Restaurantes
«Havia na cidade um
sem-número de restaurantes e hotéis,
onde também se servia refeições. Nos finais do século XIX, só na actual Praça
da Liberdade, Arnaldo Leite cita os seguintes restaurantes "… do lado
nascente, "Porto Clube", "Camanho" e "Suísso" (com sala de jantar
e gabinetes); do outro lado, em frente, "Europa",
"Antiga Cascata", "Rainha" e ainda, à entrada
da Rua da Fábrica, onde está agora a filial do Banco de Portugal", "O Porto", que espreitava
para a Praça e tinha, na tabuleta, a figura do guerreiro que dava nome à casa;
do lado sul, o "Internacional"
onde depois se fundou a casa bancária Sousa, Cruz & Cª, Ldª.
Havia ainda o "Ventura" (em frente ao
Suisso, na travessa de Sá da Bandeira depois Rua de Sampaio Bruno) que era dos
mais afamados; o "Monteiro",
o "Lisbonense" e o "Adriano" célebre pela
qualidade e abundância das suas refeições que servia, todos no fim da Rua do
Bonjardim, mais tarde início da Rua de Sá da Bandeira e ainda o "Mesquita"».
Cortesia de Germano Silva
Ricardo Jorge, num texto escrito de Paris sobre os festejos
de S. João escrevia:
“…Havia festa
rija e fogo preso na Rotunda da Boavista, e de lá vamos cear aos Caldos de
galinha do Carmo”.
Este conhecido restaurante “Caldos de Galinha” ficava no
Largo dos Ferradores, junto da estação da mala-posta para Viana do Castelo, e fronteiro
à Ordem do Carmo. Dizia-se ser aí, que se comiam as melhores tripas à moda do
Porto.
Na Praça de Santa Teresa, em frente, onde hoje está a leitaria da
Quinta do Paço, era o “João do Buraco”.
“O “João do Buraco“
era frequentado pela nata da intelectualidade portuense, mas não só.
O conde de Resende,
sogro do nosso Eça de Queirós, era dos mais assíduos. Apreciava, especialmente,
um bom prato de bacalhau assado na brasa, antecedido de um caldo verde servido
numa tigela de barro vermelho e comido com um tradicional garfo de ferro. Rival
do célebre Reimão, que ficava na estrada para Campanhã, hoje avenida de
Rodrigues de Freitas, e do Caldos de Galinha, ali ao lado, a taberna do João do
Buraco era o ponto de encontro de poetas, jornalistas, professores da
Politécnica, cirurgiões do “Santo António” e até atores famosos por lá
passaram. Um deles foi o famoso tenor Gayarre quando veio ao Porto para cantar
a ópera “A Favorita” no teatro de S. João. No dia em que se despediu da cidade
que tanto o aplaudiu mandou servir uma ceia festiva obrigada a bacalhau assado
na brasa e caldo verde. O grande Bordalo Pinheiro em calhando de vir ao Porto
era no João do Buraco que ia comer”.
Germano Silva, In: Revista Visão
No Passeio das Cardosas estava o Restaurante “Internacional”, no
local para onde, depois, foi a casa bancária Sousa Cruz & Cª, Ldª.
A Estalagem do "Rainha" célebre
pelas suas tripas à moda do Porto, ficava a poente na praça D. Pedro, próximo
do Restaurante Europa (não confundir com o Hotel Europa
da Praça da Batalha) e da “Antiga Casa Cascata”.
Restaurante Europa, junto da "Flora Portuense"
Publicidade à “Antiga Casa Cascata”, em 1877, no “Guia do
Viajante na cidade do Porto e seus arrabaldes” de Alberto Pimentel
Em frente, em 1908, no começo do que é hoje a Rua do Dr.
Magalhães Basto, o Hotel Brasil que substituiu a “Antiga Casa Cascata”
A nascente da Praça D. Pedro existia o famoso "O Camanho", propriedade de José Camanho, de origem Espanhola, entre 1870 e 1917, com um esmerado serviço de restaurante sendo especialmente apreciados os pratos de peixe, as costeletas e se almoçava, jantava ou ceava, lampreia à bordalesa e bifes de caçarola.
Restaurante Camanho
Junto à estação da Máquina em Cadouços ficava o "Restaurante de Cadouços".
