sábado, 16 de novembro de 2024

25.259 Dois hotéis que são referência há mais de um século

 
Grande Hotel da Batalha
 

Grande Hotel da Batalha ocupou o prédio onde, antes, tinha estado o Hotel Maria, cujo proprietário, Manuel Bento Rodrigues, em Julho de 1913, solicitava à Câmara do Porto uma série de obras para o acesso ao piso térreo e, em Outubro desse mesmo ano, dava conta à mesma entidade de que pretendia construir uma “devanture” em ferro, naquele mesmo piso, que obteria a licença de obra nº 1252/1913,
 
 
 

Desenho de “devanture”, ornamentando o rés-do-chão, integrante de projecto referente à licença de obra nº 1252/1913
 
 
 
 
A “devanture”, atrás mencionada, pode ser apreciada na foto seguinte, quando foram homenageados durante uma visita à cidade do Porto, os aviadores Brito Paes, Sarmento Beires e Manoel Gouveia.
 
 
 
 

Grande Hotel da Batalha, em 1924
 
 
 
O Grande Hotel da Batalha tinha sucedido, então, ao Hotel Maria.
Nesse mesmo local, tinha estado, sucessivamente, o Hotel Estrela do Norte fundado em 1862 e transferido para a Rua de Entreparedes e o Hotel Batalha fundado em 27 de Outubro de 1864.

 
 
 

In jornal “O Commercio do Porto” de 27 de Outubro de 1864
 
 
 
O Hotel Batalha não vingou muito tempo, sendo substituído pelo Hotel Particular que, por sua vez, cederia o espaço ao Hotel Oriental que, em 1877, já lá estava instalado.


 
 

Publicidade ao Hotel Oriental, em 1877
 
 
 
Foi então a vez de por lá se instalar o Hotel Gibraltar, de Manoel António Fernandes e, finalmente, o Hotel Maria.
Em 1913, surgiria o Grande Hotel da Batalha, após uma grande intervenção para melhoria das suas instalações.

 
 
 


Interiores do Grande Hotel da Batalha, após a intervenção, em 1913
 



À esquerda, o Grande Hotel da Batalha, em 1915
 



Publicidade ao Grande Hotel da Batalha, em 1930

 
 
O Grande Hotel da Batalha seria remodelado com um projecto de 1937 do arquitecto José Porto (1883-1965), cujas obras foram dadas como concluídas, em 20 de Maio de 1940.


 
 

Publicidade ao Grande Hotel da Batalha, em 1941, após a remodelação do arquitecto José Porto
 
 
 
 
Em 7 de Dezembro de 1944, os irmãos António e José Abrantes Jorge, donos do Hotel Aliança, situado na Rua Sampaio Bruno, compram o Grande Hotel da Batalha à “Sociedade Exploradora do Grande Hotel da Batalha no Porto”.
António Abrantes Jorge viria a ser representante à Câmara Corporativa, representando a União dos Grémios da Indústria Hoteleira e Similares do Norte e, ainda, vereador na Câmara Municipal do Porto.
O Grande Hotel vai, então, ser sujeito a obras de vulto a cargo do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães, que se estenderam por alguns anos permitindo, no entanto, o funcionamento do hotel.
O pedido de licenciamento respectivo é feito à Câmara Municipal do Porto, na qualidade de requerente, por “Silva Ferraz e Companhia, Limitada”, obtendo a licença nº 219/1945.

 
 
 

À esquerda, o Grande Hotel da Batalha, antes das obras iniciadas em 1945




Grande Hotel da Batalha, após remodelação profunda, com um projecto de 1945 do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães


 
 

Interiores do Grande Hotel do Porto, após as obras de remodelação
 
 
 
 
 
 

Extrato de notícia publicada no jornal “Diário de Lisboa” de 6 de Novembro de 1955 – Cortesia da “Fundação Mário Soares”

 
 
 

Grande Hotel da Batalha, em 1955

 
 
 

A meio da foto, o “Grande Hotel da Batalha”, na década de 1960

 
 
 
À esquerda do Grande Hotel da Batalha é a Rua de Cima de Vila.
Próximo do fim do milénio, a cadeia Mercure adquire o “Grande Hotel da Batalha” e passa a ser, a partir de 2003, o hotel “Mercure Porto Batalha”, após grandes obras de remodelação.
O edifício passa a ter 6 andares, 149 quartos e 9 suites e, ainda, uma sala de conferências.
 
