sexta-feira, 3 de março de 2017

(Continuação 7) - Actualização em 04/04 e 25/07/2019

“Em 29 de Janeiro de 1933 foi inaugurado o Café Guarany, no edifício projectado por Miguel Ângelo Soá, com um projecto de Rogério de Azevedo e um baixo-relevo de Henrique Moreira. A principal inovação era o sistema de ventilação e filtragem do ar. Nos anos 80 sofreu alterações que o desvirtuaram, ao ser criado um balcão corrido e eliminadas as mesas. Recentemente foi recuperado de acordo com o projecto inicial, tendo sido acrescentados painéis da pintora Graça Morais. Poderá considerar-se um exemplo de recuperação da imagem e da essência original”.
Fonte: pereira-da-silva.blogspot


“A música também desempenhou um papel de extremo relevo nos cafés do Porto, ao longo dos séculos XIX e XX. Os Cafés Suisso e Lisbonense foram, sem dúvida, os mais afamados. Nestes estabelecimentos existiam, todas as noites, concertos que iam desde as “composições ligeiras de Lecoq e de Suppé, até aos trechos classicos de Rossini e de Wagner”, passando pelas entusiásticas “valsas de Waldteufel”. Ao domingo, existiam as matinés no Café Lisbonense, que se realizavam pelas 14 horas da tarde, começando por tocar os principais artistas a solo, que interpretavam, em piano, os “transcendentes noturnos de Chopin e as belas sonatas de Beethoven”, em violino, “os arrebatadores trechos de Paganini e Sarasate” e em violoncelo, “os majestosos caprichos fantasias de Dunkler”. À noite era costume serem executados 10 números, onde figuravam seleções de óperas, sinfonias, zarzuelas, entre outros. Destacaram-se como principais executantes, os violinistas: Júlio Cagiani, Laureano Forssini, José Muner, Luigi Comuni, entre outros, os violoncelistas: Ferrucio Alberti, José Romagosa, Carlos Quilez, Mário Vergé, entre outros, os pianistas: Xisto Lopes, Pedro Blanco, Evélio Burull, Manuel Figueiredo, entre outros, e os contrabaixistas: Francisco Symaria, Manuel Jorge Paiva, entre outros.
Com a inauguração do Café Guarany, em 1933, atuou, em exibições diárias, à tarde e à noite, um quinteto, que alcançou grande notoriedade na cidade. Era este constituído por “Raúl de Lemos, Manuel Constante, José da Costa, José Oliveira e Fausto Caldeira”. A música foi, assim, a par com o jogo, um dos principais passatempos dos portuenses, no interior dos cafés, ao longo dos séculos XIX e XX.
Entre 1918 e 1939 destacam-se a abertura de, O Majestic, O Excelsior, O Imperial, O Palladium, O Monumental, O Avenida e O Guarany”.
Com a devida vénia a Nuno Fernando Ferreira Mendes



Na esquina do prédio instalou-se o Café Guarany



Salão do restaurante do Café Guarany, em 1933




Esplanada do Café Guarany em 1941



O café Guarany em meados do século XX


Café Guarany (actualmente)


“Impulsionado pela situação em que se provavelmente se encontraria após a morte do seu pai aos 4 anos de idade, da sua mãe aos 8 e da sua irmã aos 12 — com quem passará a viver— Agostinho Barrias acabou por cruzar o oceano em busca de pastos mais verdes, tendo-se estabelecido no Brasil, onde se dedicou sobretudo à restauração. De regresso a Portugal, o sucesso de vários empreendimentos na área — como é o caso dos cafés Ofir, Itália, Padrão ou Imperador, entre outros — permitiu-lhe finalmente dedicar-se a uma paixão que cultivava já desde cedo: a paixão pelos cafés históricos”.
Em 1982, Agostinho Barrias adquire assim o Guarany com o objectivo de devolver ao mítico café a sua antiga glória. Apoiado pelo filho Fernando, restaura-o finalmente entre 2001 e 2003, introduzindo-se também dois novos painéis da pintora Graça Morais, intitulados “Os Senhores da Amazónia”.
Crédito a “portonosso.pt/”




No nº 48, da Rua de Sá da Bandeira, funcionou o Café Excelsior, inaugurado em 1 de Janeiro de 1920 e que encerraria a 1 de Dezembro de 1959. As suas instalações passariam posteriormente a ser ocupadas pela papelaria Sousa Ribeiro.
Actualmente, é uma loja da multinacional de equipamentos de óptica, “Leica”.



