sexta-feira, 17 de março de 2017

(Continuação 18) - Actualização em 14/06/2018, 30/01/2019 e 14/04/2020




Entre 1846 a 1854, começaram a ser publicados no Porto os seguintes jornais: A Coallisão, A Columna, O Nacional, O Periódico dos Pobres (Porto), A Pátria, Estrella do Norte, Noticiador Commercial Portuense, O Ecco Popular, O Progressista, A Concordia, O Correio do Norte, O Defensor, Informador, A Monarchia, O Jornal do Povo, O Portugal, O Porto e Carta, Puritano, O Braz Tizana, O Espectador Portuense, O Repertório Cómico, O Industrial Portuense, Jornal da Associação Industrial Portuense, A Gazetta Medica do Porto, A Gazeta Homeopática Portuense, A Carapuça, A Pega, O Pirata, Bico do Gaz, A Cruz, O Curioso, Jornal dos Operários, Omnibus, A Península, A Lyra da Mocidade, Miscelania Poetica, O Respirador Literário, O Bardo; A Grinalda; e A Rosa (periódico destinado às damas).





“Quem entra pela primeira vez no universo dos jornais e publicações periódicas do Porto (e por maioria de razão do país) após a proclamação da liberdade de imprensa (1834), sobretudo na 2ª metade de oitocentos, experimenta a sensação de se encontrar perante uma floresta viçosa mas desordenada de inúmeras e variadas plantas pequenas a disputar o mesmo espaço e onde aquelas que lograram lançar fundas raízes e atingir alto porte foram diminutas.
A análise extrínseca dessa flora exuberante pode assentar em critérios muito variados. Detenhamo-nos, por exemplo, na periodicidade. Por aquilo que pudemos averiguar, os semanários levam a primazia, parecendo-nos que ocuparão mais de metade do conjunto. Seguem-se-lhe os diários (17a 20%). A alguma distância vêm os quinzenários, os tri e os bi-semanários, os mensais, os bi-mestrais e os trimestrais. Há ainda publicações anuais e logicamente um número que me pareceu insignificante de títulos que não passaram do primeiro número.
Quanto aos diários, é surpreendente a quantidade de espécies: entre 1850 e 1890 publicaram-se no Porto pelo menos 68, mais de 1,6 de média anual de novos títulos. É evidente que não coexistiram todos. Em 1850 contámos 5 mas em 1890 o número dos jornais diários era de 18.
Esses jornais eram os seguintes: “A Actualidade”, “O Commercio do Porto”, “O Cronista”, “O Commercio Portuguez”, “O Dez de Março”, “Diário do Commercio”, “Gazeta de Noticias”, “Jornal da Manhã”, “Jornal de Notícias”, “O Jornal do Porto”, “A Lucta”, “Onze de Janeiro”, “A Palavra”, “O Primeiro de Janeiro”, “A Provincia”, “O Rebate”, “A Republica”, “A Republica Portugueza”, “A Voz Publica”.
A média anual de títulos em circulação durante este período andará à volta de 9, o que constitui uma agradável surpresa. Talvez constitua outra novidade, o acrescentarmos que, se excluirmos os três grandes jornais (“O Comércio o Porto”, “O Primeiro de Janeiro” e “Jornal de Notícias”), a média de vida de cada um rondou os 5 anos. Como todas as médias, esta esconde uma parte da realidade.
Entretanto infelizmente deixou de se publicar «O Comércio do Porto», tendo saído o último número em 30 de Julho de 2005 e desde o último dia do ano de 2014 desapareceu “O Primeiro de Janeiro”.
É que, na verdade, apenas 15, para além dos três veteranos, contaram mais de 5 anos de vida.
Foram eles: “A Actualidade” (1874-1891), “O Braz Tizana” (1851-1869), “O Commercio Portuguez” (1876-1890), “Diário Mercantil” (1861-1872), “O Direito” (1857-1877), “A Folha Nova” (1881-1887 (1888?), “Gazeta de Notícias” (1890-1896), “Jornal da Manhã” (1872-1892), “O Jornal do Porto” (1859- 1892), “A Lucta” (1874-1890), “O Nacional” (1846-1870), “A Palavra” (1872-1911), “O Periódico dos Pobres do Porto” (1834-1858), “A Província” (1885-1904) e “A Voz Publica” (1890-1909).
Vinte e nove não celebraram o 2.°aniversário e 12 destes nem sequer o primeiro. Os restantes 22 viveram entre 4 a 2 anos.
Eis o elenco dos restantes: “O Amigo do Povo” (1860-1861), “O Brio do Paiz” (1870-1871), “O Clamor Publico” (1856-1857), “O Comentário” (1880), “A Concórdia” (1853-1855), “O Conservador” (1858- 1860), “O Defensor” (1848-1850), “O Dez de Março” (1886-1890), “Diário do Comércio” (1889-1891), “Diário do Exercito” (1882), “Diário Nacional” (1883-1884), “Diário de Notícias do Porto” (1875, de 10 de julho a 8 de Outubro), “Diário do Porto” (1865-1866), “Diário Portuguez” (1877), “Diário do Povo” (1862-1865), “Diário Progressista” (1876), “Diário das Sessões da Junta Geral do Distrito do Porto” (?-1879), “Diário da Tarde” (1871- 1874), “A Discussão” (1883-1887), “O Economista” (1859), “O Estado do Norte” (1880), “Gazeta do Porto” (1875-1876), “Gazeta Portuense” (1868), “A Independência Portugueza” (1877-1878), “O Jornal do Norte” - com Arnaldo Gama como Redactor Principal (1860; 1867-1868), “Jornal das Senhoras” (1877), “Jornal da Tarde” (1874-1875), “A Justiça Portuguesa” (1880-1894 foi diário apenas durante o 2.° semestre de 1881, depois do que voltou ao que era: semanário), “O Lidador” (1854-1857), “A Monarquia” (1854-1857), “O Monitor” (1857-1858), “O Norte” (1888-1889), “Onze de Janeiro” (1890), “A Opinião” (1878), “O Oriente” (1857-1859), “O Palito” (1888), “A Pátria” (1849-1850), “O Petiz” (1876), “O Porto” (1874-1876), “O Porto Liberal” (1884-1888), “O Portuense” (1853-1855), “O Progresso Commercial” (1873), “O Progresso do Porto” (1870-1871), “O Rebate” (1890), “A Republica” (1890-1891), “A Republica Portuguesa” (1890-1891), “A União” (1879), “A Verdade” (1855-1856), “A Voz do Povo” (1878-1880).
No final da década de oitenta, como vimos, aumenta muito o número dos diários. Porquê? Terá aumentado o número de leitores potenciais? A julgar pelas estatísticas demográficas, a resposta teria que ser positiva. De facto, de 106.000 habitantes em 1878, o Porto aumentou para 139.000 em 1890. Mas quantos saberiam ler? Em 1890, 64,7% da população masculina portuense com idade superior a 7 anos era alfabetizada contra 36,5% do sector feminino, o que dá uma média de 50% de indivíduos capazes de ler. Por outras palavras, metade da população em princípio e à partida não consumia jornais. Dos restantes, há que excluir as crianças que normalmente não os compram.
Resulta daqui que, mesmo entrando em linha de conta que a zona de influência de alguns se alargava muito para além das fronteiras urbanas, e que dado o seu exíguo volume (apenas quatro páginas, raramente seis) o preço não seria excessivo (normalmente 10 réis, às vezes 20).
Como explicar então tanta abundância de títulos? Como afirma Fernando de Sousa esta imprensa era fortemente politizada. Aliás, pelo menos 10 jornais ostentam o adjectivo político no seu subtítulo, dois autoproclamam-se democráticos, três surgem expressamente afectos a partidos e os títulos de “A República” e “A República Portugueza” não deixam dúvidas a ninguém. De resto, os títulos só por si forneceriam material para interessantes especulações, de que nos dispensamos por economia de tempo.
Daí a nossa ideia de que cada jornal, ao alinhar-se politicamente contaria à partida com determinada franja da população alfabetizada e com prováveis apoios publicitários e talvez até de outra ordem. E a sua vida durava obviamente enquanto durassem os apoios e a sua utilidade se fizesse sentir.
Mas nem todos eram declaradamente políticos. Muitos preferem apresentar imagem de marca de sentido mais pragmático. Os adjectivos do subtítulo falam por si: comercial (6), mercantil (1), industrial (7), agrícola (5), popular (2), noticioso (5) literário (7) e outros. A maior parte mistura e soma várias destas etiquetas.
As publicações periódicas não diárias por sua vez, dirigem-se, como regra, a públicos específicos: várias dirigem-se às damas ou à juventude, muitas contemplam grupos profissionais bem identificados tais como industriais, comerciantes, agricultores, operários de diversas artes, bombeiros, estudantes de vários graus e de diferentes estabelecimentos, militares, músicos, advogados, médicos.
Algumas definem no subtítulo os seus objectivos: distrair, criticar, caricaturar, noticiar, informar, instruir, formar cidadãos, transmitir mensagens religiosas não só do Catolicismo, mas também do Protestantismo. Os tempos eram de liberdade e de abertura.
Os títulos dedicados às ciências e à filosofia, às artes e às letras, à literatura e ao teatro são numerosos e provavelmente constituem um bom argumento contra aqueles que julgavam o Porto como cidade em que a intelectualidade se dava mal.
Os desportos, a tauromaquia, a caça, o turismo tinham também os seus apaniguados.
Mas tal como acontecia com os diários, a maior parte faz da política, directa ou indirectamente, o objectivo prioritário: pelo menos 38 títulos subentendem tal intenção. Perante este panorama, parece forçoso admitir que se os não tinha antes, o Porto ia adquirindo salutares hábitos de leitura.
Nesta selva, a vida do jornalista não seria um mar de rosas. Mas quem optasse pelo combate político teria nos jornais um canal importante e indispensável de proselitismo.
E quem pretendesse intervir socialmente ou enveredar por uma carreira literária necessitava desse auditório oferecido pelos jornais e revistas que, como vimos acima, se pluralizaram na segunda metade do século.”
Com a devida vénia a Francisco Ribeiro da Silva - História do Porto - UP




