Conservatório de
Música e Escola Superior de Música
Actualmente, o ensino da música no Porto está presente numa instituição inserida no ensino superior, denominada “Escola Superior de
Música, Artes e Espectáculo” (ESMAE), constituída a partir da Escola
Superior de Música criada em 1985, dando seguimento à tradição secular do
ensino de música na cidade do Porto.
As suas instalações são no edifício da antiga Escola Normal
do Porto (ex-Escola do Magistério Primário), na Rua da Alegria, após a
integração desta no Instituto Politécnico do Porto em 1986.
A Escola Normal do Porto foi instalada em finais do século XIX (1883),
em edifício próprio, mandado construir pela Monarquia, entre a
Rua da Alegria e a Rampa da Escola Normal, edifício hoje, classificado, como
património arquitectónico do Porto.
Edifício na Rua da Alegria
A ESMAE é, assim, o complemento do ensino da música, desde há
muitos anos, o que, até hoje, competiu ao Conservatório de Música, uma escola pública
muito conceituada de ensino especializado de música.
O Conservatório de Música era uma antiga reivindicação da
cidade, sendo o projecto da sua instalação de 1914, esboçado pelo pianista e
director de orquestra Raimundo de Macedo, mas só em 1917/18, ficariam reunidas as
condições para o arranque do curso.
Foi numa sala de um prédio da Rua Galeria de Paris, nº66-80,
que foi decidida a criação do Conservatório de Música do Porto, em 1911, o que
viria a ser concretizado, apenas 6 anos mais tarde.
Naquela sala, com capacidade para 300 pessoas, por baixo do
Salão Bachstein, Raimundo de Macedo tinha o seu comércio de pianos e a sua
escola de música.
Raimundo de Macedo, nascido a 27 de Abril de 1880, no Porto,
foi violinista para além de empregado bancário.
Fundou a Sociedade de
Concertos Sinfónicos do Porto (1913 a 1923) e foi, depois, pianista, maestro,
professor e vendedor de pianos.
Acontece que, em 2 de Maio de 1917, em pleno processo de institucionalização do Conservatório de Música, ocorre a realização de uma assembleia geral daquela Sociedade de Concertos, presidida pelo engº Rigaud Nogueira, na qual é eleita uma delegação de três associados, constituída por Dr. Forbes de Magalhães, Silvino de Magalhães e Vitorino Coimbra, para tentarem demover Raimundo de Macedo da sua intenção de se demitir do cargo de director artístico.
O Conservatório de Música foi fundado e instalado no
palacete dos viscondes de Vilarinho de S. Romão, ao jardim do Carregal, em 1 de
Junho de 1917, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá e, aqui se conservou
até 13 de Março de 1976.
Sob direcção de Fernanda Wandschneider foi, então, ocupar o
antigo palacete da família Pinto Leite, na Rua da Maternidade, até o D.L.
310/83 o ter transformado em “escola secundária”, acabando por ficar, até hoje,
anexo à Escola Secundária Rodrigues de Freitas.
Em reunião realizada a 17 de Maio de 1917, a Comissão
Administrativa da Câmara Municipal do Porto, composta pelo então Presidente
Eduardo Santos Silva, por Armando Marques Guedes e Joaquim Gomes de Macedo, foi
incumbida de estudar a organização de um conservatório de música nesta cidade.
Finalmente, a 1 de Junho de 1917, o Senado da Câmara Municipal do Porto aprovou
por unanimidade a criação do Conservatóio de Música do Porto.
Em 22 de Janeiro de 1922, pela primeira vez, apresenta-se a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música
do Porto, sob a direcção de Hernâni Torres, executando uma rapsódia de
canções nacionais que tinham sido executadas, antes, num dos campos de
prisioneiros alemães na guerra de 1914-1918, por altura de um Natal.
Até Abril de 1974, altura em que novos modelos de gestão
foram adoptados nas escolas, o Conservatório de Música do Porto teve como
Directores Moreira de Sá, Ernesto Maia, Hernâni Torres, Luis Costa, José
Gouveia, Joaquim Freitas Gonçalves, Maria Adelaide Freitas Gonçalves, Cláudio
Carneyro, Stella da Cunha, Silva Pereira e José Delerue.
Fachada lateral do palacete do visconde de Vilarinho de S.
Romão, à Rua Diogo Brandão - Fonte: Google maps
Palacete do visconde de Vilarinho de S. Romão – Fonte: J.
