terça-feira, 14 de março de 2017

(Continuação 16) - Actualização em 28/11/2018


Conservatório de Música e Escola Superior de Música


Actualmente, o ensino da música no Porto está presente numa instituição inserida no ensino superior, denominada “Escola Superior de Música, Artes e Espectáculo” (ESMAE), constituída a partir da Escola Superior de Música criada em 1985, dando seguimento à tradição secular do ensino de música na cidade do Porto.
As suas instalações são no edifício da antiga Escola Normal do Porto (ex-Escola do Magistério Primário), na Rua da Alegria, após a integração desta no Instituto Politécnico do Porto em 1986.
A Escola Normal do Porto foi instalada em finais do século XIX (1883), em edifício próprio, mandado construir pela Monarquia, entre a Rua da Alegria e a Rampa da Escola Normal, edifício hoje, classificado, como património arquitectónico do Porto. 


Edifício na Rua da Alegria



A ESMAE é, assim, o complemento do ensino da música, desde há muitos anos, o que, até hoje, competiu ao Conservatório de Música, uma escola pública muito conceituada de ensino especializado de música.
O Conservatório de Música era uma antiga reivindicação da cidade, sendo o projecto da sua instalação de 1914, esboçado pelo pianista e director de orquestra Raimundo de Macedo, mas só em 1917/18, ficariam reunidas as condições para o arranque do curso.
Foi numa sala de um prédio da Rua Galeria de Paris, nº66-80, que foi decidida a criação do Conservatório de Música do Porto, em 1911, o que viria a ser concretizado, apenas 6 anos mais tarde.
Naquela sala, com capacidade para 300 pessoas, por baixo do Salão Bachstein, Raimundo de Macedo tinha o seu comércio de pianos e a sua escola de música.
Raimundo de Macedo, nascido a 27 de Abril de 1880, no Porto, foi violinista para além de empregado bancário.
Fundou a Sociedade de Concertos Sinfónicos do Porto (1913 a 1923) e foi, depois, pianista, maestro, professor e vendedor de pianos.
Acontece que, em 2 de Maio de 1917, em pleno processo de institucionalização do Conservatório de Música,  ocorre a realização de uma assembleia geral daquela Sociedade de Concertos, presidida pelo engº Rigaud Nogueira, na qual é eleita uma delegação de três associados, constituída por Dr. Forbes de Magalhães, Silvino de Magalhães e Vitorino Coimbra, para tentarem demover Raimundo de Macedo da sua intenção de se demitir do cargo de director artístico.
O Conservatório de Música foi fundado e instalado no palacete dos viscondes de Vilarinho de S. Romão, ao jardim do Carregal, em 1 de Junho de 1917, sob a direcção de Valentim Moreira de Sá e, aqui se conservou até 13 de Março de 1976.
Sob direcção de Fernanda Wandschneider foi, então, ocupar o antigo palacete da família Pinto Leite, na Rua da Maternidade, até o D.L. 310/83 o ter transformado em “escola secundária”, acabando por ficar, até hoje, anexo à Escola Secundária Rodrigues de Freitas.
Em reunião realizada a 17 de Maio de 1917, a Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, composta pelo então Presidente Eduardo Santos Silva, por Armando Marques Guedes e Joaquim Gomes de Macedo, foi incumbida de estudar a organização de um conservatório de música nesta cidade. Finalmente, a 1 de Junho de 1917, o Senado da Câmara Municipal do Porto aprovou por unanimidade a criação do Conservatóio de Música do Porto.
Em 22 de Janeiro de 1922, pela primeira vez, apresenta-se a Orquestra Sinfónica do Conservatório de Música do Porto, sob a direcção de Hernâni Torres, executando uma rapsódia de canções nacionais que tinham sido executadas, antes, num dos campos de prisioneiros alemães na guerra de 1914-1918, por altura de um Natal.
Até Abril de 1974, altura em que novos modelos de gestão foram adoptados nas escolas, o Conservatório de Música do Porto teve como Directores Moreira de Sá, Ernesto Maia, Hernâni Torres, Luis Costa, José Gouveia, Joaquim Freitas Gonçalves, Maria Adelaide Freitas Gonçalves, Cláudio Carneyro, Stella da Cunha, Silva Pereira e José Delerue.