 
 
 

“Hotel Mercure Batalha”
 
 
 
 
Em 2008, o hotel “Mercure Porto Batalha” passa a designar-se hotel “Mercure Porto Centro”, mas, actualmente, já é o hotel “Mercure Porto Centro Santa Catarina”.





Hotel “Mercure Porto Centro Santa Catarina”
 


 
 
 
Grande Hotel do Porto
 

 
Grande parte dos terrenos, a poente da Rua de Santa Catrina, nomeadamente, onde mais tarde foi erguido o Grande Hotel do Porto era, na primeira metade do século XIX, quintas e terrenos lavradios pertencentes à grande empresária D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha do vinho do Porto.
Como se pode observar, abaixo, na planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833), grande parte daquela área estava por urbanizar.

 
 
 

Rua Santa Catarina (a meio na vertical) em planta de Baldwin & Cradock (Londres 1833)
 
 
 
 
O quarteirão entre o que são hoje as ruas de Santa Catarina, Sá da Bandeira, Passos Manuel e Formosa pertencia a Francisco da Cunha Magalhães e a D. Antónia Ferreira.
Os terrenos onde foi levantado o Grande Hotel do Porto, pertenceram a D. Adelaide Ferreira, vulgo a “Ferreirinha” da Régua que tinha uma casa apalaçada nesse local.
Essas terras eram atravessadas por um ribeiro que vinha desde a Rua das Carvalheiras na Fontinha onde nascia e junto à Estação de S. Bento era um dos cursos de água que formavam o rio da Vila e alimentava uma fonte, já demolida, na esquina da Rua de Santa Catarina e da antiga Viela das Pombas (actual António Pedro) que por isso se chamava Fonte das Pombas.
Na frontaria essa fonte tinha gravada uma alusão à batalha efectivada na Ponte Ferreira durante o Cerco do Porto.
Na planta acima, é possível ver o percurso do ribeiro referido que nasce nas Carvalheiras e o traçado da Rua de Santa Catarina a meio, na vertical, partindo dos largos de Santo Ildefonso e da Batalha e ainda, notar, como é óbvio, que as ruas de Sá da Bandeira começada em 1877 e de Passos Manuel começada em 1874 e o Mercado do Bolhão (por cujo solo passa o referido ribeiro), ainda não tinham surgido. Para urbanizar a actual Rua do Ateneu Comercial do Porto foi necessário encanar o ribeiro.
O terreno onde ficava a Fonte das Pombas foi, a partir de 1904, disputadíssimo, tendo saído como vencedor, entre diversos pretendentes, o proprietário da vizinha Camisaria Confiança, que indemnizou um outro concorrente que, aí, já tinha começado a construir.
Um ano depois, acabou por vendê-lo a outro, de nome Avelino Correia, num negócio deveras escuro, que obrigou a Fazenda a processar o Cunha da camisaria e o Avelino, por simulação de negócio.
A água daquele ribeiro viria, mais tarde, a ser utilizada nos sanitários do Café Brasil (ainda existente) ao fundo da Rua da Madeira, junto da Estação de S. Bento.
O Grande Hotel do Porto, inaugurado em 27 de Março de 1880, é um dos hotéis de maior prestígio da cidade, e nasceu por vontade de Daniel Martins de Moura Guimarães, um rico comerciante de arte que foi para o Brasil com 17 anos e regressou ao Porto em 1867.
Aqui chegado e após viajar pela Europa, desafiou o arquitecto Silva Sardinha para traçar um hotel de referência na cidade.
Sendo Daniel Moura Guimarães um apaixonado pelas artes e pelas viagens, autor de um guia que o torna célebre, o “Guia do Amador de Bellas-Artes” (1871), no qual descreve a arte, o património e os aspetos mais relevantes dos locais que visita.
É, pois, com base nos conhecimentos adquiridos, e tendo como objetivo reproduzir, no Porto, o charme das capitais europeias, que decide construir um hotel semelhante aos que conhecera.
 