Aqui funcionou o Café Excelsior



Interior do Café Excelsior – Fonte: Porto Desaparecido, p. 152



Interior do espaço como Papelaria Sousa Ribeiro – Ed. JPortojo



Depois da Segunda Guerra Mundial, e com o desenrolar da segunda metade do século XX, foi surgindo uma nova geração de cafés que já não patenteiam da “grandeza e o requinte decorativo” dos cafés da primeira metade do século, prevalecendo a austeridade.
Destacam-se no seio desta nova tipologia os cafés, ainda em serviço: Embaixador, Ceuta e Aviz.
Assim: o Café Ceuta, sito na Rua de Ceuta e aberto ao público a 18 de Julho de 1953; o Café Aviz, fundado em 1956, na Rua de Avis, que mantém as portas-abertas, próximo da Praça Filipa de Lencastre, na Rua de Avis; e o Café Embaixador  fundado em 1957 e localizado no núcleo urbano de cafés da Praça e suas imediações, mais concretamente, na Rua de Sampaio Bruno, com salão de bilhares, e restaurante no 1º andar e que, encerraria as portas, em 9 de Dezembro de 2022.
 
 
 
Café Embaixador, no início do século XXI


 

Mural de Martins Costa no Café Embaixador – Ed. Porto Canal
 
 
 
 

Café Ceuta (actual)
 
 
 
Café Aviz (actual) - Fonte: Google Maps
 
 
 
Embaixador, Ceuta e Aviz, todos eles eram detentores de salão de bilhares e os dois últimos localizam-se no núcleo urbano de cafés do Carmo e suas imediações.
O Café Rialto na Praça D. João I, mas já encerrado, destacava-se pelo seu requinte.
Inaugurado em 6 de Dezembro de 1944, com traço do arquitecto Artur Andrade, tinha uma decoração exigente com murais de Abel Salazar, Guilherme Camarinha e Dórdio Gomes e uma escultura de João Fragoso.
Após 28 anos de labor, acabou por encerrar as suas portas em Julho de 1972, para dar lugar a uma instituição bancária, que conservou o mural de Abel Salazar, mas entaipou os frescos de Dordio Gomes e Guilherme Camarinha. O baixo-relevo de João Fragoso foi destruído.
Hoje (2023), o espaço aloja uma loja chinesa de bugigangas.




“No Café Rialto, que se inaugurará dentro de breves dias na cidade do Porto foi ontem, 27 de Novembro de 1944, prestada homenagem à respectiva empresa proprietária e ao arquitecto Artur Vieira de Andrade, autor do magnífico projecto daquele sumptuoso estabelecimento comercial.
E ali dentro, no delicioso clima duma quietude reconfortante, tudo se conjugou no sentido duma beleza triunfal, destacando-se ainda, numa bela exposição decorativa, de alto merecimento artístico, pinturas murais a «fresco» de Dórdio Gomes e Guilherme Camarinha, inspiradas em diversos temas mitológicos. Esculturas de cerâmica policromada, da autoria do escultor João Fragoso, uma das quais de enormes dimensões e admirável concepção estética”.
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 28 de Novembro de 1944 – 3ª Feira



Interior do Rialto com o seu mezanino e o salão inferior
 
 
 
 

Cortesia do arquitecto Pedro Santiago
 
 
 

Murais (frescos) expostos no salão do piso inferior do Café Rialto


 

Cortesia do arquitecto Pedro Santiago




Café Rialto



Igualmente inaugurado, em 1944, foi o Café Estrela de Ouro. Aquando da inauguração do Café Estrela de Ouro, dizia-se:


“Pela sua projecção na vida citadina e ainda pelo seu significado, a inauguração dum estabelecimento como a “Estrela d’Ouro” não pode passar despercebida. De linhas sóbrias, mas de extraordinário bom gosto, o novo Café-Restaurante (que é também Confeitaria e Tabacaria) marca, entre as suas congéneres, um lugar especial.
Situado em plena Rua da Fábrica, em contacto directo com a Praça da Liberdade, mas, ao mesmo tempo, desviado do tumulto da «granvia», a «Estrela de Ouro» oferece-nos um raro ambiente, de intimismo, Alicia, prende.
O acto inaugural, concorridíssimo, ficou assinalado com um magnífico «Porto de Honra».”
In “Jornal de Notícias” de 9 Março de 1944 – 5ª Feira (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”, p. 665-666)


Café Estrela de Ouro



Na segunda metade do século XX muitos outros cafés ficaram na memória de muitos, pelo que ofereceram a várias gerações, de que se destacam o Café Pereira e o Café Imperador, na Praça do Marquês do Pombal, o Café Garça-Real, junto ao teatro Rivoli, o Café Bela-Cruz,  ao Castelo do Queijo, o Café Orfeu, na Rua Júlio Dinis, o Café Tijuca, na Rua Passos Manuel, nº 208, o Café Java, na Praça da Batalha, o Café Capitólio, junto da praça General Humberto Delgado, o Café Saban, na Rua de Sá da Bandeira, em frente à Confeitaria Cunha, na esquina com a Rua Guedes de Azevedo, o Café Mucaba, à saída do tabuleiro superior da ponte Luís I, já em V. N. de Gaia e aberto desde 15 de Fevereiro de 1962 e, ainda, o Café Rivoli, já quase, todos desaparecidos.
E, ainda, para além de muitos outros: o café Príncipe, na Praça Teixeira de Pascoais, onde, depois, se instalaram duas lojas de comércio de tintas; o café Baptista, na Rua de Santa Catarina, situado um pouco abaixo da conhecida loja de modas “Os Pinto”; o café Pará, na Rua de Santa Catarina, defronte da Capela das Almas; o café Poeta, junto da igreja nova do Carvalhido; o café Dragão, na esquina das ruas Formosa e da Alegria.
Sobre a inauguração do Café Imperador, que surgiu a nascente da Praça Marquês do Pombal, dizia-se:

