quinta-feira, 2 de março de 2017

(Continuação 6) - Actualização em 03/04/2019 e 15/10/2020

Fonte: Porto Desaparecido, Marina Tavares Dias



Na foto acima observa-se que a nascente da Praça da Liberdade e da Avenida dos Aliados o antigo Café Central ainda existe na praça, o edifício do Café Suisso na esquina da Rua Sampaio Bruno está em construção, e no quarteirão que se segue, iriam assentar os cafés Sport e Avenida e mais tarde o novo Café Central ou Central-Café ou, ainda, Café Central da Avenida, para o distinguir do que esteve na Praça D. Pedro.
O Café Avenida era no local o mais antigo dos três.



Publicidade ao Café Avenida - Fonte: Porto Desaparecido, Marina Tavares Dias


“O Café Avenida é inaugurado, em finais da década de vinte, no quarteirão delimitado pelas ruas Sampaio Bruno e Magalhães Lemos. Possuía salão de bilhar e era conhecido pelo seu café de qualidade. Os espetáculos com orquestra ao vivo eram uma constante. Em 1940 sofre obras de remodelação e reabre com a designação de Vitória-Café-Restaurante-Cervejaria. Não resistiu à passagem da primeira para a segunda metade do século XX.
Igualmente localizado entre as ruas Sampaio Bruno e Magalhães Lemos surge, em 23 de novembro de 1929, o Café Sport, uma semana antes da inauguração da escultura "Menina Nua" de Henrique Moreira na Avenida dos Aliados. O estabelecimento assumia estilo moderno, ao gosto da época, formalizado ao nível exclusivo do piso térreo, com um salão principal recheado de mesas e, em 1936, foi inaugurado um grande salão de bilhares.
Segundo Marina Dias, «assume estilo moderno, com projeto da dupla Rogério de Azevedo-Baltazar de Castro e do pintor decorador António Costa, que em quatro painéis representa quatro modalidades desportivas: o futebol, a natação, o atletismo e o golfe».
Como é óbvio, atraía uma clientela ligada ao desporto, mas também os artistas do "Grupo Mais Além", e alguns arquitetos e engenheiros com escritórios nas proximidades.
Leonardo Coimbra e Teixeira Rego serão seus frequentadores habituais. Em 1943 será totalmente remodelado «espelhos nas paredes e um vitral ao fundo dão-lhe um ar mais solene, mas o estilo arrojadamente modernista desaparece de vez». Acaba os seus dias em finais dos anos sessenta, para dar lugar a uma agência bancária.
O Café Au Chantecler foi inaugurado por Mariano Suez, a 12 de maio de 1915, no n.º 132 da Rua do Bonjardim. Foi considerado um dos melhores do seu tempo, atendendo às condições de comodidade e conforto de que era detentor. Possuía um palco para espetáculos musicais, ajustando-se à tipologia dos cafés-concerto.
No que diz respeito aos cafés em concreto, num universo de cento e sete estabelecimentos, que entre o início do segundo quartel do século XIX e o fim da primeira metade da centúria seguinte foram proliferando pelos cinco núcleos urbanos da cidade do Porto, destacam-se trinta e cinco cafés (vinte e sete extintos e oito ainda ativos na atualidade).
Entre os trinta e cinco destacados, vinte e seis podem ser considerados cafés históricos.
São eles os cafés, já extintos: Porta de Carros, Hortas, Neve, Central, Chaves (situava-se na confluência das Ruas D. Pedro e Rua do Laranjal, mesmo nas traseiras dos antigos Paços do Concelho) Café Recreio (na esquina das desaparecidas ruas do Laranjal e dos Lavadouros e que antes se chamou Café República), Café Primavera (na desaparecida Rua do Laranjal), Café Astória (situado em frente à Estação de S. Bento, na esquina do prédio do Passeio das Cardosas) Café Leão d’Ouro (anterior Comuna), Café Graça, Café Martinho, Café Chaves (no Chalet da Cordoaria), Café Vitória, Café Avenida, Café Sport, Café Monumental, Café Central (o da Avenida dos Aliados, que foi para junto do Café Sport que já existia à data, tendo fechado no fim dos anos sessenta do século passado e tinha sido inaugurado entre as ruas de Sampaio Bruno e Elísio de Melo, agora chamada Magalhães Lemos, após o encerramento do outro Café Central da Praça de D. Pedro, em 1933), Café Lisbonense, Café Au Chantecler (situado na Rua do Bonjardim, no troço compreendido entre a Rua Sá da Bandeira e a Praça D. João I), Café Rialto (situado na Praça D. João I na cave do edifício Rialto na esquina com a Rua Sá da Bandeira) e Café Excelsior e os cafés ainda ativos na atualidade: Café Brasil, Café Chave d’Ouro, Café Portas do Olival, Café Âncora d’Ouro (conhecido por Piolho) e Café Progresso.
Os três útimos na zona da Reitoria da Universidade tinham clientela ligada ao sector estudantil. Nessa mesma zona podemos ainda referir o Café Lealdade (depois Café Romão, ainda existente) na Praça Carlos Alberto e O Café Universidade contíguo ao “Piolho.
(…) Os restantes nove são aqueles que são sem sombra de dúvidas cafés históricos e os mais emblemáticos. São eles os cafés: Guichard, Águia d’Ouro, Suisso, Camanho, Imperial e Palladium (todos eles extintos) e os cafés: A Brasileira, Majestic e Guarany (estes com maior longevidade)”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes 



