Hotéis,
Restaurantes e outros Estabelecimentos
Hotéis no Porto da 2ª
metade do século XIX
“Não sabemos, ao
certo, desde quando as estalagens começaram a funcionar no velho burgo portucalense.
A referência mais antiga à existência de estalagens no Porto é de maio de
1368. Consta de um documento que o meirinho-mor de Entre Douro e Minho enviou
aos juízes da cidade informando-os de que não deviam consentir que os fidalgos,
por muito poderosos que fossem, se aposentassem nas casas particulares do burgo,
mas que, se tivessem mesmo necessidade de ai ficar, que o fizessem na
"casa da estalagem", da cidade, embora somente pelo tempo
estritamente necessário.
Ora, a "casa de estalagem" que, naquele tempo, el-rei possuía no Porto ficava "no sítio a que chamam as Congostas", que, tendo em conta a topografia actual, podemos localizar como tendo sido na parte baixa da Rua de Mouzinho da Silveira. Um troço do Porto antigo que desapareceu de todo quando se construiu a Praça do Infante D. Henrique.
A carta chamemos-lhe assim, que o meirinho-mor de Entre Douro e Minho escreveu aos juízes da cidade trouxe à memória aquele costume antigo, que vinha do tempo de D. Afonso IV, de os burgueses do Porto não quererem que os fidalgos residissem na cidade.
Tratava-se, acima de tudo, de um privilégio de ordem moral, pois os portuenses consideravam os ricos e poderosos como pessoas ociosas, elementos de perturbação e causadores de enormes "vergonças". Mas, para além disso, os fidalgos quando calhava de estarem no burgo, pretendiam adquirir os artigos de que necessitavam pelo menor preço, prejudicando a cidade na sua economia.
Nos tempos idos, quando, por exemplo, o rei chegava ao Porto, "os seus", isto é aqueles que o acompanhavam, não podiam aposentar-se nas casas da Rua das Eiras (a atual Rua Chã), nem nas da Rua dos Mercadores. Estava-lhes vedado, também, tomarem por pousada as casas onde vivessem "viúvas honradas", nem moradas em que estivessem mulheres casadas cujos maridos "andassem por outras terras nos seus tratos de negócios".
Os fidalgos, proibidos de se instalar nas casas dos cristãos, passaram a ocupar, nas suas deslocações ao Porto, as moradias dos judeus, entretanto instalados na nova judiaria do Olival.
Em 1390, estando a corte em Estremoz, recebeu D. João I um protesto dos judeus do Porto, por causa do que consideravam um abuso por parte da fidalguia, que à força ocupava as suas residências na nova judiaria. O monarca levou o protesto a sério e expediu uma ordem no sentido de que, "fosse quem fosse, ficava proibido de pousar nas casas da nova judiaria".
Logo no ano seguinte, o mesmo D. João I, a solicitação dos procuradores do concelho do Porto, mandou que nesta cidade, e à custa dela, se criassem "boas e grandes" estalagens, "em que pudessem pousar todo los grandes e honrados e outros de qualquer estado e condição que fossem", e que nelas devia haver "boas casas; e câmaras; e alpendres; e currais; e mantimentos, para os viajantes e cevada e palha para as bestas".
Ainda em 1391, estando "os homens bons do Porto" (entenda-se juízes e vereadores da cidade) reunidos "no sobrado da vereação" (naquela velha casa da Rua de S. Sebastião agora transformada em posto de apoio aos turistas), resolveram, para acabar com os grandes prejuízos e danos que eram provocados pelos fidalgos durante as suas permanências na cidade, e no cumprimento do que já havia sido determinado pelo rei D. João I, criar nesta cidade várias estalagens. E logo ali deliberaram também que os lugares mais apropriados para a instalação das novas estalagens eram os seguintes: "primeiramente, nas Congostas, duas estalagens grandes e boas; uma no Souto, também grande e boa; outra, nas casas que foram de Esteves Ferreira (?); mais outra na Rua Chã, nas casas, que foram de Jerónimo da Devesa; ainda outra, e boa, na porta de Cima de Vila; em Miragaia outra estalagem que seja grande e boa; e uma outra ainda em Vila Nova, do outro lado do rio".
