Sidónio Bernardino Cardoso de Silva Pais (Caminha, 1 de Maio
de 1872 – Lisboa, 14 de Dezembro de 1918), casou com 23 anos com uma mulher
mais velha que ele, em 1895, com a qual teve cinco filhos e, naquele ano,
matriculou-se para retomar o curso de Matemática na Universidade de Coimbra,
que interrompera, anos antes, para frequentar a Escola do Exército.
Em 1898, sai doutor em Matemática e, em Outubro de 1910,
chega a vice-reitor da Universidade de Coimbra.
Vai militar no Partido Unionista. Em 1910, ainda é
Presidente da Câmara de Coimbra e no 1.º governo da República, em 1911, vai ser
ministro do Fomento, no governo de João Chagas e, depois, abraça a pasta das
Finanças, no governo de Augusto de Vasconcelos Correia.
Foi, depois, representante diplomático de Portugal em
Berlim, desde 17 de Agosto de 1912, retornando a Portugal após termos sido
envolvidos na 1.ª Guerra Mundial.
O mês de Dezembro de 1917 vai ser recheado de notícias
relacionadas com uma insurreição armada acontecida na capital.
Entre os dias 5 e 8 de Dezembro de 1917, Sidónio Pais veste
a farda de militar e ocupa a Praça do Marquês do Pombal em Lisboa. O papel do
povo é determinante no desfecho da contenda.
Na madrugada do dia 8 de Dezembro fora exonerado o governo
liderado por Afonso Costa, transferindo-se o poder para a Junta Revolucionária
presidida por Sidónio Pais.
Bernardino Machado é destituído do cargo de Presidente da
República e vai acabar exilado.
No dia seguinte à tomada de poder por Sidónio Pais e do
derrube do governo de Afonso Costa, os portuenses começam a ter uma ideia mais concreta
do que teria acontecido pela capital.
Eram tempos difíceis, em que os portugueses sentiam os
efeitos do conflito mundial 1914-1918 e os portuenses sofriam, ainda, os de um
tifo exantemático, que se estenderia pelo ano seguinte de 1918.
Acresce que, após a implantação da República, eram muitas as
desavenças entre os republicanos entrincheirados em diversas facções.
No Porto, em 9 de Dezembro, na sequência do golpe de Estado,
começam a sentir-se os ventos dos novos tempos. Assim, são detidos e levados
para bordo de um barco ancorado em Leixões, Afonso Costa, que se encontrava de
visita pelo Porto e hospedado no Grande Hotel do Porto, Augusto Soares, Rómulo de
Oliveira, Caldeira Scévola, António Martins, Cristiano Carvalho e Domingos
Tomé.
O Café Chaves, ao Laranjal, é encerrado.
Na esquina (nos dias hoje será o local, sensivelmente, da
implantação da estátua da “Menina da Avenida”) do prédio esteve, desde 1900 até
1918, o Café Chaves, no Laranjal, poucos meses antes de ser transferido para a
Cordoaria
O Café Chaves, em 15 de Maio de 1918, iria abrir portas no
"chalet" da Cordoaria.
Alberto Midões, António Barbosa e Pedro Mourão serão detidos
no Clube Português, à Rua Formosa, no dia 10 de Dezembro.
D. António Barroso, que se encontrava no exílio, é
autorizado a regressar à sua Diocese e, no dia 20 de Dezembro, fá-lo viajando
incógnito, recolhendo ao Paço de Sacais, no Bonfim, por estar ocupado com os
serviços camarários o Paço Episcopal, à Sé.
As primeiras medidas de Sidónio Pais foram alterar “Lei de
Separação das Igrejas e do Estado”, suscitando de imediato a reacção dos
republicanos históricos e da Maçonaria, mas colhendo o apoio generalizado dos
católicos, dos republicanos moderados e da população rural, então a vasta
maioria dos portugueses.
É suspenso o decreto sobre o Ensino Secundário, que vinha
provocando grande agitação nos meios estudantis e, em sequência, termina a
greve dos estudantes liceais do Porto.
No Porto, Belchior de Figueiredo vai desempenhar a função de
chefe do Comité Revolucionário; o Governador Civil, Dr. Nunes da Ponte dá posse,
no dia 16 de Dezembro, ao novo Comissário Geral da Polícia, capitão José de
Melo Carvalho e ao novo Inspector da Polícia, Alfredo Carlos Dias da Costa.
No dia 30 de Dezembro, são encarcerados os políticos
Hamilton Carramão, Carlos Lopes do Vale, Francisco António da Gama e, ainda,
António Ferreira Seixas Júnior, que era o director dos jornais “A Montanha” e a
“Lanterna”.
