pessoas; outra, com acesso a um terraço de 300 m2, para 700 pessoas e uma mais pequena com capacidade para 200 pessoas.
Uma referência aos jardins envolventes a todo o complexo dotado de uma flora com algumas espécies exóticas.

 
 
Jardins da Fundação Engº António de Almeida – Cortesia de Luís Ferreira Alves
 
 
 

Salão da “Casa Museu” da Fundação Engº António de Almeida – Cortesia de Luís Ferreira Alves
 
 
 
Todos os anos é atribuído o prémio Eng.º António de Almeida aos alunos que façam a divulgação do país e da língua no estrangeiro.
Contam-se já por milhares, os alunos que foram agraciados.
Apoios diversos a outras instituições, acções de promoção de diversas obras literárias e uma actividade importante no campo editorial têm sido uma constante da existência da Eng.º António de Almeida.

 
 
Vista aérea das instalações da Fundação Eng.º António de Almeida - Ed. Luís Ferreira Alves, in revista “O Tripeiro”, 7ª série, Ano XVI, Abril/Maio 1997
 
 
Legenda da vista anterior:
 
1 Casa Museu
2 Casa Jardim
3 Administração
4 Auditório
 

A Fundação Eng.º António de Almeida não desdenharia apresentar entre os milhares de acções culturais levadas a cabo nas suas instalações, apresentar como um dos pontos mais altos, a homenagem prestada à pianista Helena Sá e Costa, em 25 de Maio de 1996.
 
 
 
 

Helena Sá e Costa agradece a homenagem que recebeu na Fundação Eng.º António de Almeida 


 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda
 
 
 
“A Fundação foi instituída em 1964. É uma instituição privada, sem fins lucrativos, que tem por missão a realização de atividades educativas, culturais e sociais que promovam a sociedade do conhecimento e contribuam para a inclusão social, proporcionando simultaneamente oportunidades de ocupação de tempos livres”.
Fonte: facm.pt
 
 
A Fundação seria instituída em Stº Tirso, em 1964, e a sua sede passou, posteriormente, por uma alteração estatutária, em 1973, para o Porto, fixando-se, sucessivamente, num prédio na Rua de Costa Cabral e, depois, na Rua Raimundo Macedo, até que, finalmente, a 1 de Abril de 1991, se instalou na Avenida da Boavista, numa nova sede construída de raiz, cujo projecto é do Arquitecto Francisco Braancamp de Figueiredo.
 
 
“António Cupertino de Miranda nasceu em 21 de janeiro de 1886, em Famalicão, segundo filho duma família de proprietários agrícolas, partiu para o Brasil em 1915, por motivos políticos, lá permanecendo por mais de 30 anos. Exerceu a atividade de professor, dedicou-se ao jornalismo. A partir de 1918, começou a sua atividade de representação e procuradoria.
Assumiu o papel de delegado da Casa Bancária Cupertino de Miranda & Cª, como secretário geral do Banco Aliança no Brasil.
(…) Regressa a Portugal a 7 de agosto de 1948, com 62 anos. Sem descendentes diretos, leva uma vida quase ascética e aproveita esta nova fase para meditar e fazer um balanço da sua vida.
Nasce a ideia de criar uma Fundação”.
Fonte: facm.pt



Irmão de Artur Cupertino de Miranda e Augusto Cupertino de Miranda, fundadores da “Casa Cupertino & Irmão, Lda”, em 1918, António Cupertino de Miranda vai construir a ponte desta entidade bancária no Brasil.
O culminar de um percurso de sucesso irá levar o grupo bancário até 31 de Dezembro de 1942, quando é fundado o Banco Português do Atlântico.
Entretanto, antes, em 1926, a filial existente no Rio de Janeiro, do portuense Banco Aliança, findava o prazo de autorização para o seu funcionamento e a não renovação do mesmo, obriga a que entre em liquidação.
Contudo, o negócio financeiro que aí esteve instalado, seria cedido ao recém-criado Banco Aliança do Rio de Janeiro, no qual o portuense Banco Aliança deteve importante participação, até 1938, e António Cupertino de Miranda desempenhou o cargo de Secretário-Geral da instituição, como delegado de “Cupertino de Miranda & Cia”.
 
 
 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, a partir de 1973, na Rua de Costa Cabral, nº 575



 

Fundação Dr. António Cupertino de Miranda, a partir de 1981, na Rua Raimundo Macedo
 


Quando ocorre a revolução de 25 de Abril, a Fundação tinha o seu património constituído quase exclusivamente por acções do Banco Português do Atlântico e devido à nacionalização da Banca, ocorrida em 11 de Março de 1975, fica sem património.
O Dr. António Cupertino de Miranda, que dá o seu nome à fundação, pouco tempo sobrevive à data histórica de imposição do fim da ditadura e morre, em 16 de Novembro de 1974, com 88 anos.
Em 1981, inicia-se o processo de pagamento das indeminizações provenientes das nacionalizações e começará, então, a reestruturação financeira da Fundação e o administrador Dr. Alberto Correia de Almeida decide iniciar a criação de uma colecção de papel fiduciário (ou seja, que faz fé, que dá confiança) composto por notas do Banco de Portugal, cheques, letras, cédulas, acções, exemplares de papel selado e uma colecção de lotarias que, mais tarde, irá permitir abrir um Museu do Papel-Moeda.
Em 1991, a Fundação Dr. António Cupertino de Miranda ocupa, então, a sua sede na Avenida da Boavista, fronteira ao Parque da Cidade.
Em 1996, a 20 de Janeiro, após ampliação das instalações da Avenida da Boavista, inaugura-se o Museu do Papel-Moeda, que é o núcleo diferenciador desta instituição.
 
 
 
 

Actual sede da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda – cortesia de Manuel de Sousa, in wikipédia
 
 
 
A partir da inauguração do Museu do Papel-Moeda, a Fundação tem vindo a aumentar as estruturas físicas, sendo a área construída de 4.000m2.
A Fundação está dotada com duas salas de exposição permanente. Enquanto a primeira conta a história do dinheiro de papel em Portugal e inclui uma importante colecção de notas, onde estão representadas todas as emissões do Banco de Portugal e do Banco Nacional Ultramarino, a segunda exibe mais de 5.000 miniaturas de automóveis e ainda outras colecções de barcos, comboios e aviões.

 
 
 

Colecção de papel-moeda do museu da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda


 
 

Colecção de miniaturas auto do museu da Fundação Dr. António Cupertino de Miranda
 
 
 
 
 

Alguns exemplares da colecção numismática do Museu do Papel Moeda

 
 
Para além de um restaurante aberto diariamente, a sede dispõe de auditórios e de salas de exposições, equipadas com modernos sistemas áudio e projecção de vídeo, videoconferência e tradução simultânea.