Publicidade ao “Café Sport” em 31 de Janeiro de 1931 no semanário “O Pirolito”



À direita da foto é possível ver ainda parte do reclame do Café Central (o da Avenida). Para lá do toldo claro ficava o Café Sport


Entrada do Café Sport





“Desde ontem que se encontra aberto ao público mais um elegantíssimo café, arrojada iniciativa de três individualidades marcantes, os srs. Caetano Ferreira do Amaral, António da Costa Ribeiro e António Manuel Ribeiro.
«Central-Café», assim se denomina o novo estabelecimento, encontra-se situado em pleno coração da cidade, à entrada da Avenida dos Aliados. O Projecto, da autoria do engenheiro sr. Mário Leitão, mereceu das inúmeras pessoas que ontem visitaram o «Central-Café», as mais eligiosas referências. Lindos efeitos são tirados das colunas de mármore de Vimioso, dos espelhos que circundam a vastíssima sala, em combinação com a côr das paredes, da iluminação profusa e viva.”
In “Jornal de Notícias”, 11 de Setembro de 1938 – Domingo


Pelas bandas da Cordoaria, Alberto Pimentel refere-se ao Café Portuense no edifício da Academia mas a Sul no Campo dos Martyres da Patria nº 108.
 
“Sempre as mesmas caras, as mesmas phrases, e os mesmos grupos. Ha bilhar”.
 
Ainda pela Cordoaria, teria sido fundado no ano de 1853, o Botequim da Porta do Olival, pelo que, deverá ser o mais antigo café do Porto, já que, ainda hoje existe, no Campo dos Mártires da Pátria, no final da chegada da Rua de Trás, à Cordoaria (antigo Largo da Porta do Olival).
Na cave do café pode ainda observar-se, parte da Muralha Fernandina, que tinha uma das portas principais nesta zona, a chamada Porta do Olival, onde o botequim foi buscar o seu nome.






Os almanaques do Porto, para 1884 e 1901, dão como proprietário do botequim da Porta do Olival, Joaquim Maria da Silva.
Posteriormente, o botequim veio a pertencer à criada deste, a quem ele legou antes de falecer, em 1916 ou 1917 a posse do estabelecimento e do seu recheio. Com a morte da cria­da e do seu marido, António de Oliveira, este botequim veio a pertencer a uma irmã de António de Oliveira, que por sua vez o trespassou.
Horácio Marçal dá-nos, ainda, deste botequim, um registo na primeira pessoa:
 

Durante o ano de 1927, quando recruta do regimento da 1.ª Companhia de Saúde, nas Taipas, fomos bastantes vezes ao 1.º andar deste modesto cafèzinho jogar algumas partidas de bilhar com o nosso alegre camarada da tropa Eduardo Augusto da Silva, o fadista, como era conhecido no Quartel”.
Horácio Marçal
 
 
Através de Horácio Marçal, ficamos a saber que o café chegou a ter dois pisos (ao contrário do que sucede nos dias de hoje).
Também junto do Largo do Carmo existiu o Café do Carmo referenciado por Alberto Pimentel, paredes meias com o Café Âncora D’Ouro.
Ficou também conhecido, inicialmente, por Botequim do Carmo.

