“O Comércio do
Porto”
"O Comércio do Porto" foi um jornal fundado em 2 de Junho
de 1854 por Henrique Carlos Miranda e Manuel Sousa Carqueja, com a
designação, "O Commercio".
Os escritórios da Redacção, de 1854 a 1857, ficavam na Rua de S.
Francisco nº 12-13, com uma passagem muito breve no arranque, na Rua de
Belomonte. De 1857 a 1929 o jornal passou para a Rua da Ferraria de Baixo
(actual Rua Comércio do Porto), e entre 1929 e 1991 ocupou instalações na
Avenida dos Aliados e, finalmente até 2005, um prédio na Rua Fernandes Tomás na
esquina com a Rua Dr. Alves da Veiga.
Tendo começado como tri-semanário em 1854, em Janeiro de 1855 passou a
diário e, no ano seguinte, adoptou a designação "O Commercio do
Porto" que manteve até ao fim, com a devida actualização ortográfica ocorrida
em 1911.
A sua última edição foi impressa em 30 de Julho de 2005.
Quando se deixou de publicar, era o segundo mais antigo jornal
português, a seguir ao "Açoriano Oriental" que continua nas bancas.
Gabinete da direcção do “Commercio do Porto” em 1896
Sobre “ O Comércio do Porto” Alberto Bessa, In O Tripeiro, 3ª série, 1º
ano, escreve:
“Mantendo hoje o
decanáto da imprensa do Porto [1926] é, incontestavelmente, em formato, em
methodo e norma de vida, e em importancia, o primeiro diario da cidade invicta,
que n'elle tem o mais denodado e audaz palatino dos seus interesses, seja qual
for a acepção em que a palavra interesse possa ser tomada dentro dos limites do
confessavel. Apenas com o titulo O Commercio, apareceu o seu primeiro
numero em 4 de Junho de 1854, n'um formato pequeno, de 46X33 centimetros, como
que a mêdo de tentar a vida, que no futuro havia de desabrochar em continuos
triumphos e em completo successo. Foram seus fundadores Manuel de Sousa Carqueja, dr.
Henrique Carlos de Miranda e Xavier Pacheco, e destinava-se a sahir á
luz apenas trêz vezes por semana - ás segundas, quartas e sextas-feiras,
com informações que interessassem á Praça do Porto, então, como hoje, o centro
commercial das provincias do norte do paiz.
Atravessou varias
crises, que puzeram, por vezes, em perigo a sua existencia, mas teve sempre a
amparal-o a energica actividade e a confiada previsão do seu fundador Manuel de
Sousa Carqueja, que nunca abandonou aquele fillho, certo de que elle havia
de vir a honrar-lhe a memoria. Manuel Carqueja e Henrique de Miranda foram os
unicos de todos os accionistas da empreza primitiva, que não se deixaram levar
do desanimo que a todos os restantes avassalára e os fizera retirar.
O seu primitivo
titulo era apenas O Commercio, como já dissemos, mas logo a 2 de Janeiro
de 1856 passou a adoptar o titulo que ainda hoje mantém [1926], augmentando de
formato, como que para demonstrar aos que o supunham moribundo, que se sentia
com forças e com vontade de avançar pela vida fóra. E tanto progrediu e tanto
avançou, que ahi o vemos hoje, com os seus setenta e dois annos de existencia,
com a sizudes e a severidade que um tal numero de annos justifica, mas
modernisado, com a vivacidade e a compostura de um rapaz bem educado, filho de
boa familia, que o era, com effeito, a que lhe deu o ser. O Commercio do
Porto, mantendo a dignidade da profissão jornalistica, pela escrupulosa
correção dos seus processos de trabalho, é hoje, sob a intelligentissima direcção
do snr. dr. Bento Carqueja, uma verdadeira potencia, não honrando apenas a
cidade do Porto, mas simultaneamente toda a imprensa do Portugal. Têem sido
seus collaboradores, entre muitos outros, Camilo Castello Branco, visconde de
Benalcanfor, José Joaquim Rodrigues de Freitas, Arnaldo Gama, I. de Vilhena
Barbosa, José da Silva Mendes Leal, Manuel Pinheiro Chagas, Antonio de Serpa,
José Luciano de Castro, Rangel de Lima, etc.”
António Joaquim Xavier Pacheco foi redactor de “O Comércio do Porto” desde a sua fundação até ao seu
falecimento, em 13 de Setembro de 1863. No dia
seguinte ao seu falecimento noticiava, a propósito, aquele jornal.
