O Salão Chiado do Porto foi uma pequena sala de cinema
inaugurada em Agosto de 1907, tendo encerrado por volta de 1934. Localizava-se
na Rua das Carmelitas e foi pioneiro na utilização de “cupões de desconto”. Os
“cupões” eram publicados diariamente no "Jornal de Notícias" e davam
um desconto de 20% na aquisição de um bilhete.
Vista aérea de
demolições, em 1953, para reconversão do Mercado do Anjo. Por aqui, esteve,
entre 1907 e 1934 o Salão Chiado – Fonte: AHMP
A entrada no Mercado
do Anjo, a partir da cota mais baixa da esquina da Rua das Carmelitas com São
Filipe de Néri, realizava-se através de uma escada existente nessa esquina.
A escada era ladeada
por dois edifícios projetados pelo arquitecto Marques da Silva na sua proposta
para o "Novo Mercado do Anjo", de 1905.
Este cinema esteve
na esquina das Ruas Alexandre Herculano e Duque de Loulé, no local onde existe
um belo edifício que foi ocupado pela
EDP e antes tinha sido pela "Eléctrica del Lima".
“O
Metropolitano era engraçado porque representava uma estação de caminho do
ferro, com o seu cais e uma carruagem a entrar em túnel. A Carruagem era o
salão em que passavam os filmes, que representavam uma viagem qualquer, em
caminho de ferro. A tela estava ao fundo da carruagem e todos os lugares
estavam virados para a tela. Quando começava o espectáculo, fechava-se a
carruagem e dava-se o sinal de partida, ouvia-se um apito e a carruagem
começava a estremecer como se fosse andar, dando-se ao espectador a ilusão de
que andava”.
Um leitor de O
Tripeiro
Edifício da "Eléctrica del Lima"
Salão Jardim Passos Manuel
O Jardim Passos Manuel, situado na rua do mesmo nome, foi inaugurado
a 18 de Março de 1908 e construído por iniciativa do empresário portuense Luiz
Alberto Faria Guimarães. Dispunha de jardins com esplanada e uma sala de bingo
no local hoje ocupado pelo Cinema Passos Manuel. Tinha também um cinema ao ar
livre, uma central elétrica que fornecia energia às ruas limítrofes, um
restaurante, um quiosque de venda de jornais e revistas, um salão exclusivo
para reuniões de negócios, um café-concerto que tinha em permanência uma
orquestra, um clube nocturno e um recreio para crianças. No jardim, um coreto
servia de palco.
Este espaço foi demolido em 1938, nascendo no seu lugar o
Coliseu do Porto e o Cinema Passos Manuel.
Entrada do Salão Jardim Passos Manuel
Vista actual do que foi a frente do Jardim Passos Manuel – Ed.
MAC
Pela foto anterior, poder-se-á concluir que a frente do Jardim
Passos Manuel que confinava com a Rua de Passos Manuel, corresponderá, nos nossos
dias, à frente do Coliseu do Porto e ainda a um prédio construído a montante.
O Jardim Passos Manuel era um lugar elegante, sofisticado,
moderno, baseado nos jardins parisienses da época, e proporcionava todo o tipo
de entretenimentos: café-concerto, music-hall, esplanada e cinematógrafo.
Hall do Salão Jardim Passos Manuel
Publicidade ao Jardim Passos Manuel
Edifício do restaurante e palco coreto
Jardim Passos Manuel
Esplanada e palco coreto do Salão Jardim Passos Manuel
Em 1911, este Salão é renovado e ampliado, passando também a
incluir jardim-esplanada, salão de festas, pavilhão restaurante, hall e um
pequeno teatro.
Com a descoberta de mais de 2.000 partituras com o carimbo
do Arquivo Musical do Jardim Passos Manuel, veio comprovar-se que neste salão
actuavam, permanentemente, uma orquestra e dois sextetos, o que revela a
importância e a popularidade deste espaço.
Uma exposição de Amadeo de Souza-Cardoso, em 1916, foi apresentada nas
magníficas instalações do Jardim Passos Manuel.