“A cidade do Porto, que conta milénios e nasceu pequenina à volta da Sé, vai crescendo, vai-se modernizando, vai tomando aspectos de grande capital.
Um dos Bairros de fluorescente e constante desenvolvimento, é a zona citadina que se estende à volta da Praça do Marquês do Pombal, o «rendez-vous» da população daquela zona, bairro alto da cidade, vai hoje inaugurar-se um novo e completo estabelecimento de café, O Café Imperador, propriedade de Narciso Silva, Agostinho Soares e José Maria Gonçalves.
Projecto do arquitecto Mário Fernandes da Silva Teixeira, que planificou o Café Imperador com harmonia e bom gosto.
De salientar ainda a sua confortável esplanada que, de hoje em diante, é a melhor da cidade.
Esta obra é inaugurada hoje pelas treze horas.
Durante o dia temos o prazer de oferecer a todos quantos nos honrarem com a sua visita, um cálice do delicioso licor «Juvininho».”
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 11 de Outubro de 1958 – Sábado



Painel de azulejos do Café Imperador – Ed. Guido de Monterey





Café Pereira, a sul da Praça do Marquês - Fonte: Google Maps





Café Garça-Real - Fonte: Google Maps



O café Garça-Real, acima representado, ocupou as instalações de um outro conceituado café (pouso de salgueiristas), "O Flórido" que, a 22 de Março de 1947, reabriria após obras de beneficiação como "Confeitaria e Casa de Chá Flórido".


Café Flórido


O Bela Cruz, ao Castelo do Queijo, um outro estabelecimento do mesmo ramo de actividade afirmar-se-ia, no mercado, a partir de 21/06/1952, como um tradicional café, mas, também, como casa de chá.
O sucesso do Bela Cruz deveu-se a Ulisses Moreira, seu gerente e proprietário até Março de 2004.
 
 
 
 
Café Bela-Cruz, em 1956
 
 
 

Café Bela-Cruz, em 1971 – Fonte: SIPA
 
 
 
Em 1989, o Bela Cruz traçou um novo percurso, com uma nova realidade de iniciativa empresarial, revelando-se pela primeira vez como o 'Bela Cruz Club', num projecto que consistiu num investimento de expansão do edifício, dando-lhe uma nova vida ao espaço, que se tornou rapidamente conhecido na cidade e gerou um ponto de encontro para várias gerações.
De Março de 2004 a Abril de 2011, o espaço foi arrendado a terceiros e começaria, então, um processo de descaracterização do espaço.
Após 2011, o espaço volta a ganhar novo impulso, apresentando-se renovado, com uma decoração sofisticada e uma oferta alargada, com serviço de restaurante e 'wine bar'.
Em 28 de Dezembro de 2015, o Bela Cruz seria alvo de um incêndio, provocado por um dos sócios, devido a desavenças conjugais.
O Bela Cruz não iria resistir muito mais.
Em Outubro de 2021, a Câmara Municipal do Porto tornava público, que se opunha a qualquer acção de demolição do espaço.




Café Bela-Cruz - Fonte: Google Maps



Café Orfeu - Fonte: Google Maps



Café Tijuca - Fonte: Google Maps



Café Java – Fonte: Google maps


Café e Cervejaria Capitólio 


Em 22 de Dezembro de 2022, após 80 anos de portas abertas, o café e cervejaria Capitólio fechava para sempre.




Na esquina, à direita, ficava o Café SABAN, em 1965 



Na esquina era o Café Mucaba - Fonte: Google Maps


Café Rivoli - Fonte: Google Maps




O café Rivoli ficava em frente ao teatro Rivoli, no piso térreo do prédio de esquina que se vê na foto anterior, e que hoje é o depósito da Fábrica da Marinha Grande, na esquina da Rua do Bonjardim com a Rua de Magalhães Lemos.

“Inaugurou-se ontem o café Rivoli. Um novo e magnífico estabelecimento que muito honra a cidade.”
In jornal “O Comércio do Porto”, 19 de Maio de 1949 – 5ª Feira

2 comentários:

  1. O antigo Café Rialto - hoje agência bancária não destruiu os frescos do Dórdio nem o do Camarinha. Ainda lá existem. Não estão à vista de toda a gente. Mas isso é outro problema que não posso abordar aqui. Aqui há uns anos tive a possibilidade de os visitar assim como outras obras ainda existentes do Dórdio Gomes presentes na cidade.

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  2. Agradeço a informação e a sua disponibilidade e colaboração.
    Como pode observar, já corrigi o texto baseado na sua chamada de atenção.
    Cumprimentos.

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