Muitas vezes, os jornais sucediam-se nas mesmas moradas, mantendo as mesmas políticas editoriais, mudando, apenas, de nome.
“O Curioso”, com redacção na Rua das Flores, nºs 132-133, um trissemanário com publicação às 2ªs, 4ªs e 6ºs Feiras, daria lugar a um outro trissemanário, denominado “Progressista”, com saída às 3ªs, 5ªs e Sábados e sito na mesma morada.
Ambos se intitulam de Periódico Político,  Litterário e Commercial.
Publicaram-se entre Outubro de 1846 e Junho de 1847, durante a vigência da guerra civil conhecida por Patuleia, que sucedeu à Revolta da Maria da Fonte.
Naquele período de tempo, o Porto teve à sua frente uma Junta Governativa, que se dizia favorável à rainha, mas que, na prática, não seguia as orientações da soberana.



Cabeçalho de “O Curioso”. Publicado de 9 a 29 de Setembro de 1846



Cabeçalho do “Progressista”


Um caso semelhante aconteceria com os jornais “A Republica” e “A Voz Publica”, na década de 1890.





Borboleta Constitucional



Em 12 de Maio de 1821, João Nogueira Gandra (1788-1858), tipógrafo e futuro bibliotecário da Biblioteca Pública, funda o jornal diário “Borboleta Constitucional”, na Rua de Santo António, nº 25, que durará até 14 de Fevereiro de 1828, embora com outras denominações.
O seu 2º número, em 14 de Maio de 1821, já era o “Borboleta dos Campos Constitucionais”, até 25 de agosto de 1821, quando passou, outra vez, a “Borboleta Constitucional”.
Na primeira metade do ano de 1823, chamou-se “Borboleta Duriense” e, até 1828, viria a chamar-se “Borboleta”(a partir 16 de Julho de 1826).



Cabeçalho da “Borboleta” de 2 de Janeiro de 1827


João Nogueira Gandra foi também um homem das letras e um poeta.



Soneto dirigido à actriz de declamação Emília das Neves e Sousa, no dia do seu benefício no Real Teatro de S. João, do Porto, em 25 de Março de 1851 



Sonetos dirigidos ao Marechal de Saldanha recitados no Teatro de S. João do Porto, em 12 de Maio de 1851




“Leal Português”, “Correio do Porto” e “Patriota Portuense”



A primeira gazeta publicada no Porto denominada Leal Portuguez, teria sido em Janeiro de 1808, sendo este o primeiro jornal portuense.
Sobre ele diz-se In “O Tripeiro”, 1º ano, nº 22 (1909):

"A primeira gazeta que se publicou no Porto foi a 6 de Janeiro de 1808, na tipografia de Alvares Ribeiro & filhos, com o título de Leal Portuguez, cuja tipografia e a propriedade arderam em 1820. Era situada em Santo Eloy [hoje Largo dos Loios]”. 

Sabe-se também que o primeiro número do jornal “Correio do Porto”, sairia em 27 de Setembro de 1820, o qual terminaria a publicação em 7 de Maio de 1834 e que, em 1820, se publicava também o “Patriota Portuense”.