 
“O “Hotel do Porto”, talhado desde os alicerces para ser uma casa de hospedagem de primeira ordem, é propriedade do sr. Daniel Martins de Moura Guimarães e entra amanhã em exercício das suas funções de hospitalidade, inaugurando-se com o jantar ao bando que festeja a execução capital do menos perverso do Judas, o de palha.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 26 de Março de 1880; Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pág.588
 
 
 
Como se observa na notícia acima, o hotel foi inaugurado em Sábado de aleluia e foi, por detrás da sua fachada vitoriana foi, ao longo dos tempos, testemunha de amores e espionagem, poiso de fugitivos e ilustres.
À data de inauguração, o hotel oferecia uma série de serviços que constituíam uma enorme novidade.
 
 
 
“O hotel oferecia 40 quartos, cinco suítes, (uma delas a suite real) e outros espaços: Sala de Leitura, Sala de Música, Sala de Jogos e Sala da Senhoras. Nas traseiras do Hotel, na Rua do Ateneu Comercial do Porto, situavam-se os balneários, abertos ao público com água quente e fria, algo muito raro à época. Daniel Moura Guimarães convidou o Dr. Ricardo Jorge e o Dr. Augusto Brandão para diretores de duches e Paulo Lauret para professor de ginástica, naquilo que seria à altura um antecessor dos modernos spa’s.
O Grande Hotel do Porto oferecia serviço de banquetes, bailes e festas que atraíam as figuras notáveis do Reino, da política, da arte e da sociedade”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
 
 
 
Quando o imperador D. Pedro II e sua mulher, a imperatriz Teresa Cristina Maria, vieram exilados para a cidade do Porto, em 1889, aquando da implantação da República no Brasil, foi no Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina, que se hospedaram e, num dos seus quartos, que a imperatriz morreu na manhã do dia 28 de Dezembro de 1889.
Eça de Queirós era hóspede frequente da unidade hoteleira, e o Duque de Windsor também aqui esteve, e tem sala com o seu nome.
 
 
 
 
 

Publicidade ao Grande Hotel do Porto, em 1898


 
 

À direita, o Grande Hotel do Porto e, à esquerda, a Camisaria Confiança, em 1899





Fachada do Grande Hotel do Porto engalanada para o Carnaval de 1905





Em 1912, à porta do Grande Hotel do Porto, uns passageiros entram numa caleche de aluguer – Ed. Alberto Marçal Brandão (1848-1919)
 




Fachada do Grande Hotel do Porto, em 1913, quando era seu único proprietário, desde há alguns anos, José de Oliveira Basto
 
 
 
A fachada do hotel da gravura anterior manter-se-ia até 1917 quando, José de Oliveira Basto, brasileiro de torna-viagem que, a partir do fim do século XIX, se torna co-proprietário do hotel e, depois, único proprietário, pois compra a parte adquirida aos herdeiros de Moura Guimarães, vai realizar obras de vulto no hotel.



 
Extrato de artigo da autoria de Simão de Laboreiro, sobre o Grande Hotel do Porto, In jornal “A Situação” (jornal Republicano da manhã), em 28 de Agosto de 1818


 
Na sequência das obras surge, na cobertura de edifício, um Terraço Panorâmico.
O Terraço era uma novidade na cidade do Porto e atraía muitas personalidades que aproveitavam para apreciar a vista que oferecia. 
 
