Implantação das
estruturas
O Mosteiro de S. Bento da Vitória foi erguido no Morro do
Olival, na actual Rua de S. Bento da Vitória, que já foi Rua de S. Bento dos Frades
e Rua
de S. Bento, tendo sido, ainda, Rua de S. Miguel, quando esta tinha
a configuração de um L.
Hoje, dessa Rua de S. Miguel, só resta o troço do braço
pequeno do L.
Situava-se no interior das muralhas e junto da Porta do
Olival.
O mosteiro e a sua igreja de S. Bento da Vitória serviam à
Ordem Beneditina, fundada por S. Bento (480-547), tendo a sua construção ocorrido
em finais do século XVI, no local anteriormente ocupado pela Judiaria do
Olival.
Aqueles monges obedeciam à Regra de S. Bento que consagrava
os princípios da humildade, pobreza e obediência.
Em função do que tinha sido decidido no Mosteiro de Tibães,
os beneditinos entraram no Porto com o intuito de construírem um mosteiro na
cidade, o que veio a acontecer depois de resolvidos alguns entraves, embora, a
construção, só tenha terminado cerca de um século depois.
Expulsos os judeus por D. Manuel I, em 1496, os bens que
deixaram para trás foram distribuídas pelo Cabido e pela Câmara que, por vezes,
se mostraram relutantes na transferência da posse das propriedades para os
beneditinos. Por esta razão, alguns dos litígios tiveram, mesmo, de ser sanados
em tribunal.
O Mosteiro de S. Bento da Vitória foi o único mosteiro
beneditino masculino construído no Porto, tendo sido instituído em 1596, onde,
antes, estavam os terrenos e casebres ocupados pelos judeus.
A sua construção terá, então, arrancado, mas, em Março de
1597, o rei Filipe II chamava à ordem a Câmara do Porto pelo facto da
construção do mosteiro ter avançado sem a necessária autorização do monarca e,
ao mesmo tempo, a Câmara era avisada que, de futuro, tal não deveria mais
acontecer.
Talvez, por este facto, a construção só arrancaria, em
pleno, em 1604, no local onde estavam as ruínas de uma antiga sinagoga.
“Convento maneirista
com igreja cruciforme, de nave única precedida por galilé, capelas colaterais
intercomunicantes e abóbada de berço em caixotões, e dois claustros. Capelas
com retábulos de talha dourada de estilo nacional e joanino. O claustro principal
tem motivo serliano. O cadeiral, de estilo nacional, com relevos narrativos da
vida de São Bento de grande qualidade, é um dos melhores do estilo. O
retábulo-mor constitui o mais grandioso exemplar do tipo de retábulo com
tribuna de estilo nacional na variante em que as colunas alternam com
pilastras. Retábulos de estilo joanino de vários andares e sanefa do arco
triunfal também joanino, de forma tradicional”.
Fonte: monumentos.gov.pt
Em primeiro plano, a fachada do mosteiro voltada para a Rua
de S. Bento da Vitória e cujas traseiras se debruçam sobre a Rua de Trás
O complexo monacal tinha dois claustros: o claustro dos
carros e, o chamado claustro nobre que, mais tarde, seria coberto e tinha sido
concluído em 1743, apresentando uma fonte no seu centro.
“O claustro contíguo à
portaria, todo em cantaria, possui dois pisos separados por cornija e ritmados
por duplas pilastras com vãos rectangulares entre elas. Em cada ala, abre-se no
1º piso três arcos plenos e no 2º janelas de sacada com bandeira, balustrada de
cantaria e frontões triangulares e circular. Sobrepujando as coberturas, bolas
sobre plintos no alinhamento das pilastras e cartelas com enrolamentos ao
centro. O outro claustro, de três pisos separados por frisos, têm apenas duas alas
com arcos plenos sobre pilares e janelas de guilhotina nos pisos superiores”.
Cortesia de Isabel Sereno e João Santos, 1994
No que diz respeito à Igreja do Mosteiro de S. Bento da
Vitória, o seu projecto é do arquitecto Diogo Marques Lucas, discípulo do
italiano Filipe Terzio, em estilo clássico já deturpado pela Contra-Reforma,
com uma harmonia, solidez e proporções equilibradas.
De notar os três nichos da fachada, nos quais estão
representados São Bento, a Santa Escolástica, irmã gémea de São Bento e, ainda,
Santa Gertrudes.
Em 1693, a igreja, apresentando no seu exterior e interior
as tipologias maneirista e barroca, estava concluída, embora tardasse até
finais do século XVIII a conclusão do seu interior.
No coro alto da
igreja, pode observar-se um belo cadeiral em talha, considerado um dos mais
belos da Europa, obra concretizada entre 1716 e 1719 pelo entalhador bracarense
Marceliano de Araújo, em parceria com Gabriel Rodrigues Álvares, de Landim. Nos
seus espaldares estão colocados quadros policromados e que narram episódios da
vida de S. Bento.
Como curiosidade diga-se que a igreja possui um órgão
imponente, alvo de várias intervenções e um outro como cópia em frente deste,
apenas para dar uma ideia de simetria sem outra qualquer funcionalidade.