Patriota Portuense


“Nas primeiras décadas do século XIX, a imprensa começava a dar os seus primeiros passos e um pouco por todo o lado iam surgindo publicações periódicas, a esmagadora maioria delas de vida efémera. No Porto, um ano após a revolta de 1820 um dos jornais existentes era o Patriota Portuense. Longe ainda do tipo de publicação que veremos surgir nos anos 40 e sobretudo 50 daquele século, nele se notam contudo já algumas notícias locais e não apenas a publicação de Decretos ou notícias de carácter nacional do Reino Unido (de Portugal, Algarve e Brasil). E nele se começavam a ver também publicadas as correspondências de leitores que aproveitavam para mostrar o seu descontentamento com aspetos e modos como eram conduzidos os assuntos da cidade”.
Cortesia de Nuno Cruz, administrador de “aportanobre.blogs.sapo.pt”




“Analista Portuense”


Este jornal teve breve vida na cidade do Porto. Existia já em 1822 e teve, a propósito da grande reforma fiscal que se pretendia fazer em todo o país (tudo na sequência da possibilidade implementada pela revolução de 1820, onde pela primeira vez, um rei - D. João VI - aceitava colocar-se em "segundo plano", dando verdadeira voz ao Povo) um papel de relevo.




Semanário “Diário do Porto”


Começado a publicar em 5 de Abril de 1809, saí ao Sábado, depois do jantar, era impresso na tipografia de António Alvarez Ribeiro e a assinatura para quem o pretendesse obter podia ser feita no armazém do referido impressor, na Rua das Flores, esquina com a Travessa do Ferraz.
Durou até 6 de Maio daquele ano, após terem visto a luz do dia, 5 exemplares.
Foi considerado um jornal pró-francês do tempo de Soult.





“Diário do Porto”, “Gazeta Oficial”, “A Justiça Portuguesa” e “O Norte”


O primeiro número do "Diário do Porto" é datado de 18 de Maio de 1828.

O "Diário do Porto" foi publicado até ao número 8, sendo continuado pela "Gazeta oficial".

Voltou a ser publicado em 1835, sendo continuado pela "Crónica Constitucional da cidade do Porto".

Com o mesmo nome, foi também publicado um periódico em 1865-66, que acabou por se fundir com o "A Justiça Portuguesa" e outro, em 1889, como “órgão da Esquerda Dinástica do Norte do Reino”.
Este acabou por alterar o seu nome para "O Norte".


Um outro “Diário do Porto”, de António Claro, sairia para as bancas em 2 de Janeiro de 1912, mas em 24 de Abril desse ano, foi impresso o seu último exemplar.
No mês anterior, em Março, o jornal tinha sido atacado por populares, bem como a residência do seu director. Nessa ocasião, o “Jornal de Notícias” teve a mesma sorte.
Aliás, desde o ano anterior que os ataques aos jornais se vinha a verificar, com destaque preferencial para os que tinham ligações à igreja.

Foi um período a que alguns já chamaram a “Guerra Religiosa da 1ª República”.




“Periódico dos Pobres”


Sobre este jornal, fundado em 15 de Janeiro de 1834, Alberto Bessa In “O Tripeiro”, 4º Série, Abril de 1931, escrevia:

"Do jornalismo portuense de outros tempos foi esta fôlha a que mais importância logrou conquistar e a que mais influência exerceu nas lutas políticas travadas no Porto. Foi o órgão do partido cartista, que no Pôrto teve um dos seus mais poderosos baluartes. O fundador e proprietário do jornal foi Joaquim Torcato Álvares Ribeiro, lente da Academia Politécnica, nas cadeiras de matemática e astronomia. O número 1 apareceu a 15 de Janeiro de 1834, e de tal modo o jornal ganhou raízes na população que só terminou em Março de 1858, mantendo-se, durante todo êsse largo período de existência, sempre com galhardia e aparente desafôgo, vendo nascer e morrer muitas outras publicações do seu género, não poucas criadas para o combater. Apresentou diversos formatos, sendo o mais vulgar de 26x40 centímetros, impresso no papel almaço (ou antes mata-borrão) em que tôdas as impressões se faziam nessa época de manifesto atraso industrial. No seu género de político e noticioso, foi também, um dos jornais mais bem feitos do seu tempo, deixando as melhores tradições no jornalismo portuense”.



Logotipo do Periódico dos Pobres no Porto



Foi seu redactor e responsável, entre outros, o bacharel João Guilherme de Almeida Pinto. O folhetinista, em sentido humorístico, de crítica desapiedada aos políticos da época, foi, desde 1838, José de Sousa Bandeira, que, com o pseudónimo de Braz Tizana ali colaborou durante muitos anos, até 1851, ano em que se desligou dos compromissos que tinha neste jornal e foi fundar periódico seu, dando-lhe como título o pseudónimo de que usava (...).
A redacção e tipografia do Periódico dos Pobres eram na própria casa do seu proprietário Álvares Ribeiro, primitivamente na Rua dos Lavadouros nº 16, e mais tarde na Rua Chã nº 67, oficina que foi uma das mais produtoras do Porto, em jornais políticos, especialmente.
Entre os diversos processos que foram movidos ao Periódico dos Pobres, em harmonia com as leis de imprensa do tempo, avultou, pelo ruído que foi feito, aquele a que o chamou o marechal Saldanha, quando se julgou injuriado por uma notícia ali publicada sobre assunto de carácter particular e que, com efeito, parece não ter tido fundamento sério.
Saldanha era muito querido no Porto, o periódico não o era menos e o processo apaixonou vivamente a opinião.




Cabeçalho d’ “O Periódico dos Pobres”, de 29 de Abril de 1851 – In “ephemerajpp.com/”



"O Periódico dos Pobres no Porto" foi um jornal cartista (defensor da carta constitucional de 1826) e acérrimo crítico do sistema vigente no governo do país, o Setembrismo (1836-1842), que defendia os ideais vintistas (revolução de 1820 e constituição de 1822) e que se alicerçou na nova constituição de 1838.
Durou o Setembrismo até à reposição da carta constitucional, em 1842, por Costa Cabral.
Entretanto, na primavera de 1846, aconteceria a Revolução da Maria da Fonte.
Em 20 de Abril de 1846, António Bernardo Costa Cabral faz aprovar um decreto que retira quaisquer garantias constitucionais e instaurar Conselhos de Guerra nos distritos revoltosos.
Como ministro da Justiça e dos negócios eclesiásticos é enviado para o Porto, José Bernardo da Silva Cabral, irmão daquele governante.
Mal desembarcado na Ribeira, José Bernardo requisitou o Periódico dos Pobres, baptizando-o de Boletim Oficial do Porto.
Ao mesmo tempo, desenvolveria uma frenética actividade, demitindo e prendendo adversários políticos, nomeando correligionários e ameaçando quem se opusesse às suas deliberações.
O primeiro número do Boletim Oficial do Porto sai em 25 de Abril de 1846, sendo o último de 25 de Maio de 1846, ressurgindo, então, novamente, nesta data, o Periódico dos Pobres no Porto.