Ao cumprirem esta sua deliberação, os chamados" homens bons do Porto" estavam apenas a procurar defender a sua honra, os privilégios dos cidadãos do burgo e a avultada fazenda, ou seja, os bens, a riqueza dos mercadores da cidade, que já era por aquele tempo bem avultada.
Sabemos disso por causa do episódio que foi protagonizado por Domingos Peres, um riquíssimo mercador portuense do tempo de D. Fernando. Num determinado momento das lutas que este monarca manteve com os castelhanos, Domingues Peres foi feito prisioneiro e para salvar a vida teve que pagar o avultado resgate de 10 000 francos em ouro, uma enorme fortuna para a época.
Conta Fernão Lopes, numa das suas preciosas crónicas, que logo na semana a seguir à do seu resgate, Domingues Peres viu chegar da Flandres uma sua nau que só em fretes e mercadorias lhe proporcionou lucros muito superiores ao valor do resgate que havia pago aos castelhanos.
A criação de uma estalagem, "grande boa", em Miragaia justificava-se plenamente. Este bairro, ao tempo da fundação da estalagem, ficava da parte de fora do muro (Muralha Fernandina) da cidade, mas estava em pleno crescimento económico e demográfico. Nas inquirições de 1258, constava que em Miragaia havia já setenta casas e que em cada dia se faziam mais. Aproximadamente cerca de um século e meio depois, Miragaia progredira a olhos vistos, de modo a justificar plenamente a criação de uma estalagem para utilidade de quantos ali se deslocavam em negócio ou para acompanhar a construção naval, que se desenvolvia nos estaleiros que funcionavam no chamado areal de Miragaia, onde, no século XIX, se construiu o enorme e granítico edifício da Alfândega que hoje acolhe o Museu dos Transportes e Comunicações.
Naqueles tempos (finais do século XIX) os hábitos familiares eram muito diferentes dos de hoje. Por exemplo, almoçava-se cedo, às oito horas, jantava-se às duas (14 horas) "quando o sino da Sé tocava a chamar para o coro", conta um cronista da época; e ceava-se das nove para dez (da noite) "quando tangia o sino de recolher também chamado dos mariolas", acrescenta o cronista. Isto era o que se passava, digamos assim, em família. E fora de casa, como era?
Cortesia de Germano Silva
Ora, a "casa de estalagem" que, naquele tempo, el-rei possuía no Porto ficava "no sítio a que chamam as Congostas", que, tendo em conta a topografia actual, podemos localizar como tendo sido na parte baixa da Rua de Mouzinho da Silveira. Um troço do Porto antigo que desapareceu de todo quando se construiu a Praça do Infante D. Henrique.
A carta chamemos-lhe assim, que o meirinho-mor de Entre Douro e Minho escreveu aos juízes da cidade trouxe à memória aquele costume antigo, que vinha do tempo de D. Afonso IV, de os burgueses do Porto não quererem que os fidalgos residissem na cidade.
Tratava-se, acima de tudo, de um privilégio de ordem moral, pois os portuenses consideravam os ricos e poderosos como pessoas ociosas, elementos de perturbação e causadores de enormes "vergonças". Mas, para além disso, os fidalgos quando calhava de estarem no burgo, pretendiam adquirir os artigos de que necessitavam pelo menor preço, prejudicando a cidade na sua economia.
Nos tempos idos, quando, por exemplo, o rei chegava ao Porto, "os seus", isto é aqueles que o acompanhavam, não podiam aposentar-se nas casas da Rua das Eiras (a atual Rua Chã), nem nas da Rua dos Mercadores. Estava-lhes vedado, também, tomarem por pousada as casas onde vivessem "viúvas honradas", nem moradas em que estivessem mulheres casadas cujos maridos "andassem por outras terras nos seus tratos de negócios".