 
 

In “Jornal do Porto” de 20 de Junho de 1872, pág. 4



À esquerda da foto é possível ver a placa, na fachada do prédio da esquina, identificando o “Café do Carmo”, em 1890
 
 
 

Café do Carmo na esquina do Largo do Carmo e a Rua do Carmo – Fonte: AHMP
 
 
José Bernardo de Sousa terá sido um dos proprietários do Café do Carmo, mas, em 1884, já estava com outro projecto em mãos – o novo Chalet da Cordoaria.
O Chalet da Cordoaria abriria em 1870.
 
 
Chalet da Cordoaria - Principiou ontem a funcionar, dentro do Passeio da Cordoaria, o novo chalet, ali colocado e onde se encontra, por preços módicos, tudo o que é indispensável num estabelecimento daquele género”.
In jornal “ O Brio do Paiz” de 30 de Setembro de 1870

 
Passado quase um ano, António dos Santos, que explorava o chalet, solicitava permissão à Câmara do Porto para trespassar o estabelecimento.


In "Jornal do Porto" de 18 de Agosto de 1871 


Passados treze anos sobre a sua inauguração, o Chalet da Cordoaria reabriria, após uma época de encerramento.
 
 
Chalet da Cordoaria - Reabriu-se ontem este importante estabelecimento e Café e bilhares, como um dos melhores deste género na cidade”.
In jornal “A Verdade” de 15 de Outubro de 1883
 
Em 21 de Abril de 1884, o jornal “A Verdade” informava que o antigo proprietário do Café do Carmo tinha passado a deter a propriedade do Chalet da Cordoaria, situação que outro periódico reafirmaria cerca de um ano depois.
 
 
“Chalet da Cordoaria – É assim que se denomina um estabelecimento de café e bilhares, situado no jardim público do Campo dos Mártires da Pátria, propriedade do sr. José Bernardo de Sousa.
Neste estabelecimento não se admitem crianças a jogos de bilhar, o que não acontece em muitos outros.
No jardim, junto ao chalet, há mesas e bancos para os fregueses se servirem das diversas bebidas próprias de estabelecimentos desta ordem”.
In “O Jornal do Paiz” de 25 de Maio de 1885




Chalet da Cordoaria
 
O Chalet da Cordoaria, após mais um encerramento, voltaria a abrir em 1900.
 
 
 
Chalet da Cordoaria – Esta linda casa de recreio num dos pontos mais aprazíveis da cidade e que havia tempo se encontrava fechada, reabriu novamente com uma instalação de café”.
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 7 de Outubro de 1900



Houve uma época em que abriram cafés de cariz mais popular. Foi o caso do Café Primavera que em 1908 já existia na Rua do Laranjal (mudou-se depois para a Travessa da Picaria em 1917 e fechou, passados alguns anos), junto ao chafariz do Laranjal, onde actuavam bailarinas espanholas, e o Café República, depois Café Recreio, na Rua do Laranjal na esquina da desaparecida Rua dos Lavadouros, com actuação de bailarinas e cantadeiras.
Do mesmo género apareceu na década de 30, o Colon (depois Bristol) na Rua de Entreparedes, o Chinês na Rua do Campinho com orquestra e clube nocturno e o Vitória na Praça de Santa Teresa com fados e guitarradas. 



