terça-feira, 7 de março de 2017

(Continuação 10) - Actualização em 18/03/2020

(Dada a excelente qualidade do texto (que é público), sobre o assunto supra, transcrevemo-lo a seguir, praticamente na íntegra, com a devida vénia a Rui Cunha e excelentíssima esposa)




Banheira de cobre


O banho 



“Nos séculos passados, não era muito frequente as pessoas tomarem banho. Porém, havia famílias que aqueciam água transportada pelos galegos e se banhavam na sala ou na cozinha em banheiras de cobre. Primeiro banhava-se o patrão, depois a patroa e seguiam-se-lhes os filhos, sempre na mesma água. Depois eram as criadas e criados e até os empregados da loja, quando aí viviam. Esta água ficava, como é evidente, muito suja.
Porém, a população poderia frequentar os banhos públicos desde 1854. 
Claro que podia tomar banho no Douro ou numa das muitas ribeiras da cidade. Mas, a partir de 1852, até poderia tomar comodamente, no rio, o seu banho.




Barcaça para tomar banho



No desenho acima vê-se, a meio do rio, uma espécie de cúpula que era uma barcaça/barraca onde os púdicos e púdicas portuenses iam tomar banho no rio. Esta barcaça foi feita em Gaia em 1852. Sobre este assunto, O Tripeiro Série V, Ano VI refere um artigo de Camilo Castelo Branco de 10/8/1857, em O Nacional: 

«Há uns poucos de nomes gloriosos a quem o Porto deve o seu progresso material. O primeiro na ordem dos factos e na cronologia é o senhor João Coelho de Almeida, criador da barcaça de banhos. O segundo é o senhor Lucas dos Santos, homem videiro que criou os banhos de tina (em 7/3/1854 na Rua de Santo António). A limpeza é a primeira condição de uma terra culta. As estatísticas de ambos os estabelecimentos provam que se lava muita gente. São beneméritos da Pátria todos os que fomentam a limpeza, perfeitas inteligências de sabonete». O Dr. Artur de Magalhães Basto em O Porto do Romantismo, escreve: «Tem camarotes de um lado e de outro, sendo destinados uns a homens e outros a mulheres. Dentro havia retretes e lojas de bebidas. Cada camarote fecha sobre si, comportando 2 ou 3 pessoas que podem tomar banho sentadas ou a pé, sem receio de serem vistas de fora – Os preços eram de 50, 60 e 80 reis cada banho. Quem fosse tomar banho tinha passagem gratuita para a barcaça». 


Barcaça para banhos em frente da Ribeira




Num artigo em O Tripeiro Série V, Ano V assinado por António Augusto Pires de Lima é referido que, 


«há uma vaga tradição, de que no séc. VI havia um balneário no Porto. Conta-nos o Bispo D. Rodrigo da Cunha que Teodomiro e seu filho Ariamiro… vieram para tomar banhos dos que afirma a tradição que houve nesta cidade do Porto junto do Rio Douro, de que ainda se conserva memória na parte e rua chamada dos Banhos, e dentro de algumas casas vestígios dos tanques em que se tomava. No séc. XIV… houve um acordo entre D. Vasco o cabido e a cidade, para construção duns banhos bons com suas casas e caldeiras. Creio tratar-se de um novo balneário, pois a própria referência a esses banhos bons com caldeiras faz admitir outros em condições menos satisfatórias e sem aquecimento de águas. 
Assim se prova que no Porto existiram desde tempos imemoriais destas "inteligências de sabonete"».



Casa de Banhos na Rua de Santo António



Lê-se ainda no referido Tripeiro, sobre o estabelecimento da foto acima: 


«Está aberto este estabelecimento todos os dias, de verão, desde as 5 horas da manhã até às nove da noite, e no Inverno, desde as oito da manhã até às seis da tarde. Aos domingos fecha-se ao meio dia.
Por um banho de tina, da água doce 160 reis
Por assinatura (12 banhos) 1$680 reis
Um banho sulfúrio (cada) 300 reis
Um banho de vapor 600 reis
Um banho de chuva 120 reis
Assinatura (12 banhos) 960 reis
Um banho de água do mar 300 reis
Em todo o tempo se pode ir tomar banhos de água doce, de chuva, de águas termais e de vapor. Os de água de mar só principiam no primeiro de Agosto e acabam em 31 de Outubro».