Portojo; In Jn
Palacete Pinto Leite
Porto musical do
século XIX
Família Ribas
“Em 1857 o notável músico e compositor Hipólito
Medina Ribas (casado com Margarida Antónia Arroio Ribas, filha de
João Arroio), compôs uma schottische, intitulada Guilhermina, para a festa do
terceiro aniversário da filha mais velha do negociante portuense Guilherme
Augusto Machado Pereira (primeiro Visconde de Pereira Machado), Guilhermina
Cândida Vieira Pereira Machado, cuja filha, viria a casar com um neto de João
Eduardo de Brito e Cunha.
Hipólito Medina Ribas era filho de outro
grande músico da época João António Ribas, que foi pai de oito filhos,
quase todos grandes músicos e ficou ainda conhecido por ter colaborado com
Almeida Garrett na composição do Hino Patriótico para a revolução liberal de 24
de Agosto de 1820 e, em 1826 colaborado com Passos Manuel na composição de uma
peça intitulada Canção Constitucional de Vila Nova de Gaia para a cerimónia do
juramento da Carta Constitucional.
O patriarca desta
família de músicos, compositores e cantores líricos foi José Mariano Ribas, natural de Barcelona que morreu no Porto, em 15
de Janeiro de 1835, com 64 anos de idade. Filho de um alfaiate, recusou seguir
a profissão paterna para se dedicar à música. Os primeiros anos da actividade
profissional deste clarinetista, compositor e mestre de banda,
caracterizaram-se por constantes viagens.
Nos mais de vinte e
cinco anos que viveu e exerceu a sua profissão no Porto, Ribas criou uma sólida
reputação de competência profissional e amabilidade de carácter que se viriam a
revelar características de cunhagem da identidade dos descendentes.
José Maria Ribas o filho
mais velho de José Mariano Ribas, também músico, nascido em Burgos, em 16 de
Julho de 1796, viria a falecer no Porto, em 1 de Julho de 1861, coberto de
glória e consideração, deixando a memória de um dos mais eminentes artistas da
sua época.
O segundo filho de
José Mariano Ribas, João António Ribas,
nasceu em El Ferrol, em 17 de Janeiro de 1799, e morreu no Porto, em 15 de
Agosto de 1869, quinze dias depois morria o escritor Arnaldo Gama que, como
crítico musical de muito mérito, despoletou a Questão Noronha que deu brado no
Porto de Novembro de 1855 a Fevereiro de 1856, ano anterior ao da violenta
polémica que resultou da inesperada aposentação de João António Ribas, uma das
mais importantes personalidades da História do Porto e uma das raríssimas
pessoas sobre quem Camilo Castelo Branco escreveu demonstrando sempre o maior
apreço e consideração.
João António Ribas casou
com Teresa Emília Medina, natural de Santo Ildefonso, em 14 de março de 1820.
Desta união nasceram
sete filhos: João Vítor, Eduardo, Hipólito, Teófilo, Carolina, Florêncio
e Nicolau Medina Ribas. Após o falecimento de
Teresa Emília, Ribas viria a casar em segundas núpcias com Carmen Riche de
Cartagena, filha de Agustin Riche e María Dolores Carvajal. Desta união
nasceria uma filha chamada Judite ”.
Com a devida vénia a
João-Heitor Rigaud
Família Arroio-Rezola
“José Francisco Arroio - Rezola nasceu em Oiartzun (Guipúzcoa) em 14
de janeiro de 1818, desde de cedo deu mostras de um talento musical inusitado e
precoce, que o levou a seguir os passos do pai, dando início aos seus estudos
de flauta e clarinete. Uma vez atingido o nível técnico adequado, passou a
integrar uma banda militar, cultivando ao mesmo tempo o estudo da composição e
direção de banda. Em pouco tempo passou a ocupar o lugar de primeiro clarinete
na Orquestra do Real Teatro São João, na altura, dirigida pelo maestro João
António Ribas, o qual não demorou muito tempo a reparar no extraordinário
talento do jovem.
O pai de José
Francisco, João Marcelo Arroio,
também músico e espanhol, quando veio com a família para Portugal, instalou-se
em Penafiel, onde exercia as funções de Mestre da Banda de Musica do Regimento
de Infantaria nº 24.
No ano de 1842, em 27
de dezembro, José Francisco viria a interpretar uma obra da sua autoria, Fantasia para Clarinete e Orquestra,
num concerto celebrado no Teatro Santa Catarina. Para a realização deste evento
o músico contou com a colaboração de Eduardo
Medina Ribas e dos irmãos Francisco
Eduardo e Inácio Eleutério da Costa.
Durante o verão de
1844 José Francisco fora visitar o escritor António Paterni enquanto este se
encontrava de férias no Porto. O tema principal deste encontro foi um romance
histórico francês, que Paterni estava a ler naquele momento e cuja intriga
decorria, precisamente, no País Basco. No final deste encontro ambos artistas
decidiram compor uma ópera, Bianca de
Mauléon.