 
 
 

Terraço do Grande Hotel do Porto
 
 
 
Após as obras mencionadas, transposta a entrada do hotel, apresentava-se um grande vestíbulo, de acesso à sala de leitura, à sala de visitas, à sala de estar e ao corredor, dotado de colunas.
Nos 23 anos que se seguiram às obras executadas sob a orientação de José d’Oliveira Basto, as instalações do hotel foram sucessivamente intervencionadas e melhoradas, sem necessidade de interromper o seu funcionamento.
Este foi, também, o hotel onde ficaram alojados Gago Coutinho e Sacadura Cabral, alguns meses após a sua travessia do Atlântico Sul e onde, foram alvo de uma manifestação de carinho popular, por parte da população, a 4 de Dezembro de 1922.
Antes, em Dezembro de 1917, aquando do golpe de estado de Sidónio Pais, nas instalações foi preso o primeiro-ministro Afonso Costa, aí hospedado
 
 
 
 

Grande Hotel do Porto na homenagem aos aviadores


 
Publicidade ao Grande Hotel do Porto, em 1934 


 
O hotel será, entretanto, vendido.
 
 
“O hotel é vendido a D. Ângelo Vasquez Enriquez e António Maria Lopes. Os novos donos continuam a ampliação e reforma do espaço: é criada uma nova cozinha, no vão que existia entre o hotel e a então Camisaria Confiança”.
Fonte: “grandehotelporto.com”


 
 

Cozinha do Grande Hotel do Porto
 
 
 

À direita, o Grande Hotel do Porto com os carros estacionados à sua porta
 
 
 
Chegados à década de 1940, é introduzido o Livro de honra e surge o Salão de Inverno.
 
 
“Um novo espaço nasce no Grande Hotel do Porto. O Salão de Inverno apresentava uma claraboia e um fogão de sala, que funcionava nos meses de inverno. A decoração foi da responsabilidade da Casa Nascimento. Hoje é aqui que encontramos a Sala Douro”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
 


 

Bar, Sala de Fumo e Salão de inverno do Grande Hotel do Porto
 

 
 

Grande Hotel do Porto, na década de 1940
 
 
 
Entre 1940 e 1960, uma série de obras são realizadas e António Maria Lopes torna-se o único proprietário da unidade hoteleira.
Assim, para além da implantação de um segundo elevador, nas áreas comuns é criada uma boutique na antiga Sala de Leitura e o bar é remodelado.
Os quartos são equipados com novo mobiliário e passam a ser alcatifados.
Até aos nossos dias as obras de remodelação dos espaços são constantes, destacando-se as levadas acabo em 2002, e o hotel, presentemente, apresenta 95 quartos.



 
Hall de recepção, restaurante e fachada principal do Grande Hotel do Porto, actualmente
 
 
 

No Grande Hotel do Porto, Guilhermina Suggia conheceria Dr. Carteado Mena e acabariam por contrair matrimónio em 1927.
O ministro de Salazar, António Ferro era frequentador para “curar as feridas de Lisboa”, confessou em livro de memórias.
Por lá se alojavam, também, quando visitavam a cidade do Porto, os escritores Assis Pacheco, Luís de Sttau Monteiro, o poeta Teixeira de Pascoaes, pseudónimo de Joaquim Teixeira de Vasconcelos, o historiador José Hermano Saraiva e o músico António Vitorino d’Almeida, entre outras personalidades.
Outra figura pública, do mundo da música, Pedro Abrunhosa, diz estar ligado ao Grande Hotel do Porto por ser trineto do fundador, Daniel Moura Guimarães e neto de Álvaro Machado, que terá exercido as funções de director da unidade hoteleira, em meados do século XX.
Em 2021, a Câmara Municipal do Porto abriu o procedimento de classificação como Monumento de Interesse Municipal (MIP) do Grande Hotel do Porto, por considerar que o imóvel representa um “valor cultural de significado relevante”.

sábado, 2 de novembro de 2024

25.258 Papelarias com história

 
“Papelaria Araújo & Sobrinho”
 