Restaurante nas traseiras da Estação de Cadouços
O Restaurante Reimão fazendo esquina
com as actuais, Rua Barão de S. Cosme e a Avenida Rodrigues de Freitas, estava
instalado numa casa térrea com um amplo quintal e ramada, debaixo da qual havia
mesas de ardósia onde se serviam os petiscos da casa.
Havia anexos e um enorme barracão coberto para quem não
quisesse comer ao ar livre.
“Na Rua do Reimão
existiu em tempos o afamado restaurante Reimão que era um dos restaurantes mais
frequentados da época. Na sua esplanada, em sexta-feira santa, depois da
procissão do "Enterro", abancavam quantos haviam participado no
préstito, para um jantar de lampreia ensopada”.
O ambiente era agradável, sobretudo no Verão, e a qualidade
da comida era excelente. Não havia ementa, e tão pouco o restaurante confeccionava
pratos especiais. Pedia-se o que se queria e era tudo cozinhado na hora.
Camilo (Castelo Branco), que frequentou este restaurante,
apreciava a pescada cozida com cebola e azeitonas.
A casa térrea onde funcionava o restaurante foi demolida e
no seu lugar construiu-se um novo edifício, onde funcionou o “Hotel
Reimão” e um novo restaurante que já não teve a fama gastronómica do
seu antecessor, que seriam inaugurados em 1 de Março de 1891.
A Rua da Ferraria de Baixo, actual Rua de “O Comércio do
Porto”, celebrizou-se por ser nela que existiu o Restaurante "Malhão",
sobre o qual diziam os apreciadores da época, se servia o melhor peito de vitela
assada com batatas ou a vitela ensopada.
Na Estalagem da Águia d’Ouro na
Batalha, eram célebres as costeletas e as ostras.
No Freitas, um afamado restaurante de
outros tempos era conhecido pelo lombo de porco assado com rodelas de laranja.
No “Maneta do Reimão” na Rua do Reimão
tinha fama o peixe de cebolada.
Já agora, um breve parêntesis para explicar aquela alcunha
de a Maneta.
A dona do restaurante chamava-se Maria da Silva Leal. Em
1831 estava noiva mas, no ano seguinte, começa a guerra civil e o namorado é
chamado para fazer parte do Exército Libertador. Durante o Cerco foi ferido e
ficou sem um braço. No fim da luta apresentou-se à prometida convicto de que
ela o ia rejeitar. Mas isso não aconteceu. Casaram e a Maria da Silva Leal
passou a ser conhecida pela alcunha com que era denominado o marido.
“O Restaurante «O
Sentieiro» nos fins do séc. XIX ficava na rotunda da Boavista um restaurante
afamado que tinha como especialidades, além do verdasco de Amarante ou do Marco
de Canaveses, o arroz de frango, o cozido à portuguesa, o sável frito do
Areinho e o chispe com feijão branco.
Sentieiro era o nome
do proprietário do restaurante cujas instalações ocupavam uma parte daquela
faixa de terreno ainda existente entre o edifício da antiga estação da Boavista
do caminho- de- ferro da Póvoa, e a Avenida da França. Ainda não há muito
tempo, meia dúzia de anos, se tanto, havia ali um portão de ferro trabalhado
encimado com a palavra Sentieiro.
Era a entrada para o
restaurante que ocupava um belíssimo edifício tipo chalé e possuía, nas
traseiras da casa, um lindíssimo jardim que servia de esplanada à qual se
chegava depois de se atravessar um frondoso túnel formado pelas copas de lindas
japoneiras.
O restaurante foi
fundado por meados de 1875, logo a seguir à inauguração da estação da Boavista.
Por essa altura, a Avenida da França ainda se chamava Rua das Pirâmides, porque
ia dar direitinha aos obeliscos (pirâmides) que assinalavam, na proximidade da
Rua dos Castelos, a entrada na quinta da Prelada.
Possuía este
restaurante, no seu exterior, dois belos vasos de granito que procederam da
Capela de S. Roque do Largo do Souto e aqui vieram parar.
O nome completo do
proprietário era Manuel Luiz Sentieiro. Tinha a profissão de serralheiro e
possuía uma oficina de serralharia na Rua da Vitória, ali entre as ruas dos
Caldeireiros e do Ferraz. Foi destas oficinas que saiu todo aquele gradeamento
que ladeia a Rua Nova da Alfândega, desde o começo da Rua da Reboleira até ao
cais de Monchique. Politicamente, esteve ligado ao partido Progressista e os
seus adversários não se coibiam de insinuar que o fornecimento daquele
gradeamento tinha a ver com a sua filiação partidária.