No mesmo número do jornal era feito o elogio fúnebre de Xavier Pacheco.
Camilo Castelo Branco tinha muita estima por Xavier Pacheco, pois,
segundo contou o escritor tê-lo-á ajudado, em certos momentos, ao adquirir
alguns dos seus escritos.
No dia 22 de Setembro de 1863, Camilo Castelo Branco, em modo de elogio
fúnebre, faz publicar em “O Comércio do Porto”:
…E terminava do seguinte modo:
Sede do “O Comércio do Porto” na Avenida dos Aliados
“O Primeiro de
Janeiro”
Tendo “O
Primeiro de Janeiro” saído pela primeira vez para as bancas, em 1 de Dezembro de 1868, com uma linha
editorial inspirada na revolta da “Janeirinha”
ocorrida cerca de um ano antes, a 1 de Janeiro, que conduziu ao fim do período
chamado da Regeneração esteve, este jornal, desde 1921, num edifício que hoje,
devidamente remodelado, alberga o Centro Comercial “Via Catarina”.
Antes de 1921, já aí tinha estado um outro prédio, mandado
construir em meados de 1865, pelos capitalistas Inácio Pinto da Fonseca e
Manuel José Prado.
Na génese do jornal “O Primeiro de Janeiro”, esteve o jornal panfletário, “A Revolta de Maio”,
lançado por António Augusto Leal e publicado, entre 1 de Junho e 31 de Agosto
de 1868.
António Augusto Leal
era o dono da tipografia e L. A. da Fonseca, o editor.
Suspensa a
publicação do jornal “A Revolta de Maio”, regressaria às bancas em 1 de
Dezembro desse mesmo ano, agora com o nome de “O Primeiro de Janeiro”.
Vai ser já com a
intervenção do capitalista Gaspar Ferreira Baltar, que assume a administração
em 1869, com a ajuda do seu filho, que a publicação passará de bissemanário
(saía às 2ªs e 5ªs Feiras) a diário.
Gaspar Ferreira
Baltar era um brasileiro de torna-viagem que, em termos políticos, pertencia a
um grupo liberal progressista denominado “Centro Eleitoral Portuense”, que
passa a ver os seus desígnios políticos, explicitados naquele jornal.
Rua do Almada, nº
161 (o prédio do meio), possivelmente, a tipografia de António Augusto Leal,
onde tudo terá começado – Fonte: Google maps
Rua da Fábrica, nº 1
(primeira porta), uma das moradas do jornal “O Primeiro de Janeiro” – Fonte
Google maps
Em 1870, pela mão de
Gaspar Ferreira Baltar, “O Primeiro de Janeiro” que tinha passado pela Rua do
Almada, nº 161 e, depois, pela Rua da Fábrica, nº 1, instala a sua redacção e a
tipografia, segundo o Prof. Doutor Eduardo Filipe Valente Cunha da Silva Aires,
“ (…) na Rua de Santa Catarina, em cujo
2º andar, ele próprio viveu. Morreu em 29 de Janeiro de 1899”.
Cabeçalho do jornal
“O Primeiro de Janeiro”, com Gaspar Ferreira Baltar como proprietário.
Atendendo à data visível, possivelmente, referente ao ano de 1879, ou 1884, ou
1890
Com o
desaparecimento de Gaspar Baltar, sucede-lhe no comando do jornal o seu filho e
o empresário e jornalista Joaquim Pacheco.
Este, seria Director
do jornal "O Primeiro de Janeiro" até 25 de Abril de 1907 e,
novamente, de 30 de Outubro de 1910, até á sua venda, a 29 de Junho de 1919, tendo
a seu lado sempre Gaspar Baltar (filho).
Joaquim Pacheco
dizia residir na Rua Formosa, 294, como se pode constatar nos documentos
abaixo, mencionando neles, em 1908, aquela morada como referente também ao
jornal (mais do que uma vez).
Requerimento de
pedido de licença (nº 345/1908) solicitada à Câmara do Porto, indicando como
morada do jornal “O Primeiro de Janeiro”, em 1908, a Rua Formosa, 294 – Fonte:
AHMP
No prédio que
apresenta na varanda os mastros de bandeiras vivia em 1908, Joaquim Pacheco –
Fonte: Google maps
“António Augusto Leal era proprietário de uma
tipografia, tendo decidido criar um novo jornal na cidade do Porto. O jornal
não teve grande sucesso na altura, apenas sobrevivendo com o auxílio de um
comerciante regressado do Brasil, Gaspar Baltar, o qual, em 1869 se tornou
administrador daquela publicação, ficando o seu filho homónimo com a direcção
editorial. Com uma visão empresarial mais moderna e uma preocupação de realizar
bom jornalismo, pai e filho não apenas salvaram o jornal, como o mesmo se tornou
numa referência no sector.
