O Teatro Águia d'Ouro
e o Cinema Águia d’Ouro
Em Janeiro de 1839, o Águia d'Ouro, ao Largo de Santo Ildefonso (a partir de 1860, passaria a fazer parte da Praça da Batalha), abriu as suas portas como café, tendo sido frequentado por
clientes famosos como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental, entre muitas outras personalidades da época.
No rés-do-chão do prédio, o café tinha o complemento de um restaurante, célebre pelas ostras que servia aos clientes e, por cima, funcionava uma hospedaria - a Hospedaria Águia d'Ouro.
Ainda, no século XIX, passou a existir no edifício, um teatro inaugurado em
17 de Junho de 1899, que partilhava com o café o espaço, embora as
entradas fossem separadas.
Naquele dia de festa, foi incumbida da inauguração a
companhia de variedades de Louis Banquard, então director artístico do «theatro
Alhambra» de Madrid (O Comércio do Porto, 15.06.1899, p. 2).
Três anos depois, em 1902, no espaço dedicado a sala de espectáculos, passou a funcionar um circo de cavalinhos, onde várias companhias equestres se exibiram.
A partir de Março de 1904, instalar-se-ia no edifício o “Club Fenianos Portuenses”.
Em Agosto de 1907, foram levadas a cabo as primeiras sessões
de cinematógrafo e, em 1908, o teatro acabaria por dar lugar ao
cinema.
A novidade era o “cronomegaphone”, antecedente do cinema
sonoro que só surgiria 20 anos mais tarde.
Em 1/1/1914 eram
arrendatários do espaço, Arnaldo Rocha Brito, Pimenta da Fonseca e António
Castro.
Em 7 de Fevereiro de 1919, o cinema reabriria, após sofrer obras de remodelação, exibindo 15 filmes.
À direita, o Café Águia d’Ouro e o Teatro Águia d’Ouro, em
1900
Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1905
Em Julho de 1922, o Teatro Águia d’Ouro sofre obras no seu
interior, o mesmo acontecendo em 1928, ano em que é encomendado um novo
projecto da nova fachada.
Desenho da nova fachada do Teatro Águia d’Ouro e Café Águia
d’Ouro integrante de projecto de licenciamento
O Teatro Águia d’Ouro era considerado, nos anos 30, uma das
melhores salas do Porto.
Em 15 de Setembro de 1930, inaugurou o cinema sonoro com o
filme "The Jazz Singer", com Al Jolson, enquanto, o Café Águia
d’Ouro, nesse ano, era alvo de obras, concluidas no ano seguinte.
A nova fachada do edifício e restantes obras, da responsabilidade do arquitecto Joaquim Augusto Martins Gaspar, foram inauguradas em Fevereiro de 1931.
Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1931
Sobre a foto anterior, é de notar que os azulejos da igreja só seriam colocados em 1932.
Grande plano da foto anterior
Assim, em 7 de Fevereiro de 1931, após obras de
remodelação, determinadas pelos seus proprietários, à data a “Sociedade
Nacional de Projecção, Lda”, da família Neves & Pascaud, viu o interior
modernizado e ganhou uma nova fachada ao estilo “Art Déco” e, ainda, a célebre
escultura da águia no seu pórtico.
Em 1932, o Teatro Águia d’Ouro volta a ser objecto de obras,
realçando-se a colocação de um guarda-vento no vestíbulo.
Entrada do Teatro, em 1934
Cinema Águia d'Ouro, em 1942
Em 14 de Março de 1945, o cinema Águia d'Ouro foi ampliado e
os proprietários dos prédios vizinhos foram indemnizados com 1.516 contos.
Nos anos 80, o café viria a falir e a ausência de
espectadores ditou o encerramento do cinema em Dezembro de 1989.
Durante duas décadas o edifício foi votado ao abandono,
atingindo um estado de ruína bastante acentuado. Durante este
período foi comprado pela empresa Solverde com o objetivo de ali abrir um
bingo, mas o projeto foi reprovado pela Câmara.
Finalmente, em Agosto de 2006 a Solverde põe o imóvel à venda e o mesmo viria a
ser adquirido por uma cadeia de hotéis que após obras de restauro da fachada e
renovação do interior fez renascer das cinzas o edifício. Em outubro de 2011, o
novo Hotel abriu portas. Na decoração do interior podem ser vistas algumas
peças recuperadas dos escombros, tais como, suportes de partituras, microfones,
bobines de filmes e posters entre outros.
Fachada do cinema Águia d’Ouro nos anos sessenta
Hotel Moov, actualmente
Pela foto acima adivinha-se, que nos últimos anos, a porta
da esquerda era a entrada para a sala de espectáculos e, a da direita, para o
café.