Chegado o novo ano de 1918, a 12 de Janeiro, Sidónio Pais visita o Porto, hospeda-se no Grande Hotel do Porto e,
na tarde do dia seguinte (chovia a cântaros), vai à Bolsa, presidir à cerimónia de devolução do
edifício à Associação Comercial, na pessoa do seu presidente António Alves
Cálem Júnior.
Fachada do Grande Hotel do Porto, à data, da hospedagem de
Sidónio Pais e onde, no mês anterior, tinha sido preso Afonso Costa. Em 1918, o
hotel receberia obras e a fachada foi um pouco alterada
No dia 15 de Janeiro, Sidónio Pais assiste a um baile em sua
honra no hotel em que estava hospedado e, no dia seguinte, visita a
Universidade, o Hospital Militar e outras instituições e assiste, ainda, na
gare da estação de S. Bento, à partida de um contingente de Artilharia 6, que
partia para Moçambique.
Em 11 de Março, de 1918, ressurge nas bancas “A Voz Pública”, que se tinha publicado, no Porto, entre 1891 e 1909.
Nesta ocasião, diz ser um Diário Republicano Conservador. Na
verdade é um defensor do novo regime.
Em 12 Março de 1918, na sequência de ideia que vinha
germinando desde o golpe de Estado de abrir no Porto a filial do Colégio
Militar, é anunciado que foi escolhido para o efeito o Convento do Sardão, em
Vila Nova de Gaia.
Em 18 de Abril de 1918, a capela da Rua de Gondarém, que
tinha sido transladada pedra por pedra desde o seu primitivo local de
instalação, junto à igreja de S. Francisco, em S. Nicolau, pertencente à confraria dos ourives da prata e que tinha sido
encerrada, é devolvida ao culto, por decisão do governo de então, em decreto
assinado por Sidónio Pais.
Em 28 de Abril de 1918, Sidónio Pais foi eleito por sufrágio
directo dos cidadãos eleitores, obtendo 470 831. Foi proclamado Presidente
da República, a 9 de Maio, do mesmo ano, sem sequer fazer consulta ao Congresso
e passando a gozar de uma legitimidade democrática directa.
Estava legitimada pelo voto a República Nova.
Para a expressiva votação, Sidónio Pais contou muito com a
sua popularidade junto dos católicos, ainda que fosse ateu, mas também assistia, frequentemente, à celebração de missas.
O contexto religioso na data da ida às urnas, para além da
religiosidade crónica dos portugueses, experimentava outras vivências.
Um ano antes, numa charneca da aldeia de Aljustrel, na serra
de Aire, três crianças analfabetas (Lúcia Santos, de 10 anos, Francisco Marto,
de 9 anos e Jacinta Marto, de 7 anos) disseram ter vivido uma experiência
mística, quando uma “senhora de luz” lhes falou de cima de uma azinheira e,
cerca de seis meses antes, uma multidão presente no local da visão narrada,
assistiram à “dança do sol”, o que foi entendido como um milagre.
Em Maio de 1918, Sidónio Pais está de volta ao Porto.
No dia 17, chega ao Porto e visita a Ilha dos Galegos, ao
Monte Pedral, dando ordens para arrasar com aquelas autênticas pocilgas que não
eram para alojar seres humanos.
Na realidade, passada uma semana, no dia 24, o Dr. Almeida
Garrett que tinha tomado posse, quatro dias antes, do cargo de representante do
Governo para o combate à epidemia de tifo exantemático, consegue que os 100
habitantes da Ilha dos Galegos sejam alojados no Bairro Municipal da Prelada.
Até partir para Lisboa, no dia 19 de Maio, Sidónio Pais
visita os doentes de tifo internados no Hospital Joaquim Urbano, demorando-se
no quarto do Dr. Freitas Veloso, sub-director do mesmo hospital, contagiado em
serviço e ainda visitou a Exposição de Rosas que estava pela nave do Palácio de
Cristal.
No dia 19, Sidónio Pais inaugura uma Sopa dos Pobres e de
visita ao Aljube decide que fossem imediatamente libertados todos os presos
políticos que aí se encontravam, o que caiu muito bem nos portuenses.
Na realidade, o tempo de prisão sem culpa formada, já tinha
passado dos oito dias previstos no tempo de Afonso Costa para os sessenta dias.
Por outro lado, as forças mais conservadoras da sociedade começavam
a sentir-se mais libertas e, no Porto, vão manifestar o seu contentamento junto
do Dr. Alfredo Magalhães, nomeado Ministro da Instrução que, embora não fosse
um portuense, era uma figura de relevo na vida citadina.