Fachada lateral do palacete do visconde de Vilarinho de S. Romão, à Rua Diogo Brandão - Fonte: Google maps



Palacete do visconde de Vilarinho de S. Romão – Fonte: J. Portojo; In Jn


Palacete Pinto Leite



Porto musical do século XIX


Família Ribas


“Em 1857 o notável músico e compositor Hipólito Medina Ribas (casado com  Margarida Antónia Arroio Ribas, filha de João Arroio), compôs uma schottische, intitulada Guilhermina, para a festa do terceiro aniversário da filha mais velha do negociante portuense Guilherme Augusto Machado Pereira (primeiro Visconde de Pereira Machado), Guilhermina Cândida Vieira Pereira Machado, cuja filha, viria a casar com um neto de João Eduardo de Brito e Cunha.
Hipólito Medina Ribas era filho de outro grande músico da época João António Ribas, que foi pai de oito filhos, quase todos grandes músicos e ficou ainda conhecido por ter colaborado com Almeida Garrett na composição do Hino Patriótico para a revolução liberal de 24 de Agosto de 1820 e, em 1826 colaborado com Passos Manuel na composição de uma peça intitulada Canção Constitucional de Vila Nova de Gaia para a cerimónia do juramento da Carta Constitucional.
O patriarca desta família de músicos, compositores e cantores líricos foi José Mariano Ribas, natural de Barcelona que morreu no Porto, em 15 de Janeiro de 1835, com 64 anos de idade. Filho de um alfaiate, recusou seguir a profissão paterna para se dedicar à música. Os primeiros anos da actividade profissional deste clarinetista, compositor e mestre de banda, caracterizaram-se por constantes viagens.
Nos mais de vinte e cinco anos que viveu e exerceu a sua profissão no Porto, Ribas criou uma sólida reputação de competência profissional e amabilidade de carácter que se viriam a revelar características de cunhagem da identidade dos descendentes.
José Maria Ribas o filho mais velho de José Mariano Ribas, também músico, nascido em Burgos, em 16 de Julho de 1796, viria a falecer no Porto, em 1 de Julho de 1861, coberto de glória e consideração, deixando a memória de um dos mais eminentes artistas da sua época.
O segundo filho de José Mariano Ribas, João António Ribas, nasceu em El Ferrol, em 17 de Janeiro de 1799, e morreu no Porto, em 15 de Agosto de 1869, quinze dias depois morria o escritor Arnaldo Gama que, como crítico musical de muito mérito, despoletou a Questão Noronha que deu brado no Porto de Novembro de 1855 a Fevereiro de 1856, ano anterior ao da violenta polémica que resultou da inesperada aposentação de João António Ribas, uma das mais importantes personalidades da História do Porto e uma das raríssimas pessoas sobre quem Camilo Castelo Branco escreveu demonstrando sempre o maior apreço e consideração.
João António Ribas casou com Teresa Emília Medina, natural de Santo Ildefonso, em 14 de março de 1820.
Desta união nasceram sete filhos: João Vítor, Eduardo, Hipólito, Teófilo, Carolina, Florêncio e Nicolau Medina Ribas. Após o falecimento de Teresa Emília, Ribas viria a casar em segundas núpcias com Carmen Riche de Cartagena, filha de Agustin Riche e María Dolores Carvajal. Desta união nasceria uma filha chamada Judite  ”.
Com a devida vénia a João-Heitor Rigaud