Em 1870 dá-se o grande salto, passando a
dispor de boas instalações na rua de Santa Catarina. Com o deflagrar da Guerra
Franco-Prussiana em 1870 o Primeiro de Janeiro consegue o seu primeiro grande
sucesso, ao aceitar uma proposta de receber os telegramas de correspondentes
alemães. É que a concorrência, de tendência afrancesada, recusou tal ideia e
apenas transmitia informações, muito controladas, por parte dos franceses.
Assim, quando os alemães entraram em Paris foi uma surpresa para os leitores
dos outros jornais, enquanto os de O Primeiro de Janeiro acompanhavam muito
mais realisticamente o desenrolar da guerra. Com esse prestígio a tiragem
passou de 3 mil exemplares em 1870 para 15 mil no final da mesma década.
Contou entre os seus colaboradores dos mais
prestigiados intelectuais da época: Camilo Castelo Branco, Alberto Pimentel,
Guilherme de Azevedo, Guerra Junqueiro, Latino Coelho, Ramalho Ortigão, Antero
de Quental, Oliveira Martins, Eça de Queirós, Gomes Leal ou António Nobre.
Com a morte de Gaspar Baltar (pai) em 1899, o
seu filho, juntamente com Joaquim França de Oliveira Pacheco dão continuidade
ao jornal, até que em 1919, fruto de dificuldades financeiras, o jornal é
vendido a um grupo de investidores de Lisboa, passando a ter jornalista Jorge
de Abreu vindo de “O Século” como novo director.
Em 1923 é novamente adquirido por um conjunto
de empresários, liderados por Manuel Pinto de Azevedo e Adriano Pimenta.
Manuel Pinto de Azevedo Júnior, assume a
direcção do jornal em 1936, dirigindo-o nos 40 anos seguintes, tornando-o numa
referência nacional. A aposta que fez no noticiário internacional (único jornal
a abrir com tal secção), bem como o pendor fortemente favorável aos Aliados
durante a II Guerra mundial granjearam-lhe grande prestígio e popularidade.
Com a morte de Manuel Pinto de Azevedo Junior
em 1978 o jornal entra numa espiral de instabilidade a nível de direcção, perda
de leitores e publicidade, passando em 1991 a jornal de cariz regional sob a
direcção de Nassalete Miranda.
Em 30 de Julho de 2008, os cerca de 30
jornalistas da redacção do jornal, foram informados de que o título encerraria
em Agosto para uma reformulação gráfica, voltando em Setembro numa nova
empresa.
Em editorial, a directora Nassalete Miranda anunciou
a interrupção da sua publicação pelo período de uma semana.
No dia 3 de Agosto de 2008 surge novamente
nas bancas com um novo director, Rui Alas Pereira.”.
Fonte: Wikipédia
Manuel Pinto de
Azevedo Júnior (1905-1978) foi director do jornal “O Primeiro de Janeiro” entre
1937 e 1976, vivendo durante muitos anos, a dois passos da redacção, na
Rua de Santa Catarina, n.º 326.
“De mãos dadas com a inovação que vira na Bélgica, no tempo em que lá viveu, Pinto de Azevedo Júnior decidiu modernizar O Primeiro de Janeiro, tornando-o pioneiro na introdução da máquina de escrever na redação.
Diretor exímio tornou O Primeiro de Janeiro num jornal de referência que, além de lucrativo, de circulação elevada e repleto de publicidade, foi uma escola de jornalismo para muitas gerações de jornalistas, a «escola do Janeiro», como alguns destes lhe chamavam.
Abriu as portas à cultura e a partir de 1945 permitiu que os grandes pintores nacionais da época pudessem expor as suas obras no piso térreo do edifício do jornal. A sua dedicação no desenvolvimento da imprensa portuguesa marcou todos aqueles que com ele convieram.
(…) Em Novembro de 1976, quando, por motivos de saúde, passou finalmente o testemunho da direção do jornal a Alberto Uva, Manuel Pinto de Azevedo Júnior entregou-lhe um legado singular: uma vela e uma caixa de fósforos. «Isto é para o alumiar, se tudo se apagar cá na casa», disse-lhe. «Um diretor do Janeiro nunca pode ficar às escuras!”