Os fidalgos, proibidos de se instalar nas casas dos cristãos, passaram a ocupar, nas suas deslocações ao Porto, as moradias dos judeus, entretanto instalados na nova judiaria do Olival.
Em 1390, estando a corte em Estremoz, recebeu D. João I um protesto dos judeus do Porto, por causa do que consideravam um abuso por parte da fidalguia, que à força ocupava as suas residências na nova judiaria. O monarca levou o protesto a sério e expediu uma ordem no sentido de que, "fosse quem fosse, ficava proibido de pousar nas casas da nova judiaria".
Logo no ano seguinte, o mesmo D. João I, a solicitação dos procuradores do concelho do Porto, mandou que nesta cidade, e à custa dela, se criassem "boas e grandes" estalagens, "em que pudessem pousar todo los grandes e honrados e outros de qualquer estado e condição que fossem", e que nelas devia haver "boas casas; e câmaras; e alpendres; e currais; e mantimentos, para os viajantes e cevada e palha para as bestas".
Ainda em 1391, estando "os homens bons do Porto" (entenda-se juízes e vereadores da cidade) reunidos "no sobrado da vereação" (naquela velha casa da Rua de S. Sebastião agora transformada em posto de apoio aos turistas), resolveram, para acabar com os grandes prejuízos e danos que eram provocados pelos fidalgos durante as suas permanências na cidade, e no cumprimento do que já havia sido determinado pelo rei D. João I, criar nesta cidade várias estalagens. E logo ali deliberaram também que os lugares mais apropriados para a instalação das novas estalagens eram os seguintes: "primeiramente, nas Congostas, duas estalagens grandes e boas; uma no Souto, também grande e boa; outra, nas casas que foram de Esteves Ferreira (?); mais outra na Rua Chã, nas casas, que foram de Jerónimo da Devesa; ainda outra, e boa, na porta de Cima de Vila; em Miragaia outra estalagem que seja grande e boa; e uma outra ainda em Vila Nova, do outro lado do rio".
Ao cumprirem esta sua deliberação, os chamados" homens bons do Porto" estavam apenas a procurar defender a sua honra, os privilégios dos cidadãos do burgo e a avultada fazenda, ou seja, os bens, a riqueza dos mercadores da cidade, que já era por aquele tempo bem avultada.
Sabemos disso por causa do episódio que foi protagonizado por Domingos Peres, um riquíssimo mercador portuense do tempo de D. Fernando. Num determinado momento das lutas que este monarca manteve com os castelhanos, Domingues Peres foi feito prisioneiro e para salvar a vida teve que pagar o avultado resgate de 10 000 francos em ouro, uma enorme fortuna para a época.
Conta Fernão Lopes, numa das suas preciosas crónicas, que logo na semana a seguir à do seu resgate, Domingues Peres viu chegar da Flandres uma sua nau que só em fretes e mercadorias lhe proporcionou lucros muito superiores ao valor do resgate que havia pago aos castelhanos.
A criação de uma estalagem, "grande boa", em Miragaia justificava-se plenamente. Este bairro, ao tempo da fundação da estalagem, ficava da parte de fora do muro (Muralha Fernandina) da cidade, mas estava em pleno crescimento económico e demográfico. Nas inquirições de 1258, constava que em Miragaia havia já setenta casas e que em cada dia se faziam mais. Aproximadamente cerca de um século e meio depois, Miragaia progredira a olhos vistos, de modo a justificar plenamente a criação de uma estalagem para utilidade de quantos ali se deslocavam em negócio ou para acompanhar a construção naval, que se desenvolvia nos estaleiros que funcionavam no chamado areal de Miragaia, onde, no século XIX, se construiu o enorme e granítico edifício da Alfândega que hoje acolhe o Museu dos Transportes e Comunicações.