Família Arroio-Rezola


José Francisco Arroio - Rezola nasceu em Oiartzun (Guipúzcoa) em 14 de janeiro de 1818, desde de cedo deu mostras de um talento musical inusitado e precoce, que o levou a seguir os passos do pai, dando início aos seus estudos de flauta e clarinete. Uma vez atingido o nível técnico adequado, passou a integrar uma banda militar, cultivando ao mesmo tempo o estudo da composição e direção de banda. Em pouco tempo passou a ocupar o lugar de primeiro clarinete na Orquestra do Real Teatro São João, na altura, dirigida pelo maestro João António Ribas, o qual não demorou muito tempo a reparar no extraordinário talento do jovem.
O pai de José Francisco, João Marcelo Arroio, também músico e espanhol, quando veio com a família para Portugal, instalou-se em Penafiel, onde exercia as funções de Mestre da Banda de Musica do Regimento de Infantaria nº 24.
No ano de 1842, em 27 de dezembro, José Francisco viria a interpretar uma obra da sua autoria, Fantasia para Clarinete e Orquestra, num concerto celebrado no Teatro Santa Catarina. Para a realização deste evento o músico contou com a colaboração de Eduardo Medina Ribas e dos irmãos Francisco Eduardo e Inácio Eleutério da Costa.
Durante o verão de 1844 José Francisco fora visitar o escritor António Paterni enquanto este se encontrava de férias no Porto. O tema principal deste encontro foi um romance histórico francês, que Paterni estava a ler naquele momento e cuja intriga decorria, precisamente, no País Basco. No final deste encontro ambos artistas decidiram compor uma ópera, Bianca de Mauléon.
Os ensaios tiveram início em 15 de janeiro de 1846 sob as ordens do maestro João António Ribas.
A estreia da ópera foi no dia 11 de março de 1846 no Teatro São João.
Branca di Mauléon foi um sucesso extraordinário, sem precedentes na história cultural do Porto, merecedor de grandes elogios por parte do público e alvo de excelentes críticas de imprensa, que louvou a generosidade de Lombardi e os esforços da companhia.
O Diário “A Coalizão” dedicou uma extensa crónica a este acontecimento, com parágrafos como o que se transcreve a continuação:
«Realizaram-se os nossos desejos, alcançou um compatriota nosso, o mais completo triunfo; provamos ao mundo que as Belas Artes fazem progresso, entre nós, e que em fim os portugueses também possuem compositores que podem entrar nas fileiras com um Donizetti, com um Verdi ou com um Mercadante. Foi um arrojo nobre do Sr. José Francisco Arroio que desperta em nós as mais sinceras simpatias.»
Branca di Mauléon fora a primeira ópera de José Francisco Arroio mas não a única. Durante os anos seguintes compôs Francesca di Ventivoglio e Dom César de Bazan, esta última, um drama em cinco atos, representado com um sucesso notável, em 17 de outubro de 1850, pela Companhia de Atores Nacionais, no Real Teatro São João. O drama em três atos Francesca di Ventivoglio nunca chegou a ser representado devido, em grande parte, aos graves problemas que a companhia atravessava naquele momento. Curiosamente, esta ópera fora objeto de uma notável divulgação por parte da imprensa periódica da época. O libreto era da autoria de Temistocle Solera (1815 – 1878). Durante estes anos Arroio compôs uma outra obra de grande envergadura, a Missa Grande em Dó Maior para coro solistas e orquestra.
A partir deste momento o prestígio de José Francisco viria a aumentar progressivamente. Em abril de 1852 o Porto foi o destino duma visita Real, acontecimento que deu origem a um espetáculo no Real Teatro São João, onde foi interpretada uma cantata da autoria de Arroio, dedicada a D. Maria II (1819 – 1853). Dois dias depois, D. Fernando II (1816 – 1885) recebeu das próprias mãos do compositor a partitura manuscrita da obra. Como prova de gratidão e de reconhecimento pelo seu mérito artístico, o monarca ofereceu ao compositor um par de botões de punho com incrustações de diamantes.
No mesmo ano de 1852, em 27 de setembro, José Francisco viria a contrair matrimonio com a sua prima, Rita Norberta Xaviera de Rezola e Gastañaga, nascida em Usurbil (Guipúzcoa) em 6 de junho de 1929.
Continuando a acumular prestígio profissional, José Francisco compôs a Missa da Trindade, uma obra sacra escrita especialmente para a inauguração da Igreja da Ordem da Trindade.
Em 1859, Arroio foi convidado a presidir à União Musical.
Trinta e dois dos mais prestigiados músicos portuenses, entre eles Hipólito Medina Ribas e Nicolau Medina Ribas, tinham enviado uma carta ao compositor convidando-o a presidir à associação.
José Francisco aceitou o convite no qual era persuadido a aceitar o cargo com base na sua «inteligência, independência e prática de negócios teatrais».
Esta «prática de negócios teatrais» viria a materializar-se numa outra solicitação, em setembro de 1858, cujo objetivo era pôr nas mãos de Arroio a gestão do Teatro das Variedades também conhecido por Teatro das Lisseiras ou Teatro Camões.
Com a valiosa colaboração de José Maria Brás Martins (1823 – 1872), responsável pela Companhia Dramática Portuense, já residente no teatro, Arroio conseguiu manter as portas abertas ao público até 1862, levando a cena espetáculos de grande nível que foram muito bem acolhidos pelo público.
Outra das atividades que José Francisco Arroio exerceu com enorme sucesso foi a de comerciante.
Em 1855 fundou uma casa comercial dedicada à venda e importação de instrumentos musicais e de partituras. A primeira loja situava-se no mesmo prédio onde residia, na Rua Formosa, 212 – 213. Dois anos mais tarde, em 1857, trasladou o negócio para o número 78 da mesma rua e em 1863 para a Rua de Santo António, 105 – 109, onde usufruía de um espaço maior e mais adequado para a exposição dos instrumentos, especialmente, aqueles de grande envergadura, como os pianos de cauda.
José Francisco Arroio faleceu no Porto em 20 de setembro de 1886, na sua casa da Rua de Santo António.
O seu testamento foi redigido por ele próprio com uma notável clareza e concisão. Nele lega ao mais novo dos seus filhos, João Marcelino, todo o seu espólio musical, assim como uma coleção de pinturas de diversos artistas. Entre os restantes filhos foi distribuído um número considerável de retratos, ao óleo e a grafite, representando membros da família. A loja, que terá sido previamente negociada pelo compositor, passou a chamar-se Castanheira e Cª – Sucessores de José Francisco Arroio. A partir de 1900 a sede passou a ser na Rua do Almada, 170, onde permanece ainda hoje.
As famílias Arroio e Ribas, que comandaram o panorama musical do século XIX, viriam a unir-se pelo matrimónio de alguns dos seus membros.
Por volta de 1855 já tinha sido a vez da família do extraordinário violinista Moreira de Sá, oriunda de Guimarães, fixar a sua residência na Rua de Belas Artes.
Esta família permanece no Porto ainda nos nossos dias. Aquele viria a juntar-se Luís Ferreira da Costa (1870 – 1924), cujo contributo foi um dos mais notáveis, quer como promotor de concertos quer como pianista, compositor e professor”.
Com a devida vénia a Rosa Maria Sanchéz Sanchéz