Fonte: “newsmuseum.pt/”
“De mãos dadas com a inovação que vira na Bélgica, no tempo em que lá viveu, Pinto de Azevedo Júnior decidiu modernizar O Primeiro de Janeiro, tornando-o pioneiro na introdução da máquina de escrever na redação.
Diretor exímio tornou O Primeiro de Janeiro num jornal de referência que, além de lucrativo, de circulação elevada e repleto de publicidade, foi uma escola de jornalismo para muitas gerações de jornalistas, a «escola do Janeiro», como alguns destes lhe chamavam.
Abriu as portas à cultura e a partir de 1945 permitiu que os grandes pintores nacionais da época pudessem expor as suas obras no piso térreo do edifício do jornal. A sua dedicação no desenvolvimento da imprensa portuguesa marcou todos aqueles que com ele convieram.
(…) Em Novembro de 1976, quando, por motivos de saúde, passou finalmente o testemunho da direção do jornal a Alberto Uva, Manuel Pinto de Azevedo Júnior entregou-lhe um legado singular: uma vela e uma caixa de fósforos. «Isto é para o alumiar, se tudo se apagar cá na casa», disse-lhe. «Um diretor do Janeiro nunca pode ficar às escuras!”
Fonte: “newsmuseum.pt/”
“A 1 de janeiro de 1869, numa altura em que
Ferreira Baltar era o diretor, o jornal passou a estar nas bancas diariamente.
Herdeiro dos movimentos liberais do Porto, adotou o lema de informar de forma
isenta e pluralista.
O Primeiro de janeiro bateu-se bem com os
outros dois jornais diários do Porto, o Jornal de Notícias e O Comércio do
Porto, e, na década de 30 do século XX, conquistou o estatuto de um dos três
jornais mais importantes de Portugal a par do Diário de Notícias e do Século,
ambos de Lisboa. Apesar de se assumir como independente, o jornal tinha de se
cingir às restrições impostas pela censura do Estado Novo.
Em 1942, o jornal lançou o suplemento
literário semanal "das Artes das Letras", que foi publicado com
algumas interrupções ao longo da segunda metade do século XX, até ser retomado
em junho de 1999. Nas páginas deste suplemento escreveram nomes como José
Augusto Seabra e Arnaldo Saraiva.
Após a Revolução do 25 de abril de 1974, uma
série de meios de comunicação social foram nacionalizados pelo Estado, mas O
Primeiro de Janeiro conseguiu manter-se independente.
O Primeiro de janeiro, que já em finais do
século XX perdeu muitos eleitores, privilegia nas suas páginas o Porto e a
Região Norte, mas apresenta noticiário de todo o país e do estrangeiro.
O diário tem a particularidade de oferecer
diversos suplementos aos seus leitores. Assim, em julho de 1999, apresentou
"Justiça e Cidadania", suplemento mensal destinado ao setor forense,
e, em setembro do mesmo ano, começou a dedicar semanalmente espaços especiais
aos concelhos da região do Porto. Para além disso, disponibiliza mensalmente a
revista “Rostos”, dedicada aos eventos sociais do Norte, e o “Sete”, dedicado
aos espetáculos e que recuperou o título de um antigo semanário desta área, que
marcou a Imprensa dos anos 80”.
Fonte: Infopedia
“Mais um jornal centenário português que desaparece. Desde o último dia do ano (2014) que o "Primeiro de Janeiro", jornal de referência, editado no Porto, deixou de ser publicado, devido a dificuldades financeiras. Fundado em 1 de Dezembro de 1868, este outrora prestigiado matutino da imprensa nortenha e nacional, chegou a ter como directora Agustina Bessa Luís (escritora) e, entre os muitos colaboradores, ao longo dos anos, contou com a escrita de Almeida Garrett, Camilo Castelo Branco, Antero de Quental, Eça de Queirós e Ramalho Ortigão. Um perda irreparável”.
Com a devida vénia a
João Godim
O edifício emblemático na Rua de Santa Catarina
Aquando dos últimos
anos de vida do jornal, as suas instalações passaram para um prédio da Rua
Coelho Neto, onde eram também feitos, o Jornal “O Motor” e “O Norte
Desportivo”, depois de uma passagem pela Rua de Santa Catarina, nº 341, mesmo em frente das antigas instalações.