Os ensaios tiveram
início em 15 de janeiro de 1846 sob as ordens do maestro João António Ribas.
A estreia da ópera foi
no dia 11 de março de 1846 no Teatro São João.
Branca di Mauléon foi
um sucesso extraordinário, sem precedentes na história cultural do Porto,
merecedor de grandes elogios por parte do público e alvo de excelentes críticas
de imprensa, que louvou a generosidade de Lombardi e os esforços da companhia.
O Diário “A Coalizão” dedicou uma extensa
crónica a este acontecimento, com parágrafos como o que se transcreve a
continuação:
«Realizaram-se os nossos desejos, alcançou um
compatriota nosso, o mais completo triunfo; provamos ao mundo que as Belas
Artes fazem progresso, entre nós, e que em fim os portugueses também possuem
compositores que podem entrar nas fileiras com um Donizetti, com um Verdi ou
com um Mercadante. Foi um arrojo nobre do Sr. José Francisco Arroio que
desperta em nós as mais sinceras simpatias.»
Branca di Mauléon fora
a primeira ópera de José Francisco Arroio mas não a única. Durante os anos
seguintes compôs Francesca di
Ventivoglio e Dom César de
Bazan, esta última, um drama em cinco atos, representado com um sucesso
notável, em 17 de outubro de 1850, pela Companhia de Atores Nacionais, no Real
Teatro São João. O drama em três atos Francesca
di Ventivoglio nunca chegou a ser representado devido, em grande parte,
aos graves problemas que a companhia atravessava naquele momento. Curiosamente,
esta ópera fora objeto de uma notável divulgação por parte da imprensa
periódica da época. O libreto era da autoria de Temistocle Solera (1815 – 1878).
Durante estes anos Arroio compôs uma outra obra de grande envergadura, a Missa Grande em Dó Maior para coro
solistas e orquestra.
A partir deste momento
o prestígio de José Francisco viria a aumentar progressivamente. Em abril de
1852 o Porto foi o destino duma visita Real, acontecimento que deu origem a um
espetáculo no Real Teatro São João, onde foi interpretada uma cantata da
autoria de Arroio, dedicada a D. Maria II (1819 – 1853). Dois dias depois, D.
Fernando II (1816 – 1885) recebeu das próprias mãos do compositor a partitura
manuscrita da obra. Como prova de gratidão e de reconhecimento pelo seu mérito
artístico, o monarca ofereceu ao compositor um par de botões de punho com
incrustações de diamantes.
No mesmo ano de 1852,
em 27 de setembro, José Francisco viria a contrair matrimonio com a sua prima,
Rita Norberta Xaviera de Rezola e Gastañaga, nascida em Usurbil (Guipúzcoa) em
6 de junho de 1929.
Continuando a acumular
prestígio profissional, José Francisco compôs a Missa da Trindade, uma obra sacra escrita especialmente para a
inauguração da Igreja da Ordem da Trindade.
Em 1859, Arroio foi
convidado a presidir à União Musical.
Trinta e dois dos mais
prestigiados músicos portuenses, entre eles Hipólito Medina Ribas e Nicolau
Medina Ribas, tinham enviado uma carta ao compositor convidando-o a
presidir à associação.
José Francisco aceitou
o convite no qual era persuadido a aceitar o cargo com base na sua «inteligência, independência e prática de
negócios teatrais».
Esta «prática de negócios teatrais» viria a
materializar-se numa outra solicitação, em setembro de 1858, cujo objetivo era
pôr nas mãos de Arroio a gestão do Teatro das Variedades também conhecido por
Teatro das Lisseiras ou Teatro Camões.
Com a valiosa
colaboração de José Maria Brás Martins (1823 – 1872), responsável pela Companhia Dramática Portuense, já
residente no teatro, Arroio conseguiu manter as portas abertas ao público até
1862, levando a cena espetáculos de grande nível que foram muito bem acolhidos
pelo público.
Outra das atividades
que José Francisco Arroio exerceu com enorme sucesso foi a de comerciante.
Em 1855 fundou uma
casa comercial dedicada à venda e importação de instrumentos musicais e de
partituras. A primeira loja situava-se no mesmo prédio onde residia, na Rua
Formosa, 212 – 213. Dois anos mais tarde, em 1857, trasladou o negócio para o
número 78 da mesma rua e em 1863 para a Rua de Santo António, 105 – 109, onde
usufruía de um espaço maior e mais adequado para a exposição dos instrumentos,
especialmente, aqueles de grande envergadura, como os pianos de cauda.
