Em 1899, abria, na Rua de Fernandes Tomás, o Café-Restaurante União, de acordo com a notícia do semanário "O Imparcial" de 25 de Dezembro.
Em 28 de Janeiro de 1899, abria também, na Praça D. Pedro (lado nascente), o luxuoso café-restaurante "Porto-Clube", sob a gerência de Artur Barbedo, proprietário do Grande Hotel do Reimão.
Por sua vez, naquele ano, ainda na Praça D. Pedro, no penúltimo prédio, antes de alcançarmos a Travessa de D. Pedro (hoje, a Rua Dr. Artur Magalhães Basto), já estava, desde há um ano atrás, o conhecido Restaurante do Porto.
Notícia da abertura do Restaurante do Porto, In jornal "A Voz Pública" de 17 de Janeiro de 1898
E voltamos a este
famoso hotel. Era nele que a Gertrudes trabalhava como cozinheira. E era lá
que o Porto culto daquele tempo ia comer. Mas não só. Camilo escreveu isto:
"ministro ou general que chegasse (ao Porto, entenda-se) a fazer ou a
desfazer revoltas: cabecilha eleitoral que viesse arregimentar as suas
hostes, enchendo-lhes a consciência de liberalismo e de carneiro guisado com
batatas, era contar com opíparas comezainas no Estanislau, onde os cabralistas
levavam enorme vantagem por serem mais numerosos".
Disse mais o celebrado escritor. Contou que se curou de determinadas doenças
que o apoquentaram, não com as pílulas que lhe haviam sido receitadas pelo dr.
João Ferreira, o grande clínico da época, mas sim com os acepipes cozinhados
pela Gertrudes Engrácia.
Um dia, a Gertrudes
deixou o Estanislau. Foi contratada pelo barão de Forrester para confecionar
os opíparos banquetes que ele dava, amiúde, na sua casa da Ramada Alta, por
vezes a mais de duzentos convivas, escrupulosamente selecionados entre a fina
flor da sociedade daquele tempo. Camilo que era, por regra, um dos convidados
deixou de aparecer. Não perdoou a Forrester por ele o ter privado dos jantares
no Estanislau feitos pela Gertrudes.
Quando, em maio de
1861, D. Antónia Adelaide Ferreira convidou o barão de Forrester para ir passar
uns dias à Quinta do Vesúvio, propriedade daquela, a Gertrudes também foi,
para tratar da comida.
No dia 12 daquele mês,
D. Antónia Adelaide, o marido, o riquíssimo Silva Torres, mais a filha de D.
Antónia e o genro, os condes de Azambuja; o barão de Forrester, a cozinheira e
mais dois ou três empregados de D. Antónia saíram de barco do Vesúvio para irem
jantar à Régua. Ao passarem no cachão da Valeira, numa volta do rio, uma
corrente súbita fez voltar o barco. No trágico naufrágio, morreram o barão de
Forrester, a Gertrudes e dois empregados da Ferreirinha”.
Com a devida vénia a Germano Silva
Palacete do Barão de Forrester, na Ramada Alta – Fonte: JN
Em 1849, Camilo Castelo Branco estava doente e hospedado na
Hospedaria Francesa, na Rua da Fábrica e, aí, receberia um dia a visita da sua amiga e velha
conhecida, a cozinheira Gertrudes Engrácia.
Camilo conta no texto seguinte do seu livro “O Vinho do Porto”- Processo de uma
bestialidade inglesa, como foi salvo das garras da doença pela Gertrudes,
ou Gertruria, como a ela se referia.
“(…) Em 1849, a
invasão subita de uma anemia vampirisou-me o pouco sangue desoxigenado,
desfibrinado, e me poz os ossos em decomposição gelatinosa, a ponto de me
deixar em uma ressicação óssea; e, se eu ia durando, é porque já me não restava
carne em que se aferrasse a garra adunca da dura Parca de então, ou da «sinistra
rameira» como ultimamente lhe chamam os vates.
Gertruria, desde que
eu fui á cama, visitava-me a miudo no Hotel-Francez, na rua da Fabrica, um
velho palacio que tinha ao rés da rua a officina e escriptorio do Nacional, redigido pelo professor
egresso Antonio Alves Martins, Almeida e Brito, Damazio, Parada Leitão,
Nogueira Soares, Evaristo Basto, Lobo Gavião, Eu tinha a meu cargo a secção das
frioleiras(…).
(…) Assistira, um dia,
Gertrudes ao meu jantar e viu que eu me confrangia enjoado pelo espectaculo
repulsivo de meia franga recozida e um caldo branco em que boiavam uns olhos
amarellos da enxundia do oveiro da ave. Ella cheirou de longe o caldo
fumegante, e disse com engulho:
—Captiva! isto nem com
fome de cão se podia tragar!