Aberta em 1866, esta casa recebia água do manancial de Camões conduzida por mina construída propositadamente. Foi fechada em 27/9/1909.
Não há muitos anos existiam na cidade vários balneários, entre eles, um no Largo do Viriato, e outro, ainda em funcionamento no Campo 24 de Agosto.




Balneário no Largo do Viriato



Não admira que a população vivesse muito suja pois, as ruas eram autênticas lixeiras e estrumeiras.
A cidade do Porto, tal como as outras deste país, tinha as suas ruas normalmente muito sujas, onde eram deitados os lixos e dejectos dos moradores. Se alguém pretendia deitar águas sujas pelas janelas, depois das 9 de noite no Inverno, e das 11 no Verão, bastava-lhe avisar altos brados, 3 vezes, «Água vai!» e quem estivesse a passar teria de correr. Por estas ruas passavam galinhas, porcos e cães em grande profusão. Destes animais ainda os porcos eram os menos porcos, pois comiam toda a sujidade que encontravam.




Carros de bois em Miragaia no século XX



E não esqueçamos que, diariamente, circulavam centenas de cavalgaduras e bois que também deixavam os seus rastos. Durante o dia passavam lavradores que limpavam os estercos e recolhiam os dejectos das casas que depois usavam para estrume. Posteriormente foram proibidos de trabalhar de dia; só depois das 11 da noite. Mesmo assim eram insuficientes para manter a cidade limpa, muito embora tanto a câmara como as leis reais lutassem pela melhoria da higiene. Em 5/11/1519 as vereações decretaram uma multa de 26 reis para quem atirasse para a rua qualquer sujidade sólida ou líquida. D. Manuel I já tinha proibido a permanência de porcos na via pública, quer de dia quer de noite, a multa era de 500 reis. 
Em 1613 foram marcados locais para estrumeira, mas era mais cómodo deitar o lixo à porta…
Mas, o povo era o mesmo de hoje pelo que estas leis eram esquecidas...



Varredor



Artur de Magalhães Basto conta, no seu livro «O Porto do Romantismo» que:

«Sucedendo varrer-se um destes dias a Rua das Flores, o povo contemplou isto como preparativo para grandes acontecimentos e correu àqueles sítios, como se ali andassem desentulhando as ruínas de alguns monumentos admiráveis… Enfim, tudo era assombro, tudo perguntas, tudo interpretações, maiormente entre crescido magote de farroupilhas, que, por ser o maior volume, era o mais fértil em disparates. P’ra que será? P’ra que será? Alvitravam-se mil hipóteses, e afinal verificou-se que se varria a rua… para não andarmos cobertos de esterco».



Carros de recolha de lixo



Carros de recolha de lixo da C. M. P.



Os carros da foto acima, eram recolhidos na Rua de S. Diniz, onde já existiu o matadouro e o canil.

De "O Tripeiro" de 10/6/1909, resumimos um interessante artigo: 