 
Ao longo dos anos, diversas papelarias implantadas na cidade passaram, por uma ou outra razão, a fazer parte do imaginário dos portuenses.
Entre muitas, aquela que se destaca por ser, dizem, a mais antiga ainda em actividade, é a “Papelaria Araújo & Sobrinho”, no Largo de S. Domingos.
A conhecida “Papelaria Araújo & Sobrinho” tem as suas origens quando, em 1829, António Ribeiro de Faria, sócio fundador da Associação Comercial do Porto, funda a firma “Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos”, no Largo de S. Domingos.
A gerência da firma ficou a cargo de Manuel Francisco de Araújo, um primo do fundador.
Entretanto, para Manuel Francisco de Araújo, começou a trabalhar um seu sobrinho, Domingos Gonçalves Araújo que, caindo nas graças do seu tio, em 1866, foi convidado a juntar-se-lhe numa nova sociedade, com a firma “Manuel Francisco de Araújo & Sobrinho”.
Manuel Francisco de Araújo acabaria por comprar o prédio onde se instalava a papelaria, no Largo de S. Domingos, num terreno, antes um quintal de uma casa, expropriado pela Câmara ao Conselheiro Domingos Ribeiro de Faria, onde foi construído um prédio e, na sua fachada fronteira ao convento, uma fonte nela incrustada.
Na planta seguinte, aquele terreno está identificado com a letra D.

 
 
 

Planta, em 1845, de parte do Largo de S. Domingos, na qual o círculo, à direita, é o local do chafariz de S. Domingos, depois deslocado para a Cancela Velha e substituído, por estas bandas, pela fonte apresentada na imagem seguinte, à esquerda
 
 
 
 

À esquerda, a Fonte do Largo de S. Domingos (que substituiu um chafariz) e que, a partir de 1845 até aos primeiros anos do século XX, serviu os portuenses
 
 
 
 
Ainda, em 1866, por doença de Manuel Francisco de Araújo, este faz-se substituir por seu filho, Manuel Francisco de Araújo Júnior que com Domingos Gonçalves de Araújo constituem a firma “Araújo & Sobrinho”.
Será por acção de Manuel Francisco de Araújo Júnior, uma personagem ligada à vida cultural da cidade, que os artistas plásticos da cidade passam a frequentar a papelaria para adquirir os materiais que necessitavam.
Na sua habitação, nos andares superiores do prédio, sucediam-se as sessões de tertúlia e saraus musicais.
Em 1902, retira-se Domingos Gonçalves de Araújo, que falece em 1918, e a firma passa a “Araújo & Sobrinho, Sucessor”.
Em 1932, morre Manuel Francisco de Araújo Júnior.
Desde então, a firma, hoje, “Araújo & Sobrinho, Sucessores”, após atravessar parte do século XIX, todo o século XX e um quarto do século XXI, vem sendo gerida, como o seu nome indica, por sucessores dos fundadores.





Papelaria Araújo & Sobrinho, Sucessores, em meados do século XX
 
 
 
Interior da Papelaria Araújo & Sobrinho, Sucessores



 
Papelaria Araújo & Sobrinho, Sucessores, em 1948
 
 
 
 
No local apresentado na foto abaixo, esteve uma sucursal da Papelaria Araújo & Sobrinho, na Rua dos Clérigos.
Uma outra esteve, durante grande parte do século XX, na Rua de Santa Catarina, nº 103, em frente ao Café Majestic, nos baixos do prédio onde, na segunda metade do século XIX, funcionava a “Padaria Faria” fundada por Ribeiro de Faria, em 1865, que habitava os andares superiores. Os seus herdeiros apenas abandonaram a habitação em 1939.
Nesta casa nasceria Alfredo Ferreira Faria (1867-1930), o fundador da revista “O Tripeiro”.



 

À direita, uma sucursal da Papelaria Araújo & Sobrinho, na Rua dos Clérigos em meados do século XX
 
 
 
A família Araújo, nos nossos dias, explora no local da antiga papelaria e residência da família, uma moderna unidade de hotelaria.