Mas o que mais
notoriedade deu ao Manuel Luiz Sentieiro não foi nem a oficina de serralharia
nem o restaurante da rotunda da Boavista. Foram, sim, a suas qualidades de
"grande orador" de comícios políticos mas no pior sentido. Os jornais
da época, referindo-se às intervenções de Sentieiro em "meetings"
partidários, diziam que ele "em prol dos progressistas se fartava de
estragar o português".
Quando o restaurante
fechou as portas, organizou-se, na já então chamada Praça de Mouzinho de
Albuquerque (antiga rotunda da Boavista), uma comissão de pessoas, todas
moradoras na zona, com vista a fundar o Clube da Boavista, que passaria a
funcionar no edifício onde antes havia estado o Sentieiro. A coletividade
formou-se, mas teve vida efémera”.
Com a devida vénia a Germano Silva
O Restaurante Sentieiro, também conhecido por Chalet da
Boavista, já estava de portas abertas em 1876, pois é citado após um artigo jornalístico sobre o S. João da Boavista desse ano.
“Chalet da Boavista (rotunda da Boavista) – Este estabelecimento,
situado num dos lugares mais aprazíveis desta cidade, está montado de forma que
se pode chamar o primeiro do Porto”.
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 23 de Junho de 1878 –
Domingo (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”, p. 596)
Em 1889, o Restaurante Sentieiro reabriria depois de
sofrer alguns melhoramentos, como nos informa a notícia seguinte:
“Antigo Restaurante Sentieiro – Neste magnífico restaurante, que
abriu ontem, o público encontrará um variado serviço culinário, dirigido por um
dos melhores cozinheiros da cidade.
O Chalet tem um belo
retiro ajardinado, com elegantes caramanchões, onde o público pode ser
servido.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 3 de Julho de 1889 - 4ª
Feira (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”, p. 597)
O chalet onde
esteve o restaurante “O Sentieiro” foi posteriormente aproveitado para
instalação dos escritórios da Companhia
dos Caminhos-de-Ferro da Póvoa e, mais tarde, pelos anos vinte do
século passado, serviu para habitação do pessoal da mesma companhia.
“Atualmente [1970],
como pode observar-se, apenas resta o terreno plantado a couves galegas, bem
como o gradil de ferro exterior e o portão principal, que conserva ainda no
alto, sob o remate, em letras de ferro fundido o apelido do antigo proprietário
do restaurante - Sentieiro.”
In “O Tripeiro”, Série VI, ano X, p. 298 – Fonte: “aportanobre.blogs.sapo.pt”
Com a letra A o chalet do Restaurante Sentieiro e com a
letra B a Estação Ferroviária da Boavista - Fonte: Planta de Telles Ferreira de
1892, quadrícula 193
A pinta amarela indica o portão de acesso para o Restaurante
Sentieiro – Fonte: Frame de filme do youtube
A pinta amarela indica o portão de acesso para o Restaurante
Sentieiro – Fonte: Frame de filme do youtube
Pormenor do portão de entrada do Restaurante Sentieiro na
Rotunda da Boavista – Cortesia de Francisco Queiroz (Subsídios para a História
das fábricas de fundição do Porto no século XIX, In Boletim da Associação
Cultural Amigos do Porto", 3ª série, n.º 19, 2001, p. 141-185, 2001
Presentemente, estando a ser estudada a possibilidade de
ocupação da área onde esteve a estação dos caminhos-de-ferro da Boavista e
todas as construções a ela afectas e, ainda, o restaurante Sentieiro, com um
empreendimento ligado às organizações do “Corte Inglês”, espera-se, que, não
deixe de ser preservada a memória histórica do local, quer por intermédio de
murais, quer por outros elementos arquitectónicos que sejam julgados, adequados,
para esse efeito.
Pelo menos, aquela fachada da estação tem de ser preservada!
Os portuenses vão agradecer.
Terreno nas traseiras da antiga Estação Ferroviária da
Boavista da linha do Porto à Povoa e Famalicão, onde será levantado o “Corte
Inglês”
Estação Ferroviária da Boavista, em 1875
Oficinas da linha do caminho-de-ferro do Porto à Póvoa, em
1878
O Restaurante Lisbonense servia a lampreia com ovas e, foi lá, confeccionado, pela primeira
vez, o célebre “Bacalhau à Gomes de Sá”.
