quinta-feira, 30 de março de 2017

(Continuação 5) - Actualização em 11/06/2019

O Teatro Águia d'Ouro e o Cinema Águia d’Ouro


Em Janeiro de 1839, o Águia d'Ouro, à Praça da Batalha abriu as suas portas como café, tendo sido frequentado por clientes famosos como Camilo Castelo Branco e Antero de Quental.
Ainda no século XIX, passou a existir um teatro inaugurado em 17 de Junho de 1899, que partilhava com o café o espaço do edifício, embora as entradas fossem separadas.
Naquele dia de festa, foi incumbida da inauguração a companhia de variedades de Louis Banquard, então director artístico do «theatro Alhambra» de Madrid (O Comércio do Porto, 15.06.1899, p. 2).
O café viria também a funcionar como hospedaria e, a partir de Março de 1904, instalar-se-ia no edifício o “Club Fenianos Portuenses”.
Por esta altura o teatro funcionava também como sala de Circo.
Em Agosto de 1907, foram levadas a cabo as primeiras sessões de cinematógrafo e, em 1908, o teatro acabaria por dar lugar ao cinema. 
A novidade era o “cronomegaphone”, antecedente do cinema sonoro que só surgiria 20 anos mais tarde.
Em 1/1/1914 eram arrendatários do espaço, Arnaldo Rocha Brito, Pimenta da Fonseca e António Castro.
Em 7 de Fevereiro de 1919, o cinema reabriria, após sofrer obras de remodelação, exibindo 15 filmes.




Gravura do interior do teatro, em 1901



À direita, o Café Águia d’Ouro e o Teatro Águia d’Ouro, em 1900



Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1905


Em Julho de 1922, o Teatro Águia d’Ouro sofre obras no seu interior, o mesmo acontecendo em 1928, ano em que é encomendado um novo projecto da nova fachada.



Desenho da nova fachada do Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro integrante de projecto de licenciamento



O Teatro Águia d’Ouro era considerado, nos anos 30, uma das melhores salas do Porto.
Em 15 de Setembro de 1930, inaugurou o cinema sonoro com o filme "The Jazz Singer", com Al Jolson, enquanto, o Café Águia d’Ouro, nesse ano, era alvo de obras, concluidas no ano seguinte.
A nova fachada do edifício e restantes obras, da responsabilidade do arquitecto Joaquim Augusto Martins Gaspar, foram inauguradas em Fevereiro de 1931.


Teatro Águia d’Ouro e Café Águia d’Ouro, em 1931



Grande plano da foto anterior



Assim, em 7 de Fevereiro de 1931, após obras de remodelação, determinadas pelos seus proprietários, à data a “Sociedade Nacional de Projecção, Lda”, da família Neves & Pascaud, viu o interior modernizado e ganhou uma nova fachada ao estilo “Art Déco” e, ainda, a célebre escultura da águia no seu pórtico.
Em 1932, o Teatro Águia d’Ouro volta a ser objecto de obras, realçando-se a colocação de um guarda-vento no vestíbulo.




Entrada do Teatro, em 1934


Cinema Águia d'Ouro, em 1942




Em 14 de Março de 1945, o cinema Águia d'Ouro foi ampliado e os proprietários dos prédios vizinhos foram indemnizados com 1.516 contos.
Nos anos 80, o café viria a falir e a ausência de espectadores ditou o encerramento do cinema em Dezembro de 1989. 
Durante duas décadas o edifício foi votado ao abandono, atingindo um estado de ruína bastante acentuado. Durante este período foi comprado pela empresa Solverde com o objetivo de ali abrir um bingo, mas o  projeto foi reprovado pela Câmara. Finalmente, em Agosto de 2006 a Solverde põe o imóvel à venda e o mesmo viria a ser adquirido por uma cadeia de hotéis que após obras de restauro da fachada e renovação do interior fez renascer das cinzas o edifício. Em outubro de 2011 o novo Hotel abriu portas. Na decoração do interior podem ser vistas algumas peças recuperadas dos escombros, tais como, suportes de partituras, microfones, bobines de filmes e posters entre outros.


Fachada do cinema Águia d’Ouro nos anos sessenta

Hotel Moov actualmente

Pela foto acima adivinha-se, que nos últimos anos, a porta da esquerda era a entrada para a sala de espectáculos e a da direita, para o café.