“Em 6 de Agosto de 1904 abriu, na antiga Rua do Laranjal, o Café Recreio. Este café foi um dos primeiros estabelecimentos que se notabilizaram, no âmbito de uma característica particular, que alcançou grande popularidade naquela época. Trata-se da curiosidade do café-concerto, com espetáculos de música e dança, que lá se realizavam frequentemente. Fundado por José Luís do Couto Querido, este café começou por ser denominado de Café República – nome que teve pouca dura – tendo sido, pouco tempo depois, alterado para Café Recreio. Aqui atuaram, durante sensivelmente treze anos, diversas bailarinas espanholas e músicos variados. Acabou por encerrar em 1917, face às obras realizadas para abertura da Avenida dos Aliados”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes




Aqui ficava o Café Primavera



Por volta de 1917 e na sequência das demolições que andavam a ser feitas no velho bairro do Laranjal, para a abertura da Avenida dos Aliados, o velho Café Primavera mudou-se para a Travessa da Picaria, junto aos lavadouros, onde continuou a funcionar sempre com casas à cunha. 
A propósito do Café Primavera Germano Silva diz-nos que um cronista dos começos do século XX escrevia:


 "A sua clientela era heterogé­nea. Entrava lá de tudo. Desde o cocheiro e o operário ao jor­nalista e comerciante, parava por lá, enfim, gente de toda a esfera social, talvez, é de crer, levada pelas estonteantes di­versões (leia-se bailarinas es­panholas) que o seu proprietá­rio apresentava diariamente como reclamo essencial ao bom êxito do seu negócio". 




Por sua vez, o Café Chaves teve como proprietário um tal Chaves que, talvez, tenha sido o dono dum primeiro Café Chaves, que existiu até 1900, na Praça dos Voluntários da Rainha, por trespasse do Botequim da Graça em 18/5/1889, que pertencia a António Gonçalves Valença.
Sobre o Botequim da Graça, Alberto Pimentel que o frequentou, dizia que tinha loja e sobreloja e que era um espaço muito frequentado pela estudantina, que pouco ligava aos jogadores de dominó, mas que muito se embevecia com as lindas farinheiras e loiceiras que, de canequinha em punho, iam ali fazer a sua provisão de café. Informa, ainda, que lá jogava-se com afinco o trinta-e-um.
No entanto, o Botequim da Graça seria muito mais antigo, aparecendo já mencionado em, pelo menos, 1833.
Situava-se no edifício da Academia Real de Marinha e Comércio, na parte deste que fazia ângulo para o Largo do Carmo e para a antiga Praça da Farinha, depois chamada dos Voluntários da Rainha.
 
 
 “No Botequim da Graça que faz frente para a feira do Pão n.º 12 e 13 há para vender Água-ardente da terra e vinho da madeira de superior qualidade”.
In periódico “Crónica constitucional da Cidade do Porto” de 26 de Janeiro de 1833

 
 
O Café da Graça, também denominado Botequim da Graça teve, assim, uma existência bem remota, pois a ele se referia Alberto Pimentel, como tendo sido fundado por meados da década de trinta do século XIX e dizia, ainda, que este café localizava-se, especificamente, «loja e sobreloja enconchadas na parede do edifício da Academia que fazia ângulo para o largo do Carmo e para a antiga Praça da Farinha, depois chamada dos Voluntários da Rainha».
Este café localizava-se assim, concretamente, dentro do edifício inacabado da antiga Academia Real de Marinha e Comércio, na esquina da Praça dos Voluntários da Rainha (actual Praça de Gomes Teixeira) com a Praça de Parada Leitão.


 

Local onde tinha estado o Café da Graça, na década de 40 do século XX – Ed.  Foto Alvão; AHMP
 
 
“Botiquim da mesma ordem, nas mesmas condições. De vez em quando entra uma farinheira da Praça dos Voluntarios da Rainha, com a sua pequena caneca de louça, a comprar um vintem de café. Bom para estudar typos populares. Tem bilhar”.
Fonte: Guia do Viajante
 
