segunda-feira, 6 de março de 2017

(Continuação 9) - Actualização em 29/01/2019 e 27/05/2020

Casinos

No século XIX o jogo praticava-se nos cafés e nas pensões ou hotéis.
O povo fazia-o nas tabernas de jogo a pataco, recatadas da vista do público e das autoridades.
Por sua vez os cafés e hotéis eram verdadeiros casinos, com salas próprias para o efeito, onde se apostava forte.
O Café das Hortas, o Café Guichard, o Café Palladium e sobretudo o Café Águia d’Ouro, ficaram célebres, neste capítulo, pela mão de alguns dos nossos melhores escritores.
Alberto Pimentel na sua obra “O Porto há 30 anos”, publicada em 1893, referindo-se a factos da década de sessenta do século XIX, dizia sobre a existência de um local de jogo na Foz do Douro:


"Dava sobre a praia dos banhos o terraço da Assembleia, cuja principal entrada abria para a rua dos Banhos Quentes. Foi n´essa Assembleia que nasceu a primeira rolêta da Foz. Ha mais de vinte annos, a rolêta era uma innovação recente, que produzia sensação. Alguns pais de familia, que nunca jámais jogaram, iam vêr a rolêta, por simples curiosidade, como se póde ir vêr um monstro, uma fera. Os viciosos tomaram-lhe gosto, e, dentro de pouco tempo, a rolêta popularisou-se, a ponto de começarem a funccionar, além da rolêta aristocratica da Assembleia, varias rolêtas pataqueiras e pelintras. Os puritanos, os caturras da jogatina repelliram a rolêta, e continuaram a frequentar a batota do high-life no Passeio Alegre; os encanzinados no vicio do jogo, ultra-viciosos, frequentavam a rolêta e a batota, - accumulavam."


Praia do Caneiro em 1876  -  Fonte: “A Nossa Foz do Douro”


Na gravura acima publicada no livro "As Praias de Portugal, Guia do Banhista e do Viajante", editado em 1876, talvez numa das casas representadas, funcionasse a Assembleia a que se referiu Alberto Pimentel. Na primeira à direita, pode ler-se na placa: “Banhos Quentes”.
Antes de a Câmara Municipal do Porto aprovar o projecto do Largo de Cadouços, em 9/8/1866, existia já um circo que era montado na época balnear.
Em 29/8/1869 foi lá inaugurada uma praça de touros, com uma grande enchente; estariam 2500 pessoas. O delírio pelas touradas durou apenas 2 anos, após os quais mais ninguém lhes ligou. Elas voltariam, no entanto, alguns anos mais tarde.



À direita, o edifício onde funcionou o Clube de Cadouços




“O Clube de Cadouços, também conhecido como Casino de Cadouços – Inaugurado em 1881 – funcionando no “Restaurante de Cadouços”, era frequentado pela elite das famílias que iam a banhos, entre Maio e Outubro. Aqui se reuniam às tardes para conviverem, jogarem cartas, bilhar, dominó. Lugar de leitura e conversa, realizava concertos de música de câmara, árias de ópera e canções; teatro, e reuniões dançantes. A partir de 1884 o clube formou uma orquestra amadora composta por sócios. Eram sempre muito concorridos pelo que muitas vezes o difícil era conseguir bilhetes. Aqui se apresentaram os melhores músicos do Porto dessa época (1881/1910). Era comum músicos amadores, mesmo sócios, também executarem obras com grande sucesso. Este clube também tinha uma finalidade beneficente.
Pagava-se uma jóia de 1$000 reis e 6$000 reis por ano.”
Cortesia de “portoarc.blogspot.com”


Programa do Casino de Cadouços


No início do século XX, no Jardim do Passeio Alegre, em frente ao chalet do Carneiro, existiu o Casino “High-Life”, também conhecido como Casino Internacional da Foz, ou Casino da Foz (como também era designado), mais propriamente na Rua do Passeio Alegre, nº 202 (propriedade da Empresa do Casino Internacional da Foz, Limitada), que foi devorado por incêndio em 12 de Julho de 1911, que destruiu o prédio onde funcionava.
Após a tragédia, o casino teria passado para a para a Rua das Motas nº 9, onde continuou em funcionamento.