Naqueles tempos (finais do século XIX) os hábitos familiares eram muito diferentes dos de hoje. Por exemplo, almoçava-se cedo, às oito horas, jantava-se às duas (14 horas) "quando o sino da Sé tocava a chamar para o coro", conta um cronista da época; e ceava-se das nove para dez (da noite) "quando tangia o sino de recolher também chamado dos mariolas", acrescenta o cronista. Isto era o que se passava, digamos assim, em família. E fora de casa, como era?
Cortesia de Germano Silva
Na primeira metade do século XVIII, as estalagens
encontravam-se por toda a baixa da cidade.
À Porta de Carros, diante da Igreja dos Congregados existia, em 1821, uma estalagem.
“Avisos: na Estalagem Real, à Porta dos Carros, existe uma parelha
de cavalos que se pretende vender”.
In “Borboleta dos Campos Constitucionais”, p. 4, de 13 de Julho de 1821
À Porta de Carros, diante da Igreja dos Congregados existia, em 1821, uma estalagem.
In “Borboleta dos Campos Constitucionais”, p. 4, de 13 de Julho de 1821
“O Almanaque portuense para o ano de 1854-55, apontava para a existência de 9 hotéis no Porto.
Entre eles estava o Hotel do Comércio, na Rua Nova dos Ingleses, o Hotel Águia d’Ouro, na Praça da Batalha, com restaurante e café no piso térreo, a Hospedaria do Peixe vinda do palacete do visconde de Balsemão no Largo dos Ferradores e agora no nº 12 da Rua da Porta de Carros, o “English hotel” de Mary Castro, sito na Rua da Reboleira, a Hospedaria Inglesa na Rua do Calvário e não mencionava qualquer unidade hoteleira na Foz.
A mesma publicação em 1864, porém já menciona 4 unidades na Foz, entre elas a Pensão Mary Castro, no nº 24 da Rua das Motas, como filial do English Hotel, onde Camilo se alojou várias vezes a partir de 1879, distribuindo-se as restantes pela Rua Central e Rua Nossa Senhora da Luz, sendo que mais tarde na Rua de S. Bartolomeu, junto ao mar se viria a estabelecer uma unidade de banhos quentes e o Hotel da Boavista sito na Esplanada do Castelo.
No Porto em 1864 já o almanaque dava conta de 25 unidades hoteleiras.
Na zona do Carmo e Carlos Alberto, onde em frente ao restaurante Caldos de Galinha parava a mala-posta para Viana do Castelo eram referenciados os Bons Amigos, Boa Esperança, Leão d’Ouro e Comércio.
Na zona da Praça da Batalha eram referidos o Estrella do Norte, Estanislau, Sol, Europa, Águia d’Ouro e Nova Itália.
Em S. Lázaro onde estava situada a Nova Companhia de Viação Portuense, que alugava diligências e donde partiam carreiras regulares para Vila Real, Régua e Chaves, abririam o Hotel Pomba d’Ouro e Hotel Boa União.
Em consequência da instalação de uma estação de Char-à-Bancs no começo da Rua do Bonjardim, que fazia ligações à estação ferroviária das Devesas, a zona da Praça D. Pedro começaria a ser invadida por unidades hoteleiras.
Por sua vez, o Palácio de Cristal chamaria para junto de si o famoso Grande Hotel do Louvre, no começo da Rua do Rosário.
Com a chegada do Americano, primeiro e depois da “Máquina” (conhecida também por “Vaporzinho”, percursora a vapor do Metro actual), na estação de Cadouços na Foz, surgiria o Hotel Italiano e entre 1874 e 1884, algumas outras unidades, uma delas, sucursal do Grande Hotel do Louvre, situada na Rua de S. Bartolomeu.
Naquele mesmo período de tempo entre 1874 e 1884, na cidade do Porto passa-se de 27 para 37 unidades hoteleiras.