José Francisco Arroio
faleceu no Porto em 20 de setembro de 1886, na sua casa da Rua de Santo
António.
O seu testamento foi
redigido por ele próprio com uma notável clareza e concisão. Nele lega ao mais
novo dos seus filhos, João Marcelino, todo o seu espólio musical, assim como
uma coleção de pinturas de diversos artistas. Entre os restantes filhos foi
distribuído um número considerável de retratos, ao óleo e a grafite,
representando membros da família. A loja, que terá sido previamente negociada
pelo compositor, passou a chamar-se Castanheira
e Cª – Sucessores de José Francisco Arroio. A partir de 1900 a sede passou
a ser na Rua do Almada, 170, onde permanece ainda hoje.
As famílias Arroio e Ribas,
que comandaram o panorama musical do século XIX, viriam a unir-se pelo
matrimónio de alguns dos seus membros.
Por volta de 1855 já
tinha sido a vez da família do extraordinário violinista Moreira de Sá, oriunda de Guimarães, fixar a sua residência na Rua
de Belas Artes.
Esta família permanece
no Porto ainda nos nossos dias. Aquele viria a juntar-se Luís Ferreira da Costa (1870 – 1924), cujo contributo foi um dos
mais notáveis, quer como promotor de concertos quer como pianista, compositor e
professor”.
Com a devida vénia a Rosa Maria Sanchéz Sanchéz
José Francisco Arroio, casado com Rita Xavier Rezola, teve como descendência masculina, três vultos da sociedade da época.
Faz-se referência a José Arroio, conselheiro, doutor em filosofia pela Universidade de Coimbra, Professor da Academia Politécnica do Porto e da Faculdade de Ciências que se lhe seguiu e um dos fundadores do "Jornal de Notícias" e o último governador civil do Porto em regime monárquico.
Um outro filho foi o engenheiro António Arroio, professor na Escola Politécnica e conhecido crítico de arte.
Por último, aquele que viria a ser um músico de enorme talento - João Arroio.
Nascido no Porto, a 4 de Outubro de 1861, João Arroio, em 1877, estava a matricular-se na universidade de Coimbra, após ter concluído o ensino liceal.
Em 24 de Dezembro de 1885, com 24 anos, conquistava a cátedra quando, antes, tinha já fundado o Orfeão Universitário de Coimbra, o primeiro a ser fundado no País.
A partir daí, foi político, tendo abraçado, várias vezes, pastas no governo e lugares nas duas "Casas do Parlamento", de então, onde ficou conhecido como um talentoso tribuno.
Nicolau Medina Ribas
nasceu em Madrid na Calle de Cantarranas actual Calle Lope de Vega, no Bairro
das Musas, a 10 de Março de 1832, e foi baptizado a 15 na Igreja Paroquial de
San Sebastian, no período em que o seu pai lá esteve refugiado.
Cedo aprendeu a tocar violino, com o seu pai que lhe guiou
a educação musical até que, a 28 de Agosto de 1847, aos 15 anos,
estreou-se como solista no Teatro de S. João. No ano seguinte parte para o
Brasil em digressão. Regressado parte para Bruxelas, para o Real Conservatório
onde estudou violino, sobre a orientação de Charles de Beriot, e composição com
Fetis, tornando-se um primoroso executante.
Aí foi companheiro de Hubert Leonard. Ocupou o lugar de
primeiro violino no Teatro de “La Monnaie” e na Orquestra do Conservatório de
Bruxelas.
A partir de 1855, regressado de novo a Portugal, ocupa o
lugar de primeiro violino no Teatro de S. João. Em 1866 é convidado por
Carlos Dubini a formar a "Academia
do Palácio de Cristal", juntamente com o violoncelista, compositor e
empresário Domingos Ciríaco Cardoso (1846-1900) com a intenção de divulgar o
ensino da música.
Anúncio do “Jornal do Porto”, em 30 de Setembro de 1866, da
abertura das matrículas para o ano lectivo 1866/67, da Academia de Música do
Palácio de Cristal
Extinta a “Academia do Palácio de Cristal”, funda, em 1868,
juntamente com Dubini, Hipólito e J. N. Medina de Paiva, a "Academia de Música do Porto".
“Pode afirmar-se que Nicolau Ribas, Marques Pinto, Joaquim
Casella, Miguel Ângelo Pereira e
Moreira de Sá constituíram nesta
cidade – como muito bem escreveu Magalhães Basto citando Joaquim de Freitas Gonçalves
– o Grupo dos Cinco da história da nossa musica de câmara, da mesma forma que,
pouco mais ou menos pela mesma época, Antero de Quental, Eça de Queirós,
Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Guerra Junqueiro constituíram o Grupo dos
Cinco das letras portuguesas. A dita Sociedade de Quartetos do Porto, que se
apresentou pela primeira vez ao público no salão do Teatro de S. João em 10 de
Junho de 1874, numa sessão a que assistiu o celebre tribuno e estadista
espanhol Emílio Castelar, foi “o definitivo ponto de partida para o
conhecimento, entre nós de um dos mais belos géneros de música, senão o mais
belo”.