Mas não foi bem recebida por uma parte significativa da
intelectualidade portuense daquele tempo – apesar de ter sido moderadamente
elogiada pela imprensa da época. Dois casos, pouco conhecidos do grande
público, que Álvaro Pinto relata no número 108 (1947) da revista “Ocidente” que
ele dirigia, dão-nos uma ideia do que foi a reação desse sector da
intelectualidade portuense daquele tempo. O primeiro foi protagonizado por
Eduardo Artayete, misto de poeta romântico e boémio noctívago.
No dia da inauguração da mostra no Jardim Passos Manuel,
quando a cerimónia ia no seu auge, ouviu-se, vindos de um canto da sala, gritos
de “acudam-me, acudam-me, que horríveis tonturas …” Era Artayete que, agachado
e com as mãos a agarrar a cabeça, protestava, à sua maneira, contra o tipo de
pintura ali exposta.
O segundo caso aconteceu dias depois da exposição. Amadeo de
Souza-Cardoso apareceu no serviço de urgência do Hospital de Santo António onde
foi atendido pelo médico Júlio Abeillard Teixeira.
Tinha sido agredido ao sair da exposição, como contou no
hospital:
“Descia a rua de
Passos Manuel e já tinha passado o cruzamento com a rua de Santa Catarina
quando notei que alguém me seguia monologando. Apressei o passo. Perto da
travessa (actual rua do Ateneu Comercial do Porto) a pessoa que me seguia
interpelou-me: olhe lá, o senhor é que pintou aquilo que está lá em cima? Sim,
fui eu … não pude dizer mais nada. O homem agrediu-me com rancor e eu nem tive
tempo de me defender. Quando apanhei o chapéu já o sujeito se tinha raspado…”
O jornal "A Montanha", que costumava publicitar, diariamente, o programa do Jardim Passos Manuel, também não apreciou o estilo apresentado pelo pintor, dizendo:
"Aquilo não é abstracionismo, é obstrucionismo"
Envolvendo a citada exposição, alguns cuidados foram tomados no âmbito da
logística. Assim, os quadros do artista após serem recebidos em caixotes na estação
ferroviária de S. Bento, foram transportados, em carros de bois, para a Travessa
Passos Manuel, onde se situavam os armazéns da «Fábrica Confiança», empresa com
entrada pela Rua de Santa Catarina, ficando lá depositados, porque esta ficava
a escassos metros do local onde iria decorrer a exposição.
Como curiosidade, diga-se que Amadeo tinha trabalhado algum tempo na fábrica Confiança como caixeiro.
Abaixo, pode ler-se o anúncio da Exposição de Pintura (abstracionismo) de Amadeo de Souza-Cardoso, realizada de 1 a 12 de Novembro de 1916, no Salão de Festas Jardim Passos Manuel, no Porto.
No dealbar da década de 1920, acompanhando a evolução dos
hábitos e dos tempos, o Salão Jardim Passos Manuel renova-se.
Numa óptica de renovação, o Jardim Passos Manuel passaria a abrir as portas ao fim da tarde, como
café-concerto. Às nove e meia começavam as sessões de cinema. No jardim,
durante o Verão, havia exibições ao ar livre. Mas a grande boémia começava
depois da meia-noite. O music-hall recebia uma clientela masculina de todas as
idades e extractos sociais atraída, pela sedução das danças das coristas e,
pelo salero e sapateado das dançarinas espanholas.
Era, assim, um espaço polivalente, que acolhia sucessos
do cinematógrafo, saraus, reuniões culturais e conferências. As festas
carnavalescas foram as mais atractivas e as que mais abrilhantaram o recinto,
ficando na memória de todos aqueles que estiveram presentes.
Este Salão chegou mesmo a ganhar fama de casamenteiro, pois
os rapazes e as raparigas de então não tinham muitas outras oportunidades de se
conhecerem. Dizem que muitos dos namoros aqui iniciados acabaram em casamentos.
Mais do que um mero espaço de diversão, o Salão Jardim
marcou uma época, sendo um pólo de animação cultural e recreativa, dinamizando
a cidade com espectáculos e atracções de todo o tipo, trazendo ao Porto grandes
nomes da música e do espectáculo.