Para albergar camponeses chegados para procurar emprego na indústria e outros com menos posses existiam a Hospedaria Espanhola na Rua Chá, a Hospedaria de São Sebastião na Rua Escura e o Hotel de Portugal na rua de Trás da Sé.
Com a chegada do comboio a Campanhã várias unidades se instalam nas imediações da estação ferroviária, bem como nas zonas de S. Lázaro, Praça da Batalha e Rua de Entreparedes.
Em 1896 o comboio chega a S. Bento, pelo que começa a assistir-se a um deslocamento de unidades de Campanhã para junto da nova estação”.
Fonte: Baseado em textos de Jorge Ricardo Pinto e Lígia Azevedo
Sobre o anterior texto, o Handbook for Travellers in
Portugal, em 1855, recomendava três unidades hoteleiras.
O Hotel Pomba d’Ouro ocupava os andares superiores do prédio, em destaque, na foto
A Pensão Mary Castro era assim uma filial do English Hotel.
Em 1872, o English Hotel abandonaria definitivamente a casa-torre.
A senhora que deu nome àquela pensão era a mãe do célebre tenor Frank de Castro, muito popular no Porto nos meados do século XIX.
Fachada da casa, na Rua da Reboleira, voltada para a Rua do Outeirinho
Pensão Mary Castro -
Ed. “A Nossa Foz do Douro”-facebook
Vista parcial do que
foi, em tempos, a Pensão Mary Castro - Ed. Isabel Silva
Traseiras do que foi, outrora, o Hotel Mary Castro, na Foz
“Acha-se aberto o Hotel do Comércio que, por espaço de 12 anos, existia na rua dos Ingleses; mudou-se para o largo Moinho de Vento, 1 e 2, ao pé da praça de Carlos Alberto.”
In jornal “O Amigo do Povo”, 23 de Fevereiro de 1861 – Sábado
In jornal “O Nacional” de 20 de Novembro de 1848
Entre eles estava o Hotel do Comércio, na Rua Nova dos Ingleses.
Na Foz do Douro, por sua vez, destacavam-se para além da Pensão Mary e Castro, o Hotel Luzitânia e o Hotel do Comércio (o da Foz do Douro) e o Hotel dos Banhos Quentes, este na Rua de S. Bartolomeu.
Sobre o Hotel Luzitânia – para nacionais e estrangeiros – no Passeio Alegre, casa nº 54, em S. João da Foz do Douro, dizia a imprensa:
In jornal “O Direito”, 22 de Junho de 1857 – 2ª Feira
Este hotel é na rua Direita, casa amarela, nº 105.”
In jornal “O Oriente” de 19 de julho de 1858 – 2ª Feira
“… E hotéis?
Os mais famosos situavam-se na Praça da Batalha e imediações. Alguns anúncios da época explicam os motivos dessa localização "… próximo dos teatros e das repartições públicas…"
O hotel (ou hospedaria) da "Águia d'Ouro" … onde se hospedavam os intelectuais e artistas de teatro quando vinham ao Porto, casos de Antero de Quental e Ramalho Ortigão e do célebre actor Taborda. As diárias eram de 800 e 1200 réis.
O mais célebre, contudo, era o "Estanislau" ou "Stanislau". Ficava quase à esquina da Rua da Madeira, num prédio onde, depois, funcionou o "Hotel Portuense" que a seguir viria a servir de sede à Casa de Espanha e onde, muitos anos mais tarde (1938), se instalou o Orfeão do Porto.
Era célebre a cozinha deste hotel pela sua alta qualidade. Adorada por Camilo era a cozinheira do hotel, a Dona Gertrudes, pelos cozinhados excelentes que cativavam o escritor. Essa cozinheira haveria de perder a vida no naufrágio do Cachão da Valeira, no qual pereceu também o Barão de Forrester.
Aqui uma diária variava entre os 600 e os 800 réis.