Foi ela que, numa
época em que o publico só apreciava a musica italiana e as prima-donas de boa
plástica, empreendeu “o conhecimento e a revelação das obras imortais que os
grandes clássicos e românticos legaram ao quarteto e ao quinteto”.
Normalmente, os
concertos daquela Sociedade realizavam-se no Teatro de Gil Vicente, do Palácio
de Cristal. Até 1881 a Sociedade dá inúmeros concertos. Em 1883, Moreira de Sá funda a "Sociedade de Musica de Câmara"
para a qual chama Ciríaco Cardoso e Alfredo Napoleão repescando os velhos
Marques Pinto e Nicolau Ribas da “Sociedade
de Quartetos”.
Até 1888 Nicolau Medina Ribas dá centenas de
concertos entre os quais um em 1884, em Lisboa, em que é condecorado por D Luís
I. A partir de 1888, Nicolau vai progressivamente se afastando da actividade
musical.
Foi professor de,
entre outros, Leopoldo Miguez, de Francisco Pereira da Costa e de Bernardo Valentim Moreira de Sá, que
sobre ele escreveu mais tarde:
"Dotado de
surpreendente intuição interpretativa, discípulo de Bériot em Bruxelas, onde
adquirira o largo estilo da Escola franco-belga, Ribas era magistral
quartetista e excelente professor. O seu melhor discípulo foi Leopoldo Miguez,
talentoso violinista, compositor e regente de orquestra, falecido no Rio de
Janeiro, em 1905, director do Instituto Nacional de Música".
Fez parte do corpo
docente na cadeira de Música, nos anos lectivos de 1879/80 e 1880/81, do
Colégio Portuense, inaugurado em 1876 no extinto Convento das Carmelitas, á
Praça do Anjo, estabelecimento de ensino modelo cujo proprietário e director
era o Prof. Patrício Theodoro Álvares Ferreira. Eram lá também professores
Augusto Luso, Basílio Teles, Joaquim de Vasconcelos, JJ Rodrigues de Feritas,
Julio de Matos, Ricardo Jorge, entre outros. Foram lá alunos, entre outros,
Leite de Vasconcelos e Santos Pousada”.
Fonte: Autor Desconhecido; In “sites.google.com”
Carlos Dubini
Carlos Dubini nasceu em Milão em 4 de Setembro de 1826 e
faleceu no Porto em 31 de Janeiro de 1883. Começou a aprender música muito novo
e casou-se em Milão aos 18 anos com a prima-dona (cantora principal da ópera)
Virginia Grimaldi, com quem veio para o Porto por volta de 1845, quando esta
foi convidada para cantar uma temporada no Teatro S. João. Carlos Dubini nunca
mais sairia de Portugal e foi um músico notável, compositor, maestro, professor
de canto e piano, etc.
Foi Director Artístico do Teatro S. João durante mais de 20
anos e grande animador do mundo musical portuense. Colaborou activamente no Instituto Musical do Porto e na Academia de Canto do Palácio de Cristal lançada
em 1866, que funcionou até 1868 e, fundou neste ano, a Academia de Música do Porto.
Em 26 de Outubro de 1869 a Academia de Música muda-se para a
Porta do Sol.
“Na segunda metade do
século, a partir da fundação da Escola
Popular de Canto da Câmara Municipal, em 1855, que inaugurou a actividade
lectiva com 60 alunos, número que em algumas semanas ultrapassava já os 200
para, meses depois, ascender a mais de 300, seguiu-se, em 1863, o Instituto Musical fundado por Carlos
Dubini, também no edifício da Câmara Municipal, que tinha já dois níveis de
ensino: o popular e o superior.
