quarta-feira, 29 de março de 2017

(Continuação 4)


O Salão Chiado do Porto foi uma pequena sala de cinema inaugurada em Agosto de 1907, tendo encerrado por volta de 1934. Localizava-se na Rua das Carmelitas e foi pioneiro na utilização de “cupões de desconto”. Os “cupões” eram publicados diariamente no "Jornal de Notícias" e davam um desconto de 20% na aquisição de um bilhete.
 
 
 
 

Vista aérea de demolições, em 1953, para reconversão do Mercado do Anjo. Por aqui, esteve, entre 1907 e 1934 o Salão Chiado – Fonte: AHMP
 
 
 
 
A entrada no Mercado do Anjo, a partir da cota mais baixa da esquina da Rua das Carmelitas com São Filipe de Néri, realizava-se através de uma escada existente nessa esquina.
A escada era ladeada por dois edifícios projetados pelo arquitecto Marques da Silva na sua proposta para o "Novo Mercado do Anjo", de 1905.
 
 

Neste local, Junto à Igreja dos Clérigos, funcionou o Salão Chiado – Fonte: Google maps





Este cinema esteve na esquina das Ruas Alexandre Herculano e Duque de Loulé, no local onde existe um belo edifício que foi ocupado pela EDP e antes tinha sido pela "Eléctrica del Lima".

 “O Metropolitano era engraçado porque representava uma estação de caminho do ferro, com o seu cais e uma carruagem a entrar em túnel. A Carruagem era o salão em que passavam os filmes, que representavam uma viagem qualquer, em caminho de ferro. A tela estava ao fundo da carruagem e todos os lugares estavam virados para a tela. Quando começava o espectáculo, fechava-se a carruagem e dava-se o sinal de partida, ouvia-se um apito e a carruagem começava a estremecer como se fosse andar, dando-se ao espectador a ilusão de que andava”. 
Um leitor de O Tripeiro


Edifício da "Eléctrica del Lima"



Salão Jardim Passos Manuel


O Jardim Passos Manuel, situado na rua do mesmo nome, foi inaugurado a 18 de Março de 1908 e construído por iniciativa do empresário portuense Luiz Alberto Faria Guimarães. Dispunha de jardins com esplanada e uma sala de bingo no local hoje ocupado pelo Cinema Passos Manuel. Tinha também um cinema ao ar livre, uma central elétrica que fornecia energia às ruas limítrofes, um restaurante, um quiosque de venda de jornais e revistas, um salão exclusivo para reuniões de negócios, um café-concerto que tinha em permanência uma orquestra, um clube nocturno e um recreio para crianças. No jardim, um coreto servia de palco.
Este espaço foi demolido em 1938, nascendo no seu lugar o Coliseu do Porto e o Cinema Passos Manuel.



Entrada do Salão Jardim Passos Manuel



Vista actual do que foi a frente do Jardim Passos Manuel – Ed. MAC



Pela foto anterior, poder-se-á concluir que a frente do Jardim Passos Manuel que confinava com a Rua de Passos Manuel, corresponderá, nos nossos dias, à frente do Coliseu do Porto e ainda a um prédio construído a montante.
O Jardim Passos Manuel era um lugar elegante, sofisticado, moderno, baseado nos jardins parisienses da época, e proporcionava todo o tipo de entretenimentos: café-concerto, music-hall, esplanada e cinematógrafo.




Hall do Salão Jardim Passos Manuel



Publicidade ao Jardim Passos Manuel



Edifício do restaurante e palco coreto



Jardim Passos Manuel



Esplanada e palco coreto do Salão Jardim Passos Manuel



Em 1911, este Salão é renovado e ampliado, passando também a incluir jardim-esplanada, salão de festas, pavilhão restaurante, hall e um pequeno teatro.