Inaugurado a 18 de Maio de 1912, o “Olympia Kinema Teatro”,
na Rua de Passos Manuel, foi mandado construir por um retornado do Brasil,
Henrique Ferreira Alegria, sob projeto do arquiteto João Queirós.
O “Olympia” fica marcado pela sua programação cultural, como
por exemplo a estreia do filme “Amor de Perdição” de Georges Pallu, em 1921.
Henrique Alegria foi o responsável pela construção da sala e,
foi ele quem, durante os primeiros anos de vida geriu o espaço, em parceria com
a Invicta Filmes.
Durante os anos 10, 20 e 30 foram comuns na sua
programação as estreias de cinema alemão. É bom relembrar que até aos anos
30 a Alemanha era uma das principais potências cinematográficas.
A sala tinha lotação para 600 pessoas, e
foi classificada como tendo instalações modernas e luxuosas. Para além das
sessões de cinema, o Olympia também recebeu eventos musicais e peças de teatro.
Depois de ter sido comprado pela empresa Neves & Pascaud continuou a
prosperar. Durante os anos 60 teve uma programação muito virada para os westerns,
na década de 70 para o cinema de acção e de artes marciais,
seguindo a tendência da época.
Durante os anos 80, nos últimos anos de vida como cinema,
chegou mesmo a passar filmes porno. Mas o cinema já se encontrava em fase
de decadência e acabaria por fechar portas reabrindo como bingo.
A crise dos últimos anos levou ao seu encerramento em 2010.
Depois disso, vários projectos ligados aos sectores da diversão ou da
restauração têm sido tentados.
Olympia Kinema Teatro em finais dos anos 30, antes da construção do Coliseu
Fachada do Olympia
Anúncio da reabertura do Salão Olympia, em 1921
Foi na Quinta da Prelada, na actual Avenida Conselho da
Europa, que se localizaram as instalações da Invicta Filmes.
“A Invicta Film foi
uma produtora portuguesa de cinema, sedeada na cidade do Porto, cuja actividade
se destacou nos anos vinte, com um número significativo de filmes relevantes
para a história do cinema em Portugal.
O produtor portuense
Alfredo Nunes de Matos tinha a sede de uma modesta empresa, fundada em 1910, no
nº 135 da rua de Santo Ildefonso, no Porto. Em 1912 muda-se para uma
dependência do Jardim Passos Manuel, dando à firma o nome de "Nunes de
Matos & Cia – (Invicta Film)".
Produz «panorâmicas»,
documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades. Vários
deles são exibidos em Portugal e no estrangeiro. É fornecedor de jornais
nacionais para firmas tão importantes como a Pathé e a Gaumont, sociedades
francesas com um papel determinante na distribuição e exibição de filmes na
França e no mercado internacional. É o caso de alguns filmes de particular
significado, como as Manobras Navais Portuguesas ou as Grandes Manobras de Tancos
(1912, exercícios de preparação do exército português para eventuais conflitos)
ou ainda O Naufrágio do "Veronese" (imagens de um desastre marítimo
ocorrido em frente da Boa Nova, em Leça da Palmeira, perto de Leixões, na
madrugada de 10 de Fevereiro de 1913). O jornal de actualidades causa sensação
em Portugal e no estrangeiro. Desse filme são vendidas mais de cem cópias, para
a Europa e Brasil.
O projecto de Nunes de
Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do
Porto, encabeçados pelo banqueiro José Augusto Dias, já a guerra tinha feito
muitos mortos. No cartório do notário António Mourão é assinada a 22 de
Novembro de 1917 a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade
limitada, designada como Invicta Film Lda., com o capital de 150.000 escudos,
uma quantia muito avultada à época. São sócios umas dezassete importantes
personalidades. As cotas vão de cinco a sete contos.
Entretanto, em 1907,
instalara-se ali mesmo ao lado o dono da Fundição Alegria & Cª, empresa do
Rio de Janeiro, um retornado português, chamado Henrique Ferreira Alegria.
Interessado pela exibição cinematográfica, abrira a 18 de Maio de 1912 o Cinema
Olympia, a dois passos do Jardim Passos Manuel. Acaba por ser integrado na nova
empresa como director artístico, isto é, como director de produção. Matos e
Alegria partem juntos para Paris em meados de Janeiro de 1918. Numa entrevista
ao jornal O Século, dada no dia 14 desse mês, Nunes de Matos declara: «Vou em
primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra
em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros,
embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar
tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das
suas ambições.