Em 1890, o Dr. Alfredo de Magalhães tinha-se matriculado no
curso de Medicina da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, curso que terminou
em 1896.
No ano de 1899, parte para França, onde permanece até
1901, período durante o qual frequenta na Universidade de Paris um curso
de especialização em Dermatologia e Sifiligrafia.
Foi contratado como professor substituto da Escola
Médico-Cirúrgica do Porto, onde leccionava as disciplinas de Histologia, Matéria
Médica e Terapêutica Geral, cargo que acumulava com o exercício da
medicina provada e com aulas no Instituto Superior do Comércio Portuense. Em
1911, é nomeado professor da Faculdade de Medicina da Universidade do
Porto em resultado da integração da Escola Médico-Cirúrgica na
recém-fundada Universidade do Porto.
“José Alfredo Mendes
de Magalhães (Valença do Minho, São Salvador de Gandra, 20 de Abril de
1870 — Porto, 17 de Outubro de 1957), mais conhecido por Alfredo de
Magalhães, foi médico, professor de Medicina, publicista e
político republicano com actividade no período da Primeira
República Portuguesa e do Estado Novo. Entre outras funções foi reitor
da Universidade do Porto, procurador à Câmara Corporativa, Ministro
da Instrução Pública, governador-geral de Moçambique e presidente da
Câmara Municipal do Porto. Foi membro da Maçonaria, com iniciação
feita na loja Fernandes Tomás,
da Figueira da Foz”.
Cortesia de Carlos Gomes (Blogue do Minho)
Narrativa das manifestações envolvendo o Dr. Alfredo
Magalhães, em 19 e 21 de Julho de 1918, respectivamente
Os sidonistas, sentindo chegada a hora da vingança, começam
a retaliar contra todos que representavam a velha ordem.
Em Julho, foram alvos preferidos os jornais anti-clericais.
O jornal “A Voz Pública”, afecto ao governo, não escapa à
saga vingativa dos ultra-sidonistas e, no dia 9 de Novembro de 1918, a sua sede
é assaltada e destruídas a redacção e as oficinas.
As instalações do Aljube não têm descanso.
No dia 16 de Novembro, são detidos por motivos políticos
Mário Mesquita de Barros, Alberto Ferreira das Neves Álvaro Nascimento, Joaquim
de Sousa Loureiro, José Francisco Pereira, João José Duarte e muitos mais.
No dia seguinte, a 17 de Novembro, o General Macedo e Silva,
comandante da Região Militar Norte, determina a proibição de circulação de
veículos, excepto oficiais e serviços de socorros.
No dia 20, numa fábrica de calçado da Rua dos Caldeireiros,
é descoberto um arsenal de bombas, armas e munições.
O chefe da polícia, o capitão Solari Alegro, faz horas extra na perseguição aos opositores do regime, entretanto, denominado de República Nova e, em contra-partida, não cessam as manifestações de carinho e as homenagens de que é alvo, durante almoços e jantares dos quais é o centro das
atenções e, normalmente, têm lugar no restaurante do Palácio de Cristal.
Entretanto, era já perceptível que as divisões dentro da
República Nova eram imensas.
Belchior de Figueiredo, o líder do movimento no Porto, já se
tinha afastado.
Entre muitas visões distintas de encarar a governação, a
decisão de acabar com os Ministros transformando-os todos em Secretários de
Estado, foi a machadada final. Por isto, Feliciano Costa, o braço direito de
Sidónio, abandona o barco e é recambiado do Ministério do Trabalho para Roma
como embaixador.
No dia 2 de Junho de 1918, no Porto, forças de Cavalaria 9 e
de Infantaria 6 tomam conta da Estação de Campanhã, enquanto contingentes da
GNR e da Polícia se concentram na Estação de S. Bento e Estação das Devesas,
(V.N. de Gaia), para neutralizarem uma greve de pessoal da CP a que, por
solidariedade, já tinham aderido, também, pessoal da Linha do Minho e Douro.
Em 14 de Junho, na sequência desta greve nos
caminhos-de-ferro, afasta-se, também, Machado Santos.
No dia 6 de Dezembro de 1918, chega a notícia de Lisboa que
Sidónio Pais tinha sido alvo de um atentado, mas que sobreviveu. Acalmaram-se
as hostes.
No dia anterior, tinha acontecido uma espectacular parada
militar na Avenida da Boavista para comemorar o primeiro aniversário da revolta
chefiada por Sidónio Pais.
O general Macedo e Brito passaria revista às tropas em
parada. Então, foi apresentada pela primeira vez uma Charanga de Cavalaria 9 e
um contingente armado da Polícia com um grupo de corneteiros e tambores.