No final dos anos 30, a sua actividade começou a decair, o
que em parte se deveu à aparição de novas formas de entretenimento: rádio,
indústria fonográfica e os salões de baile. Mas o Salão Jardim Passos Manuel
permaneceu para sempre vivo na memória de muitos. Foi neste local mítico que o
Porto viu nascer o Coliseu.
Sala de concertos e teatro do Salão Jardim Passos Manuel
Palco no Exterior
Central Eléctrica
Inaugurado em Agosto de 1907 na confluência da Rua da
Conceição e Rua José Falcão, antiga Rua D. Carlos, o Salão Pathé gozou
de grande popularidade nos primeiros anos da sua existência. Segundo notícias
publicadas na época, as sessões com lotação esgotada eram comuns. Tal sucesso
era devido, em grande parte, ao facto de ser frequentado maioritariamente pela
burguesia, atraída pelas excelentes instalações do salão, que eram consideradas
na altura as mais completas, confortáveis e elegantes da cidade do Porto.
Inicialmente eram projetadas duas a três sessões diárias.
Em 2 de Julho de 1909, o Pathé exibiu "O Homem dos Bonecos", primeiro filme colorido, passado no Porto.
Com o surgimento do
cinema sonoro, o Pathé foi entrando em declínio e acabaria por encerrar por
volta de 1932.
Aqui esteve o Salão
Pathé - Fonte: Google Maps
Cartaz de filme a passar no Phaté
O Cinema da Carvalhosa situava-se ao lado do edifício da
Faculdade de Farmácia na Rua Aníbal Cunha e em 1905 já exibia películas. Chegou
a ser conhecido como Salão da Carvalhosa e encerrou a sua actividade cerca de
1926, sendo, durante os anos 30, convertido em garagem. Algumas décadas depois,
o edifício foi demolido sendo substituído por outro mais moderno e curiosamente
voltou a funcionar como garagem.
Edifício original do Cinema da Carvalhosa, já como estação
de serviço
Publicidade do Salão da Carvalhosa no “Voz Publica” em 29/09/1909
Salão Marquez de Pombal
Em 8 de Julho 1907 ao Largo Marquês de Pombal/Rua da
Constituição, julga-se que mais propriamente na Rua do Lindo Vale é inaugurado
o Salão Marquez de Pombal,
sendo empresário Armindo José Fernandes.
Por aqui esteve o Salão do Marquês na Rua Lindo Vale
Inaugurado em 27 de Abril de 1907, na Rua Alexandre
Herculano propriedade de Don António Manresa, não se sabendo outros pormenores.
Nos baixos do prédio, à Praça dos Voluntários da Rainha e
que tinha também acesso pela Rua da Galeria de Paris, foi possível aos fregueses
da conhecida loja, transpondo esta entrada, a partir de 9 de Maio de 1907,
frequentar uma sala de espectáculos (concertos musicais e animatógrafo), que podia
comportar 1000 espectadores.
A construção do referido prédio, que ainda sobrevive nos
nossos dias, foi executada sob a direcção de José Isidro de Campos, pelo
conselheiro Boaventura Rodrigues de Sousa.
Este animatógrafo teve licença de funcionamento até Junho de 1909.
Em 30 de Março de 1907, é inaugurado na Rua do Bonjardim ao
Pátio do Paraíso, o Salão Cinematográfico Portuense que, em Julho, passou a
chamar-se Animatographo do Paraíso e
em Outubro Salão D’Élite.
São poucas as informações sobre esta velhinha sala de
cinema. Parece ter sido inaugurado em 10 de Fevereiro de 1907. Como o nome
indica, ficava localizada na Rua de Santa Catarina e era uma sala de pequenas
dimensões e sem grandes luxos. A sua memória perdeu-se com o tempo, mas, talvez
se possa dizer, que ficava no local de que nos fala um texto do “O Comércio do
Porto”.
“Começam a realizar-se
sessões de cinematógrafo no Salão de Santa Catarina, na rua do mesmo nome, em
frente à Rua Firmeza, também com sessões triplas à noite”.
Fonte: “O Comércio
do Porto”, 23.02.1907, p. 3
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