Em 1866 foi criada a Academia de Música anexa ao Palácio de
Cristal, inaugurada solenemente, em 11 de Setembro, com 424 alunos a quem não
era exigido o pagamento de qualquer propina, tal como acontecia com as outras
duas instituições, e foram aparecendo outras escolas de música anexas a Ordens
Terceiras, como a do Carmo e a da Trindade, e a associações sócio-profissionais
como a dos Polidores de Móveis do Porto e a dos Operários Tamanqueiros
Portuenses, entre muitas outras, onde a exigência de qualidade e ambição nos
objectivos superavam largamente qualquer finalidade lúdica para matar o tempo,
como documentam a exigência e o exercício crítico do público, o apuro manifesto
das realizações e as apresentações tecnicamente difíceis montadas por músicos
não profissionais, quer no domínio da ópera, quer da música de câmara…
…Observa-se então que
na passagem para o século XX reaparece nova e intensa actividade de música de
câmara alargada à assembleia da Foz, quer no efémero Club da Foz, onde se podia ouvir com frequência a jovem cantora
Berta Ramos Arroyo, que, tal como a sua tia Josefa Beatriz Arroyo, estudara com
Luísa Chiaramonte e se apresentava ao lado do tenor Frank de Castro (filho da proprietária do Hotel Mary Castro), do
pianista e chefe-de-orquestra Francesco Roncagli e outros, enquanto que no Club de Cadouços se apresentavam grupos
de cordas com o ilustre Xisto José Lopes ao piano. Por curiosa coincidência,
Xisto Lopes protagonizou, no início do século XX, uma situação semelhante a uma
outra que acontecera com Francisco Eduardo da Costa mais de meio século antes:
os dois se apresentaram em palco, para recitais de violino e piano, quase sem
ensaio algum, porque tanto o violinista como o pianista consideraram inútil
continuar a ensaiar: no primeiro caso o violinista foi o conhecido aluno e
sucessor de Paganini, Ernesto Camillo Sivori, e, no segundo, Jacques Thibaud.
Recorde-se ainda, nesta época, o Quarteto Oliveira e o papel do Club Portuense
como herdeiro da Sociedade Filarmónica, que tão decisivamente importante fora
para a evolução musical portuense”.
Com a devida vénia a João-Heitor Rigaud
“Uma outra sala de
espetáculos, muito ativa e respeitada no Porto, onde tiveram lugar excelentes
concertos com conceituados solistas, para além do Teatro das Variedades, foi o
Teatro Santa Catarina, situado na rua do mesmo nome. Posteriormente viria a ser
demolido para dar lugar ao edifício que ainda hoje alberga o Grande Hotel do
Porto, construído em 1880.
Na última década do
século XIX apareceram ainda algumas novas salas, como foi o caso do Teatro
Águia de Ouro, na Praça da Batalha. A construção teve início em 1890 com João
Baptista de Carvalho à frente das obras e o engenheiro Henrique Carvalho de
Assunção. Foi inaugurado em 17 de junho de 1899. Um ano antes, em 14 de outubro
de 1898, fora inaugurado também o Teatro Carlos Alberto, cujo proprietário,
Manuel da Silva Neves, deu início à sua construção em 1897.
[BASTOS, 1908: 314 –
324]
Algumas das maiores
casas comerciais do Porto, como a de José
de Melo Abreu, à Cancela Velha, ou a de Bernardo Valentim Moreira de Sá, na Rua de Santo António,
converteram-se, em muitos momentos, em pontos de encontro musicais, numa versão
portuguesa das famosas “Shubertiadas” que tiveram lugar na Alemanha, na
residência de Franz Schubert. Estas reuniões acabavam com frequência em
improvisados concertos de Música de Câmara, com um elevado nível artístico,
como acontecera quando o violinista espanhol Pablo Sarasate (1844 – 1908)
visitou o Porto em 1887”.
Com a devida vénia a Rosa Maria Sanchéz Sanchéz
Óscar da Silva
Óscar da Silva Corrège Araújo, nascido na Rua de Costa
Cabral, em 1870, era neto de Germano Corrège, um distinto relojoeiro,
estabelecido na Praça D. Pedro, no prédio onde esteve o Restaurante Camanho.
A educação musical de Óscar da Silva passou pela docência de
Félix Moreira de Sá.
Óscar frequentou o Colégio de Santa Catarina, onde fez
exames até ao 3º ano, tendo-se, depois, fixado em Lisboa, para estudar, com
Timóteo da Silveira, piano e harmonia com Vítor Hussia.
Em 1891, toca como pianista pela primeira vez. No ano
seguinte, em 1892, ganha uma bolsa de estudos da Rainha D. Amélia, e viaja para
a Alemanha, onde prossegue os seus estudos no Conservatório de Leipzig.
De Leipzig, Óscar rumou a Francfort sendo admitido no curso
do concertista Clara Schumann.
Óscar da Silva, enaltecido pelos mestres que teve em
Leipzig, actuaria com sucesso em Leipzig, Bremen, Berlim e Paris.
De regresso a Portugal, colaborou em dois programas no
Orpheon Portuense e no Clube de Leça, com as irmãs Suggia e Carlos Dubini.
Entre 1909 e 1910, vivendo em Leça da Palmeira, perderia os
pais, tendo composto as Dolorosas,
para piano, enquanto dava aulas a várias discípulas.