Inaugurado a 18 de Maio de 1912, o “Olympia Kinema Teatro”, na Rua de Passos Manuel, foi mandado construir por um retornado do Brasil, Henrique Ferreira Alegria, sob projeto do arquiteto João Queirós.
O “Olympia” fica marcado pela sua programação cultural, como por exemplo a estreia do filme “Amor de Perdição” de Georges Pallu, em 1921.
Henrique Alegria foi o responsável pela construção da sala e, foi ele quem, durante os primeiros anos de vida geriu o espaço, em parceria com a Invicta Filmes.
Durante os anos 10, 20 e 30 foram comuns na sua programação as estreias de cinema alemão. É bom relembrar que até aos anos 30 a Alemanha era uma das principais potências cinematográficas.
A sala tinha lotação para 600 pessoas, e foi classificada como tendo instalações modernas e luxuosas. Para além das sessões de cinema, o Olympia também recebeu eventos musicais e peças de teatro. Depois de ter sido comprado pela empresa Neves & Pascaud continuou a prosperar. Durante os anos 60 teve uma programação muito virada para os westerns, na década de 70 para o cinema de acção e de artes marciais, seguindo a tendência da época.
Durante os anos 80, nos últimos anos de vida como cinema, chegou mesmo a passar filmes porno. Mas o cinema já se encontrava em fase de decadência e acabaria por fechar portas reabrindo como bingo.
A crise dos últimos anos levou ao seu encerramento em 2010. Depois disso, vários projectos ligados aos sectores da diversão ou da restauração têm sido tentados.