 
“Segundo nos é dado a perceber por Alberto Pimentel, este café era constituído por “loja e sobreloja”. Não encontramos informação mais elucidativa de alusão à estrutura formal externa e interna do estabelecimento. Contudo, podemos depreender que existiria uma secção com mesas para o consumo do café e outras bebidas, e outra para a prática do jogo, destacando-se o dominó.
Pela descrição que podemos ler na Crónica Constitucional do Porto de 26 de janeiro de 1833, neste café era servida «água-ardente da terra e vinho da madeira de superior qualidade». Alberto Pimentel informa-nos, inclusivamente, que as farinheiras e loiceiras, «de canequinha em punho, iam ali fazer a sua provisão de café (…)».
Este café era frequentado, fundamentalmente, por estudantes da Academia Politécnica do Porto, entre outros.
Por questões relacionadas com o acabamento das obras de construção da Academia Politécnica do Porto, o Café Graça acaba por ter de encerrar no ano de 1900.
Alberto Pimentel informa-nos do seguinte: «Era um botequim de estudantes, onde passei não poucas horas em alegre convivência com os meus condiscípulos, sem nos importarmos com os caturras do dominó».
Percebemos, assim, que este café foi frequentado, assiduamente, por Alberto Pimentel, podendo asseverar a ideia de que outros literatos tenham, eventualmente, frequentado aquele estabelecimento”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes
 
 
 
Entretanto, 10/3/1900, devido às obras a decorrer na Academia Politécnica, Aníbal Chaves transferiu o Café Chaves, que tinha ocupado as antigas instalações do Botequim da Graça, para os baixos do Hotel Francfort, na esquina da Rua D. Pedro e da Rua do Laranjal, no local onde esteve o depósito da Companhia União Fabril Portuense.

 
 
“O antigo Café Chaves, que estava instalado nos baixos da Academia Politécnica, deve abrir brevemente nos baixos do Grande Hotel Francfort, no local em que esteve o depósito da Companhia União Fabril Portuense”
In “A Província” de 12 de Outubro de 1899.


 

À esquerda, na esquina do edifício, com a fachada voltada para poente (para onde hoje está o Café Piolho), situava-se o Botequim da Graça e, mais tarde, o Café Chaves
 
 
 
 
No mesmo prédio do hotel Francfort permaneceu o Café Chaves até 1918, quando o prédio foi demolido nas obras de abertura da nova Avenida das Nações Aliadas, depois Avenida dos Aliados.
Chegado a este ponto, o Café Chaves foi para a Cordoaria, para um “chalet” situado no jardim.
Nos baixos daquele hotel, na Rua do Laranjal, a Cervejaria Bastos era contígua ao Café Chaves.




Café Chaves aqui desde 1900, à esquerda, por baixo do Hotel Francfort



Café Chaves, em 1910




Interior do Café Chaves

À esquerda o Chalet do Café Chaves, na Cordoaria



O Café Chaves, em 15 de Maio de 1918, é então aberto no "chalet" da Cordoaria.
 
 
Café Chaves - Entre as formosas árvores do Jardim da Cordoaria, no Chalet, reabre na quarta-feira, 15 de Maio, este conhecido e acreditado Café”.
In “Jornal de Notícias” de 14 de Maio de 1818
 
 
 
As instalações foram alugadas por 500.000 reis anuais a Aníbal Chaves. Deu assim lugar ao Café Chaves que fechou na década de 40 do passado século, dado ter sido expropriado pela C.M.P. para alteração e expansão do novo Jardim da Cordoaria. Dado estar perto da Universidade do Porto era um botequim muito frequentado pelas figuras mais cultas e ilustradas, professores, artistas e poetas do Porto.
Em 23 de Outubro de 1947, o chalet onde tinha estado o Café Chaves, no Jardim da Cordoaria, começou a ser demolido. 



Praça da Batalha, em 1913, antes do aparecimento do Café Chave d’Ouro



Na foto acima, no 1º prédio à direita surgiria, mais tarde, o Café Chave d’Ouro, ocupado, à data, pela "Casa Midões" de comércio de mobiliário.



