A Rua da Fábrica, dada a sua proximidade à Praça D. Pedro,
sempre alojou hotéis de referência.
No prédio da gravura acima, esteve em tempos, o célebre Café
das Hortas. O Hotel Internacional, fundado em
1905, ainda existe hoje, no mesmo local, tendo sido em 2014, adquirido
pelo "Grupo Barrias", proprietário do "Café Majestic",
"Café Guarany", "Café Vera Cruz", "Hotel dos
Aliados" e "Hotel Pão de Açúcar".
Em 26 de Maio de 1938, reabriria com remodelação a cargo de
Adelino Caetano.
Bem perto do Hotel Internacional, uns metros acima, no lado
oposto, ainda na Rua da Fábrica, esteve desde 1877, o Grande Hotel Paris.
O edifício onde se encontra o Grande Hotel Paris foi
começado a levantar em 1855, por mando de um importante homem de negócios da
cidade, Manuel Fernandes da Costa Guimarães, morador na Rua do Correio, nº
98-102 e, dois anos depois, começava a ser ocupado.
Antes, o prédio que ali se encontrava, tinha sido alvo de um
incêndio.
Os primeiros inquilinos foram a Sociedade Filarmónica
Portuense, em 1857.
Em 1877, aí se instalaria o Grande Hotel de Paris, com
Manuel da Costa Guimarães como administrador da sociedade que passa a gerir o
hotel, sendo o seu director um cidadão francês, Gabriel Dupuy.
Cerca de três dezenas de anos antes, já se tinha instalado,
na Rua da Fábrica, nº 41 (antiga numeração que, até 1860, era corrida), a “Hospedaria Francesa”, vinda do Largo
da Batalha, à esquina da Rua de Cima de Vila, de João Baptista Arismendi, a
qual havia “sucumbido” num incêndio, anos antes.
Em 1848, a hospedaria continuava de portas abertas como
publicitava o periódico lisboeta “O Estandarte”.
A hospedaria receberia como cliente, desde a primeira hora, o escritor Camilo Castelo
Branco acabado de chegar de Vila Real.
Segundo Camilo, a hospedaria ficava num prédio apalaçado, cujo rés-do-chão era ocupado pelas oficinas e escritório do jornal "O Nacional."
Ficou célebre a descrição que Camilo Castelo Branco fez sobre uma sua estadia na hospedaria quando, estando doente, recebeu a visita da cozinheira e sua amiga Gertrudes que lhe serviu, em 1849, um prato de mão de vaca… e ele se curou.
Quem por lá também se hospedou foi Pedro Bartholomeu Dejante
um marceneiro famoso da época que, em Outubro de 1852, anunciava na imprensa:
“Pedro Bartholomeu
Dejante, marceneiro de SS. Magestades, tendo de retirar-se para Lisboa,
annuncia que no dia 20 do corrente pelas 11 horas da manhã, na Hospedaria
Franceza, rua da Fábrica nº 43, faz leilão de móveis novos de pau mogno,
espelhos em caixilhos dourados para tremós e fogões de sala, um variado
sortimento de marmores de Itália, e Nacionaes, promptos para lavatórios,
toucadores, mezas, commodas, e escaparates; tudo acabado na última perfeição”.
In jornal "O Periódico dos Pobres", Nº 246, 18 de
Outubro de 1852, pág. 1053, cit. por José Francisco Ferreira Queiroz
No início do ano de 1851, no seu regresso ao Porto vindo de Lisboa, o escritor encontrou "extinta" a Hospedaria Francesa, dizendo sobre o gerente da mesma o seguinte:
”Uma nota impertinente: O chefe desta hospedaria era Mr. Ayresmen, ou um nome assim parecido. Tinha ele duas filhas, uma das quais dera muito que fazer aos logrados amadores das boas caras. Chamava-se M.lle Pauline. Uma bela manhã, o proprietário da casa penhorou tudo por dívida. O chefe morreu, mendigando. Uma filha morreu de fome. A outra, M.lle Pauline, suicidou-se. Eis aqui meia dúzia de linhas que revelam a saudade com que me recordo dessa infeliz família com a qual vivi um ano. Não devem rir-se disto.”