Salão de Festas do Jardim Passos Manuel - Fonte: AHMP




Com a descoberta de mais de 2.000 partituras com o carimbo do Arquivo Musical do Jardim Passos Manuel, veio comprovar-se que neste salão actuavam, permanentemente, uma orquestra e dois sextetos, o que revela a importância e a popularidade deste espaço.
Uma exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, em 1916, foi apresentada nas magníficas instalações do Jardim Passos Manuel.
Mas não foi bem recebida por uma parte significativa da intelectualidade portuense daquele tempo – apesar de ter sido moderadamente elogiada pela imprensa da época. Dois casos, pouco conhecidos do grande público, que Álvaro Pinto relata no número 108 (1947) da revista “Ocidente” que ele dirigia, dão-nos uma ideia do que foi a reação desse sector da intelectualidade portuense daquele tempo. O primeiro foi protagonizado por Eduardo Artayete, misto de poeta romântico e boémio noctívago.
No dia da inauguração da mostra no Jardim Passos Manuel, quando a cerimónia ia no seu auge, ouviu-se, vindos de um canto da sala, gritos de “acudam-me, acudam-me, que horríveis tonturas …” Era Artayete que, agachado e com as mãos a agarrar a cabeça, protestava, à sua maneira, contra o tipo de pintura ali exposta.
O segundo caso aconteceu dias depois da exposição. Amadeo de Souza-Cardoso apareceu no serviço de urgência do Hospital de Santo António onde foi atendido pelo médico Júlio Abeillard Teixeira.
Tinha sido agredido ao sair da exposição, como contou no hospital: 


“Descia a rua de Passos Manuel e já tinha passado o cruzamento com a rua de Santa Catarina quando notei que alguém me seguia monologando. Apressei o passo. Perto da travessa (actual rua do Ateneu Comercial do Porto) a pessoa que me seguia interpelou-me: olhe lá, o senhor é que pintou aquilo que está lá em cima? Sim, fui eu … não pude dizer mais nada. O homem agrediu-me com rancor e eu nem tive tempo de me defender. Quando apanhei o chapéu já o sujeito se tinha raspado…”


O jornal "A Montanha", que costumava publicitar, diariamente, o programa do Jardim Passos Manuel, também não apreciou o estilo apresentado pelo pintor, dizendo:

"Aquilo não é abstracionismo, é obstrucionismo"


Envolvendo a citada exposição, alguns cuidados foram tomados no âmbito da logística. Assim, os quadros do artista após serem recebidos em caixotes na estação ferroviária de S. Bento, foram transportados, em carros de bois, para a Travessa Passos Manuel, onde se situavam os armazéns da «Fábrica Confiança», empresa com entrada pela Rua de Santa Catarina, ficando lá depositados, porque esta ficava a escassos metros do local onde iria decorrer a exposição.
Como curiosidade, diga-se que Amadeo tinha trabalhado algum tempo na fábrica Confiança como caixeiro.
Abaixo, pode ler-se o anúncio da Exposição de Pintura (abstracionismo) de Amadeo de Souza-Cardoso, realizada de 1 a 12 de Novembro de 1916, no Salão de Festas Jardim Passos Manuel, no Porto.


 

Programação do Jardim Passos Manuel no jornal “A Montanha”, 1 de Novembro de 1916
 
 
 
No dealbar da década de 1920, acompanhando a evolução dos hábitos e dos tempos, o Salão Jardim Passos Manuel renova-se.
 
 

Nova Fachada do Jardim Passos Manuel – Fonte: AHMP



Numa óptica de renovação, o Jardim Passos Manuel passaria a abrir as portas ao fim da tarde, como café-concerto. Às nove e meia começavam as sessões de cinema. No jardim, durante o Verão, havia exibições ao ar livre. Mas a grande boémia começava depois da meia-noite. O music-hall recebia uma clientela masculina de todas as idades e extractos sociais atraída, pela sedução das danças das coristas e, pelo salero e sapateado das dançarinas espanholas.
Era, assim, um espaço polivalente, que acolhia sucessos do cinematógrafo, saraus, reuniões culturais e conferências. As festas carnavalescas foram as mais atractivas e as que mais abrilhantaram o recinto, ficando na memória de todos aqueles que estiveram presentes.
Este Salão chegou mesmo a ganhar fama de casamenteiro, pois os rapazes e as raparigas de então não tinham muitas outras oportunidades de se conhecerem. Dizem que muitos dos namoros aqui iniciados acabaram em casamentos.
Mais do que um mero espaço de diversão, o Salão Jardim marcou uma época, sendo um pólo de animação cultural e recreativa, dinamizando a cidade com espectáculos e atracções de todo o tipo, trazendo ao Porto grandes nomes da música e do espectáculo.
No final dos anos 30, a sua actividade começou a decair, o que em parte se deveu à aparição de novas formas de entretenimento: rádio, indústria fonográfica e os salões de baile. Mas o Salão Jardim Passos Manuel permaneceu para sempre vivo na memória de muitos. Foi neste local mítico que o Porto viu nascer o Coliseu.


