Em 26 de Agosto de 1896, chegou pela primeira vez à cidade
do Porto e ao " Theatro do Príncipe Real " (futuro "Teatro Sá da
Bandeira" a partir de 1910), o grande acontecimento desse ano, que foi a
estreia em Portugal do Animatographo Portuguez Pinto Moreira, um aparelho
rudimentar de projecção de imagens. As apresentações, consistiam em sessões
públicas com doze quadros, de uma enorme novidade para o público portuense.
A 12 de Novembro de 1896, decorria no Theatro do Príncipe
Real, no Porto, a apresentação ao público do Kinetographo Portuguez por Aurélio da Paz dos Reis e seu cunhado,
Francisco de Magalhães Bastos Júnior.
Programa da Sessão do Kinetographo
Na mesma sessão, uma Companhia de Zarzuela cantou Los
Africanistas.
Entre os quadros exibidos, cinco dos quais estrangeiros,
constam Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança (Rua de
Santa Catarina, Porto), A Rua do Ouro (Lisboa), Marinha no Tejo,
Saída de Dois Vapores. Além de Jogo do Pau (Santo
Tirso), Chegada d’Um Comboio Americano a Cadouços (Foz do
Douro), O Zé Pereira na Romaria de Sto. Tirso e A
Feira de S. Bento , já revelados dois dias antes, no dia 10 de
Novembro aos jornais diários e alguns convidados.
O cinema em Portugal surgiria assim, no Porto, pela mão de
Aurélio Paz dos Reis em 1896, sendo a sua primeira experiência de captação de
imagens em movimento, «Saída dos Operários da Fábrica Confiança», sem dúvida,
uma cópia de «Sortie des Usines Lumière» dos Irmãos Lumiére. Naquela sessão foram apresentados por Aurélio da Paz dos Reis, os primeiros filmes realizados por um português.
Paz dos Reis era florista, fotógrafo amador e proprietário
da “Flora Portuense”. Bastos Júnior era fotógrafo profissional, e
co-proprietário da “Photographia Central”.
O cinema começaria no Porto, a partir de 1896 e não mais pararia
de crescer.
Animatographo
foi a designação usada em Portugal, introduzida por Edwin Rousby, agente
comercial de William Paul nas suas digressões em 1896 pelo nosso país, para a
apresentação do Teatrógrafo que era apenas, um simples projector.
Por sua vez o Kinetographo ou Cinetógrafo era uma máquina de
filmar, de revelar e de projectar filmes.
Teatro dos Duques de Lafões ou Teatro do Corpo da Guarda
O primeiro teatro do
Porto foi construído nas cavalariças do entretanto demolido e conhecido como,
Palácio dos Condes de Miranda ou dos Marqueses de Arronches ou, ainda, dos
Duques de Lafões, perto da Sé.
Contam que em 1623, tinha já ali sido representada (dizem que em cima
de dois carroções) por uma companhia dramática espanhola, a comédia,
"Malmaridada", a convite do conde de Miranda.
Em 2 de Setembro de 1750, segundo informação de A. de Magalhães Basto, em
o jornal “O 1.º de Janeiro” de 25 de Agosto de 1950, p. 1 e 3 (disponível
online no catálogo digital das Bibliotecas Públicas do Porto), realizou-se a 4ª
récita (extracontratual) da Ópera Italiana de Nicolau Sitarro no Porto, tendo a
Câmara pago 96$000 réis da quarta ópera que, por ordem do Senado, se mandou
representar para maior satisfação do povo.
Mas a sua verdadeira
inauguração seria em 15 de Agosto de 1760, quando aí foi levada à cena uma
ópera lírica para homenagear o casamento de D. Maria I com D. Pedro. Este D.
Pedro era filho de D. João V e portanto tio da esposa. Foi rei-consorte com o
nome de D. Pedro III “ O Capacidónio”.
Dois anos depois, em 15 de Maio de 1762, agora por iniciativa do corregedor da cidade, João de Almada e Melo, uma
companhia italiana levou à cena, também, nas cocheiras do palácio, a ópera
italiana “Il Trascurato" (O Descuidado) de Pergholese e em que a prima-donna se chamava Giantini.