«Vereações passadas dotaram a cidade com duas corporações: a dos “Varredores Municipais”, à qual o povo pôs o nome de “escrivães de pena grande”, por motivo do enorme cabo de vassoura, que é a pena com que parece escreverem nas pedras das calçadas, quando exercem a sua profissão, e a dos “Regadores Municipais” que, durante as horas de maior calor, regam as ruas com as mangueiras adaptadas às bocas de incêndio encravadas nos passeios… Os varredores em vez de varrerem o lixo das ruas, do lado dos prédios para o centro da rua, fazem o contrário, de sorte que a poeira que levantam introduz-se por baixo das portas, pelas janelas e por qualquer abertura que encontre e vai depositar-se placidamente sobre toda a parte que pode, de sorte que pela manhã encontra-se tudo pulverizado por um pó finíssimo. E querem saber a razão porque estes tais “escrivães da pena grande” procedem assim? É para comodidade do seus colegas. Fazem pequenos montes junto das paredes e o colega vem apanhar para o carro de mão com uma pá de ferro".
A rega das ruas deveria ser feita de madrugada. Mas quando é feita? Durante as horas de maior calor, quando as pedras estão a escaldar, de sorte que esta se evapora num pronto. O transeunte tem de parar para não ficar com os pés alagados e as calças salpicadas de lama, ou tem de mudar de rumo.
Também lembramos a quem compete que é menos decente e nada higiénico, o depósito que está em exposição à frente da Torre dos Clérigos, do lixo que vem do Mercado do Anjo, composto de frutas podres, hortaliças velhas, e quanta imundície a vassoura municipal pode apanhar, exalando durante horas um fétido pestilento e uma vista asquerosa, até que venha o carro de condução para levar aqueles adubos para lugar apropriado.»



No último quartel do séc. XIX, e possivelmente ainda muito antes, era frequente verem-se, de noite, muitas pessoas de cócoras, munidas de uma pequena lâmina de ferro a raspar o chão recolhendo as minhocas que encontravam e que serviam de engodo para colocar nos anzóis de pesca. Eram pescadores à cana profissionais que trabalhavam desde os Guindais até à Foz, de um e outro lado do rio. Os dias mais húmidos eram os preferidos pela quantidade que encontravam. Traziam um lampião de azeite ou óleo e um púcaro de barro preso por um barbante onde deitavam o seu tesouro.
Desde as Fontaínhas até à Praça Duque de Beja (Carregal), passando pelas Ruas dos Clérigos, Carmelitas, de S. Filipe de Néri, Ferros Velhos, Carmo, Largo de Santa Teresa, Praça de Carlos Alberto, Cordoaria etc. labutavam várias horas seguidas. 
Perguntámo-nos porque, razão, estes pescadores, tinham necessidade de subir tanto na cidade. Ou a colheita nas ruas perto do rio era tão intensa que esgotavam as minhocas ou das Ruas das Flores e Mouzinho da Silveira para baixo eram empedradas, inclusive as que davam para a Ribeira, pelo que não teriam terra suficiente para elas proliferarem.




Carro varredor – 1923


Verifica-se ainda que, já nos fins do séc. XIX, o estado das nossas ruas era deplorável. Em que estado os sapatos e botas dos nossos avós chegariam a suas casas! Era muito comum verem-se, junto à porta das casas, uns raspadores de lama. 




Raspador



Quanto ao tratamento das roupas O Tripeiro Série V, Ano VI dizia:


«Há cinco dezenas de anos (1900) rara era a família portuense rica ou remediada, que não desse suas roupas a lavar às lavadeiras de Águas Santas, Barreiros, S. Mamede Infesta, Maia e Rio Tinto; porque por dez reis cada peça não valia a pena lava-las em casa. Além disso, nesses distantes tempos, nem todos os prédios possuíam água encanada da companhia; logo, portanto, as donas de casa acertavam melhor entregando as roupas às lavadeiras, que as traziam sempre com pontualidade e a cheirar a frescor. E então dava gosto vê-las, aos sábados principalmente, donairosas, entrecortarem as ruas do burgo carregadas com pesadas trouxas de roupa à cabeça, a caminho das residências das impertinentes freguesas, onde a demora não podia ser evitada por terem de dar a roupa ao rol.
Uma rodilha, um farrapo tudo estava apontado».