Em 1916, cantou-se no Porto a sua ópera D. Mécia, novela lírica em 2 actos e em 1924 o poema orquestral Alma Cruxificada.
Migrante, partiu em digressão pela América do Norte, África,
Brasil, Egipto, Itália, França, Espanha, Argentina, etc.
Em 1930, parte para o Brasil, onde permanece cerca de 20
anos, só regressando a Portugal a convite de António Salazar.
Em 1935, vê grande parte da sua obra publicada e recebe a
Ordem de Santiago e Espada.
Em 1940, compõe o hino da cidade do Porto.
Evoluindo da sua primitiva formação germânica,
modernizou-se, evoluindo na técnica.
Compositor, pianista, considerado o último dos grandes
românticos portugueses e, simultaneamente, o iniciador da música moderna em
Portugal, Óscar da Silva aderiu com entusiasmo à evolução modernista, e às
novas correntes. Foi reconhecido em vida como um grande compositor, bem como um
intérprete genial, sobretudo de Chopin e de Schumann.
«Em 1954, Óscar da
Silva regressa a Leça da Palmeira, onde passa a morar na casa duma sua antiga
aluna, D. Aurélia Marques da Silva e de seu marido, o médico José Marques da
Silva. No mesmo ano, o Clube de Leça organiza um concerto em sua homenagem. O
musicólogo Rebelo Bonito proferiu uma palestra, e no concerto participaram a
professora Ernestina da Silva Monteiro, Carlos Figueiredo, Henri Mouton, Maria
Adelaide Diogo Freitas Gonçalves e a cantora Maria Fernanda Castro Correia,
acompanhada ao piano pelo próprio Óscar da Silva.
Para além das já
citadas, entre as suas composições contam-se a Marcha Triunfal do Centenário da Índia, para banda; poemas
sinfónicos como Alma Torturada e Marian; música de câmara, como Trio e Quarteto; trechos para piano, Imagens, Tarantela, Páginas
portuguesas; bem como Nostalgias, Sonata das Saudades, Queixumes e Dolorosas,
esta última tocada nas suas exéquias. Algumas partituras da obra pianística de
Óscar da Silva foram editadas pela prestigiada Casa C. F. Peters, de Leipzig.
Recebeu o Colar da Ordem de S. Tiago, e as Medalhas de Ouro e Mérito Artístico
da Câmara Municipal do Porto. Após a sua morte foi objecto de várias outras
homenagens e concertos revivalistas. Para além da rua com o seu nome, há uma
Escola de Música Óscar da Silva, em Matosinhos.
Em 2005 a Câmara Municipal de Matosinhos editou um CD Óscar da Silva – Sonata Saudade – Violino e
Piano, interpretada por Fernando Laires no Piano e Alfio Pignotti no
violino. Esta sonata enquadra-se no contexto histórico Portuguesa e na corrente
estética do movimento intelectual gerado no nosso país depois de 1910,
designado Saudosismo. A
obra estreou no Porto, em 1915, no edifício do Palácio de Cristal – Teatro Gil
Vicente –, tendo como intérpretes Óscar da Silva e o violinista belga René
Bohet. A sonata foi inspirada na Canção X de Camões; “… Agora a saudade do
passado / tormento puro, doce e magoado / que converter fazia furores / em
magoadas lágrimas de amores”.»
Fonte: “cm-matosinhos.pt/”
Óscar da Silva faleceria, em 6 de Março de 1958, em Leça da
Palmeira e, esta, ganhou uma rua com o seu nome.
«Mestre, Óscar da
Silva regressou, mercê da justa benemerência oficial. É um músico-poeta
isolado. Vive para o seu mundo de imagens e recordações e continua a compor, a
incluir Portugal na História da Música porque, como disse Ramalho Ortigão:
”Óscar da Silva tem génio”.»
Armando Leça, In revista “O Tripeiro”, nº 12, Vª Série, Ano
IX, de Abril de 1954
“Castanheira &
Cia”
Em 1855, na Rua Formosa, 212-213, pela iniciativa de José
Francisco Arroio que, aí, também tinha a sua residência, foi sedeada uma firma
de venda e de importação de instrumentos musicais e partituras - “J. F.
Arroyo”.
Em 1857, mudou instalações para o nº 79 da mesma rua e, em
1864, mudou para a Rua de Santo António, 105-109.
José Francisco Arroyo (Oiartzun, Irún, 14 de Janeiro de 1818
— Porto, 20 de Setembro de 1886), também conhecido por José Francisco Arroio,
foi um clarinetista, compositor, chefe-de-orquestra e empresário de sucesso.