 
 
 

A Papelaria Araújo & Sobrinho encontra-se no Largo de São Domingos dividindo espaço com o “A. S. 1829 Porto Hotel”
 




“Porto A.S. 1829 Hotel” e o “Restaurante Galeria do Largo”
 
 
 
 
Assim, após remodelação do edifício em 2015, é Miguel Araújo, da 5ª geração da família Araújo, que continua o legado da papelaria “Araújo & Sobrinho, Sucessores”, administrando juntamente com a cunhada Maria José Fontes e uma prima, Joana Araújo Jorge, já da 6ª geração, um pequeno espaço com artigos de papelaria, característicos, que divide com “Porto A.S. 1829 Hotel” e o “Restaurante Galeria do Largo”.
 
 
 
«Manuel Francisco de Araújo, trisavô de Miguel, foi um dos primeiros portuenses a meter-se num barco a vapor e ir a Inglaterra fazer compras para a colónia de ingleses, que era quem tinha dinheiro aqui na altura.
“O centro do Porto era aqui. Ele começou com uma loja de bricabraque, vendia sabonetes, água-de-colónia, chocolates e instrumentos musicais porque a papelaria resumia-se a papel, tinta e pena. A papelaria pura e dura eram esses três artigos. A papelaria cresceu imenso depois, mas praticamente desapareceu com a informática. Deixou de fazer sentido.”
Miguel nasceu no edifício de seis pisos. “Vem do meu trisavô. O meu bisavô ergueu o edifício porque a loja era pequena. Quando o meu pai se casou, o meu avô fez uma remodelação e construiu um apartamento maravilhoso. Era a nossa casa, uma casa fantástica”, conta o bisneto, neto, filho e protector da marca Araújo & Sobrinho que vive nas paredes, nos corredores, nas escadarias e nas gavetas do Porto A.S. 1829 Hotel, há sensivelmente um ano no Largo São Domingos, no Porto. Nos três últimos pisos viveram vários ramos da família. A “casa fantástica”, recorda Miguel, olhos vidrados, tinha “quartos gigantes”... “Depois descíamos e tínhamos a casa dos nossos avós que era maior ainda. E descíamos mais ainda e tínhamos a sala de armas, a biblioteca, o salão de jogos... E depois a loja. Eu era miúdo, havia a porta do cavalo, que era uma passagem directa para a loja, onde chegaram a trabalhar cerca de 150 funcionários. Ainda existiam as oficinas, a gráfica, a serralharia, a carpintaria... Era um mundo, fazia-se tudo aqui”».
Testemunho de Miguel Araújo; Fonte Site: “fugas.publico.pt”
 
 
 
 
No Largo de S. Domingos, existiu uma imagem de Santa Catarina colocada num nicho aberto na fachada de um prédio já desaparecido e que ornando uma pequena fonte, estava na frontaria de um prédio existente num recanto voltado para a Rua das Flores. Aliás, em 1728, a imagem já lá estaria.
A imagem de Santa Catarina recolheu depois ao interior da Papelaria Araújo & Sobrinho adornando a denominada Fonte de Santa Catarina.
Ocupando o hall de entrada do “Porto A.S. 1829 Hotel”, com um pequeno espaço de venda ao público de artigos de papelaria, pode observar-se que a memória da Fonte de Santa Catarina e a imagem de Santa Catarina a ela associada foram preservadas.

 
 

Hall de entrada do “Porto A.S. 1829 Hotel” com uma alusão à Papelaria Araújo & Sobrinho
 
 
 
 

Imagem de Santa Catarina, no interior da papelaria
 




Papelaria Reis
 
 
A Papelaria Reis nasceu na Rua do Almada, em 1865, tendo sido seu fundador Manuel Alves dos Reis. Por morte deste, sucedeu-lhe na administração do negócio seu filho José Alves dos Reis, que Carlos Bastos biografou no "Livro de Ouro do Comércio e Indústria do Porto".
A transferência da Papelaria Reis para a Rua das Flores ocorreu em 1907. Mas não foi logo para o sítio onde esteve a casa que foi de João de Barros, o autor da Geographia de Entre Douro e Minho, genro do reverendo Martinho do Couto, que a construiu na primeira metade do século XVI.
Instalou-se, primeiro, no prédio com os números de 21 a 25, onde já funcionava um estabelecimento do mesmo ramo - a Papelaria Rebelo, que havia sido fundada em 1877 por João Vieira Rebelo.
Foi só, muito mais tarde (Dezembro de 1931), que a Papelaria Reis se mudaria para o prédio com a numeração de 150 a 160, em local anteriormente ocupado pela residência do reverendo Couto, uma casa tipicamente de estilo manuelino que, na sua fachada, exibia uma imagem de São Miguel significando, assim, que era foreira do Cabido.
 