No edifício que fica à entrada da Rua de Alexandre Herculano, onde agora funciona a Messe dos Oficiais, esteve instalado o Hotel Universal, um dos mais procurados pelos lisboetas que se deslocavam ao Porto. Tinha trens para ligação, em exclusivo, com a "estação central" (S. Bento) dos caminhos- de- ferro.
Na Rua de Cima de Vila funcionava o "Hotel Estrela" e na Rua de Alexandre Herculano o célebre "Hotel das Camélias", perto do Teatro de D. Afonso no sítio onde muitos anos mais tarde viria a funcionar o Parque das Camélias de saudosa memória.
Mesmo defronte ao Teatro de S. João, ficava o "Hotel da Nova Itália", uma homenagem à Itália reunificado. Era preferido pelas prima-donas que vinham actuar naquela célebre sala de espectáculos do Porto. Como muitos outros, possuía "mesa redonda às três da tarde" ao preço de 360 réis. Esta "mesa redonda" corresponderia àquilo a que hoje se convencionou chamar o "self-service".
Ainda na Praça da Batalha havia o "Hotel Sul- Americano", procurado especialmente por "brasileiros de torna viagem". Ficava onde depois se instalou o "Grande Hotel do Império" e onde ainda funciona um dos modernos hotéis do sítio.
O "Grande Hotel da Batalha", que chegou com esta designação até aos nossos dias, era, nos idos de cinquenta, o mais antigo.
Nas imediações da Praça da Batalha havia, na Rua de Entreparedes, o "Hotel de Bragança", "dos mais antigos e conceituados do país, com mesas pequenas, quartos de banho e luz eléctrica" e os hotéis "Aurora do Lima" e "Estrela do Norte", com magníficos aposentos para famílias"; e ainda o "América Central" onde está a Residencial Aviz na esquina da Avenida de Rodrigues de Freitas; o "Nacional" e o "Continental", situado, dizia um prospecto publicitário da época, "no ponto mais central, próximo da estação dos caminhos–de-ferro, dos correios, telegraphos e teatros, passando-lhe à porta os carros eléctricos para todos os pontos da cidade…”
Cortesia de Germano Silva
Hotéis existentes e diárias praticadas, em 1864
Hotéis em 1865 – Fonte: revista “O Tripeiro”, 1 de Julho de
1908
Era contemporâneo do “Hotel Central” da Rua do Laranjal e do Hotel do Cisne da Rua Sá da Bandeira.
Pela Praça da Batalha esteve também o “Hotel Oriental”, que já por lá morava em 1876.
Publicidade ao Hotel Oriental, em 1877, no “Guia do Viajante
no Porto e seus arrabaldes” de Alberto Pimentel
O Hotel do Cisne, onde Camilo chegou a hospedar-se com Ana Plácido, situava-se no antigo troço da Rua de Sá da Bandeira, nº 11, que, depois, passou a ser a Rua de Sampaio Bruno.
“Ora o Hotel do Cisne ocupava o segundo andar do prédio que, no quarteirão dos Congregados, faz esquina para a Praça Nova e para a rua Sá da Bandeira”.
“A Praça Nova” (1916) – Alberto Pimentel
“A Praça Nova” (1916) – Alberto Pimentel
Em 23 de Agosto de 1871, faleceria o seu proprietário, segundo noticiava um periódico da época.
Publicidade ao Hotel do Cisne, em 1877, no “Guia do Viajante
no Porto e seus arrabaldes” de Alberto Pimentel
Com Ana Plácido, Camilo hospedou-se também, muitas vezes,
no Hotel Real que ficava no fim do troço da antiga Rua
do Bonjardim, junto à igreja dos Congregados (no corredor poente da rua).
Na Praça D. Pedro e imediações as instalações hoteleiras
proliferavam.
Hotel Francfort
O Hotel Francfort ficava na esquina
das ruas D. Pedro e do Laranjal, por trás da Câmara Municipal.