À esquerda haveria de estar o Casino Internacional da Foz, devorado por um incêndio, em 1911 - Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto 




Mesma perspectiva, da foto anterior – Fonte: Arquivo Histórico Municipal do Porto



Pela comparação das duas fotos anteriores, poder-se-á concluir que o prédio em 1º plano foi intervencionado e recebeu mais um piso. 
Nele, com entrada lateral, pela Rua das Motas nº 9, teria funcionado o Casino da Foz, depois do incêndio atrás referido.
Nesse prédio, que foi Café e Clube da Foz,  no rés-do-chão, passou a funcionar uma garagem, a partir de 1919.
O edifício contíguo onde esteve primitivamente o Casino Internacional da Foz, passou a albergar o Colégio Brotero, após ter alojado uma alquilaria.




Perspectiva actual das duas fotos anteriores – Fonte: Google maps



Edifício da Rua das Motas, nº 9 - Ed. “ A Nossa Foz do Douro”



O edifício da foto acima, para onde se pensa se mudou o Casino Internacional é, hoje, a sede do Orfeão da Foz do Douro.
À saída da ponte Luís I existiu, também, um casino.
No começo do século XX, existiu o Casino da Ponte, adossado ao muro de suporte dos terrenos da igreja da Serra do Pilar.
Ocupava um bizarro conjunto de edifícios, em que o acesso para o piso principal se fazia pela rua, depois chamada Rua do Casino da Ponte, à cota do tabuleiro superior da ponte Luís I e distribuía-se ainda, escarpa abaixo, por patamares, pela Calçada da Serra.



Igreja da Serra do Pilar, Casino da Ponte e Restaurante L’Étoile, em 1908



Em cima, à direita, a trincheira aberta no morro da Serra do Pilar, em 1905, para permitir a passagem do elétrico.



Abertura no morro da Serra do Pilar para permitir a passagem do carro eléctrico




Morro da Serra do Pilar, em 1942


O edifício do casino era propriedade de Abílio Loureiro Dias, que o arrendou a José Luís de Couto Querido. Este instalou o casino, que foi destruído por um grande incêndio em 21/8/1919.
Os edifícios do conjunto foram, posteriormente, comprados pela firma Barros & Almeida, ligada à produção de vinho do Porto, sendo depois, ocupado por uma empresa de mobiliário.



Casino da Ponte, V. N. de Gaia, à saída da Ponte Luís I


De notar que, na construção do edifício principal onde se instalou o Casino da Ponte, foram usados os quatro arcos que estavam à entrada do convento de São Bento da Ave-Maria, adquiridos aquando da demolição do mosteiro. Três encontram-se voltados para norte (perfeitamente visíveis na imagem acima) e o quarto para poente, integrando a fachada principal.




Casino da Ponte e os seus arcos, numa vista lateral - Ed. Alvão



Convento de S. Bento da Ave-Maria e os seus arcos


No antigo Palácio de Cristal funcionou numa das suas naves laterais, durante alguns anos, um casino, com fotos abaixo.



Casino do Palácio de Cristal - Ed. Foto Alvão



Sala de jogo do casino do Palácio de Cristal - Ed. Foto Alvão



Muitos outros locais ficaram ligados à “jogatana” na cidade, de que se destaca, ainda, o caso do “London Club”.
Em 15 de Junho de 1918 o periódico “ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA” dava conta da abertura nas instalações do antigo Hotel Bragança, sito na Rua de Entreparedes, do denominado “ London Club”:

“Abriu no sabbado da Alleluia esta casa de recreio, instalada no vasto predio do antigo Hotel Braganca á rua de Entreparedes, no Porto, sendo a unica no genero do Norte do Paiz. Deve-se esse melhoramento á iniciativa de rapazes pertencentes á bôa sociedade portuense, na vanguarda dos quaes é justo mencionar os nomes de Alberto Carneiro da Rocha, Casimiro Coelho de Lacerda, Julio Paulo dos Santos e AméricoTeixeira, que não olharam a esforços e sacrificios para preencher essa lacuna na segunda cidade do Paiz e que mereceu as melhores referencias da Imprensa”.



Entrada do “London Club” - Ed. ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA



Sala de Jogos do “London Club” - Ed. ILLUSTRAÇÃO CATHOLICA



London Club


À esquerda da foto (com a Praça dos Poveiros em fundo) esteve o “London Club”, num prédio que já foi esquadra de polícia.
Uma eficaz legislação para a regulamentação da “Lei de Exploração do Jogo” surgiria, apenas, em 3 de Dezembro de 1927 e, a partir daí, com regras definidas e bem claras. 

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