 
 
 
Casa do reverendo Couto demolida no dealbar da segunda metade do século XIX. Desenho (1908) de Karl Albrecht Haupt






Antiga Papelaria Reis - Fonte: Google Maps
 
 
 
 
Na foto anterior, entre o nº 150 e 160 da Rua das Flores, o local onde esteve a casa do reverendo Couto e, mais tarde, num novo prédio, sucessivamente, a família Fortuna, a União Commercial e a Papelaria Reis.
Aquele prédio haveria de ser, então, a morada da família Fortuna, estando os baixos do mesmo ocupado por uma papelaria e livraria, explorada pelo comerciante João de Freitas Fortuna Júnior, ao qual sucedeu no negócio seu filho João António de Freitas Fortuna.
Esta personagem era irmão do Dr. Vicente Urbino de Freitas e amigo do escritor Camilo Castelo Branco recebendo, assiduamente, a sua visita.





Antiga morada da família Fortuna e da sua livraria ocupada por estabelecimento da União Comercial, c. 1890. A partir de 1931, aqui se instalou a Papelaria Reis – Fonte: CPF
 
 
 
 
 
Papelaria Peninsular
 
 
Foi pela mão de Valentim Ribeiro Gonçalves Basto, natural de Padronelo – Amarante, que nasceu a denominada “Typographia Peninsular”, hoje, Peninsular – Papelaria e Artes Gráficas. Com instalações, à data da fundação, na extinta Rua de São Crispim, números 18 e 22.
Depois, até hoje, na Rua Mouzinho da Silveira.


 
 
Papelaria Peninsular, na Rua Mouzinho da Silveira
 
 
 
“A fundação data de 1905, mas Valentim Ribeiro Gonçalves Basto abriu a Typographia Peninsular em finais do século XIX. Aliás, a brochura “A minha defesa” de António Vasconcellos foi inteiramente composta na tipografia e faz parte do espólio mais antigo deste estabelecimento. É também na capa da revista Algazarra, de agosto de 1902, que surge, pela primeira vez, uma referência à tipografia. No entanto, é na data da fundação que se adiciona a papelaria à tipografia, que permitiu a expansão do negócio. Em 1928, por falecimento do fundador, a Peninsular passa para as mãos da sua esposa, filha e genro, que imprimem um dinamismo e tornam este estabelecimento num espeço de referência. É desta altura que advém o seu slogan “Não perca tempo a pensar… compre na Peninsular”. Atualmente, a empresa vai na quinta geração da família e continua atual, sendo uma referência no setor”.
Fonte: comerciocomhistoria.gov.pt
 
 
Sucessivamente, na mão da mesma família, actualmente, é José Eduardo Barbedo (4° geração) e Diogo Barbedo (5° geração) que estão no comando da empresa, que continua a ser uma referência no sector.
 
 
 
Outras papelarias portuenses
 
 
Papelaria Académica
 
 


Papelaria Académica, à direita, junto do cinema Batalha
 
 
 
A Papelaria Académica atravessou, na Praça da Batalha todo o século XX. Era conhecida pela qualidade das canetas de tinta permanente que vendia aos seus balcões.
Em 1 de Dezembro de 1901, anunciava no jornal “A Voz Pública” os seus serviços, como se pode observar a seguir.

 
 


 
 

Papelaria Académica, localizada entre os cinemas Águia d’Ouro e Batalha, exibindo o seu icónico reclame às canetas Pelikan
 
 
 

Papelaria Papélia
 
 
Na Rua de Santa Catarina, desde da década de 1930, fronteiro ao Café Majestic e, durante muitos anos, vizinha da sucursal da Papelaria Araújo & Sobrinho esteve a Papelaria Papélia.
 