"Um Homem de Brios" de Camilo Castelo Branco
Sobre a prosa anterior, é possível que o fecho, no início de 1851, da Hospedaria Francesa, tenha sido apenas esporádico e ocorrido face à ausência do seu antigo gestor.
Aquela hospedaria, seria também conhecida por “Hotel Francês”.
Será ainda, certamente, aquele hotel que, em 1854, Camilo
Castelo Branco identifica como o “Hotel
Barthès”, onde ele visita o casal José Augusto e Fanny Owen, na Rua da
Fábrica.
Em 1855, começaria a ser construído um novo prédio, pois, o anteriormente aí existente, tinha sido alvo de um incêndio. O novo edifício haveria de ser ocupado pela Sociedade Filarmónica Portuense e, depois, pelo Hotel de Paris.
Na chamada “casa dos herdeiros Sampaio”, uma
casa setecentista, situada quase em frente, ao que viria a ser a sede da
Sociedade Filarmónica e do Hotel Paris, na Rua da Fábrica, existiu, também, na
2ª metade do século XIX, uma pensão muito concorrida.
Essa morada haveria de dar pensão, até muito depois do dealbar do século XX.
“O “Grand Hotel de
Paris”, situado na rua da Fábrica, num edifício apalaçado contruído por um
abastado negociante, foi inaugurado a 27 de novembro de 1877, e funcionou
inicialmente como sucursal do “Hotel de Paris” em Lisboa.
No ano seguinte é
aberta a sala “Café-Restaurante” que mais tarde viria a ficar conhecida pelos
seus acepipes, adotando o nome de Casa Transmontana, por ser frequentada por
muitos viajantes de Trás-os-Montes.
O Grande Hotel de
Paris é o hotel mais antigo da cidade do Porto, tendo sido inaugurado em 1877,
o mesmo ano da ponte D. Maria Pia.
Camilo Castelo Branco,
Eça de Queirós, Guerra Junqueiro e Rafael Bordalo Pinheiro, foram algumas das
personalidades da cultura portuguesa que ficaram hospedadas no Grande Hotel de
Paris.
No dia 27 de novembro
de 1877, anunciava-se na imprensa a inauguração de "um magnífico hotel de
primeira ordem".
Porquê tantos nomes de
vulto das letras portuguesas entre os hóspedes?
A ligação à literatura
e aos livros é umbilical, nasceu com o hotel.
Ou não fossem alguns
dos seus fundadores, como Ernesto Chardron e Mathieux Lugan, os proprietários
da Livraria Internacional Ernesto Chardron, hoje a famosa Livraria Lello.
O francês Gabriel
Dupuy geriu a primeira sociedade, constituída por cidadãos ilustres do Porto da
época.
Durante boa parte da
segunda metade do séc. XX, o afamado restaurante do hotel servia "os
melhores acepipes da cidade" – dizia-se, de boca em boca. Época em que era
também conhecido como a "casa transmontana do Porto" – lugar de
tertúlias e convívio, costumes que vinham de trás, dos primórdios dos saraus
musicais, dos jantares-concertos, dos encontros de homens da política e da
cultura.
Atualmente, a
construção apalaçada tipicamente portuense e de linha sóbria, guarda no seu
interior uma pequena pérola histórica e arquitetónica, uma surpresa ainda
desconhecida para muitos que sobem e descem a rua da Fábrica”.
In facebook.com/PortoDesaparecido
Anúncio da formação da sociedade gestora do Grande Hotel
Paris em 14 de Dezembro de 1877, inserido no “Commercio Portuguez”
Em 1879, teve lugar o primeiro sarau musical no jardim
interior iluminado, sendo que, neste ano, passam também a ser disponibilizados
serviços como, cabeleireiro e sala de leitura.
Em 1881, o hotel cria os “Diners-Concerts”
(jantares/concertos), destinado a servir as famílias.
O Grande Hotel Paris ficou, entre outros motivos célebre,
por ter um café restaurante que se mantinha aberto para lá do horário do fecho
dos teatros, e pelas suas salas de jogos.