Na Ribeira situava-se, entre o casario sobranceiro ao "Muro dos Bacalhoeiros",
a casa que se encontra ligada à figura de Gomes de Sá.
José Luís Gomes de Sá, nasceu no Porto, a 7 de Fevereiro de 1851 e
morreu, a 31 de Janeiro de 1926. Negociante de bacalhau sedeou o seu
negócio num armazém no Muro dos Bacalhoeiros, junto ao Cais da Estiva, na
Ribeira do Porto.
Quando ofereceu a receita, do denominado “Bacalhau à Gomes de Sá”, que datará do princípio do século XX, ao seu amigo João, do Restaurante Lisbonense, acrescentou ao manuscrito “João, se alterar qualquer coisa desta receita, já não fica capaz”.
Quando ofereceu a receita, do denominado “Bacalhau à Gomes de Sá”, que datará do princípio do século XX, ao seu amigo João, do Restaurante Lisbonense, acrescentou ao manuscrito “João, se alterar qualquer coisa desta receita, já não fica capaz”.
“A educação de Gomes
de Sá foi feita no domicílio e ainda novo passou a administrar um armazém de
comercialização de bacalhau. Um incêndio destruir-lhe-ia o negócio e levou-o à
falência tendo então sido acusado de quebra fraudulenta. Valeu-lhe então um
amigo que nele confiou e que lhe propôs sociedade. Tratava-se de um conhecido
comerciante, estabelecido com loja de fazendas, Bernardo da Silva Dâmaso. A
sociedade que passou a designar-se Dâmaso & Cª, Ltd, ficava situada na rua
Cândido dos Reis e só terminaria com a morte de Gomes de Sá, em Março de 1926.
É provável que a sociedade tivesse mudado de local porque em 1905, foi feito
por esta firma um pedido para construir um prédio no novo bairro das
Carmelitas, em frente às Galerias de Paris, actual nome da zona e que em 1903
havia sido planeada para receber uma cobertura de vidro”.
In garfadasonline.blogspot
José Luís receberia de seu pai, o negócio e o armazém de bacalhau que este tinha ao "Cima do Muro".
O seu progenitor era um homem dado à política, tendo chegado a ser vereador no executivo de Pinto Bessa.
Casa onde nasceu
Gomes de Sá, no Muro dos Bacalhoeiros – Ed. JPortojo
Descarga de bacalhau na Ribeira - Ed. Marques Abreu &
Cia
O Restaurante Lisbonense, do "Bacalhau à Gomes de Sá", ficava no troço da Rua de Sá da Bandeira que, antes, foi Rua do Bonjardim.
Nesse troço de rua, no seu início, para quem estivesse virado para a Praça Almeida Garrett teria pela sua direita, o Restaurante Mesquita e pela sua esquerda em sequência, o Restaurante Monteiro, o Restaurante Adriano e o Restaurante Lisbonense.
Naquele Restaurante Adriano, confeccionavam-se os famosos “Bifes à Padre Piedade”, cuja receita seguia o seguinte processo:
Nesse troço de rua, no seu início, para quem estivesse virado para a Praça Almeida Garrett teria pela sua direita, o Restaurante Mesquita e pela sua esquerda em sequência, o Restaurante Monteiro, o Restaurante Adriano e o Restaurante Lisbonense.
Naquele Restaurante Adriano, confeccionavam-se os famosos “Bifes à Padre Piedade”, cuja receita seguia o seguinte processo:
Grelhar os bibes, grandes, grossos e tenros, na chapa do
fogão ou na grelha; ao lado, deita-se num prato, um golpe de azeite, outro de
vinagre e dentes de alho finamente picados; conforme os bifes vão grelhando,
colocam-se no prato e comprimem-se, de forma a largarem o sumo, voltando para a
assadura, repetindo a operação até que estejam no ponto desejado; regam-se com
o molho do prato e servem-se acompanhados de batatas cozidas.
A confecção deste prato estava sujeita aos devaneios do cozinheiro e, por vezes, era executado de outro modo, como o apresentado por um leitor da revista "Tripeiro", Ano II, Vª Série de Maio de 1946 e que se transcreve a seguir:
O Padre Piedade era o capelão da Capela das Almas e, era sua, a receita dos bifes que levavam o seu nome.
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