Construção, em 1919, do prédio onde, em 1920, seria inaugurado o Café Chave D'Ouro



Outra perspectiva da construção do prédio do Café Chave D'Ouro, observando-se, junto dele, a Camisaria Perdigão


“A cidade Invicta, outrora acanhada e rotineira, timbrando no apego velharias e querendo saber pouco de modernismos, segue hoje por um caminho novo.
Vem isto a propósito da inauguração, ontem à noite, efectuada em pleno largo da Batalha, bem defronte do Teatro, num ponto centralíssimo da cidade, do Café Chave d’Ouro.
É uma casa modelar no género, sem dúvida o primeiro café do Porto, graças ao conforto e à elegância, ao requinte estético e ao cuidadi higiénico que presidiu à sua realização.
A firma Artur costa & Cia, Lda. pode ufanar-se de ter realizado uma obra digna de aplausos de uma cidade inteira.
O edifício merece uma alusão, aliás oportuna e imprescindível. Sobre os alicerces de um prédio antigo, foi edificado, erguido sumptuosamente, um prédio magnífico, cujo interior é soberbo”.
In “Jornal de Notícias de 24 de Dezembro de 1920 ; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pag.653




Café Chave d’Ouro em 1927


Na foto acima, vê-se o Café Chave d’Ouro com os vidros partidos, fruto da revolução ocorrida em Fevereiro de 1927, no Porto, e que teve esta zona da cidade como um dos palcos principais.



Café Chave d’Ouro antes do seu desaparecimento – Fonte: Google maps



Na foto acima, está o Café Chave d’Ouro, fundado em 1920, completamente desfigurado e que já deixou de existir.
O Café Chave d’Ouro tinha dois pisos: piso térreo onde se localizava o café propriamente dito e primeiro piso com salão de bilhares.
Na década de trinta foram realizadas acções de remodelação da fachada.
Antes do seu fecho, já funcionava, apenas, no piso térreo.
Para a história ficou a reunião que nele ocorreu de Humberto Delgado, com jornalistas nacionais e estrangeiros, em 10 de Maio de 1958.
Junto ao Café Chave d’Ouro esteve, durante grande parte do século XX, o Café Leão d’Ouro.
Um outro Café Leão d’Ouro abriria no ano de 1899, na Rua Formosa.

“ Café Leão d’Ouro (Rua Formosa, 411) - Na Rua Formosa, é aberto hoje ao público, um elegante e confortável café com aquele título e de que é proprietário o sr. Eugénio Pereira Mendes”.
In jornal “A Província” de 30 de Dezembro de 1899; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pag.645


“O proprietário deste novo estabelecimento participa aos amigos e fregueses que abriu o seu novo estabelecimento na Rua Formosa, 411, onde encontrarão, além de um excelente café…”.
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 3 de Janeiro de 1900; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pag.645


Aliás, este não era caso único, em que dois estabelecimentos da mesma actividade económica partilhavam o mesmo nome.
Foi o caso do Café Tivoli, na Rua de Sampaio Bruno que começou por se chamar Café Chave d’Ouro, mas cuja denominação abandonou, rapidamente.


“Mais uma iniciativa arrojada e destinada a ruidoso êxito vai ser lançada, honrando sobremaneira a cidade invicta.
Queremos referir-nos à inauguração que hoje, às 18 horas, se realiza do Café Chave d’Ouro, sito à Rua Sampaio Bruno,38 a 40 e Rua Sá da Bandeira, 51 a 59.
Preciso é frisar que, já em tempos, e isto deve estar na memória de todos, esteve ali instalado o popularíssimo e afamado Café Portuense, café este frequentado pelos políticos mais em evidência e onde os professores, literatos e artistas, nas horas de descanso se reuniam.
O Café Chave d’Ouro é uma sucursal do tradicional e bem conhecido Café chave d’Ouro, de Lisboa, pertence à firma Carvalho, Lda.
Conforme é sabido, o Chave d’Ouro está instalado nos baixos do prédio ocupado pelo Hotel Portuense, prédio este que foi remodelado, sendo hoje um dos mais elegantes daquela moderna corrente de casas, que fica à entrada da Rua Sampaio Bruno”.
In “Jornal de Notícias” de 1 de Dezembro de 1921; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pag.654


Na Praça da Batalha, ao lado do Café Chave d'Ouro, para montante, esteve o Café Leão d’Ouro, junto do Grande Hotel do Império que, antes, foi o Hotel Sul Americano.