Que o medico me não
deixava comer outra coisa,—balbuciei tão extenuado e offegante que me parecia
despegar-se o ultimo colchete da existencia n'um esvahir de desmaio.
—Sinto-me
morrer...—murmurei flebilmente.
—E morre
decerto!—confirmou ella com sinistra solemnidade—morre, se não mudar de comida.
Quer que eu o ponha rijo? Diga á dona da hospedaria que a sua enfermeira e
cozinheira sou eu.
Não esperou resposta e
sahiu. Pouco depois, voltou muito afreimada, tirou a mantilha de sarja, mudou
de calçado para não fazer bulha com os tacões das botinhas, cingiu um lenço na
fronte recolhendo os bandós, atou um avental de riscadinho na cintura e foi
para a cozinha. Quando entrou com uma caçoula coberta, o perfume vaporado do
rebordo da tampa abriu subitamente no meu olfacto uma fonte de vida, uma
sensação entre espiritual e nazal, um quasi extasis, como a evidencia da
immortalidade do eu. Arranjou a
meza de leito com o talher, afofou-me as travesseirinhas nas costas angulosas,
escadeadas como um pedaço de velho cancêllo desengonçado, a cahir das
dobradiças despregadas,—e passou para uma travessa o acepipe fumegante. Eram
duas mãos de boi guizadas, loiras, de uma unctuosidade oleosa que punha
caricias ferozes nos dentes, e aguçava na abobada palatina as cobiças dantescas
do faminto Ugolino e de um professor portuguez de instrucção primaria. Devorei
uma das mãos, sopeteando no molho pedaços de pão que engulia inteiros,
soffregamente, n'uma intallação.
—Poderei comer a outra
mão, snr.ª Gertrudinhas? perguntei esperando em anciosa incerteza a resposta
duvidosa.
—Se tem vontade, coma.
Que sente lá por dentro?
—Fome, snr.ª
Gertrudes, fome!
—Então coma; a
natureza que lh'o pede, é por que não lhe faz mal.
E não fez. Fumei um
charuto que até áquelle momento me nauzeára. Pedi café e cana de Paraty. Estive
quasi a pedir as calças para me levantar.
—Nada de boticadas!
intimou ella; e, pegando em dous frascos de pilulas de ferro de Blaud e de
Vallet, e de meia garrafa de vinho quinado despejou tudo na primeira vasilha
concava que se offereceu á sua indignação.—Fóra com a porcaria!—bradava
gesticulando, com a cólera scientifica e a justiça indefectivel de um medico
homeopata.
No dia seguinte deu-me
de jantar troixas de recheio, bifes de presunto de Melgaço e meio melão. O
medico assistente, o João Ferreira, grande clinico, veio á tarde, e poz-se a
farejar.—Que lhe cheirava a melão! se eu praticára a loucura de comer melão?!—A
Gertrudes acudiu á minha perplexidade:—que fôra ella quem o comêra; que eu,
coitadinho, estava a caldos e aza de franga, uma desgraça!
O doutor tomou-me o
pulso, e fez um gesto de satisfação tranquillisadora:—que eu estava melhor
quanto ao pulso, um pouco rapido, mas regular; auscultou-me a região
precordial; já mal percebeu o ruido de
folle; porém, continuava a
fariscar o melão, desconfiado, chegando o seu descompassado nariz absorvente ao
meu perfido halito, quando me auscultava as arterias carotidas.
Á noite, visitou-me
outro medico, interessado na minha cura duvidosa, como amigo. Era Camara
Sinval, lente da Escóla Medico-Cirurgica, um que prégava, não por hypocrisia,
mas por paixão desvairada da Arte dos Vieira e Bourdaloue, sermões
ultramontanos empavezados de sapiencias academicas com grandes empolas de latim
pagão. Nunca me receitava. Para as insomnias mandava-me lêr philosophos e
poetas epicos. Disse-me que, na sua clinica, empregava primeiro as epopeas
desde a Iliada até á Henriqueida; e, em ultimo recurso, os
systemas philosophicos desde Platão até Victor Cousin. Que tivera —contava—um
doente de insomnia rebelde que resistira singularmente ao 1.º e parte do 2.º
Canto dos Luziadas; mas,
perdidas as esperanças de anesthesia, lhe lêra duas paginas de Kant, e o
enfermo ficára sopitado n'um lethargo de Epimenides. Aconselhou-me a
Homeopathia, medicina inoffensiva e de vantagem para fantasistas
supersticiosos. Apenas lhe achava o defeito de ter entre os seus medicamentos
uma Eufrazia e uma Ignacia; por que, se tivesse tambem
uma Athanasia, seriam as trez
Parcas com pseudonymos lethaes. Entretanto, achou-me espantosamente melhor. Não
acreditava. Queria saber o que eu tinha tomado. Referi-lhe a verdade—as mãos de
boi, os bifes de presunto, as troixas, o melão, a Providencia, sobre tudo a
Providencia na pessoa de Gertrudes.