O Teatro do Corpo da Guarda que foi desenhado por João Glama Stroeberle continuou a ter mais algumas representações
de companhias profissionais e amadoras, com destaque para a ópera Demofonte,
levada à cena em 1772, para celebrar o aniversário do rei D. José I.
Mais três
espetáculos se realizariam, em 1785, para celebrar o casamento do futuro rei D.
João VI, com a princesa Carlota Joaquina.
A descrição que existe desse teatro, apresenta-nos uma
estrutura efémera instalada nas cocheiras do Palácio do Duque de Lafões, na
altura habitado pelo influente D. João de Almada e Melo, primo do marquês de
Pombal e governador da cidade, e frequentado,
como é óbvio, por ele e pela melhor sociedade portuense.
Palácio dos Duques de Lafões
Este solar situava-se no Largo do Corpo da Guarda, na envolvente à Sé
do Porto, mais precisamente a meio do que é hoje a Avenida D. Afonso Henriques.
“Pertenceu ao 1º.
Duque de Lafões D. Pedro, filho de um filho ilegítimo de D. Pedro II, que este
perfilhou, nascido em 10/1/1718 e falecido em 1761”.
Horácio Marçal em O Tripeiro, Série VI, Ano IX
Por aquele palco teatral, passou Luísa Todi e a "formosa e voluptuosa"
Giuntini, a diva italiana por quem o filho do governador João de Almada e Melo,
Francisco de Almada e Mendonça se haveria de tomar de amores, a tal ponto que,
decidiu patrocinar a construção de um teatro lírico de raiz, com que o Porto
iria também responder, ao S. Carlos de Lisboa – o teatro S. João.
Rebelo Bonito em O
Tripeiro Série VI, Ano III afirma:
“Em 28 de
Fevereiro de 1797 realizou-se o último espectáculo neste teatro, após ter
funcionado durante cerca de 30 anos. A sala teve depois destino pouco nobre:
foi sucessivamente quartel de guardas de segurança pública, quartel de guarda
barreiras e depósito de “calcetas” ou vadios coagidos pelas autoridades a
trabalhos de pavimentação de ruas e caminhos, levando corrente amarrada à cinta
e artelho do pé direito para não fugirem.”
O Palácio de Cristal continha duas salas de espectáculos: a
Nave Central ou Teatro Popular; e o Teatro Gil Vicente.
Ambos se tornaram palcos regulares para a música, acolhendo
os primeiros concertos sinfónicos no Porto e aproveitando o esplendoroso órgão
de 2750 tubos.
Em 1868 numa tentativa de aumentar as receitas a direcção do
Palácio de Cristal decide transformar uma sala de leitura num teatro.
Nasce assim o Teatro Gil Vicente que é conhecido como “teatro de algibeira” devido às suas
reduzidas dimensões.
O Gil Vicente passa a ser o palco preferido da colónia
britânica no Porto e mais tarde do Orpheon Portuense.
Desde a sua fundação o teatro recebe vários artistas de
renome mundial que culmina em 24 de Novembro de 1929 com o concerto de Maurice
Ravel integrado na temporada do Orpheon Portuense.
Em 1931 dá-se a estreia nacional de “Petrouchka” de Igor
Stravinsky pelo pianista Cláudio Arrau.
Teatro Gil Vicente em 1930 no Palácio
O Teatro Baquet
mandado construir pelo alfaiate portuense António Pereira Baquet, em 21 de
Fevereiro de 1858, foi estreado com um baile de Carnaval, em 13 de
Fevereiro de 1859. Foi projetado por Guilherme Correia.
A inauguração solene ocorreu em 16 de Julho de 1859 com a
representação da comédia-drama, “O segredo
de uma família”, original de José Carlos Santos representada pela Companhia
do Teatro do Ginásio de Lisboa.
Anúncio da inauguração
Crónica descritiva do dia da inauguração
“Chamava-se António
Pereira e nasceu na freguesia do Bonfim. Era criança, quando deixou a sua
cidade natal para acompanhar os pais, quando estes rumaram a Espanha, para onde
foram "à procura de melhores dias". Em data não determinada,
regressou ao Porto e já vinha casado, com uma cidadã espanhola. E tinha um
ofício por sinal bem rendoso naquela recuada época. Era alfaiate. Ao seu nome
de batismo acrescentara, entretanto, o apelido afrancesado de Baquet. Era agora
António Pereira Baquet.