Até cerca de 1970, as lavadeiras de Rio Tinto eram muito requisitas pelas famílias mais abastadas da cidade do Porto. Todas as semanas mantinham o seguinte ritual: 2ª feira iam ao Porto buscar a roupa a casa das freguesas; 3ª feira ensaboavam a roupa; 4ª feira coravam a roupa. 6ª feira iam devolver a roupa às freguesas e no interior das suas casas davam a roupa ao “rol”.
A lavagem da roupa ocorria em todo o troço do rio. Para “esfregar” a roupa utilizam pedras grandes e lisas que eram marcadas e só a “proprietária” da pedra é que a podia utilizar. 
Como curiosidade, para branquear a roupa (a lixívia ainda não era usada) utilizavam cloreto (que designavam como “florete”) e para tirar as manchas de ferro usavam sal de azedas.
Uma outra curiosidade em torno das lavadeiras de Rio Tinto eram as alcunhas que as pessoas lhe davam. Ficaram famosas por aquelas bandas a Ti Emília do Letré, a Ti Esperança Carra Velha, a Ti Custódia Barbada e a Ti Melindra Restiva.




Lavadeiras no rio Leça - Fonte: Joel Cleto



Sanitários, Balneários e Urinóis


“Nos anos 60 do séc. XIX o Presidente da Câmara, 1º. Conde de Lagoaça, mandou instalar os primeiros urinóis nas esquinas de ruas. Foi motivo de galhofa nas gazetas e no povo, mas a decência triunfou e os sumidouros ficaram e foram multiplicados e sofisticados.
As más instalações sanitárias públicas e privadas, seja nas casas como nas tabernas a isso obrigavam. Ainda hoje se encontram alguns destes exemplares, que esteticamente eram muito variados e alguns bem bonitos. Tinham o inconveniente de serem muito mal cheirosos”.
Fonte: “portoarc.blogspot.com”


Em 1890, continuava-se a pugnar por a adopção de medidas de higiene para salvaguarda da saúde dos portuenses, como se pode constatar no artigo de opinião abaixo.
 
 

In jornal “A República” de 5 de Agosto de 1890




Urinol, no Largo de S. Bento, ao centro e parcialmente visível



Urinol (ao centro, em primeiro plano) no Campo 24 de Agosto, 1919 - Fonte “Bosspostcard, Delcampe”



Urinol, no Largo António Calém, ao fundo da Rua das Condominhas, em 2009



Urinol, à entrada da Calçada do Ouro, em 2009



Urinol, no Largo Soares dos Reis



Urinol, na Rua de Contumil



Urinol, na Avenida Rodrigues de Freitas, encostado ao edifício da Biblioteca Pública




Urinol (à direita), no Jardim de Arca d’Água



Urinol, em Miragaia



Urinol (à esquerda), no Jardim da Praça do Infante


Urinol, à direita, na Praça do Infante, em 1910



Urinol, na Praça da Ribeira, no início do século XX


Urinol, junto de quiosque, na Praça Parada Leitão, c. 1930 - Ed. Domingos Alvão







Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Cortesia Ângelo Costa


Maquete de urinóis do Porto da autoria de Agostinho Teixeira – Fonte: JPortojo



Em alguns jardins da cidade do Porto, aproveitavam-se os baixos dos coretos, para aí serem instalados os sanitários públicos, com serventia diferenciada por sexo, de um lado e pelo seu oposto.



Pela porta, por baixo das escadas de acesso ao coreto, se fazia uma das entradas para os sanitários do jardim da Praça do Marquês



Coreto do Jardim de S. Lázaro e, ao centro, a porta de entrada para um dos sanitários


Outra solução foi encontrada instalando os sanitários em espaços subterrâneos de praças e jardins de grande circulação de pessoas.
Foram os casos da Avenida dos Aliados, Rotunda da Boavista e Praça da República. Este último desactivado e os outros desaparecidos.



Sanitário Subterrâneo da Praça da República (desactivado) – Ed. JPortojo



Sanitários subterrâneos na Avenida dos Aliados


Na foto anterior, no início da placa ajardinada, em primeiro plano, pode observar-se o acesso aos sanitários instalados no sub-solo.
Muitos destas instalações sanitárias tinham associado uma oferta de banhos, a preços módicos, tentando resolver uma carência de quartos de banho, que se observava sobretudo nas chamadas “ilhas”.
Ainda há muita gente que, por razões diversas, se lembrará da existência dos balneários do Campo 24 de Agosto, Largo do Viriato e Praça do Infante.