Em Paris, junto da
Pathé Frères, na Rue de Ravart, obtêm os viajantes «a mais perfeita e amigável
compreensão» e, coisa não menos importante, o plano e o projecto das futuras
instalações dos estúdios da Invicta Film. Cede-lhes a Pathé também os técnicos
de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu, um operador de imagem,
Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher
Valentine, montadora de filmes, O casal será mais tarde substituído por outro operador
e outra montadora, vindos também da Pathé, J. Trobert e Madame Meunier. É
contratado ainda um arquitecto decorador, Albert Durot, depois substituído por
Maurice Laumann, também dos quadros da Pathé.
O convénio entre as
duas empresas é assinado a 17 de Fevereiro. A 12 de Março de 1918 é firmado o
contrato de trabalho entre a Invicta Film e Pallu, que se responsabiliza pela
escolha dos argumentos com o director artístico, pela sua adaptação para cinema
e ainda pela montagem dos cenários. Seria ele também o responsável pela
construção do estúdio. O contrato era de um ano, mas a colaboração duraria
cinco. É Pallu quem traz para a empresa o realizador Rino Lupo, que será
também, com Pallu, um dos dois mais importantes realizadores da Invicta Film.
Com nova maquinaria a
sociedade decide comprar à Misericórdia uma vasta área de terreno pertencente à
Quinta da Prelada que tinha sido dos Noronhas.
Aí são construídos os
Laboratórios e os Estúdios que estariam apenas prontos em 1920, não impediu,
entretanto, que fossem produzidos alguns filmes.
Georges Pallu escolhe
como primeira obra a adaptação de um conto inédito de Júlio Dantas, Frei
Bonifácio, que seria entretanto publicado no jornal lisboeta O Dia, em 2 de
Outubro de 1918. O filme estreia em Lisboa, com bons resultados, no cinema
Olympia, uma das mais prestigiadas salas da cidade, a 4 de Outubro. Realizados
por Pallu em 1919 seguem-se A Rosa do Adro e O Comissário de Polícia, com
estreia na mesma sala, o primeiro em 27 de Outubro e o segundo em 2 de Fevereiro
do ano seguinte. Uma outra obra, O Mais Forte, produzida nesse mesmo ano, serve
para testar os estúdios então abertos na Quinta da Prelada,
O segundo grande
empreendimento da Invicta Film é a adaptação da obra de Camilo Castelo Branco,
Amor de Perdição, em 1921, obra realizada também por Pallu. O filme estreia em
28 de Novembro em Lisboa, no cinema Condes. Segue-se Mulheres da Beira e Quando
o Amor Fala.
«Uma tarde de Agosto
de 1921 um homem de aspecto estranho, de estatura mediana e de olhos vivos a espreitarem
por detrás de umas lunetas pequenas, que cintilavam sob um boné de viagem
enterrado até às orelhas, transpôs o portão da Quinta da Prelada».
O homem, um
estrangeiro, pretende falar com a gerência. Quem o recebe é George Pallu. Diz o
estrangeiro que se chama Rino Lupo, que é de origem italiana, que trabalhou na
conhecida produtora francesa de Léon Gaumont como régisseur, que ouviu falar em
Varsóvia dos progressos da Invicta Film por um português que por lá andava, que
gostaria de colaborar com a empresa e ficar por algum tempo em Portugal. A
conversa de Lupo convence Pallu e ele é contratado. A direcção dos projectos da
Invicta Film será partilhada a partir de então entre os dois realizadores.
Os resultados um tanto
«atrabiliários» do trabalho de Lupo devidos à sua mania do improviso e ao seu
modo desorganizado levam ao seu despedimento (1923).
Persistente e agora
seduzido pelo sol de Lisboa, mais quente que o do Porto, muda-se para a capital
onde abre a Escola de Arte Cinematográfica com sede no nº 182 da Rua da Palma.
Mas, imprevisível como é, regressa de novo à invicta cidade onde funda a sua
Escola de Cinema, da qual sairão formados os actores da melhor das suas obras,
Os Lobos (1923), produção da Ibéria Film, que com nova montagem, será aceite pela
Gaumont para distribuição internacional (1924).
Rino Lupo dirigirá
ainda em Portugal mais quatro filmes: Carmiña, Flor de Galicia, versão
espanhola de Mulheres da Beira (1926), uma obra inacabada, O Diabo em Lisboa
(1927), Fátima Milagrosa (1928) e José do Telhado (1929). Lupo deixa Portugal,
já na época do filme sonoro, em 1931.