José Francisco Arroio, casado com Rita Xavier Rezola, teve como descendência masculina, três vultos da sociedade da época.
Faz-se referência a José Arroio, conselheiro, doutor em filosofia pela Universidade de Coimbra, Professor da Academia Politécnica do Porto e da Faculdade de Ciências que se lhe seguiu e um dos fundadores do "Jornal de Notícias" e o último governador civil do Porto em regime monárquico. 
Um outro filho foi o engenheiro António Arroio, professor na Escola Politécnica e conhecido crítico de arte.
Por último, aquele que viria a ser um músico de enorme talento - João Arroio.
Nascido no Porto, a 4 de Outubro de 1861, João Arroio, em 1877, estava a matricular-se na universidade de Coimbra, após ter concluído o ensino liceal.
Em 24 de Dezembro de 1885, com 24 anos, conquistava a cátedra quando, antes, tinha já fundado o Orfeão Universitário de Coimbra, o primeiro a ser fundado no País. 
A partir daí, foi político, tendo abraçado, várias vezes, pastas no governo e lugares nas duas "Casas do Parlamento", de então, onde ficou conhecido como um talentoso tribuno.


Nicolau Medina Ribas nasceu em Madrid na Calle de Cantarranas actual Calle Lope de Vega, no Bairro das Musas, a 10 de Março de 1832, e foi baptizado a 15 na Igreja Paroquial de San Sebastian, no período em que o seu pai lá esteve refugiado. 
Cedo aprendeu a tocar violino, com o seu pai que lhe guiou a  educação musical até que, a 28 de Agosto de 1847, aos 15 anos, estreou-se como solista no Teatro de S. João. No ano seguinte parte para o Brasil em digressão. Regressado parte para Bruxelas, para o Real Conservatório onde estudou violino, sobre a orientação de Charles de Beriot, e composição com Fetis, tornando-se um primoroso executante.
Aí foi companheiro de Hubert Leonard. Ocupou o lugar de primeiro violino no Teatro de “La Monnaie” e na Orquestra do Conservatório de Bruxelas.
A partir de 1855, regressado de novo a Portugal, ocupa o lugar de primeiro violino no Teatro de S. João. Em 1866 é convidado por Carlos Dubini a formar a "Academia do Palácio de Cristal", juntamente com o violoncelista, compositor e empresário Domingos Ciríaco Cardoso (1846-1900) com a intenção de divulgar o ensino da música.
 
 
 

Nicolau Medina Ribas

 
 

Anúncio do “Jornal do Porto”, em 30 de Setembro de 1866, da abertura das matrículas para o ano lectivo 1866/67, da Academia de Música do Palácio de Cristal
 
 
 
Extinta a “Academia do Palácio de Cristal”, funda, em 1868, juntamente com Dubini, Hipólito e J. N. Medina de Paiva, a "Academia de Música do Porto".
 
 
 