Instalações provisórias na Rua de Santa Catarina, nº 341
“Jornal de Notícias” (Primitivo)
Em 1865, um jornal
diário com o título de "Jornal de Notícias" tinha a sua sede e
redação na Rua da Fábrica, nº 10, tendo
antecedido o aparecimento do Jornal “O Primeiro de Janeiro”.
Pertencia aos empregados superiores dos Caminhos de Ferro
do Minho e Douro que o redigiam. Tinha como director o jornalista Anselmo de
Morais.
Este periódico teve, segundo testemunho de Clodomiro Leal,
na pag. 197, da revista “O Tripeiro”, 3ª série, nº 13, de 1 de Julho de 1926, a
colaboração desde da fundação, do seu tio, o jornalista António Augusto Leal
(1838-1897) Que seria o autor de uns artigos intitulados “O Burgo do Porto”,
publicados no semanário Camões. Tendo-se aposentado do jornalismo, António
Augusto Leal desempenhou o cargo de chefe da secretaria do Hospital Geral de
Santo António até à sua aposentação.
Entretanto, numa cisão ocorrida no seio do Partido
Regenerador, uma das facções conseguiu dos ferroviários a cedência do título e
apareceu, em 1888, um novo "Jornal de Notícias"…o “JN”.
A seguir, dá-se conta de notícia curiosa inserida nesse
primitivo Jornal de Notícias.
“TENTOU EVADIR-SE...
Tentou evadir-se da
cadea d'esta cidade, a snr.ª Emilia Guilhermina Lopes que tinha sido julgada na
audiencia de 6 do corrente, como falsificadora de notas, sendo condemnada a 6
annos de cadea, como em tempo competente dissemos aos leitores.
Passou-se assim o
caso, na quarta feira de manhã.
A sr.ª D. Emilia,
disse ao carcereiro que tinha uma roupa para mandar para as Devesas [ao tempo o comboio terminava aqui],
devendo ir no caminho de ferro para Lisboa, e que já tinha ajustado com um
galego de lh'a levar áquelle ponto, n'um cesto.
Não havia cousa mais
natural do que isto, e por conseguinte o carcereiro respondeu-lhe que podia
mandar a roupa que quizesse e para onde bem lhe parecesse. Nem a resposta
d'elle podia ser outra, porque a sr.ª D. Emilia não lhe disse que dentro da
roupa iria a sua excellentissima pessoa.
Tudo até aqui correu
ás mil maravilhas, e supponha o leitor, que a sr.ª D. Emilia ficou saltando de
contente, e dando-se interiormente os parabens pela sua bem succedida
esperteza.
Mas; oh caso horrendo
e feio! não se lembrou a sr.ª D. Emilia quão triste é a sorte dos homens de
genio, dos pensadores e dos bemfeitores da humanidade. Não lhe vieram á ideia
os nomes de Galileu, Socrates e quejandos.
Deitou-se a dormir
muito descançada sobre os louros da victoria que se lhe antolhava ganha, e não
pensou no tremendo castigo que a sorte lhe reservava, por ter tido a petulancia
de descobrir um segredo, que tem permanecido encuberto para muitos homens de
barba na cara, quanto mais para uma mulher, que é um ente fraco, como se sabe!
Proseguindo a
historia, a canastra de que fallava a sr.ª D. Emilia, ia para dirigir-se ao seu
destino, conduzida por um possante galego chamado José Garcia.
Chegando porem o
momento de sahir a porta, o guarda mandou fazer alto, na forma do costume, até
vêr o contheudo.
O contheudo, Deus
amen! está o leitor adivinhando já que era a sr.ª D. Emilia, a mesma, a
mesmissima!
E' escusado dizer que
a poseram em boa guarda, assim como o seu cumplice, que tinha justo com ella de
a levar por 400 reis.
Por onde se vê que a
sr.ª D. Emilia soffreu uma cruel decepção na sua grande descoberta; mas em todo
o caso é uma martyr da sciencia”.
In Jornal de
Noticias de 15 de Abril de 1865, com a devida vénia a Nuno Cruz do blogue “oportodeoitocentos.blogspot”
“Jornal de Notícias”,
JN
Este jornal obteve o seu título pela cedência do mesmo,
pelos seus detentores à data (Empregados dos Caminhos de Ferro do Minho e
Douro), que em 1865 tinham começado a publicar um diário denominado “Jornal de
Notícias”.