Hotel Francfort, em
frente – Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto
“Já não existe, como todos sabemos. Também não ficou a fazer falta aquele casarão inestético exteriormente, e que só se tornou célebre por durante muitos anos ser o hotel preferido pelos estrangeiros, pelas celebridades de todos os géneros e pelos endinheirados. Frequentar o Francfort dava tom e civilisava os que desejavam adquirir maneiras distintas.
Talvez o leitor desconheça que, antes de ser construído aquele prédio, a área por ele ocupada, uma nesga lateral do excesso do terreno, aonde foi aberta a rua do Bispo (depois D. Pedro e agora Elias Garcia), foi destinada pela Câmara, em 1849, para cemitério dos cães.
V. Ex.ª fica admirado por ter o Porto precedido várias cidades europeias e americanas na invenção de um local destinado à sepultura da população canina, o que talvez fosse motivado por haver aqui cães em abundância e não existir ainda fabrica de guano, ou congéneres, para onde se lhes removesse a carcaça, depois de mortos.
Esse destino findou em 1851, ano em que o negociante Luiz Domingos da Silva Araújo requereu à Câmara a venda do terreno, para ali edificar o prédio, há dois anos demolido. Está portanto devoluto o terreno do antigo cemitério dos cães, provisoriamente sentina pública, ao natural, enquanto não se integrar na Avenida, por onde estadeiam o seu luxo e elegância os janotas e as gentis descendentes dos novos-ricos.
Apenas se concluiu o edifício, logo se montou o hotel, em cujos baixos Paulo Podestá, falecido aí por 1869, instalou a sua livraria e tipografia Internacional, sendo aquela a mais bem organisada do Porto. Depois conheci ali a Cervejaria Schreck, e o café Chaves, que de anos a anos muda de poiso.
Pelo hotel passaram inúmeros forasteiros de nome, em especial gente de teatro, e muitas celebridades líricas, como a Ida Benza, a Isabella Schwichner, a gloriosa Ristori, a Darclée, a Elisa Hensler, que depois casou com o rei D. Fernando, a Chiaramonte, a Dealberti, etc., pois o Porto em tempos foi grande apreciador de bom teatro lírico, não se contentando com artista de segunda plano.
O penúltimo dos seus proprietários, François Babel, muito culto e de bastante iniciativa, quis torná-lo um hotel moderno, dotando-o até de balneário, mas a casa não se prestava a isso. Ainda assim, para o tornar conhecido fora do Porto, estabeleceu ali jantares de réclame, às quintas-feiras, bem servidos, e relativamente baratos, que lhe deram nome. A custo se ia tenteando, se não fosse o advento da república, que deslocou os políticos para o Grande Hotel do Porto, conservando-se-lhe apenas fiel, enquanto viajava, o Sr. Dr. António José de Almeida.
A morte do Conde de Alves Machado, que ali viveu durante cerca de 40 anos, produziu nele um imenso vácuo.
Babel faleceu, a casa ia em decadência. A freguesia foi-se retraindo e não primava pela generosidade; às vezes nem pontual era no pagamento das contas. Ainda nas vésperas do seu encerramento teve de penhorar as malas de uma conhecida actriz, que passava por trazer a carteira bem recheada. Já por vezes acontecera outro tanto com vários fregueses.
As obras da cidade vieram dar-lhe o golpe de morte: o prédio era necessário, a fim de melhor se desenhar o bacalhau, adoptado para modelo da sua planta.
Custou-lhe, porém, a deixar-se entregar ao município. Ainda lá havia hospedes e já o camartelo municipal lhe esmoucava os telhados e as cantarias. Parece que algo de saudoso lhe custava a desprender-se dali; talvez os vários suicidas, que nos seus leitos se despediam da vida, como o espírito dilacerado da noiva do filho de Urbino de Freitas, vinda do Alentejo ali amortalhar-se., para a colocarem, no jazigo da Lapa, ao lado da alma gémea da sua, que tanto sofrera, em tão curta idade!