Naquela 6.ª Feira, 6 de Dezembro, a Câmara Municipal do
Porto seguia no ritmo habitual, decidindo pedir ao conde de Vizela a cedência, para o museu
municipal, da pedra de armas de um velho prédio que estava a ser demolido na
Rua do Correio, o que foi aceite pelo destinatário.
No dia 14 de Dezembro, causaria grande emoção e comoção a
notícia de mais um atentado sofrido por Sidónio Pais.
Desta vez, na Estação do Rossio quando se preparava para
embarcar em direcção à cidade do Porto para mais uma visita. Sidónio Pais, sobrevivendo,
momentaneamente, viria, no entanto, a morrer no hospital.
Foi seu algoz, Júlio Costa que, em 1918, aquando de uma
greve dos trabalhadores rurais de Vale de Santiago, assumiu a posição de
negociador entre as autoridades e os revoltosos, conseguindo um acordo.
A actuação daqueles trabalhadores, liderados pela ala
anarquista da Comuna da Luz de António Gonçalves Correia, foi considerada como
perigosa para a ordem pública, e o Governo não aceitou os termos do acordo,
sendo os grevistas severamente punidos, sendo alguns deportados para África.
Sentindo-se traído pela falta de palavra das autoridades, o
já inconformado José Júlio da Costa radicalizou-se e jurou vingar os seus
conterrâneos do Vale de Santiago, decidindo assim assassinar Sidónio Pais
José Júlio da Costa faleceu em 1946, com 52 anos de idade,
internado no Hospital Miguel Bombarda, depois de 28 anos de prisão sem direito
a julgamento.
Começam as prisões dos políticos oposicionistas e diversas
guarnições militares começam a chegar à cidade do Porto para reforçar as que já
cá estavam sediadas.
Rejubilam os oposicionistas, lamenta o povo.
Apesar de a República Nova encarnar uma ditadura, o povo
admirava o ditador.
Sidónio deixava-se fotografar com anciãos, pegava ao colo as
criancinhas, visitava enfermos, visitava os casebres e ilhas onde o povo vivia,
instituía locais de distribuição de alimentos denominados “Sopa dos Pobres” e
andava entre os mais necessitados.
A vida das populações, regra geral, pouco se alterou, assim: continuavam as necessidades inerentes a uma guerra que atingia
Portugal; o regimento em La Lys foi massacrado e, mesmo após o Armistício, não
houve engenho para repatriar os sobreviventes; a fome grassava e sucediam-se os
assaltos aos armazéns de comida e os assaltantes repelidos a tiro pelas forças
policiais.
No dia 23 de Dezembro, chegam à cidade os Regimentos de Infantaria 32,
de Penafiel e de Artilharia 4, de Amarante, unidades aboletadas no Matadouro
Municipal e na Serra do Pilar, respectivamente.
No dia 26, chegam os regimentos de Artilharia 7, de Viseu
que vai ser aquartelado no Monte Aventino, Regimento de Infantaria 8, de Braga
e Regimento de Infantaria 20, de Guimarães, ambos aquartelados no Matadouro
Municipal.
Dia 27, chega ao Porto o Regimento de Infantaria 9, de
Lamego.
Para assegurar a ordem é criada, no dia 18, a Junta Militar
do Norte pelos coronéis Gaspar Cunha Prelada e António Maria da Silva Ramos,
tenente-coronel Jaime Carvalho da Silva e capitães Aires de Abreu e Solari
Alegro.
No dia 24, o comando das tropas da Junta Militar do Norte é
assumido pelo general Tamagnini de Abreu.
A última noite de 1918, seria passada com o rebentamento de
petardos, um deles junto da residência, à Rua Antero de Quental, de Alberto
Meneses, Governador Civil do Porto.
Não tinha passado um mês, a 19 de Janeiro de 1919, a
Guarnição Militar do Porto, reunida no Monte Pedral, sob o comando de Paiva
Couceiro, declara a restauração da Monarquia.
O Porto, mais uma vez, no olho do furacão.
A proclamada “Monarquia do Norte” durou 25 dias. Ficou como a Revolta do Quarteirão.
O sidonismo tinha trazido algo de premonitório e o 28 de
Maio de 1926 perfilava-se no horizonte.
O corpo de Sidónio Pais foi embalsamado e sepultado nos
Jerónimos, uma semana depois de ter sido morto, mas os seus restos mortais
foram, posteriormente, transladados para o Panteão Nacional pelo Estado Novo.
Passados dois anos sobre o atentado que vitimou Sidónio
Pais, em 1920, Fernando Pessoa homenageou-o num longo poema intitulado
“Presidente-Rei”. Começa assim:
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