Aquele título seria obtido por uma facção do Partido
Regenerador, resultante de uma cisão ocorrida naquele grupo político.
“O matutino Jornal de Notícias foi fundado a
2 de junho de 1888, no Porto, e
tornou-se num dos jornais de maior expansão em Portugal, especialmente a seguir
à Revolução do 25 de abril de 1974. As primeiras instalações deste jornal
diário ficavam situadas na Rua de D.
Pedro e aglomeravam a redação, a administração, a composição e a impressão.
Quando saiu para a rua, o Jornal
de Notícias, dirigido por José Diogo Arroio, tinha quatro páginas de
grande formato, custava dez réis e era vendido no Porto e arredores, Lisboa e
Braga. A nível de conteúdo apostava em noticiário nacional e internacional e
dedicava a última página a anúncios.
O jornal, que ficou
conhecido também por JN, assumiu claramente a defesa do Norte e do Porto em
1911, quando a Rua D. Pedro, antes Rua do Bispo se passa a chamar, Rua Elias Garcia.
O início da Primeira
Guerra Mundial, em 1914, levou a que durante alguns meses voltasse a haver
edições à segunda-feira, mas essa medida só viria a ser adotada em definitivo
já em 1936.
Entretanto, a Avenida
dos Aliados passou a ser a morada do JN a partir de 1926, situação que se
manteve até 1970, altura em que houve uma mudança para um edifício novo na Rua
Gonçalo Cristóvão. Durante este espaço de tempo o jornal continuou a implantar-se
junto do público, com o contributo de iniciativas como o concurso Quadras de
São João, lançado em 1929. Numa tradição mantida ao longo de décadas, os
leitores são convidados por altura das festas de São João a enviar quadras da
sua autoria para o JN. Aí, são avaliadas por um júri e as melhores ganham
prémios e são publicadas nas páginas do jornal.
Ao longo da sua
existência a empresa do Jornal de Notícias lançou vários outros jornais, mas
não os manteve por muito tempo. Assim, durante seis meses de 1945, foi
publicado o vespertino “A Tarde” e,
entre 1981 e 1984, existiu o “Notícias
da Tarde”. O jornal desportivo “O Jogo” foi lançado pelo JN em 1985, mas depois tornou-se
autónomo”.
Fonte: Infopedia
O edifício do Jornal
de Notícias localizava-se, então, na Rua Elias Garcia (antiga Rua D. Pedro), à
esquerda de quem subia essa rua, vindo da Praça D. Pedro e, por isso, as suas
traseiras davam para a Rua do Laranjal.
Um pouco mais
abaixo, mas do lado contrário, ficava a entrada principal do Teatro Nacional
que iria, anos depois, dar origem ao Teatro Rivoli.
Foi nessas instalações que, no dia 27 de Agosto de 1907, aconteceu uma tragédia. Procedia-se, no 1º andar, em sala anexa à sala da redacção do periódico, a um sorteio por este organizado, quando o chão cedeu com o peso das pessoas que acabaram por se despenhar, no rés-do-chão do prédio, onde estava instalada uma loja de comércio.
Nunca se soube quantos falecimentos ocorreram, fala-se de entre 3 e cinco e, houve, ainda, muitos feridos.
No entretanto, a redacção ocupou, temporariamente, uma sala no prédio ocupado pelo partido Regenerador, na vizinha Rua do Laranjal.
JN na Avenida dos Aliados - Ed. Foto Beleza
No edifício mais à esquerda da foto, ficava o Jornal de
Notícias.
Sede do JN na Avenida dos Aliados
À esquerda o JN junto ao viaduto de Gonçalo Cristovão
Jornal “O Porto”
“Este jornal, que
se definia como monárquico e extra-partidário, existiu entre Dezembro de 1909 e
o mesmo mês de 1911. Foi seu fundador e proprietário o Visconde de Sousa Soares
e director Henrique Batista, capitão de Infantaria n.º 18. Era «excelentemente
redigido e magnificamente impresso ... com larga informação, abundância de
gravuras de acontecimentos, retratos de homens do dia, etc., e com
interessantes e bem colaboradas secções”
Alberto Bessa in O Tripeiro, Série IV, p. 138
O jornal "O Porto" encerrou, após uma sanha dirigida pela
população sobre antigos símbolos da monarquia e com um destaque especial para
as instituições com ligações à igreja católica.
Fac-simile do jornal "O Porto" de 28 de Dezembro de 1909
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