Olympia Kinema Teatro em finais dos anos 30, antes da construção do Coliseu

Fachada do Olympia

Anúncio da reabertura do Salão Olympia, em 1921




“A Invicta Film foi uma produtora portuguesa de cinema, sedeada na cidade do Porto, cuja actividade se destacou nos anos vinte, com um número significativo de filmes relevantes para a história do cinema em Portugal.
O produtor portuense Alfredo Nunes de Matos tinha a sede de uma modesta empresa, fundada em 1910, no nº 135 da rua de Santo Ildefonso, no Porto. Em 1912 muda-se para uma dependência do Jardim Passos Manuel, dando à firma o nome de "Nunes de Matos & Cia – (Invicta Film)".
Produz «panorâmicas», documentários de propaganda comercial, industrial e de actualidades. Vários deles são exibidos em Portugal e no estrangeiro. É fornecedor de jornais nacionais para firmas tão importantes como a Pathé e a Gaumont, sociedades francesas com um papel determinante na distribuição e exibição de filmes na França e no mercado internacional. É o caso de alguns filmes de particular significado, como as Manobras Navais Portuguesas ou as Grandes Manobras de Tancos (1912, exercícios de preparação do exército português para eventuais conflitos) ou ainda O Naufrágio do "Veronese" (imagens de um desastre marítimo ocorrido em frente da Boa Nova, em Leça da Palmeira, perto de Leixões, na madrugada de 10 de Fevereiro de 1913). O jornal de actualidades causa sensação em Portugal e no estrangeiro. Desse filme são vendidas mais de cem cópias, para a Europa e Brasil.
O projecto de Nunes de Matos consolida-se com a adesão de outros interesses, de gente bairrista do Porto, encabeçados pelo banqueiro José Augusto Dias, já a guerra tinha feito muitos mortos. No cartório do notário António Mourão é assinada a 22 de Novembro de 1917 a escritura de uma sociedade por cotas, de responsabilidade limitada, designada como Invicta Film Lda., com o capital de 150.000 escudos, uma quantia muito avultada à época. São sócios umas dezassete importantes personalidades. As cotas vão de cinco a sete contos.
Entretanto, em 1907, instalara-se ali mesmo ao lado o dono da Fundição Alegria & Cª, empresa do Rio de Janeiro, um retornado português, chamado Henrique Ferreira Alegria. Interessado pela exibição cinematográfica, abrira a 18 de Maio de 1912 o Cinema Olympia, a dois passos do Jardim Passos Manuel. Acaba por ser integrado na nova empresa como director artístico, isto é, como director de produção. Matos e Alegria partem juntos para Paris em meados de Janeiro de 1918. Numa entrevista ao jornal O Século, dada no dia 14 desse mês, Nunes de Matos declara: «Vou em primeiro lugar a Paris e à Itália procurar o que há de melhor, a última palavra em mecanismos. Porque o meu principal intento é emancipar-me de estrangeiros, embora não deixe de concordar que, para começo, é lá que tenho de ir buscar tudo». Deixa também claro que tenciona trazer de lá um régisseur à altura das suas ambições.
Em Paris, junto da Pathé Frères, na Rue de Ravart, obtêm os viajantes «a mais perfeita e amigável compreensão» e, coisa não menos importante, o plano e o projecto das futuras instalações dos estúdios da Invicta Film. Cede-lhes a Pathé também os técnicos de que precisam: um realizador, de nome Georges Pallu, um operador de imagem, Albert Durot, um chefe de laboratório, Georges Coutable e a sua mulher Valentine, montadora de filmes, O casal será mais tarde substituído por outro operador e outra montadora, vindos também da Pathé, J. Trobert e Madame Meunier. É contratado ainda um arquitecto decorador, Albert Durot, depois substituído por Maurice Laumann, também dos quadros da Pathé.
O convénio entre as duas empresas é assinado a 17 de Fevereiro. A 12 de Março de 1918 é firmado o contrato de trabalho entre a Invicta Film e Pallu, que se responsabiliza pela escolha dos argumentos com o director artístico, pela sua adaptação para cinema e ainda pela montagem dos cenários. Seria ele também o responsável pela construção do estúdio. O contrato era de um ano, mas a colaboração duraria cinco. É Pallu quem traz para a empresa o realizador Rino Lupo, que será também, com Pallu, um dos dois mais importantes realizadores da Invicta Film.
Com nova maquinaria a sociedade decide comprar à Misericórdia uma vasta área de terreno pertencente à Quinta da Prelada que tinha sido dos Noronhas.
Aí são construídos os Laboratórios e os Estúdios que estariam apenas prontos em 1920, não impediu, entretanto, que fossem produzidos alguns filmes.
Georges Pallu escolhe como primeira obra a adaptação de um conto inédito de Júlio Dantas, Frei Bonifácio, que seria entretanto publicado no jornal lisboeta O Dia, em 2 de Outubro de 1918. O filme estreia em Lisboa, com bons resultados, no cinema Olympia, uma das mais prestigiadas salas da cidade, a 4 de Outubro. Realizados por Pallu em 1919 seguem-se A Rosa do Adro e O Comissário de Polícia, com estreia na mesma sala, o primeiro em 27 de Outubro e o segundo em 2 de Fevereiro do ano seguinte. Uma outra obra, O Mais Forte, produzida nesse mesmo ano, serve para testar os estúdios então abertos na Quinta da Prelada,
O segundo grande empreendimento da Invicta Film é a adaptação da obra de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição, em 1921, obra realizada também por Pallu. O filme estreia em 28 de Novembro em Lisboa, no cinema Condes. Segue-se Mulheres da Beira e Quando o Amor Fala.
«Uma tarde de Agosto de 1921 um homem de aspecto estranho, de estatura mediana e de olhos vivos a espreitarem por detrás de umas lunetas pequenas, que cintilavam sob um boné de viagem enterrado até às orelhas, transpôs o portão da Quinta da Prelada».
O homem, um estrangeiro, pretende falar com a gerência. Quem o recebe é George Pallu. Diz o estrangeiro que se chama Rino Lupo, que é de origem italiana, que trabalhou na conhecida produtora francesa de Léon Gaumont como régisseur, que ouviu falar em Varsóvia dos progressos da Invicta Film por um português que por lá andava, que gostaria de colaborar com a empresa e ficar por algum tempo em Portugal. A conversa de Lupo convence Pallu e ele é contratado. A direcção dos projectos da Invicta Film será partilhada a partir de então entre os dois realizadores.
Os resultados um tanto «atrabiliários» do trabalho de Lupo devidos à sua mania do improviso e ao seu modo desorganizado levam ao seu despedimento (1923).
Persistente e agora seduzido pelo sol de Lisboa, mais quente que o do Porto, muda-se para a capital onde abre a Escola de Arte Cinematográfica com sede no nº 182 da Rua da Palma. Mas, imprevisível como é, regressa de novo à invicta cidade onde funda a sua Escola de Cinema, da qual sairão formados os actores da melhor das suas obras, Os Lobos (1923), produção da Ibéria Film, que com nova montagem, será aceite pela Gaumont para distribuição internacional (1924).
Rino Lupo dirigirá ainda em Portugal mais quatro filmes: Carmiña, Flor de Galicia, versão espanhola de Mulheres da Beira (1926), uma obra inacabada, O Diabo em Lisboa (1927), Fátima Milagrosa (1928) e José do Telhado (1929). Lupo deixa Portugal, já na época do filme sonoro, em 1931.
Quem entretanto também abandona a Invicta Film por razões contratuais é o operador de imagem Artur Costa de Macedo depois de ter filmado as Mulheres da Beira. Fora ele o responsável pela cobertura de alguns dos aspectos mais emocionantes da aventurosa travessia aérea do Atlântico empreendida por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.
São no entanto insuficientes as receitas. Não existe rede de distribuição que sirva os interesses da empresa. Os problemas financeiros surgem a partir de meados de 1923. Tenta-se ainda exportar alguns dos filmes já produzidos para o Brasil e Estados Unidos, visando os centros de emigração. Consegue-se vender alguns, mas os resultados são poucos.
A Invicta Film dispensa todo o pessoal da produção a 15 de Fevereiro de 1924, mas mantém o laboratório aberto. Encerra definitivamente a actividade em 1928.
Fica encerrado assim também o ciclo de alternâncias entre o Porto e Lisboa, na predominância das actividades de produção, desde que surgira o primeiro filme português. A criação dos laboratórios da Tobis Portuguesa no começo dos anos trinta, com o advento do sonoro e com equipamentos de ponta, completa a reviravolta”.
In  pt.wikipedia.org