Balneário do Campo 24 de Agosto

Em sessão da Câmara de 25 de Julho de 1901, presidida por Lima Júnior, era por este passada a informação, que estava pronto para ser inaugurado o Balneário do Largo do Viriato.



Balneário do Largo do Viriato – Fonte: Google maps



Balneário da Praça do Infante (na esquina, à esquerda) – Fonte: “radioportuense.com/”



Hoje, as instalações sanitárias descritas fazem parte da memorabilia da cidade, restando, apenas, alguns que mantêm uma certa dignidade, para a função a que se destinam e ocupam espaços em edificações de piso térreo à face de vias pedestres de circulação.
São os casos dos situados no Jardim do Passeio Alegre, no Largo de Mompilher (à Picaria) e o da Praia dos Ingleses.



Sanitários no Largo Mompilher, situados por baixo do patamar das Escadas do Pinheiro



Sanitários na Praia dos Ingleses


Sanitários da Praia do Molhe



Sanitários do Jardim do Passeio Alegre


Urinol do Passeio Alegre

Casa de Banho do Passeio Alegre


Interior da Casa de Banho do Passeio Alegre



No Jardim do Passeio Alegre existem uns lindíssimos sanitários do fim do século XIX ou início do XX, como se pode observar acima.



O conde de Lagoaça e as lagoaças


Ainda sobre a instalação de urinóis pela cidade, uma medida que se revelava inovadora e que, por isso, a exemplo do que frequentemente sucede, foi alvo de certa polémica, tendo o povo começado a designar os mictórios por lagoaças.


António José Antunes Navarro (Lagoaça, 11 de Julho de 1803 - 17 de Julho de 1867) foi fidalgo da Casa-Real, por decreto-lei de 30 de Janeiro de 1862, político português como deputado às Cortes e par do Reino, ascendeu a Presidente da Câmara do Porto entre 1860 e 1867.
Nesse período mandou instalar os primeiros mictórios públicos da cidade, medida extremamente inovadora do ponto de vista sanitário, e que mereceram a alcunha de "vespasianas" mas que o povo designou de "lagoaças".
Após visita à cidade do rei D. Pedro V, em 2 de Dezembro de 1859, este agraciou-o com o título de Visconde de Lagoaça e posteriormente por D. Luís I, Conde de Lagoaça, a 31 de Outubro de 1866 e por carta em 6 de Novembro de 1866”.
Com a devida vénia a Manuel José Cunha


A carta régia que atribui o título de visconde de Lagoaça, em duas vidas, a António José Antunes Navarro é de 2 de Dezembro de 1859, e o Decreto respectivo de 2 de Novembro, tendo sido presidente da Câmara do Porto, entre 25-01-1858 e 31-12-1865, destacou-se na sua governação ao conseguir financiamentos do Governo para a exposição inaugural do Palácio de Cristal e no embelezamento da cidade, para o dito evento.
Uma das suas prioridades foi o abastecimento de água à cidade e, para tal, mandou recensear todas as fontes, nascentes e captações que existiam na cidade.
Durante o seu mandato, foi pensado, mas não concretizado, um monumento a D. Pedro IV; numerosas ruas foram corrigidas e fora obtidas do governo verbas para a criação de escolas primárias nas freguesias mais rurais da cidade.
Para o final do mandato e por motivos de saúde, foi sendo substituído por Pinto Bessa que, com a sua marca viria a ser um dos mais importantes presidentes que a cidade teve.
Diga-se que, no âmbito da melhoria das condições de higiene, a edilidade acabaria também, por determinar a eliminação dos cantos nos edifícios mais emblemáticos, de que são exemplo as fotos seguintes.