—É uma grande clinica
a Gertrudes, disse elle; mas, se ella ámanhã lhe der lampreia, congro de
caldeirada, timbal de camarões ou sallada de pepino, aconselho-lhe que se
abstenha. A morte pela fome e a morte pelo enfartamento andam sempre de braço
dado”.
Na actual Rua do Infante D. Henrique a partir de 1894 surgiu o Restaurante Comercial, um restaurante histórico da cidade do Porto.
Fundado em 1894 pelo espanhol Manuel Recarey Antelo, o
Restaurante Comercial era frequentado pelas grandes figuras da cidade do Porto,
em parte pelo sucesso da especialidade que tornou a casa famosa o "bife à
inglesa", nome dado em prol da rua onde estava, a Rua dos Ingleses
atendendo a numerosa colónia de britânicos que residia naquela rua.
Em 1907 instalar-se-ia no prédio que ainda ocupa.
“Situado desde 1907 no
piso térreo de um belíssimo edifício de alvores de 1900, possui como
característica estética dominante uma harmoniosa articulação entre as
linguagens Neoclássica e Arte Nova.
Na fachada principal,
virada a Norte, há a destacar um corpo, ligeiramente avançado, modulado em
vidro e ferro forjado.
A porta de vai-vem que
dá acesso ao interior possui a moldura em carvalho americano, material que
também contorna as formas classicizantes da montra. No espaço interior, onde
estava bem marcada a apetência Art
Nouveau, com as características originais, patentes nos lambrins em
carvalho americano e na boiserie,
típicos deste estilo.
As paredes possuiam
apontamentos decorativos em estuque, sendo percorridas por espelhos de
avultadas dimensões.
Outros elementos, como
os candeeiros em ferro forjado, seguiam o mesmo figurino estético, apesar de
não corresponderem aos originais colocados quando da construção do edifício,
uma vez que são provenientes da casa de modas portuense Mattos & Serpa
Pinto.
Em finais da década de
sessenta, o restaurante é transformado em pastelaria e casa de chá, sendo que
em 1982 é alvo de um processo de remodelação da autoria do Arquitecto António
Menéres, com o objectivo de preservar as características intrínsecas do
edifício, sendo ainda devolvida ao restaurante a sua função original.”
In Direcção-Geral do Património Cultural
O famoso Restaurante “Commercial” na Rua do Infante D.
Henrique
O Restaurante Commercial
Restaurante Comercial actualmente - Ed. MAC
Na foto acima o restaurante actualmente, após as obras de
recuperação do edifício.
Bem perto onde antes começava a Rua das Congostas, à
esquerda para quem subia, estava a Fonte das Congostas adossada a um prédio e,
mais acima deste, um restaurante conhecido como o Restaurante do José Villas.
“Do mesmo lado existia o restaurante do
conhecido e honrado José Villas, muito frequentado pela colónia Inglesa. Tinha
um criado chamado Manoel, o verdadeiro tipo de criado antigo, muito dedicado ao
seu patrão”.
In “O Tripeiro”, 3ª Série, nº 132 (12), 15 de
Junho 1926
O Restaurante Floresta das Camélias abriu
em 1885, na Rua de Alexandre Herculano, 236, em frente ao Hotel Universal, bem
perto do futuro Parque das Camélias, e era propriedade de Jerónimo de Sousa
Pinto Leitão.
Localização (dentro
da elipse) do Restaurante Floresta das Camélias e Hotel Universal (1) – Fonte:
Planta de Telles Ferreira de 1892
O Restaurante Floresta das Camélias, passados
quatro anos, haver-se-ia de mudar para a Rua Saraiva Carvalho (Avenida Superior
da Ponte Luiz I).
Publicidade em 1889,
ao Hotel e Restaurante “Floresta das Camélias”
O Restaurante
Floresta das Camélias ter-se-ia mudado da Rua de Alexandre Herculano e, em
1889, já estaria à saída da Ponte Luíz I (dentro da elipse, nºs 86-88) – Fonte:
Planta de Telles Ferreira (1884-1892)
O Restaurante Aliança ficava, no fim do século XIX, na esquina das actuais ruas do Conde de Vizela e da Rua da Fábrica,
“Os srs. Machado & Irmão”, actuais
proprietários do Restaurante Aliança, estabelecido na rua do Correio, à esquina
da rua da Fábrica, acabam de proceder a importantes reformas no seu
restaurante.”
In jornal “A
Província” de 18 de Março de 1899 (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”, p. 602)
Em 1899, era aqui, o
restaurante Aliança. Ao fundo, à direita, o Hotel Infante Sagres – Fonte:
Google maps
No prédio da foto acima, mas com entrada pela Rua da Fábrica, pelo nº 61, ficava o Colégio de Nossa Senhora dos Anjos, que se anunciava no Jornal “A República”, em 4 de Abril de 1891.
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