“A Coalisão”


Alberto Bessa na divulgação de alguns periódicos editados no Porto no século XIX, In O Tripeiro, 3ª série, 1º ano, p. 210, dizia sobre “A Coalisão”:


“Assim se denominou um periodico diario, politico e noticioso, cujo primeiro numero sahiu, no Porto, a 2 de Janeiro de 1843, sahindo o ultimo a 23 de Abril de 1846. Era um jornal de quatro páginas, a trez columnas de composição, inserindo os anuncios no logar do artigo editorial e collocando este a seguir aos anuncios dos navios a sahir. Era impresso na Typographia de Faria Guimarães, rua de Santa Catarina, 427. Seguia a politica historica (patoleia), que mais tarde se fusionou com os reformistas, fusão de que sahiu o partido progressista.”



“O Ecco Popular”
 
 
Em Abril de 1847, de acordo com artigo que segue de um dos seus primeiros colaboradores, João Augusto Novais Vieira, é fundado no Porto este periódico, que irá ser uma das bandeiras do movimento setembrista.
João Augusto Novais Vieira foi também jornalista do jornal A PÁTRIA e ficaria conhecido pelo “Novais da Pátria”, por “Novais dos Reportórios” e por “Novais dos Óculos”.
Esta personagem acabaria por se cruzar com Camilo Castelo Branco e levado do escritor umas bengaladas, cena que acabaria por ser julgada em tribunal, em 1851.









Este periódico, grande apoiante do movimento setembrista e da Junta Directiva do Porto (orquestrada por Passos José) e adversário acérrimo do cabralismo, tinha a sua tipografia localizada na Rua do Bonjardim, nº 650, de acordo com o indicado na capa da obra de poemas (1848) intitulada “A Murraça” de Camilo Castelo Branco. Aliás, o escritor colaborou no periódico nos anos de 1848 e 1849.
Seria também em “O Ecco Popular” que o escritor daria conta num folhetim, dois dias depois do seu primeiro encontro com Ana Plácido, ocorrido no dia 13 de Fevereiro de 1849, Terça feira Gorda de Carnaval, no baile em casa de D. Efigénia Braga.
Na prosa, Camilo não nomeava Ana, mas destacava-a, a ela, do grupo das três irmãs Plácido, segundo ele, as mais lindas mulheres que alguma vez vira.

 
 
 
Capa da obra de poemas "A Murraça"







Como subtítulo o jornal o “O Ecco Popular” dizia ser uma “Revista Commercial, Científica e Literária” e fora uma miríade de colaboradores assinando por pseudónimos figuravam personagens como Marcelino Matos, José Lourenço de Sousa e Pedro Lopes de Mendonça.
Ficaria para a posteridade as posições editoriais do jornal que, para além de defensor dos valores progressistas, e de combate ao Cabralismo, se envolveu na querela surgida em 1857/58 sobre os cemitérios públicos, nomeadamente em torno do concelho de Bouças (Matosinhos).
Até ao seu fecho, em Julho de 1860, no início do 4º governo da Regeneração, o jornal “O Ecco Popular” chegou a ser propriedade de José da Silva Passos (Passos José), quando a sua participação na vida política se resumia à publicação de artigos naquele periódico.

 
 
 

Ficha Hemerográfica de “O Ecco Popular”, em 1860

 
 
José Lourenço de Sousa que, em 1859, tomou posse como capataz da Alfândega do Porto era, à data, proprietário de “O Ecco Popular”.








“O Jornal do Povo”


A propósito do “Jornal do Povo” no “O Tripeiro” escrevia-se:

"Apareceu, no Porto, a 29 de Dezembro de 1848, um jornal intitulado e com o sub-titulo, devéras original, de:
"Redigido gratuitamente por uma sociedade de cartistas".
Sahia ás terças e sextas-feiras, dando aos sabados uma edição das provincias, bem como suplementos sempre que havia noticias interessantes a transmitir aos leitores. Publicou-se até 29 de Julho de 1854, sendo seguido pelo Lidador (...).
Era um periodico de regulares dimensões, em quatro paginas, a três columnas largas de composição, em corpo 10.
O frontespicio era illustrado com uma gravura representando o Porto a apontar ao Douro o sól que vinha raiando por detrás das serranias, vendo-se na parte luminosa do fundo as palavras "Rainha e Carta". Os raios solares atravessavam os diversos signos do Zodiaco e iam perder-se nas nuvens que formavam como que a moldura da allegoria. No sólo via-se estendido o mapa de Portugal, e por traz da figura do porto havia uma oliveira. esta allegoria, embora não fosse de uma correção por ahi além, era menos mal trabalhada.
Não designava local de redacção, designando porém que se vendiam exemplares "na loja do Moraes, ás Hortas" e que a typographia era a da Revista, na rua de Santa Thereza, 3.
N'este jornal colaborou Camilo Castello Branco, que lá publicou alguns folhetins com o pseudonymo de Anastacio das Lombrigas. Um dos seus redactores foi José Athanasio Mendes, professor de latim e de francez, que Camillo affirmou ter sido "a personificação do sarcasmo" e "usar uns oculos que ao fitarem a gente queimavam como o espelho de Archimedes" (Procissão dos Mortos).
Foi n'este periodico que Camillo iniciou a sua contundente critica ao poema “As comendas”, de Antonio Ayres de Gouveia, critica que interrompeu na altura do terceiro canto d'esse poema, hoje rarissimo."




“O Braz Tisana”



Sobre este jornal portuense fundado por José de Sousa Bandeira (1789-1861), depois de em 1851 ter abandonado a colaboração que prestava no “O Periódico dos Pobres”, diz “O Tripeiro”, 1º ano, nº 22 (1909):



“Pelo tempo da Regeneração do marechal Saldanha, José de Sousa Bandeira desligou-se da política deste periódico, e estabeleceu um outro seu, denominado: O Braz Tisana, cuja propriedade depois de 1861 passou para a viúva do falecido Bandeira.
O chistoso e interessante colaborador José de Sousa Bandeira (falecido em 1861), escreveu por muitos anos as cartas do Braz Tisana no Periodico dos Pobres, título que tomara aquela antiga propriedade jornalística e conservara até final, sendo ultimamente seu proprietário Joaquim Torquato Alvares Ribeiro, falecido em Setembro de 1868.”



Cabeçalho do Braz Tisana, em 6/10/1856



Falecido, José de Sousa Bandeira em 26 de Dezembro de 1861, o elogio fúnebre é feito no dia seguinte no jornal “O Comércio do Porto”, dizem, que, talvez, pela pena de Camilo Castelo Branco.
 