“Pode afirmar-se que Nicolau Ribas, Marques Pinto, Joaquim Casella, Miguel Ângelo Pereira e Moreira de Sá constituíram nesta cidade – como muito bem escreveu Magalhães Basto citando Joaquim de Freitas Gonçalves – o Grupo dos Cinco da história da nossa musica de câmara, da mesma forma que, pouco mais ou menos pela mesma época, Antero de Quental, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins e Guerra Junqueiro constituíram o Grupo dos Cinco das letras portuguesas. A dita Sociedade de Quartetos do Porto, que se apresentou pela primeira vez ao público no salão do Teatro de S. João em 10 de Junho de 1874, numa sessão a que assistiu o celebre tribuno e estadista espanhol Emílio Castelar, foi “o definitivo ponto de partida para o conhecimento, entre nós de um dos mais belos géneros de música, senão o mais belo”.
Foi ela que, numa época em que o publico só apreciava a musica italiana e as prima-donas de boa plástica, empreendeu “o conhecimento e a revelação das obras imortais que os grandes clássicos e românticos legaram ao quarteto e ao quinteto”.
Normalmente, os concertos daquela Sociedade realizavam-se no Teatro de Gil Vicente, do Palácio de Cristal. Até 1881 a Sociedade dá inúmeros concertos. Em 1883, Moreira de Sá funda a "Sociedade de Musica de Câmara" para a qual chama Ciríaco Cardoso e Alfredo Napoleão repescando os velhos Marques Pinto e Nicolau Ribas da “Sociedade de Quartetos”.
Até 1888 Nicolau Medina Ribas dá centenas de concertos entre os quais um em 1884, em Lisboa, em que é condecorado por D Luís I. A partir de 1888, Nicolau vai progressivamente se afastando da actividade musical.
Foi professor de, entre outros, Leopoldo Miguez, de Francisco Pereira da Costa e de Bernardo Valentim Moreira de Sá, que sobre ele escreveu mais tarde:
"Dotado de surpreendente intuição interpretativa, discípulo de Bériot em Bruxelas, onde adquirira o largo estilo da Escola franco-belga, Ribas era magistral quartetista e excelente professor. O seu melhor discípulo foi Leopoldo Miguez, talentoso violinista, compositor e regente de orquestra, falecido no Rio de Janeiro, em 1905, director do Instituto Nacional de Música".
Fez parte do corpo docente na cadeira de Música, nos anos lectivos de 1879/80 e 1880/81, do Colégio Portuense, inaugurado em 1876 no extinto Convento das Carmelitas, á Praça do Anjo, estabelecimento de ensino modelo cujo proprietário e director era o Prof. Patrício Theodoro Álvares Ferreira. Eram lá também professores Augusto Luso, Basílio Teles, Joaquim de Vasconcelos, JJ Rodrigues de Feritas, Julio de Matos, Ricardo Jorge, entre outros. Foram lá alunos, entre outros, Leite de Vasconcelos e Santos Pousada”.
Fonte: Autor Desconhecido; In “sites.google.com”
 
 
 
 
Carlos Dubini
 
 
Carlos Dubini nasceu em Milão em 4 de Setembro de 1826 e faleceu no Porto em 31 de Janeiro de 1883. Começou a aprender música muito novo e casou-se em Milão aos 18 anos com a prima-dona (cantora principal da ópera) Virginia Grimaldi, com quem veio para o Porto por volta de 1845, quando esta foi convidada para cantar uma temporada no Teatro S. João. Carlos Dubini nunca mais sairia de Portugal e foi um músico notável, compositor, maestro, professor de canto e piano, etc.
Foi Director Artístico do Teatro S. João durante mais de 20 anos e grande animador do mundo musical portuense. Colaborou activamente no Instituto Musical do Porto e na Academia de Canto do Palácio de Cristal lançada em 1866, que funcionou até 1868 e, fundou neste ano, a Academia de Música do Porto.
Em 26 de Outubro de 1869 a Academia de Música muda-se para a Porta do Sol.
 
 
“Na segunda metade do século, a partir da fundação da Escola Popular de Canto da Câmara Municipal, em 1855, que inaugurou a actividade lectiva com 60 alunos, número que em algumas semanas ultrapassava já os 200 para, meses depois, ascender a mais de 300, seguiu-se, em 1863, o Instituto Musical fundado por Carlos Dubini, também no edifício da Câmara Municipal, que tinha já dois níveis de ensino: o popular e o superior.
Em 1866 foi criada a Academia de Música anexa ao Palácio de Cristal, inaugurada solenemente, em 11 de Setembro, com 424 alunos a quem não era exigido o pagamento de qualquer propina, tal como acontecia com as outras duas instituições, e foram aparecendo outras escolas de música anexas a Ordens Terceiras, como a do Carmo e a da Trindade, e a associações sócio-profissionais como a dos Polidores de Móveis do Porto e a dos Operários Tamanqueiros Portuenses, entre muitas outras, onde a exigência de qualidade e ambição nos objectivos superavam largamente qualquer finalidade lúdica para matar o tempo, como documentam a exigência e o exercício crítico do público, o apuro manifesto das realizações e as apresentações tecnicamente difíceis montadas por músicos não profissionais, quer no domínio da ópera, quer da música de câmara…
…Observa-se então que na passagem para o século XX reaparece nova e intensa actividade de música de câmara alargada à assembleia da Foz, quer no efémero Club da Foz, onde se podia ouvir com frequência a jovem cantora Berta Ramos Arroyo, que, tal como a sua tia Josefa Beatriz Arroyo, estudara com Luísa Chiaramonte e se apresentava ao lado do tenor Frank de Castro (filho da proprietária do Hotel Mary Castro), do pianista e chefe-de-orquestra Francesco Roncagli e outros, enquanto que no Club de Cadouços se apresentavam grupos de cordas com o ilustre Xisto José Lopes ao piano. Por curiosa coincidência, Xisto Lopes protagonizou, no início do século XX, uma situação semelhante a uma outra que acontecera com Francisco Eduardo da Costa mais de meio século antes: os dois se apresentaram em palco, para recitais de violino e piano, quase sem ensaio algum, porque tanto o violinista como o pianista consideraram inútil continuar a ensaiar: no primeiro caso o violinista foi o conhecido aluno e sucessor de Paganini, Ernesto Camillo Sivori, e, no segundo, Jacques Thibaud. Recorde-se ainda, nesta época, o Quarteto Oliveira e o papel do Club Portuense como herdeiro da Sociedade Filarmónica, que tão decisivamente importante fora para a evolução musical portuense”.
Com a devida vénia a João-Heitor Rigaud
 