Igreja dos Clérigos - Fonte: Google maps


Colégio de Nossa Senhora da Esperança, a S. Lázaro - Fonte: Google maps



Pinho Leal, In Portugal Antigo e Moderno (1875)

 
 

Casa do 1º visconde de Lagoaça, na esquina das ruas Formosa e da Alegria – Fonte: Google maps
 
 
O 1º visconde de Lagoaça faleceu no Porto a 17 de Julho de 1867, tendo casado, sete dias antes, com D. Luísa Benedita Monteiro Antunes Navarro, nascida a 17 de Julho de 1837. Tiveram um filho, António José Antunes Navarro, que nasceu no Porto a 15 de Março de 1864.
Júlio de Castro Pereira viria a ser o segundo visconde de Lagoaça, em verificação da segunda vida concedida a seu tio. 




Higiena e Saúde Pública


Durante muitos anos, até ao século XX, os cães vagueavam pelas ruas da cidade, muitas das vezes, em perfeitas matilhas.
O perigo para a saúde pública era um facto real.
Por isso, a partir do momento em que o problema começou a ser tratado pela edilidade, funcionários camarários vigiavam, deambulando pela cidade, pelo cumprimento das normas que vigoravam nas posturas municipais e que aludiam ao problema do abandono de cães na via pública.
O texto seguinte dá-nos conta da intervenção dos chamados “caça-cães”, que não raras vezes descambava em situações completamente ridículas, quando os animais com a ajuda dos populares conseguiam escapulir-se aos seus caçadores.
Por vezes, os amigos dos animais recebiam voz de prisão e passavam umas horitas no Aljube, lá para os lados da Sé.
 
 
 
 
“O código de posturas de há cinquenta anos não permitia que os habitantes do burgo tripeirinho possuíssem cães sem a devida licença da Câmara; e os cães, cujos donos tivessem a respetiva licença, tinham de trazer, sempre que saíssem à via pública, uma coleira com a designação do nome e morada do dono e número da licença, sob pena de ter de pagar o triplo da multa. Além da coleira mencionada, os cães tinham de andar sempre açamados, sob pena de 2$ooo réis de multa. Se fossem encontrados na rua sem coleira nem açamo, eram considerados vadios, e como tal, abatidos. (...)”.
(…) Dois funcionários municipais, de inferior categoria, deselegantemente uniformizados, conduziam pelas ruas acidentadas da urbe, num passo vagaroso, sonolento, um carro de duas rodas e, sobre o eixo destas, poisava um grande e alto caixão de madeira, de figuração rectangular, interiormente dividido em compartimentos, onde se recolhiam os cães. Mais dois funcionários do município, de igual classe e indumentária, a par, com os olhos fixos em todos os vultos que se mexiam, seguiam por um dos passeios laterais, levando um deles uma rede de corda delgada aos ombros. Os primeiros que enxergassem um cão desaçamado, davam sinal, assobiando, e os que puxavam o carro logo paravam, pegavam na rede que geralmente ia sobre o tejadilho do pequeno carro celular e apressadamente, não fosse o cachorro escapulir-se pela demora, estendiam-na de lés-a-lés da rua, chegando por vezes a impedir todo o trânsito”.
Manuel Pedro, in O Tripeiro, Série 5, ano VII (Março de 1952), página 249/250
 
 
 

Carrocinha usada na “apanha” dos canídeos
 
 
Os cães que os funcionários municipais apanhavam durante o dia eram levados para casotas reservadas, existentes nos serviços de limpeza pública, ao tempo na Rua do Visconde de Bóbeda e traseiras da Biblioteca Pública Municipal do Porto, a S. Lázaro, podendo os animais ser libertados pelos seus donos mediante uma multa e depois de cumpridas outras formalidades. No caso de não serem procurados eram abatidos.
Após 1923, com o abandono das instalações da Rua de S. Dinis e a transferência do Matadouro Municipal para S. Roque da Lameira, o canil viria a funcionar, durante todo o século XX, naquelas instalações.
Em 22 de Agosto de 1939, uma camioneta fechada substituiu a anacrónica carroça, que na cidade procurava os cães vadios, numa época em que existia o perigo real da propagação da raiva.
 
 
 

Carro de remoção de cães e transporte para o canil de S. Dinis

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