No seu regresso ao Porto,
Baquet começou por montar uma oficina de alfaiate na Praça da Batalha. Mas não
ficou ali muito tempo. Mudou-se, logo a seguir, para um edifício mais amplo e
mais confortável, na então moderníssima Rua de Santo António, hoje Rua de 31 de
Janeiro. Era um homem de visão larga, viajado e que granjeara algum dinheiro
com o seu rendoso ofício de alfaiate”.
Com o devido crédito a Germano Silva
O teatro Baquet desde cedo passaria a viver anos conturbados,
e só estabilizaria a partir de 1870, com a gestão da empresa “Moutinho de
Sousa” e a empresa “Perry”. A situação agravar-se-ia com o falecimento de António
Pereira Baquet em 1869.
António Moutinho de
Sousa (Porto 1834-Idem 1898), poeta e autor dramático foi, então, empresário do
Teatro Baquet.
Escreveu em 1856, “Pelaio
ou a vingança de
uma afronta” e “Amor e honra”, entre muitas outras peças.
A viúva casaria, então, com António Teixeira Assis
(contramestre da alfaiataria de António Baquet).
Este, porém, também viria a falecer pouco depois, passando o
teatro, a partir daí, para Ana Vitória de Ascensão, mãe de António Assis.
Em 1880 por vontade de Ana Vitória, é construída uma nova fachada
do teatro voltada para a Rua de Sá da Bandeira que desde 1875 vinha a substituir
a famigerada e desadequada Viela da Neta.
Em 21 de Março de 1888, durante a representação da
ópera cómica “Os Dragões de Villars”, deflagrou um fulminante incêndio no
Teatro Baquet devido à chama de um bico de gás de uma gambiarra do palco,
que pegou fogo a uma bambolina e destruiu por completo o edifício e motivou
inúmeras mortes. Nessa noite fora a representação daquela ópera, estava
ainda prevista a apresentação da zarzuela “Gran Via” dirigida pelo
músico-empresário portuense, Ciríaco Cardoso.
Atendendo ao programa previsto, a sala acolhia muito
público, o qual entrou em pânico. Viveram-se momentos de horror, durante e após
o acontecido, conforme testemunha a imprensa da época.
Uma das fontes consultadas aponta para 84 vítimas mortais e
86 feridos, enquanto outra refere que perderam a vida cerca de 170 pessoas.
Não deixa de ser curiosa a referência, em 1876, de Alberto
Pimentel ao temor dos portuenses pela possibilidade de ocorrer um incêndio no
Teatro Baquet, o que aconteceria onze anos depois.
No desenho abaixo mostra-se a entrada do teatro pela Rua de
Santo António, sendo que as traseiras davam para antiga Viela da Neta, nesse
momento já, Rua de Sá da Bandeira.
Teatro Baquet em desenho de Nogueira da Silva - Fonte:
Archivo Pittoresco
Foto do ataque ao incêndio do Teatro Baquet pela Rua Sá da
Bandeira
Na foto acima à esquerda vê-se a sede da firma João Tomaz
Cardoso, proprietária da fábrica Tomaz Cardoso, fundada em 1840.
A sede da empresa, situada no n.º 92, da Rua de Sá da
Bandeira, funcionava como estabelecimento de venda ao público de cofres,
fogões, camas e colchoaria.
Logo a seguir ficava no rés-do-chão do teatro, o Café e Restaurante "High-Life", e a sua sala de bilhares, de João Baptista Carvalho, que sofreriam danos avultados no dia fatídico.
Logo a seguir ficava no rés-do-chão do teatro, o Café e Restaurante "High-Life", e a sua sala de bilhares, de João Baptista Carvalho, que sofreriam danos avultados no dia fatídico.
Excelente blogue, parabéns.
ResponderEliminarMuito obrigado pelo comentário que é, ao mesmo tempo, um incentivo para continuarmos.
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