 
“Uma outra sala de espetáculos, muito ativa e respeitada no Porto, onde tiveram lugar excelentes concertos com conceituados solistas, para além do Teatro das Variedades, foi o Teatro Santa Catarina, situado na rua do mesmo nome. Posteriormente viria a ser demolido para dar lugar ao edifício que ainda hoje alberga o Grande Hotel do Porto, construído em 1880.
Na última década do século XIX apareceram ainda algumas novas salas, como foi o caso do Teatro Águia de Ouro, na Praça da Batalha. A construção teve início em 1890 com João Baptista de Carvalho à frente das obras e o engenheiro Henrique Carvalho de Assunção. Foi inaugurado em 17 de junho de 1899. Um ano antes, em 14 de outubro de 1898, fora inaugurado também o Teatro Carlos Alberto, cujo proprietário, Manuel da Silva Neves, deu início à sua construção em 1897.
[BASTOS, 1908: 314 – 324]
Algumas das maiores casas comerciais do Porto, como a de José de Melo Abreu, à Cancela Velha, ou a de Bernardo Valentim Moreira de Sá, na Rua de Santo António, converteram-se, em muitos momentos, em pontos de encontro musicais, numa versão portuguesa das famosas “Shubertiadas” que tiveram lugar na Alemanha, na residência de Franz Schubert. Estas reuniões acabavam com frequência em improvisados concertos de Música de Câmara, com um elevado nível artístico, como acontecera quando o violinista espanhol Pablo Sarasate (1844 – 1908) visitou o Porto em 1887”.
Com a devida vénia a Rosa Maria Sanchéz Sanchéz
 
 

Óscar da Silva


Óscar da Silva Corrège Araújo, nascido na Rua de Costa Cabral, em 1870, era neto de Germano Corrège, um distinto relojoeiro, estabelecido na Praça D. Pedro, no prédio onde esteve o Restaurante Camanho.
A educação musical de Óscar da Silva passou pela docência de Félix Moreira de Sá.
Óscar frequentou o Colégio de Santa Catarina, onde fez exames até ao 3º ano, tendo-se, depois, fixado em Lisboa, para estudar, com Timóteo da Silveira, piano e harmonia com Vítor Hussia.
Em 1891, toca como pianista pela primeira vez. No ano seguinte, em 1892, ganha uma bolsa de estudos da Rainha D. Amélia, e viaja para a Alemanha, onde prossegue os seus estudos no Conservatório de Leipzig.
De Leipzig, Óscar rumou a Francfort sendo admitido no curso do concertista Clara Schumann.
Óscar da Silva, enaltecido pelos mestres que teve em Leipzig, actuaria com sucesso em Leipzig, Bremen, Berlim e Paris.
De regresso a Portugal, colaborou em dois programas no Orpheon Portuense e no Clube de Leça, com as irmãs Suggia e Carlos Dubini.
Entre 1909 e 1910, vivendo em Leça da Palmeira, perderia os pais, tendo composto as Dolorosas, para piano, enquanto dava aulas a várias discípulas.
Em 1916, cantou-se no Porto a sua ópera D. Mécia, novela lírica em 2 actos e em 1924 o poema orquestral Alma Cruxificada.
Migrante, partiu em digressão pela América do Norte, África, Brasil, Egipto, Itália, França, Espanha, Argentina, etc.
Em 1930, parte para o Brasil, onde permanece cerca de 20 anos, só regressando a Portugal a convite de António Salazar.
Em 1935, vê grande parte da sua obra publicada e recebe a Ordem de Santiago e Espada.
Em 1940, compõe o hino da cidade do Porto.
Evoluindo da sua primitiva formação germânica, modernizou-se, evoluindo na técnica.
Compositor, pianista, considerado o último dos grandes românticos portugueses e, simultaneamente, o iniciador da música moderna em Portugal, Óscar da Silva aderiu com entusiasmo à evolução modernista, e às novas correntes. Foi reconhecido em vida como um grande compositor, bem como um intérprete genial, sobretudo de Chopin e de Schumann.
 