 
“FALECIMENTO – Ontem às 4 ½ da tarde faleceu, depois de longa enfermidade, o nosso amigo e colega o sr. José de Sousa Bandeira, proprietário e redator do jornal o “Braz Tisana”, e escrivão, do Tribunal da Relação desta cidade. Era o mais antigo escrivão, e o decano da imprensa portuguesa.
José de Sousa Bandeira esteve sempre, como jornalista, ao serviço da Liberdade, pela qual padeceu grandes e aturados sofrimentos. Contava 73 anos, e era dos poucos a quem os anos não amorteceram o vigor das crenças políticas, da idade em que são guiadas pelas aspirações nobre e generosas.
Atravessando épocas de grandes oscilações partidárias, em que as paixões desvairadas criavam crises de intolerância, o veterano jornalista, remoçado pelos brios e crenças, que nunca desmentira, acudia sempre ao posto de honra em defesa dos foros e imunidades da imprensa livre.
E soube assim conquistar, nas armas do jornalismo português, fama e reputação cujo bom direito se lhe não poderia contestar.
José de Sousa Bandeira foi o criador do folhetim político, e do noticiário jornalístico neste país.
Deve-lhe muitos e bons serviços a imprensa portuguesa, que lhe paga um tributo de merecida gratidão, na homenagem que hoje presta à sua memória.
Ainda há pouco, quando os jornalistas portuenses se constituíram em comissão para comemorar o aniversário da restauração nacional de 1640, deram ao veterano redator do “Braz Tisana”, uma prova da veneração e respeito que lhe votavam, conferindo-lhe a presidência, que de direito lhe cabia.
A comissão permaneceu constituída, e assim os jornalistas do Porto não só dão hoje um testemunho de saudade às cinzas do seu decano colega, mas prestam a derradeira homenagem de respeito ao seu presidente.”





"O Portuense"


Periódico diário, progressista, do qual Camilo foi um colaborador assíduo, teve como proprietários Ricardo Guimarães até ao nº 76, de 31 de Janeiro de 1854 e, depois, Custódio José Vieira desde o nº 77 de 1 de Fevereiro desse ano, até 6 de Outubro de 1855, data em que cessou a publicação. Foi, sempre, o eco dos inúmeros actos governamentais.


Fac-simile do cabeçalho do 1º número do jornal "O Portuense"





“A Grinalda”


A Grinalda, jornal portuense de poesia romântica, publicou-se entre 1855 e 1859 e tinha a sua sede na Rua das Flores nº 171. Para se ajuizar da sua importância nele colaboraram - entre outros e outras - Camilo Castelo Branco, Soares dos Passos, F. Xavier de Novaes, Júlio Diniz, Augusto Luso, Ramalho Ortigão, Alexandre Braga, Coelho Lousada e Gomes de Amorim.
Também é referido em Os Maias, de Eça de Queirós, no fim do Capítulo I:
"Affonso da Maia sentára-se n'esse instante á mesa do almoço, posta ao pé do fogão: ao centro, um ramo esfolhava-se n'um vaso do Japão, á chamma forte da lenha: e junto ao talher de Pedro estava o numero da Grinalda, jornal de versos que elle costumava receber.”



A Grinalda



A Grinalda era propriedade de Nogueira de Lima, que na Rua das Flores tinha também uma ourivesaria. Dele se dizia ser poeta entre os ourives e ourives entre os poetas.




"A Esperança" e o "Ensino"



“A Esperança” foi um semanário de recreio literário, dedicado a um público feminino, impresso em fascículos, no Porto, em 1865 e 1866.
Editado por A. Pereira da Silva e Ricardo Dias Cesar Rei. Este jornal publicou-se em fascículos semanais destinados a serem encadernados em volumes anuais.
Começou por ser impresso na tipografia de Rodrigo José d’Oliveira Guimarães, no Largo de S. Domingos, 30. Depois, ainda em 1865 e até ao seu ocaso, vai sair da nova tipografia de José Pereira da Silva & F.º, situada na “Praça de Santa Theresa, 63”; e António Pereira da Silva passa a “seu proprietário”, pois, segundo Ricardo Dias Cesar Rei informou, teve que se ausentar da cidade, em face de novos negócios.
No semanário, para além de moda e beleza, eram também focados temas como a religião, literatura, história, cultura e ciência, entre outros. Como se lia no editorial, tratava-se de um jornal para todos "para o artista, para o homem de letras e para a senhora inteligente e instruída". No que concerne à colaboração desta publicação, muitos são os nomes femininos a assinar, entre os quais Maria Peregrina de Sousa, Maria Adelaide Fernandes Prata, Efigénia do Carvalhal Sousa Telles, Henriqueta Elisa (Pereira de Sousa), Branca de Carvalho, e Adelaide Safira de Sampaio e Silva, aos que se juntam: Ernesto Biester, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão, Augusto Luso, Teófilo Braga, António Pinheiro Caldas, Guilherme Braga, Alexandre da Conceição, Alberto Pimentel, Pedro Augusto de Lima, Antero de Quental, João de Deus e Henrique Marinho.

 
 
 

Capa do Volume I que reuniu os fascículos do 1º ano de publicação de “ A Esperança”


 
 
Condições de assinatura de “A Esperança”


 
 

Poema intitulado “A Uns Annos”, da autoria de Ana Plácido, em 13 de Abril de 1862, publicado em “A Esperança”



“A sua periodicidade semanal é interrompida pelo menos uma vez. Como fica documentado no fascículo n.º 25 de 1866 que abre com “Aos Nossos Leitores”, onde António Pereira da Silva declara que, por doença, interrompeu o jornal e passou a empresa aos seus coadjuvadores, A.P. do Amaral e G.G. (Gomes) Coelho, para eles “poderem publicar como editores” (Segundo ano – 1866; p. 193). No mesmo fascículo, anuncia-se, no “Expediente”, a nova morada da “redacção e administração – Massarellos – rua da Fonte n.º 9” (Volume II, 1866; p. 200)”.
Fonte: BLX – Hemeroteca Digital de Lisboa
 
 
Entre muitos factos relevantes relatados, a revista destacou o grande evento que foi a visita oficial do rei D. Luís, com a família real, à Exposição Internacional do Porto na sua abertura e inauguração do “Palácio de Cristal”, a 18 de Setembro de 1865.


O “Ensino” foi um periódico especializado em assuntos de educação que se publicou na cidade do Porto em finais do século XIX.



“O Bardo”

A revista de poesia “O Bardo”, que se publicou entre 1852 e 1854, foi da responsabilidade de António Pinheiro Caldas, mercador de panos e algibebe da Rua das Flores.