À direita, o Café Leão d’Ouro (primitivo), vizinho do Hotel Sul-Americano, em 1916 - Ed. Papelaria e Typografia Académica




O Café Leão d’Ouro sucede, na Praça da Batalha, a um outro que aí existiu desde 1857 e chamado Café da Comuna.
A este, o nome tinha-lhe sido dado pelo povo, sendo conhecido ainda, por ter uma frequência de pessoas ligadas aos movimentos operários, que aí conspiravam e delineavam lutas e greves. A polícia estava sempre por perto.
O seu encerramento acontece em 1889, sendo dois dos seus proprietários obrigados a fugir.
Alguns clientes do café conseguiram que ele reabrisse ainda nesse ano. Mas, para isso, tiveram de mudar o nome para Leão d’Ouro. Abre sob a gerência de um tal Alberto Joaquim.
Até 1923, o Café Leão d’Ouro existiu com instalações modestas, quando sofre obras de beneficiação.


“Completamente transformado, reabre hoje ao público, às 9 horas da noite, este importante estabelecimento que, afoitamente, se pode considerar o melhor e mais luxuoso, existente na parte alta da cidade.
Todos os portuenses se devem envaidecer de possuírem dentro da Invicta um tão belo e elegante estabelecimento, que a arrojada iniciativa e o apurado gosto dos seus únicos proprietários srs. Francisco Figueiredo Lima & Filho, que formam a sociedade do Café Leão d’Ouro, criaram”.
In jornal “O Comércio do Porto”, de 22 de Dezembro de 1923


O Café Leão d’Ouro sofreria obras de vulto que ocorreriam em 1929 e em 1934 é alterada a sua fachada.


“O Porto conta com mais um café que renasce completamente transformado e dotado do maior conforto.
Referimo-nos ao conhecidíssimo Café Leão d’Ouro, à Praça da Batalha, estabelecimento que, mercê do seu esplêndido serviço e da sua boa frequência, foi sempre largamente concorrido.
Após umas radicais obras e de curto encerramento, o Café Leão d’Ouro reabre hoje, às 8 horas da noite.”
In jornal “O Comércio do Porto”, de 12 de Outubro de 1929


Após os melhoramentos que recebeu o Café Leão d’Ouro apresentava duas salas com espelhos, mármores, metais dourados e mesas com tampos de vidro.
Descendo uma escada observava-se uma pequena gruta de água.


Café Leão d’Ouro, após os melhoramentos introduzidos


Por este café passaram, entre outras, figuras como Sampaio Bruno, Lima Júnior, Arnaldo Leite, Soares Lopes, António Azevedo, e nas décadas 30 e 40 daquele último, Ângelo César, Espregueira Mendes, Urgel Horta, Amélia Rey Colaço, Beatriz Costa, Vasco Santana e muitas outras personalidades conhecidas.
Mais tarde, um outro café, o Café Tropical, ocuparia uma área que, antes, estava afecta ao Café Leão d'Ouro.


Café Tropical com o seu toldo, em 1955, em instalações do primitivo café Leão d’Ouro



Os cafés Chave d'Ouro, Leão D'Ouro e Tropical chegaram, assim, a ser contemporâneos.


À direita da foto, o Café Tropical (toldo azul) já tomou o lugar do Café Leão d’Ouro



 Locais actuais (2021) de instalação de antigos cafés na Praça da Batalha, a poente; da esquerda para a direita: Tropical (antigo Leão d'Ouro primitivo), loja de souvenirs (antiga expansão do Leão d'Ouro) e, à direita, prédio em ruínas do antigo Chave d'Ouro - Cortesia de Manuel Sousa




O Café Astória situava-se na esquina da praça Almeida Garrett e Praça da Liberdade nos baixos do palacete das Cardosas, em frente à Estação de S. Bento. Fundado a 12 de Março de 1932, encerraria a 15 de Abril de 1972.
Tinha três pisos: “bar e cervejaria ao nível do rés-do-chão, café e salão de chá ao nível do primeiro andar e sala de jogos no segundo piso”.
Este café destinava-se, fundamentalmente, aos passageiros e utentes da Estação de S. Bento. Neste sentido, “ajustava-se aos horários dos comboios, anunciando serviço de pequenos-almoços às sete horas da manhã”.