 
 
«Em 1954, Óscar da Silva regressa a Leça da Palmeira, onde passa a morar na casa duma sua antiga aluna, D. Aurélia Marques da Silva e de seu marido, o médico José Marques da Silva. No mesmo ano, o Clube de Leça organiza um concerto em sua homenagem. O musicólogo Rebelo Bonito proferiu uma palestra, e no concerto participaram a professora Ernestina da Silva Monteiro, Carlos Figueiredo, Henri Mouton, Maria Adelaide Diogo Freitas Gonçalves e a cantora Maria Fernanda Castro Correia, acompanhada ao piano pelo próprio Óscar da Silva.
Para além das já citadas, entre as suas composições contam-se a Marcha Triunfal do Centenário da Índia, para banda; poemas sinfónicos como Alma Torturada e Marian; música de câmara, como Trio e Quarteto; trechos para piano, Imagens, Tarantela, Páginas portuguesas; bem como Nostalgias, Sonata das Saudades, Queixumes e Dolorosas, esta última tocada nas suas exéquias. Algumas partituras da obra pianística de Óscar da Silva foram editadas pela prestigiada Casa C. F. Peters, de Leipzig.
Recebeu o Colar da Ordem de S. Tiago, e as Medalhas de Ouro e Mérito Artístico da Câmara Municipal do Porto. Após a sua morte foi objecto de várias outras homenagens e concertos revivalistas. Para além da rua com o seu nome, há uma Escola de Música Óscar da Silva, em Matosinhos.
Em 2005 a Câmara Municipal de Matosinhos editou um CD Óscar da Silva – Sonata Saudade – Violino e Piano, interpretada por Fernando Laires no Piano e Alfio Pignotti no violino. Esta sonata enquadra-se no contexto histórico Portuguesa e na corrente estética do movimento intelectual gerado no nosso país depois de 1910, designado Saudosismo. A obra estreou no Porto, em 1915, no edifício do Palácio de Cristal – Teatro Gil Vicente –, tendo como intérpretes Óscar da Silva e o violinista belga René Bohet. A sonata foi inspirada na Canção X de Camões; “… Agora a saudade do passado / tormento puro, doce e magoado / que converter fazia furores / em magoadas lágrimas de amores”.»
Fonte: “cm-matosinhos.pt/”


Óscar da Silva faleceria, em 6 de Março de 1958, em Leça da Palmeira e, esta, ganhou uma rua com o seu nome.
 
 
«Mestre, Óscar da Silva regressou, mercê da justa benemerência oficial. É um músico-poeta isolado. Vive para o seu mundo de imagens e recordações e continua a compor, a incluir Portugal na História da Música porque, como disse Ramalho Ortigão: ”Óscar da Silva tem génio”.»
Armando Leça, In revista “O Tripeiro”, nº 12, Vª Série, Ano IX, de Abril de 1954


 
“Castanheira & Cia”
 
 
Em 1855, na Rua Formosa, 212-213, pela iniciativa de José Francisco Arroio que, aí, também tinha a sua residência, foi sedeada uma firma de venda e de importação de instrumentos musicais e partituras - “J. F. Arroyo”.
Em 1857, mudou instalações para o nº 79 da mesma rua e, em 1864, mudou para a Rua de Santo António, 105-109.
José Francisco Arroyo (Oiartzun, Irún, 14 de Janeiro de 1818 — Porto, 20 de Setembro de 1886), também conhecido por José Francisco Arroio, foi um clarinetista, compositor, chefe-de-orquestra e empresário de sucesso.
 
 
 

Publicidade, em 4 de Novembro de 1863, da J. F. Arroyo, na Rua Formosa
 
 
Antes, a 1 de Setembro de 1860, José Francisco Arroio tinha já fundado a primeira fábrica de instrumentos musicais do País.
Na morada da Rua de Santo António, a firma “J. F. Arroyo” passará, mais tarde, a ser “Castanheira & Cia – Sucessores de J. F. Arroyo”, sendo que José Francisco Arroio ainda a negociou antes da sua morte.
Entretanto, surgiria na Rua do Almada, nº 202, a firma “Custódio Cardoso Pereira”, com instalações também em Lisboa, na Rua do Carmo.