Papelaria Papélia, na Rua de Santa Catarina, 123
 
 
 
 
Papelaria Progresso
 
 
Na esquina das ruas de Santa Catarina e António Pedro esteve, durante várias décadas, a Papelaria Progresso.
Presentemente, encontra-se numa loja na Rua Antónia Pedro, a poucos metros da loja primitiva.
 
 
 

Papelaria Progresso, c. 1930, na sua primitiva loja, na Rua de Santa Catarina
 
 
 

Papelaria Progresso, na Rua de António Pedro
 
 
 
 
 
 
Papelaria Modelo
 
 
A Papelaria Modelo situou-se, desde 1921, no Largo do Lóios, nº 76. Possivelmente, vinda da Praça de Carlos Alberto, conforme se pode observar no anúncio inserido no jornal “A Voz Pública” de 1 de Dezembro de 1901.


 
 



Teria ocupado, então, as instalações da Papelaria dos Loyos - Costa & Carvalho, na mesma morada.

 
 


 
 
 
 

A meio da foto, a Papelaria Modelo, no Largo dos Lóios, c. 1937




Papelaria Modelo
 
 
 
 
Papelaria Azevedo
 
 

À direita, a Papelaria Azevedo, no Largo dos Lóios, em duas épocas distintas
 
 
 
 
A papelaria Azevedo haveria de dar lugar ao Café dos Lóios.
 
 
 
 
Papelaria Sousa Ribeiro
 
 
“A M. Sousa Ribeiro…Nasceu em 1956, exactamente na Rua Sá de Bandeira, pela mão de Manuel Sousa Ribeiro, pai dos actuais sócios. Na altura, era uma papelaria e chamava-se, apenas, Sousa Ribeiro. Mais tarde, o dono decidiu especializar-se num ramo do negócio para escapar às dificuldades económicas. Surge, assim, a M. Sousa Ribeiro, especializada em artigos artísticos, na Rua Sampaio Bruno”.
Fonte: jpn.up.pt
 
 
 
Nas antigas instalações do Excelsior Café abriu, em 2008, a M. Sousa Ribeiro, empresa que deriva da primitiva Papelaria Sousa Ribeiro e que, até então, ocupava instalações na vizinha Rua Sampaio Bruno.


 
 

Aqui, na Rua de Sá da Bandeira, esteve o café Excelsior ou café dos ciclistas –Jportojo


 

Interior da Papelaria M. Sousa Ribeiro, nas instalações do antigo café Excelsior, no qual o espaço era composto por duas partes separadas por degraus

 
 
A partir de Dezembro de 2016, as instalações da Papelaria M. Sousa Ribeiro, na Rua de Sá da Bandeira, seriam ocupadas pela empresa internacional do ramo óptico, Leica.
A Papelaria M. Sousa Ribeiro acabaria por ocupar uma loja na Praça Guilherme Gomes Fernandes.

 
 
 
Papelarias diversas
 
 

Papelaria Guimarães
 
 
 

Papelaria Guimarães, no Palacete das Cardosas, à direita, durante desfile de cortejo carnavalesco




Papelaria Pirata
 

Ao Bonfim, a Papelaria Pirata, ainda de portas abertas, serviu os estudantes dos Liceus Alexandre Herculano e Rainha Santa Isabel, desde sempre.
 

 

À esquerda, na esquina, a Papelaria Pirata, no tempo em que ainda circulavam os trólei-carros


 
 
Papelaria Nelita
 

 

Papelaria Nelita na esquina das ruas do Almada e Ramalho Ortigão
 
 
A Papelaria Nelita não resistiu à pressão turística e encerrou já na segunda década do século XXI.
 
 
 
 
Papelaria Fidélia
 
 
Ainda, na Rua de Santa Catarina, nº 293, a Papelaria Fidélia, desde 1968 serviu os portuenses pela mão da família Fontes. Antes, o serviço foi prestado pela família Machado.
Em 2017, não resistiu à pressão urbanística e Fátima Fontes encerrou o estabelecimento.