Por outro lado, o seu órgão, situado do lado do evangelho,
possui 2022 tubos e, em tempos de rotina monástica, era tocado de 3 em 3 horas,
alternando com o coro.
Ocupação das
instalações do Mosteiro de S. Bento da Vitória após 1834
Durante a Guerra Peninsular, uma parte do mosteiro foi
ocupada pelas tropas invasoras francesas e, posteriormente, pelas portuguesas,
tendo servido como hospital militar.
Em 30 de Maio de 1834,
na sequência da implantação da lei assinada por D. Pedro IV e proposta pelo seu
ministro Joaquim António de Aguiar, ocorre a extinção das ordens religiosas, e
o complexo monacal de S. Bento da Vitória foi confiscado pelo Estado.
Desocupados, o
mosteiro e a sua igreja acabariam por passar para o Clero secular.
O Clero secular também
referido, geralmente, na actualidade, como Clero diocesano, é a designação dada
à parcela do clero da Igreja Católica Romana que desempenha actividades
voltadas para o público em geral e que vive junto dos leigos, exercendo as mais
variadas formas de apostolado e assegurando a administração da Igreja.
A igreja do Mosteiro
de S. Bento da Vitória substituiria a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da
Vitória entre 1833 e 1852, durante as obras de reconstrução desta, que
tinha sido alvo de um incêndio.
Depois, em 25 de
Julho de 1853, a igreja do Mosteiro de S. Bento da Vitória torna-se sede da
Arquiconfraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria, a qual ficou
detentora da Igreja por Alvará da Rainha D. Maria II.
Após 1834, as
antigas instalações do mosteiro funcionaram como Tribunal, até 1864 e
albergaram, ainda, várias unidades militares, onde estiveram aquarteladas,
sucessivamente, tropas da Junta do Porto (1846-1847), o Regimento de Infantaria
nº. 6, o Batalhão Nacional de Artilharia, o Batalhão de Caçadores nº 9, o
Batalhão de Caçadores nº 1 e outros serviços militares, nomeadamente, a
Reclusão Militar e o Tribunal Militar.
Na noite de 12 para
13 de Março de 1922, o imóvel foi atingido por um incêndio que destruiu a área
ocupada pela Casa de Reclusão Militar, pelo Tribunal Militar e pelo quartel dos
dois regimentos (Infantaria 31 e Engenharia).
Vinte anos volvidos
sobre este episódio, em 1942, por decisão do Bispo D. Agostinho de Jesus e
Sousa, a igreja e parte do edifício claustral foram confiados ao Mosteiro Beneditino
de Singeverga.
Em 1977, o Mosteiro
de S. Bento da Vitória é classificado como monumento nacional.
Nas décadas de
oitenta e noventa do século XX, o mosteiro foi restaurado pelo IPPAR
(1984-1990), sob orientação dos arquitectos Carlos Guimarães e Luís Soares
Carneiro, o que permitiu a reinstalação de uma pequena comunidade de
beneditinos e a instalação do Arquivo Distrital do Porto, na área do claustro
dos carros e da Orquestra Sinfónica do Porto, na área do claustro nobre.
Em 2007, dois anos
após a orquestra ter ocupado a Casa da Música, foi cedida ao Teatro Nacional S.
João a ala nascente e parte da ala sul e o claustro nobre, onde passaram a
realizar-se espectáculos teatrais, musicais e outros eventos.
Os beneditinos
ocupam a denominada “Cela dos Padres Beneditinos” na zona da igreja, a ala
Norte e 3º piso da ala Oeste.
Cela, neste caso, refere-se
ao local onde os monges se reúnem ou habitam.
Outros factos
Sobre o Mosteiro de
S. Bento da Vitória, “O Arquivo Pitoresco”, de 1840, descreve uma cerimónia
habitual que ocorria na sua igreja:
“No dia 5 de
Março passava-se uma cerimónia assaz ridícula na Igreja de S. Bento da cidade
do Porto. No altar colateral da direita, de hora a hora, estava um frade
rezando os exorcismos e orações de levantamento de excomunhão; no fim das quais
saía pela igreja abaixo batendo com umas varinhas de marmeleiro presas na
extremidade de uma comprida cana, em as pessoas, que de joelhos queriam receber
esta cerimónia. E como quase sempre os frades se desmandassem um pouco, deu
isso lugar a algumas cenas incidentes, sendo por fim necessário ir uma guarda
de polícia para a igreja, pois os frades não quiseram nunca quebrar por si,
deixando de fazer a cerimónia”.
Por outro lado, em
1872, a igreja de S. Bento da Vitória celebrava o São Marçal substituindo,
nesse ano, nessas festividades, a igreja dos Orfãos de Nossa Senhora da Graça
que lhe ficava próxima.
Mais recentemente, sobre os azulejos da foto, abaixo, no Tripeiro I série, volume 2, nº 62 de 10 de
Março de 1910, pág 412, o autor S.A., diz:
“A bela sala da livraria de que roubaram os
ricos azulejos, parte dos quais foram guarnecer uma propriedade pertencente ao
vizinho João Pereira Vellado, era sumptuosa”.
A livraria
referida, acima, era a do Convento de S. Bento da Vitória.
Em 2017, o painel de
azulejos foi retirado e arrecadado pela Câmara do Porto.
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