 



“Castanheira & Cia” em 1888, na Rua de Santo António

 
 

“Annuaire des artistes et de l’enseignement dramatique et musical”, 1893


 
 
“Annuaire des artistes et de l’enseignement dramatique et musical”, 1896

 
 
Nos dois quadros anteriores, a azul, observam-se as referências às firmas que aqui são alvo do nosso interesse.
A “Custódio Cardoso Pereira” e a “Castanheira & Cia” actuavam no mercado, em diversas áreas, em parceria e, a primeira, haveria mesmo de adquirir a loja da Rua de Santo António, como se observa na publicidade da época que se segue.
A denominação da firma era de “Fábrica a Vapor de Instrumentos de Música de Custódio Cardoso Pereira & Cia”, que substituiria uma outra denominação de “Fábrica a Vapor de Pianos e Instrumentos Musicais de Custódio Cardoso Pereira & Castanheira”.
Em 1893, Custódio Cardoso Pereira radica-se em Lisboa, onde acaba por falecer, em 1903.
 
 
 

Publicidade de 1893

 
 

Publicidade de 1896
 
 
 
A partir de 1900, a loja da Rua de Santo António da “Castanheira & Cia” passou a ser na Rua do Almada, 170.
Durante grande parte do século XX, a “Fábrica a Vapor de Instrumentos de Música de Custodio Cardoso Pereira” e a “Castanheira & Cia.”, são geridas por Marques Teixeira, cuja morte em 1969, origina que, à data, a “Custodio Cardoso Pereira & Cia.” seja herdada pelo seu genro Miguel Almeida Mendes, enquanto a “Castanheira & Cia.” fosse comprada por Américo Nogueira.
 
 
 
 
“Castanheira & Cia – Sucessores de J. F. Arroyo” na Rua do Almada

 
 
“Castanheira & Cia” acabou por chegar até aos nossos dias como “Castanheira & Cia, Sucessor Lda.”, com lojas na Rua do Almada e na Rua Formosa, no Porto e outras duas, uma em Aveiro e outra em Lisboa.
A denominação comercial passou a ser “Castanheira – Sómusica” que, mais tarde, haveria de associar uma outra firma do ramo – “Francisco Guimarães, Filho & Cia, Lda”, sita na Rua do Almada, 128.
 
 
 

“Castanheira Sómusica” na Rua do Almada, 170/174 

 
 

“Castanheira Sómusica”, na Rua Formosa, 224
 
 
 
Actualmente (2022), a “Castanheira Sómusica”, na Rua do Almada, há já alguns meses que encerrou portas.
Para breve, uma nova loja surgirá na Rua do Almada, em instalações muito próximas das anteriores, resultado da associação da loja da “Castanheira Sómusica” e da loja da “Francisco Guimarães, Filho & Cia, Lda”.
 
 
 
“Casa Moreira de Sá”
 
 
Quando a partir de 1900, a firma “Castanheira & Cia” abandona as instalações da Rua de Santo António, 105 a 109, para se fixar na Rua do Almada, 170, a loja é ocupada pela “Casa Moreira de Sá” fundada em 20 de Dezembro de 1900 e pertencente ao maestro e músico Bernardo Valentim Moreira de Sá (1853 – 1924).


 

Publicidade em 20 Dezembro de 1900

 
 

Bernardo Valentim Moreira de Sá



A seguir se dá conta das firmas que, no Porto, em 1905, se dedicavam ao comércio de instrumentos musicais.
 
 

A “Casa Moreira de Sá” no “Annuaire des artistes et de l’ enseignement dramatic et musical” de 1 de Janeiro de 1905



Publicidade à casa comercial de Moreira de Sá (tinha já falecido em 1927) em 16 de Maio de 1931, In semanário Pirolito
 
 
 
Bernardo Valentim Moreira de Sá foi fundador da “Sociedade de Concertos”, da “Sociedade de Música de Câmara” em 1883 e do “Quarteto Moreira de Sá”.
Para além de fundador, também, do “Orpheon Portuense” em 12 de Janeiro de 1881, foi seu director e sócio honorário.
Foi professor no ensino secundário e Director da “Escola Normal do Porto” até à sua morte.
Teve obras publicadas: “A História da Música”, “A História da Evolução Musical” e “Teoria Matemática da Música”.
Dirigiu e reorganizou o “Conservatório de Música do Porto.”
Percorreu vários países da Europa acompanhado dos seus amigos e músicos Viana da Motta, Pablo Casals e Harold Bauer.

 
 

Moreira de Sá (2ª fila) com a sua filha em Potsdam – Fonte: blog. restosdecoleccao


 
 
Anúncio de concerto em que actuou Bernardo Moreira de Sá, no "Jornal do Porto" de 15 de Março de 1871




2 comentários:

  1. Muito interessante encontrar aqui um trisavô meu, José Francisco Arroyo.
    Parabém pelo belo trabalho
    Francisco G. de Amorim

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  2. Muito nobrigado pelas suas amáveis palavras.
    Cumprimentos

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