O último cadáver que de lá saiu, foi o Dr. Teixeira de Sousa, o derradeiro chefe do Partido Regenerador e presidente do conselho, à queda da monarquia: não se suicidou, mas morreu torturado pelos caprichos do destino!"
António Lança In “O Tripeiro”, nº 109 (nº7 da 2ª série), 1 de Abril de 1919
Teria sido nessa loja, que exibiu pela primeira vez um manequim, que um freguês, à sua entrada, tirou o chapéu e pediu ao boneco licença para entrar.
Edifício do Hotel Francfort, quando se começava a abrir a Avenida dos
Aliados
In “Diário do Povo, 12 de Janeiro de 1863 – 2ª Feira
Localização do número de polícia, nº 1 (dentro da elipse) da Rua de Sá da
Bandeira
Tendo o Hotel Lisbonense abandonado o Carmo, em 1863, para a
Rua de Sá da Bandeira, nº 1, só o poderia ter feito para o primeiro troço, a que
hoje se dá o nome de Rua Sampaio Bruno, e que está assinalado na planta supra,
de 1892, de Telles Ferreira, tendo em consideração que a nova identificação das
moradas pelos números de polícia, já vigorava desde 1860.
“Recomendamos ao
público o Hotel Lisbonense, situado na rua de Sá da Bandeira, fazendo esquina
para a rua do Bonjardim.
Esta casa é uma das melhores do Porto pela limpeza dos quartos e das iguarias.”
In jornal “A Verdade”, 24 Dezembro de 1884 – 4ª Feira
Em 1842, tinha sido começada a rasgar a ligação entre a
Praça Nova e a Travessa dos Congregados, a que foi dado o topónimo de Rua de Sá
da Bandeira.
O troço desta rua, entre aquela travessa e a Rua Formosa, ocorreu entre 1875 e 1880.
Como é dito na publicidade, em 1884, que o Hotel Lisbonense fazia esquina com a Rua do Bonjardim, a sua instalação deve ter acontecido no local em que, mais tarde, esteve nessa esquina a fonte da Rua de Sá da Bandeira, tendo, por isso, abandonado as instalações anteriores, próximas da Praça D. Pedro.
Esta casa é uma das melhores do Porto pela limpeza dos quartos e das iguarias.”
In jornal “A Verdade”, 24 Dezembro de 1884 – 4ª Feira
O troço desta rua, entre aquela travessa e a Rua Formosa, ocorreu entre 1875 e 1880.
Como é dito na publicidade, em 1884, que o Hotel Lisbonense fazia esquina com a Rua do Bonjardim, a sua instalação deve ter acontecido no local em que, mais tarde, esteve nessa esquina a fonte da Rua de Sá da Bandeira, tendo, por isso, abandonado as instalações anteriores, próximas da Praça D. Pedro.
Fonte da Rua de Sá da Bandeira
Hotel Lisbonense e Rua de Sampaio Bruno, c. 1930 - Fonte:
AHMP
Hotel Brazil, na Praça da Liberdade, em 1913
No local do edifício central da foto estava o Hotel Brazil e, à
esquerda, instalar-se-ia, mais tarde, a delegação do Banco de Portugal
Praça D. Pedro antes
da instalação do Banco de Portugal
Hotel Aliança na
esquina das ruas Sampaio Bruno e do Bonjardim - In JN
Após a abertura, o Aliança colocou na fachada uma tabuleta onde se lia o seguinte: "Hotel Aliança sucessor do Mary Castro - English Hotel", e no “Almach das Senhoras Portuenses” em 1886, dizia-se:
No rés-do-chão funcionou, durante muitos anos, a loja de um luveiro (na parte voltada para a antiga Travessa da Rua de D. Pedro, agora Travessa dos Congregados) e, ainda, o estabelecimento de câmbios dos irmãos Borges que, pelo menos desde 1884, ocupava a parte virada para a Rua do Bonjardim.
Para, lá de meados do século XX, o Hotel Aliança continuava de portas abertas.
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