Estúdios da Invicta Filmes na Prelada

Central eléctrica da Invicta Filmes em 1920 



Cine-Teatro Avenida de V. N. de Gaia


Cine Teatro Avenida


Notícia sobre a inauguração do Cine Teatro Avenida - Fonte: jornal "O Comércio do Porto" de 25 de Dezembro de 1946



Esta sala de espectáculos foi inaugurada em 28 de Dezembro de 1946, sendo seu fundador Alberto Ferraz Carneiro, sócio gerente da Sociedade do Cine-Parque da Avenida, Ldª e que, em 1945, solicitou às entidades competentes a construção de um cine-teatro num terreno pertença da referida sociedade.
Tinha o cine-teatro uma área coberta de 1380 metros quadrados e uma luxuosa sala de espectáculos, com aquecimento e dotada de um equipamento de projecção, à data, de última geração.
A sua lotação era de 1090 lugares, podendo estendê-la até aos 1200. Possuía um salão de festas, três bares, servindo a plateia, balcão e geral.
Na sua construção foram gastos 6800 contos.
A “Fábrica de Fiacção e Tecidos de Ermesinde, SARL”, foi a empresa proprietária e exploradora do Cine-Teatro de V. N. de Gaia.
No início dos anos 80 do século passado foi demolido.




Aqui, no gaveto formado pela Avenida da República e a Rua Parque da República, ficava o Cine Teatro Avenida de V. N. de Gaia – Fonte Google maps


Cine Teatro da Avenida de Vila Nova de Gaia


Houve, desde Abril de 1924, uma outra sala de espectáculo em V. N. de Gaia, um “Cine-Parque da Avenida”, sito na Avenida da República.
Álvaro A. Carvalho foi proprietário dessa sala de espectáculos, edificada no gaveto da Avenida da República e da Rua do Parque da Avenida.
Aliás, Álvaro A. Carvalho era proprietário de uma quinta que confrontava as ruas Joaquim Nicolau de Almeida e Parque da República e, ainda, a Avenida da República.
Durante a presidência de Ângelo Mendonça da Cunha Morais (1897 - 1968), entre 22 de Maio de 1923 e 26 de Maio de 1925, a Câmara de V. N. de Gaia tentou adquirir o edifício do Cine-Parque da Avenida para aí instalar a “Escola Mourão”, dando cumprimento ao legado do empresário Pinto Mourão, o que não chegou a verificar-se.
Álvaro A. Carvalho acaba então por vender o terreno em que se encontrava o “Cine-Parque da Avenida” (seria demolido) a Ferraz Carneiro, para a construção do "Cine Teatro da Avenida", e lotear a restante área da quinta. 

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