“O Nacional”

Foi uma gazeta que saiu entre 1846 e 1870 e brilhou pela colaboração literária que teve, na qual, os textos, eram dirigidos ao quotidiano da cidade.
Era impresso na tipografia de Faria Guimarães, na Rua do Bonjardim, nº 46.
N’ “O Nacional” começou a publicar Camilo quando ainda vivia com Patrícia Emília do Carmo de Barros, c. 1847, e estava a começar a sua vida literária e, em anos seguintes, continuou a prestar a sua colaboração.
Aí também colaborou Evaristo Basto, a quem Camilo chamou o implantador no Porto do folhetim Revista Semanal e Ricardo Guimarães, depois visconde de Benalcanfor e, ainda, Agostinho Albano que reuniria num volume, Antes de soprar à luz (1871), muitos dos seus folhetins em prosa e verso que foram publicados n’ “O Nacional”. Esta publicação era, na prática, a continuação d' "A Coalisão".



Gazeta Literária do Porto

“Gazeta Literária do Porto também conhecida por “Gazeta de Camilo Castelo Branco”, publicou-se semanalmente no Porto em 1868, com início em Janeiro, e contou com a presença de Camilo como redactor principal assinando a grande maioria dos textos publicados. Este facto originou um litígio entre o escritor e o editor da “Gazeta”, Anselmo Evaristo de Morais Sarmento, reclamando, o primeiro, o pagamento do seu trabalho, reclamando, o segundo, a propriedade dos textos, de tal forma que acabou por conduzir ao encerramento da publicação. Quanto aos conteúdos, estes alternavam entre os folhetins, romances, crónicas, críticas etc., assinados por personalidades relevantes da literatura portuguesa, entre os quais: Ana Plácido (que assinava sob o pseudónimo de Gastão Vidal de Negreiros), Tomás Ribeiro, Delfim de Almeida, Bulhão Pato, Ramalho Ortigão, Ernestina da Luz, Frederico Laranjo, José Maria d’Andrade Ferreira, Pinheiro Chagas, António Feliciano de Castilho, Júlio de Castilho e António Azevedo Castelo Branco (sobrinho de Camilo Castelo Branco).”
Fonte: “pt.wikipedia.org”


Contra-capa da Gazeta Literária do Porto




“O Clamor Público”

Foi este um daqueles jornais efémeros e, sobre ele, escrevia Alberto Bessa, In O Tripeiro, 3ª série, 1º ano, p. 210:

Era um "diário politico, litterario e commercial", cujo primeiro numero apareceu, no Porto, a 15 de Setembro de 1856, prosseguindo na publicação até 30 de Setembro do anno immediato. Era de formato regular, e rasoavelmente redigido, sendo seu redactor principal, editor, responsavel e proprietário, A. B. S. Faria J. das Regras. A redação era na rua de S. João, 59 e a impressão fazia-se na Typographia de Rodrigo  J. de Oliveira Guimarães, ao tempo sita na mesma rua, 85. N'este periodico colaboraram, entre outros, Amorim Vianna, Alexandre Braga, Camilo Castello Branco, Augusto Soromenho, Coelho Louzada, Evaristo Basto, etc. A coleção do Clamor Publico constitue um grosso volume sobremodo interessante.”



“Jornal do Porto”


Desde 1 de Março de 1859 até 27 de Outubro de 1892, esteve este jornal nas bancas.
Abriu com escritórios na Rua Ferreira Borges nº 31, sendo nesta morada que na sua tipografia, em 1870, foi impressa a 2ª edição da obra de Júlio Dinis, “Uma Família Inglesa”.
Em 1890, a redacção e administração estavam na Rua de Sá da Bandeira, nº 195 a 199.
Em 1892, tinha a redacção sedeada na Rua dos Caldeireiros nº 26- 2º andar.
Neste jornal foi redactor Ramalho Ortigão e nele colaborou Alberto Pimentel.
Era seu proprietário Jozé Barboza Leão e, nos primeiros anos, de parceria com A. R. da Cruz Coutinho, e com impressão na “Typographia Commercial” na Rua de Belomonte, nº 19.
Na última fase da sua existência, "O Jornal do Porto" pertenceu a António Pádua Meneses Russel, um dos fundadores do "Jornal de Notícias". António Russel era um político regenerador e fez com que "O Jornal do Porto" passasse a defender os interesses do Partido Regenerador. As dificuldades financeiras acabaram por ditar o encerramento do jornal em 1892. Pertenceram à redação do jornal: Alberto Pimentel, Eduardo Sequeira, João Barreira, Joaquim de Almeida Didier, Joaquim de Araújo, Paulo Severo, Sousa Viterbo, Xavier Pinheiro.
Desde do 2º dia do ano de 1892 até ao seu fecho, passou a vespertino com duas tiragens: a primeira para a Província e a segunda para a cidade.




Cabeçalho do "Jornal do Porto"




Jornal “A Palavra”



Este era um jornal propagandístico voltado para os interesses da Igreja Católica e um dos que teve a maior penetração no norte do País, durante quarenta anos.
Fundado, em 1872, por José Frutuoso da Fonseca foi por si dirigido até 1896, quando passou o testemunho a Vicente Fructuoso da Fonseca.
O primeiro número saiu em 1 de Agosto de 1872.
Vários jornalistas católicos conceituados passaram pela sua redacção: Sena Freitas, António Moreira Belo, Conde de Samodães, D. António de Almeida, Manoel Frutuoso da Fonseca,
A redacção do jornal peregrinou por várias moradas: Rua da Picaria, nº 72; Rua do Almada, nº 335; Largo da Sé; e, finalmente Rua da Porta do Sol, no antigo prédio da Sociedade Nova Euterpe e do Salão Alexandre Herculano.
Curiosamente, nesta última morada, anos antes, em 1882, lá se tinha realizado um comício contra o jornal, no chamado Salão da Porta do Sol.
A causa seria um artigo do padre Mesquita Pimentel, inserida neste periódico, à data, com sede na Rua do Almada, que visava as comemorações do centenário da morte do Marquês do Pombal.
De facto, diria o padre Mesquita, no tal artigo jornalístico, que no cortejo realizado no âmbito das comemorações, não devia ter participado alguma pessoa de bem.
Intervieram, na sessão realizada no Salão da Porta do Sol, presidida por Queirós Veloso, entre outros oradores, o industrial Anselmo Ferreira Duarte, o jornalista Gaspar Borges de Avelar e Guilherme Gomes Fernandes.
Foi, então, enviada uma delegação à sede do jornal para exigir uma retratação. As coisas nunca mais serenaram.