A partir de Novembro de 1885 até Fevereiro de 1886, viveu
neste hotel Eça de Queiroz, nas semanas que antecederam o seu casamento com D.
Emília de Castro.
Aqui, Camilo Castelo Branco e Guerra Junqueiro reatam também
a sua amizade, sob a acção conciliadora de Ricardo Jorge.
Entre os anos 1888 a 1907 tiveram lugar os banquetes
dirigidos pelo maître Joseph Aufrére, altura em que o hotel era gerido por
proprietários franceses (1877-1887 Gabriel Dupuy, 1888-1907 Joseph Aufrére,
1908-1918 Gustave Cérez).
Sobre o Grande Hotel de Paris (Rua da Fábrica) é a notícia
seguinte:
“Teve importantes reformas no ano de 1880.
Um soberbo ómnibus da casa acha-se na estação de caminho
de ferro, a todas as horas de comboio, para a condução de passageiros.”
In “O Primeiro de Janeiro”, de 29 de Abril de 1880 – 5ª
Feira
A estação ferroviária referida devia ser a de Campanhã (que
já existia), ou a das Devesas, em V. N. de Gaia e, neste caso, o atravessamento
do rio Douro seria feito, pela ponte D. Maria II.
Posteriormente, em 1919, começou a época dos proprietários
portugueses (Manuel Ferreira Da Silva, Augusto Teixeira de Carvalho e Joaquim
da Silva Petiz e da gerente francesa Pauline Buton), sendo que durante a década
de 20, se executaram inovações nas instalações.
A segunda metade de século XX, foi a época dos proprietários
galegos, em que ficou conhecido como “Casa Transmontana” porque havia muitos
viajantes de Trás-os-Montes.
Desde 1999, a família Ferreira é proprietária do Grande
Hotel de Paris. Esta é uma família tradicional transmontana. Adquiriu este hotel
aos proprietários galegos. Procedeu-se então a um trabalho de restauro,
remodelação e preservação da identidade e personalidade histórica do hotel.
E, um pouco por toda a baixa da cidade, as unidades
hoteleiras procuravam as melhores instalações.
Na foto acima, em frente, era o começo da Rua da Bonjardim, junto aos Congregados e, pela direita, é a Rua de Santo António.
A partir de 1916 esse troço passou a fazer parte da Rua de
Sá da Bandeira.
Na última metade do século XIX, no local que se vê na foto
(pela esquerda), ficava uma estação de Char-à-Bancs que fazia ligação com a
estação ferroviária das Devesas em V. N. de Gaia, términos da linha do Norte,
desde 1864.
Um dos andares superiores dessa estação foi ocupado, em
tempos, pelo Hotel Estrela do Norte (não confundir com um outro da Rua de
Entreparedes), onde se costumavam hospedar os artistas estrangeiros que faziam
parte das companhias a actuar no Baquet e no Príncipe Real.
Nesse local, chegou a estar estabelecido, também, o depósito
da Fábrica da Marinha Grande.
À entrada da rua, à esquerda da foto, ficava o Hotel
Real, de que Camilo Castelo Branco foi várias vezes hóspede.
Nesse troço da Rua Sá da Bandeira no nº 21, mais tarde,
instalar-se-ia o Hotel Peninsular, que ainda hoje tem as suas portas abertas.
Acima, um folheto publicitário do Grande Hotel do Porto
situado, tal como hoje, na Rua de Santa Catarina e que foi inaugurado em 1880.
Em 18 de Fevereiro de 1916 a gerência do Hotel
Oriental seria intimada a fazer obras para melhorar as condições de
higiene, segurança e comodidade dos seus hóspedes, pelos Engºs José de
Vasconcelos Lima Júnior e Manuel Domingues dos Santos e Carlos Nogueira Pontes.
Na mesma intimação foram englobados ainda, o Hotel
Arouca, o Hotel Luso-Brasileiro, o Hotel Amazonas, o Hotel
Minho e Douro e o Hotel Livração, todos eles
contemporâneos do Hotel Oriental.
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