Antes, a 1 de Setembro de 1860, José Francisco Arroio tinha já
fundado a primeira fábrica de instrumentos musicais do País.
Na morada da Rua de Santo António, a firma “J. F. Arroyo”
passará, mais tarde, a ser “Castanheira & Cia – Sucessores de J. F.
Arroyo”, sendo que José Francisco Arroio ainda a negociou antes da sua morte.
Entretanto, surgiria na Rua do Almada, nº 202, a firma
“Custódio Cardoso Pereira”, com instalações também em Lisboa, na Rua do Carmo.
Nos dois quadros anteriores, a azul, observam-se as
referências às firmas que aqui são alvo do nosso interesse.
A “Custódio Cardoso Pereira” e a “Castanheira & Cia”
actuavam no mercado, em diversas áreas, em parceria e, a primeira, haveria
mesmo de adquirir a loja da Rua de Santo António, como se observa na
publicidade da época que se segue.
A denominação da firma era de “Fábrica a Vapor de
Instrumentos de Música de Custódio Cardoso Pereira & Cia”, que substituiria
uma outra denominação de “Fábrica a Vapor de Pianos e Instrumentos Musicais de
Custódio Cardoso Pereira & Castanheira”.
Em 1893, Custódio Cardoso Pereira radica-se em Lisboa, onde
acaba por falecer, em 1903.
A partir de 1900, a loja da Rua de Santo António da
“Castanheira & Cia” passou a ser na Rua do Almada, 170.
Durante grande parte do século XX, a “Fábrica a Vapor de
Instrumentos de Música de Custodio Cardoso Pereira” e a “Castanheira &
Cia.”, são geridas por Marques Teixeira, cuja morte em 1969, origina que, à
data, a “Custodio Cardoso Pereira & Cia.” seja herdada pelo seu genro
Miguel Almeida Mendes, enquanto a “Castanheira & Cia.” fosse comprada por
Américo Nogueira.
“Castanheira & Cia” acabou por chegar até aos nossos
dias como “Castanheira & Cia, Sucessor Lda.”, com lojas na Rua do Almada e
na Rua Formosa, no Porto e outras duas, uma em Aveiro e outra em Lisboa.
A denominação comercial passou a ser “Castanheira –
Sómusica” que, mais tarde, haveria de associar uma outra firma do ramo – “Francisco Guimarães, Filho & Cia, Lda”,
sita na Rua do Almada, 128.
Actualmente (2022), a “Castanheira Sómusica”, na Rua do
Almada, há já alguns meses que encerrou portas.
Para breve, uma nova loja surgirá na Rua do Almada, em
instalações muito próximas das anteriores, resultado da associação da loja da
“Castanheira Sómusica” e da loja da “Francisco
Guimarães, Filho & Cia, Lda”.
“Casa Moreira de Sá”
Quando a partir de 1900, a firma “Castanheira & Cia”
abandona as instalações da Rua de Santo António, 105 a 109, para se fixar na
Rua do Almada, 170, a loja é ocupada pela “Casa Moreira de Sá” fundada em 20 de
Dezembro de 1900 e pertencente ao maestro e músico Bernardo Valentim Moreira de
Sá (1853 – 1924).
Bernardo Valentim Moreira de Sá
A seguir se dá conta das firmas que, no Porto, em 1905, se
dedicavam ao comércio de instrumentos musicais.
A “Casa Moreira de Sá” no “Annuaire des artistes et de l’ enseignement
dramatic et musical” de 1 de Janeiro de 1905
Publicidade à casa comercial de Moreira de Sá (tinha já
falecido em 1927) em 16 de Maio de 1931, In semanário Pirolito
Bernardo Valentim Moreira
de Sá foi fundador da “Sociedade de Concertos”, da “Sociedade de Música de
Câmara” em 1883 e do “Quarteto Moreira de Sá”.
Para além de fundador, também, do “Orpheon Portuense” em 12
de Janeiro de 1881, foi seu director e sócio honorário.
Foi professor no ensino secundário e Director da “Escola
Normal do Porto” até à sua morte.
Teve obras publicadas: “A História da Música”, “A História
da Evolução Musical” e “Teoria Matemática da Música”.
Dirigiu e reorganizou o “Conservatório de Música do Porto.”
Percorreu vários países da Europa acompanhado dos seus
amigos e músicos Viana da Motta, Pablo Casals e Harold Bauer.
Muito interessante encontrar aqui um trisavô meu, José Francisco Arroyo.
ResponderEliminarParabém pelo belo trabalho
Francisco G. de Amorim
Muito nobrigado pelas suas amáveis palavras.
ResponderEliminarCumprimentos