Na zona da Sé, a redacção do Jornal diário “A Palavra”, em Janeiro de 1899, durante o cortejo fúnebre do Cardeal D. Américo – Fonte: Revista Brasil-Portugal





Sobre a imagem acima, importa referir que Américo Ferreira dos Santos Silva (1830-1899), conhecido como cardeal D. Américo, governou a diocese do Porto entre 1871 e 1899, tendo sido um grande apoiante de um associativismo católico, emergente e crescente, em finais do século XIX.
Era um de seis filhos do casamento celebrado, em 1826, de João Ferreira dos Santos Silva e de Carolina Augusta de La Roque (Silva, pelo casamento).
João Ferreira dos Santos Silva (Porto, 5 de Novembro de 1799 - ?, 5 de Dezembro de 1858) foi um nobre português, filho de outro João Ferreira dos Santos Silva (natural da freguesia de Lordelo do Ouro) e de D. Maria Tomásia Narcisa Ferreira que, a 23 de Janeiro de 1830, moravam na freguesia da Sé da cidade do Porto.
Recebeu o título de Barão de Santos da rainha D. Maria II.
Também pertenceu ao Conselho de Sua Majestade Fidelíssima e foi Cônsul na Bélgica, além de vice-presidente da Associação Comercial do Porto.
Em 18 de Maio de 1872, D. Américo é elevado a Cardeal, com o título dos quatro Santos Coroados, que pertencera ao Cardeal D. Henrique.
D. Luís I propôs o bispo portuense, usando a prerrogativa concedida à coroa portuguesa de ter dois cardeais: o Patriarca de Lisboa, de escolha pontifícia, e o nacional, a indicar pelo soberano português.
Os tempos do bispado de D. Américo eram de afirmação da encíclica Rerum Novarum escrita pelo Papa Leão XIII, em 15 de Maio de 1891, que falava das vivências dos operários.
A redacção do jornal “A Palavra” ficava defronte da porta principal da entrada da Catedral, encostada à Capela de Nossa Senhora de Agosto, tendo o periódico sido editado, entre 1872 e 1911.
Manuel Frutuoso da Fonseca (1862-1908), filho do fundador do jornal seria, entre outros, aquele a quem este jornal ficou a dever o seu êxito, como o seu principal redactor, sendo que, a ele é também atribuída a afirmação dos movimentos católicos, em finais do século XIX, no seu caso, a “Associação Católica do Porto”.
Neste âmbito, fundou e foi presidente da “Juventude Católica do Porto”, em 1895, esteve na fundação e direcção, em 1898, do primeiro “Círculo Católico de Operários”, que tinha como bandeira o jornal “O Grito do Povo”, publicado entre 1899 e 1906.
Presidiu ao 1º Congresso das Agremiações Populares Católicas, que se realizou em 1906, em Lisboa.
Sobressaía na cidade do Porto, influenciando estes movimentos, Francisco de Azeredo Teixeira de Aguilar (1828-1918), 2º conde de Samodães, um político liberal monárquico constitucional e, sobretudo, um católico convicto e figura destacada do Partido Nacionalista
Após o falecimento de Manoel Frutuoso da Fonseca, foi o seu amigo Manuel Abúndio da Silva que tomaria o seu lugar.
Nos últimos momentos da sua existência, “A Palavra” pertencia ao proprietário e industrial Gonçalves Cortês e usava na sua composição a melhor tecnologia existente, à data.
“A Palavra” não escaparia às perseguições que os republicanos, após a implantação da República, fizeram a tudo que estivesse na órbita de conceitos monárquicos e encerrou.
Em 15 de Fevereiro de 1911, foi assaltado pelo povo em desvario e terminou a publicação.



No edifício de r/c e 1º andar esteve o jornal "A Palavra" - Foto de c. 1940




“Jornal da Manhã”
 
 
Este periódico seria fundado por Eduardo Mota Ribeiro, em 1872.
Começou por ser afecto ao movimento Regenerador, mas, que, acabaria por balançar para o lado dos Progressistas.
Foi o primeiro periódico a publicar uma página literária.
Pela sua redacção passaram nomes como Aníbal de Morais, António Cruz Alexandre Braga Filho, Eduardo de Barros Lobo, Firmino Pereira, Gualdino de Campos e Sousa Moreira.


 

“O Commercio Portuguez”
 
 
Começou por ser impresso, em 1876, na tipografia “Lusitânia” instalada, desde dois anos antes, na Rua de Belomonte, por onde esteve, também, a Companhia de Caminhos de Ferro Através de África. Nesta morada passou a funcionar a redacção e a administração do periódico, sob a chefia de Gualdino de Campos.
Aquela tipografia tinha vindo da Rua das Flores, em frente à Rua do Ferraz, e pertencia a Apolino da Costa Reis e António Monteiro Nunes de Carvalho, que fundaram o periódico sob a firma Reis & Monteiro.
Mais tarde, o jornal mudaria para a Rua D. Fernando, para o rés-do-chão das escolas da Ordem de S. Francisco.
Começando como tri-semanário passou a diário.
Esteve nas bancas entre 1876 e 1890.
Neste jornal teve colaboração assídua o jornalista Firmino Pereira e outros colaboradores dos quais se destacam Borges Avelar e João César Pinto Guimarães.
Em 1890, passou a ter o título de "Onze de Janeiro" e, em 1891, fundiu-se no jornal "República" tendo passado, depois, a "Voz Pública".




“O Jornal do Paiz”
 
 
Este jornal, com sede na Rua de Cedofeita, nº 18, 1º, começou a publicar-se, em 13 de Setembro de 1884, com António Manuel Fernandes como editor principal, que viria a ser substituído no cargo, em 24 de Julho de 1885, por Francisco Maria das Neves.
 
 
 

Cabeçalho de “O Jornal do Paiz” sendo, à data, seu director, Manoel Francisco de Castro

 
 

 






"A Republica"







Acima, o cabeçalho do primeiro exemplar do jornal “A Republica”, em 19 de Abril de 1890, dando à estampa a respectiva política editorial.
A redacção e a administração do jornal começaram por funcionar na Praça D. Pedro, nº 127 – 1º, hoje corresponderá à Praça da Liberdade, no local onde está o “Mcdonalds”.
A publicação foi suspensa pelas autoridades em virtude da revolta malograda, do 31 de Janeiro de 1891, para derrubar a monarquia.
Em 1 de Abril seguinte, estava novamente nas bancas, mas por poucos dias.
A redacção e a administração passariam ainda pela Rua de Sá da Bandeira, 232 e acabariam na Travessa de Passos Manuel, nº 16-20, em instalações que seriam ocupadas pelo jornal “A Voz Publica”, em início de actividade.


Edital saído no último número de "A República", em 8 de Maio de 1891





“A Voz Publica”







Acima, o cabeçalho do jornal “A Voz Publica”, com redacção e administração na Travessa de Passos Manuel, nº 16-20, com Número Telefónico, 57, começado a publicar em 9 de Maio de 1891, no dia seguinte à saída do último exemplar de “A República”, cujas instalações ocupou.
Haveria, mais tarde, de mudar-se para a Rua de Santo António.





"A Voz Publica", c. 1900, na Rua de Santo António, nº 184-A, com nº telefónico, 57



Era um diário que se publicou de 1891 a 1909.