Sala de concertos e teatro do Salão Jardim Passos Manuel



Palco no Exterior


Central Eléctrica



Inaugurado em Agosto de 1907 na confluência da Rua da Conceição e Rua José Falcão, antiga Rua D. Carlos, o Salão Pathé gozou de grande popularidade nos primeiros anos da sua existência. Segundo notícias publicadas na época, as sessões com lotação esgotada eram comuns. Tal sucesso era devido, em grande parte, ao facto de ser frequentado maioritariamente pela burguesia, atraída pelas excelentes instalações do salão, que eram consideradas na altura as mais completas, confortáveis e elegantes da cidade do Porto. Inicialmente eram projetadas duas a três sessões diárias. 
Em 2 de Julho de 1909, o Pathé exibiu "O Homem dos Bonecos", primeiro filme colorido, passado no Porto.
Com o surgimento do cinema sonoro, o Pathé foi entrando em declínio e acabaria por encerrar por volta de 1932.


Aqui esteve o Salão Pathé - Fonte: Google Maps

Cartaz de filme a passar no Phaté






O Cinema da Carvalhosa situava-se ao lado do edifício da Faculdade de Farmácia na Rua Aníbal Cunha e em 1905 já exibia películas. Chegou a ser conhecido como Salão da Carvalhosa e encerrou a sua actividade cerca de 1926, sendo, durante os anos 30, convertido em garagem. Algumas décadas depois, o edifício foi demolido sendo substituído por outro mais moderno e curiosamente voltou a funcionar como garagem.


Edifício original do Cinema da Carvalhosa, já como estação de serviço


Publicidade do Salão da Carvalhosa no “Voz Publica” em 29/09/1909




O Edifício actual é uma garagem





Em 8 de Julho 1907 ao Largo Marquês de Pombal/Rua da Constituição, julga-se que mais propriamente na Rua do Lindo Vale é inaugurado o Salão Marquez de Pombal, sendo empresário Armindo José Fernandes.



Por aqui esteve o Salão do Marquês na Rua Lindo Vale







Inaugurado em 27 de Abril de 1907, na Rua Alexandre Herculano propriedade de Don António Manresa, não se sabendo outros pormenores.







Nos baixos do prédio, à Praça dos Voluntários da Rainha e que tinha também acesso pela Rua da Galeria de Paris, foi possível aos fregueses da conhecida loja, transpondo esta entrada, a partir de 9 de Maio de 1907, frequentar uma sala de espectáculos (concertos musicais e animatógrafo), que podia comportar 1000 espectadores.
A construção do referido prédio, que ainda sobrevive nos nossos dias, foi executada sob a direcção de José Isidro de Campos, pelo conselheiro Boaventura Rodrigues de Sousa.
Este animatógrafo teve licença de funcionamento até Junho de 1909.
 
 
 

Grandes Armazéns do Chiado






Em 30 de Março de 1907, é inaugurado na Rua do Bonjardim ao Pátio do Paraíso, o Salão Cinematográfico Portuense que, em Julho, passou a chamar-se Animatographo do Paraíso e em Outubro Salão D’Élite.
 

Pátio do Paraíso da Associação Humanitária Bombeiros Voluntários do Porto – Ed. Foto Guedes





São poucas as informações sobre esta velhinha sala de cinema. Parece ter sido inaugurado em 10 de Fevereiro de 1907. Como o nome indica, ficava localizada na Rua de Santa Catarina e era uma sala de pequenas dimensões e sem grandes luxos. A sua memória perdeu-se com o tempo, mas, talvez se possa dizer, que ficava no local de que nos fala um texto do “O Comércio do Porto”.

“Começam a realizar-se sessões de cinematógrafo no Salão de Santa Catarina, na rua do mesmo nome, em frente à Rua Firmeza, também com sessões triplas à noite”.
Fonte: “O Comércio do Porto”, 23.02.1907, p. 3

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