Café Astória em 1940 – Fonte: Porto Desaparecido, p. 165


À esquerda na esquina o Café Astória em 1968


O Café Progresso foi inaugurado em 24 de Setembro de 1899, na Travessa Sá de Noronha.

“Desconhece-se o proprietário de fundação. Em 22 de junho de 1921 é constituída a sociedade por quotas Almeida e Henriques Limitada, que passa a ser proprietária do estabelecimento. Em 7 de novembro do mesmo ano o café é trespassado à Sociedade Comercial União Limitada. A 8 de janeiro de 1927 realiza-se um novo trespasse e Francisco Henriques Bernardino passa a ser o proprietário do café. Em 4 de março de 1947 Mário Henriques Pinto assumiu a propriedade do estabelecimento, cedida por Francisco Bernardino. O dia 4 de fevereiro de 2003 fica marcado por nova venda do estabelecimento, desta vez, à sociedade por quotas Mais Progresso – Cafés, Lda., que se mantem até hoje.
Aquando da sua abertura e até 2005 (período em que o café foi submetido a obras profundas de remodelação) o estabelecimento possuía “duas salas: uma – a maior – destinada ao café e outra aos jogos”. A primeira localizava-se no piso térreo e a segunda no primeiro piso. Atualmente, e com as obras de remodelação – realizadas entre 1 de julho e 8 de dezembro de 2005 – foi extinta a sala de jogos e, tanto o piso térreo como o primeiro andar destinam-se ao consumo do café, bebidas e refeições ligeiras, com mesas distribuídas por todo o espaço interior.
Este café foi frequentado, ao longo do século XX, fundamentalmente por Professores, tendo mesmo, chegado a ser conhecido pelo Botequim dos Professores”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes



Café Progresso


O Café Âncora Douro fica ainda na Praça Parada Leitão. Foi inaugurado em 1909, de frente para a fachada poente do edifício da Academia Politécnica do Porto.

“Desconhecem-se os proprietários de fundação do café. Sabe-se sim que, em 1909, o estabelecimento foi trespassado a Francisco José de Lima, antigo empregado de mesa do Café Martinho. Manteve-se, ulteriormente, na posse da família Reis Lima, mais concretamente, na do filho de Francisco Lima. Em 1979, José Martins, José Pires e Edgar Gonçalves, tomaram posse do estabelecimento, permanecendo seus proprietários até hoje”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes


O célebre “Piolho”


O Café Âncora Douro tem o seu começo de vida integrado no Hotel Âncora Douro que existia naquele mesmo local, resultando este, duma remodelação e sucedendo a um outro denominado Hotel Novo Lisbonense.
O Hotel Âncora Douro prestava ainda serviço de restaurante e de botequim.

“João Duarte Ferreira, proprietário do Hotel Novo Lisbonense e mais estabelecimentos anexos, resolveu mudar o título do mesmo Hotel Novo Lisbonense pelo de Hotel Âncora de Ouro.
Esta nova denominação começará a vigorar desde o dia 15 do corrente em diante.”
In jornal “A Luta”, 13 de Agosto de 1879 – 4ª Feira

O Hotel Novo Lisbonense tinha existência desde 1863, sucedendo ao Hotel Lisbonense.
De modo autónomo o Café Âncora Douro seria, porém, inaugurado em 1909. 
Pela Rua de Sá da Bandeira esteve, a partir da década de 30, do século passado, O Café Madrid.


Café Madrid na Rua de Sá da Bandeira

Localização do Café Madrid (nº 5) e correspondência entre duas épocas 

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