“Livres”


Capa do “Livres”


Na gravura anterior se mostra a primeira página do periódico "Livres", publicado no Porto durante a ditadura franquista, sob a direcção de Orlando César, com a caricatura de Afonso Costa e João Franco na primeira página, em 1907. 



Pão Nosso…

 
Era um semanário republicano portuense, não noticioso, publicado por António de Pádua Correia, às quartas-feiras, entre 19 de Abril e 28 de Setembro de 1910, ao longo de 23 números.
Propriedade e edição da Empresa do “Pão Nosso…”, sediada na Rua de Santo Ildefonso, 260, 1º., cada exemplar deste periódico, composto e impresso na Tipografia Mendonça (Rua da Picaria, n.º 30, custava 20 réis, apresentava-se num formato de 16 páginas, preenchidas em coluna simples e numeradas em contínuo, introduzidas por sumário de matérias logo após o cabeçalho e guarnecidas por capa de brochura vermelha com ilustração.
 
 
 
Capa e contra-capa semanário “Pão Nosso…”
 
 
 
 
A assinatura anual do “Pão Nosso…”, paga em adiantado, era de 1$040 réis. Eram agentes no Porto, A. Dias Pereira & C.ª (Rua da Cancela Velha, n.º 57); em Lisboa, Alfredo Canedo Bastos (Rua Marquês Ponte do Lima, 34, 1º) e Tabacaria Mónaco (Rossio); em Coimbra, Manuel B. Ferreira.
Publicação inteiramente da responsabilidade de António de Pádua Correia (1873-1913), foi a síntese e o culminar da obra propagandística do seu autor, destacado homem de imprensa do Porto.
Nascido em Sernancelhe, Pádua Correia veio a destacar-se no movimento estudantil ligado ao Instituto Industrial e Comercial do Porto, nele fundando o Movimento Académico Operário, o qual tentou a constituição da primeira Universidade Livre na cidade do Porto.
Destacado republicano, foi redactor político do semanário radical “A Defesa” (Vila Nova de Gaia, 1908-1912) e redactor e, depois, director do jornal portuense “A Voz Pública” (1903-1910).
 
 
“Em suma, o Pão Nosso… constituiu-se como veículo local de propaganda republicana na fase de assalto ao poder, tentando compensar pela sua ação as insuficiências estruturais e organizativas que o próprio autor reconhecia nas fileiras republicanas do Porto, por comparação com as de Lisboa. Não admira que, implantada a República, a publicação se tenha extinguido, cumprido que estava o seu propósito”.
Cortesia de Pedro Teixeira Mesquita



Jornal republicano “A Montanha”
 

Este jornal portuense, anti-clerical, iniciou a sua publicação em 1911, sendo dirigido até 2026, por A. F. Seixas Júnior. Encerraria em 1936.
O jornal teve a colaboração, entre outros, de Jaime Cortesão, do jornalista Corregedor da Fonseca e de José Lopes Oliveira (1881-1971).
Foi também dirigido por Júlio Augusto Ribeiro da Silva, natural da Guarda que, além de ter sido Inspector do Ministério da Fazenda e militante no Partido Republicano Português, foi Senador e Deputado pela sua terra natal.
“A Montanha” ficaria para a posteridade, pela defesa que fez, em 1917, de António Macieira, para a sua reeleição para a presidência da Câmara dos Deputados quando, Afonso Costa como chefe do governo (entre 25 de Abril e 10 de Dezembro) e exercendo, cumulativamente, a pasta das Finanças, movia as suas influências para que fosse eleito Victor Hugo de Azevedo Coutinho.
A contestação a Afonso Costa começada em Maio de 1917 acabaria, no entanto, com a sua reeleição a 3 de Julho para presidente do Partido Democrático, em vitória obtida frente a José Maria Mendes Ribeiro Norton de Matos.
Em Julho de 1918, as instalações do jornal “A Montanha” são assaltadas e vandalizadas. Diz-se que a acção foi obra dos ultra-sidonistas (Sidónio Pais).
O assunto é levado, em 25 de Julho de 1918, a sessão da Câmara dos Deputados, por um dos seus membros, António Ferreira Cabral Pais do Amaral, deputado com simpatias monárquicas.

 
 
“Eu, Sr. Presidente, velho obreiro da imprensa, não podia hoje ficar calado ante os factos ignóbeis que se passaram, na madrugada de ontem, na cidade do Pôrto.
Foi assaltado um jornal. Não quero saber a que partido pertence. É um jornal.
Ter-mo há agredido? Que me importa?! É um jornal que foi assaltado por um grupo numeroso de demagogos, que lhe destruíram a mobília e atacaram a tiro alguns dos seus trabalhadores. E, como se isto não bastasse, foi lançado incêndio ao prédio, sem atenção pelos perigos que poderiam advir dum acto de tal natureza.
Nestas circunstâncias, Sr. Presidente, eu venho reclamar providências enérgicas, decididas e formais ao Govêrno.
Ou o Govêrno, representante do que se chama agora a República, nova, está no seu pôsto para manter a ordem, e, nessa conformidade, tem ao seu lado todos os homens de ordem, no número dos quais estão os Deputados monárquicos, ou não está com êsses intuitos e, então, o melhor é abandonar o Poder para que venha outro que cumpra com o seu dever.
Sr. Presidente: não julgue o Govêrno que manter a ordem é apenas evitar que nas ruas se dêem tumultos.
Vem de mais alto aquilo que se chama ordem pública.
Emquanto essa ordem não reinar nos espíritos, emquanto ela não vier de mais altas regiões, não queira o Govêrno ter a pretensão de que a poderá manter nas ruas.
Sr. Presidente: seriam mais largas as minhas considerações sse antes de mim outros colegas não tivessem tratado do assunto com muito maior brilho. Por agora quero apenas que fique bem nítido o meu protesto, não só contra o assalto à Montanha, mas tambêm contra a violência de que foi vítima o jornal o Norte, que, segundo li num periódico desta manhã, tem guardadas pela polícia a redacção e a administração, para evitar assaltos que a princípio se desenharam.
Reclamo, portanto, ao Govêrno enérgicas providências, não só no sentido de evitar que se repitam factos desta natureza, mas para castigar formalmente aqueles bandidos, que outro nome não têm os que assaltaram um jornal onde trabalham e ganham o pão de cada dia algumas criaturas que tem o direito de ser respeitadas.
Lavrado o meu protesto, julgo ter cumprido o meu dever, esperando que o Govêrno cumpra da mesma forma o seu”.
 
 
E a indignação estendeu-se a outros periódicos.





Extrato de artigo publicado no jornal “ A Manhã”, em 26 de Julho de 1918


 
 

Cabeçalho de notícia do jornal “A Situação” de 27 de Julho de 1918





Capa da 1ª publicação do Jornal “A Montanha”, em 1 de Março de 1911

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