Quem entretanto também
abandona a Invicta Film por razões contratuais é o operador de imagem Artur
Costa de Macedo depois de ter filmado as Mulheres da Beira. Fora ele o responsável
pela cobertura de alguns dos aspectos mais emocionantes da aventurosa travessia
aérea do Atlântico empreendida por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
São no entanto
insuficientes as receitas. Não existe rede de distribuição que sirva os
interesses da empresa. Os problemas financeiros surgem a partir de meados de
1923. Tenta-se ainda exportar alguns dos filmes já produzidos para o Brasil e
Estados Unidos, visando os centros de emigração. Consegue-se vender alguns, mas
os resultados são poucos.
A Invicta Film
dispensa todo o pessoal da produção a 15 de Fevereiro de 1924, mas mantém o
laboratório aberto. Encerra definitivamente a actividade em 1928.
Fica encerrado assim
também o ciclo de alternâncias entre o Porto e Lisboa, na predominância das
actividades de produção, desde que surgira o primeiro filme português. A
criação dos laboratórios da Tobis Portuguesa no começo dos anos trinta, com o
advento do sonoro e com equipamentos de ponta, completa a reviravolta”.
In pt.wikipedia.org
Estúdios da Invicta Filmes na Prelada
Central eléctrica da Invicta Filmes em 1920
Cine-Teatro Avenida de V. N. de Gaia
Cine Teatro Avenida
Notícia sobre a inauguração do Cine Teatro Avenida - Fonte: jornal "O Comércio do Porto" de 25 de Dezembro de 1946
Esta sala de espectáculos foi inaugurada em 28 de Dezembro
de 1946, sendo seu fundador Alberto Ferraz Carneiro, sócio gerente da Sociedade
do Cine-Parque da Avenida, Ldª e que, em 1945, solicitou às entidades
competentes a construção de um cine-teatro num terreno pertença da referida
sociedade.
Tinha o cine-teatro uma área coberta de 1380 metros
quadrados e uma luxuosa sala de espectáculos, com aquecimento e dotada de um
equipamento de projecção, à data, de última geração.
A sua lotação era de 1090 lugares, podendo estendê-la até
aos 1200. Possuía um salão de festas, três bares, servindo a plateia, balcão e
geral.
Na sua construção foram gastos 6800 contos.
A “Fábrica de Fiacção e Tecidos de Ermesinde, SARL”, foi a
empresa proprietária e exploradora do Cine-Teatro de V. N. de Gaia.
No início dos anos 80 do século passado foi demolido.
Aqui, no gaveto formado pela Avenida da República e a Rua
Parque da República, ficava o Cine Teatro Avenida de V. N. de Gaia – Fonte
Google maps
Cine Teatro da Avenida de Vila Nova de Gaia
Houve, desde Abril de 1924, uma outra sala de espectáculo em
V. N. de Gaia, um “Cine-Parque da Avenida”, sito na Avenida da República.
Álvaro A. Carvalho foi proprietário dessa sala de
espectáculos, edificada no gaveto da Avenida da República e da Rua do Parque da Avenida.
Aliás, Álvaro A. Carvalho era proprietário de uma quinta que confrontava as ruas Joaquim Nicolau de Almeida e Parque da República e, ainda, a Avenida da República.
Durante a presidência de Ângelo Mendonça da Cunha Morais (1897 - 1968), entre 22 de Maio de 1923 e 26 de Maio de 1925, a Câmara de V. N. de Gaia tentou adquirir o edifício do Cine-Parque da Avenida para aí instalar a “Escola Mourão”, dando cumprimento ao legado do empresário Pinto Mourão, o que não chegou a verificar-se.
Álvaro A. Carvalho acaba então por vender o terreno em que se encontrava o “Cine-Parque da Avenida” (seria demolido) a Ferraz Carneiro, para a construção do "Cine Teatro da Avenida", e lotear a restante área da quinta.
Aliás, Álvaro A. Carvalho era proprietário de uma quinta que confrontava as ruas Joaquim Nicolau de Almeida e Parque da República e, ainda, a Avenida da República.
Durante a presidência de Ângelo Mendonça da Cunha Morais (1897 - 1968), entre 22 de Maio de 1923 e 26 de Maio de 1925, a Câmara de V. N. de Gaia tentou adquirir o edifício do Cine-Parque da Avenida para aí instalar a “Escola Mourão”, dando cumprimento ao legado do empresário Pinto Mourão, o que não chegou a verificar-se.
Álvaro A. Carvalho acaba então por vender o terreno em que se encontrava o “Cine-Parque da Avenida” (seria demolido) a Ferraz Carneiro, para a construção do "Cine Teatro da Avenida", e lotear a restante área da quinta.
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