quinta-feira, 3 de abril de 2025

25.272 Moagens, Massas e Bolachas

 
Amorim, Lage & Soares, Lda., Amorim, Lage, Lda. - Cerealis
 
 
Em Fevereiro de 1919, começava a história duma empresa, que chegou aos nossos dias, fruto da união de vontades de José Alves de Amorim, Manuel Gonçalves Lage e Aníbal Gonçalves Soares e que culminaria com a fundação da Amorim, Lage & Soares, Lda.
A empresa passaria, então, a movimentar-se no sector das moagens e massas, tendo ao longo dos anos disfrutando de instalações industriais em Parada (Águas Santas), Maia, Trofa, Porto, Coimbra (encerrada) e Lisboa.
À data da constituição inicial da empresa, a primeira unidade fabril foi instalada em Parada, Águas Santas.
Em 1923, já a capacidade de moenda era de 25 ton/dia.
Em 1931, o sócio Aníbal Gonçalves Soares abandona a sociedade.
Em 1933, era inaugurada a fábrica de massas alimentícias, surgindo no mercado a marca Milaneza.
A, então, Amorim, Lage, Lda., na década de 1930, vai adquirir a unidade de Moagem do Minho, Lda., de Guimarães, que seria depois deslocada para Parada e, ainda, a Moagem da Restauração, Lda, que se tinha estabelecido em Massarelos como Moagem do Corpo Santo e, depois, Moagem Victória.
Em 1945, após a morte de Manuel Gonçalves Lage, sucedem-lhe nos destinos da empresa os filhos António Augusto Gonçalves da Costa Lage e Rodrigo Gonçalves da Costa Lage, acompanhados por José Alves de Amorim.
Estava-se no fim do conflito mundial e Amorim, Lage, Lda. vai actualizar e ampliar as unidades fabris de Águas Santas.
Então, uma nova moagem é inaugurada, substituindo a primitiva (cessou a actividade em 1959) e, ainda, montada a primeira bateria de silos de trigo. Para concluir, surgiria a primeira moagem portuguesa com transporte pneumático de produtos.
A fábrica de massas também é intervencionada e é transferida a unidade Moagem do Minho, Lda., de Guimarães, para um edifício contíguo à nova instalação fabril.


 
 

Fábrica de Massas Milaneza, de Amorim, Lage, Lda., em 1945 – Fonte: Acervo da empresa
 
 
 
Em Março de 1954, José Eduardo Marques de Amorim, o filho do sócio fundador José Alves Amorim (falecido em Setembro de 1954), é nomeado gerente.
A gestão passa para os três elementos da 2.ª geração.
 
 
 

Instalações de Amorim, Lage, Lda., em 1954 – Fonte: Acervo da empresa
 
 
 
De forma a consolidar a posição ascendente das massas Milaneza no mercado nacional, foi decidido investir na primeira semolaria portuguesa de trigo duro, unidade inaugurada a 28 de Julho de 1962.
Em 1967, em parceria com Augusto Eduardo de Magalhães Paranhos e seus familiares (da antiga Moagem Granja), nascia a Moacir – Moagem de Coimbra, com a construção de uma nova moagem de trigo na Adémia.
Em 2005, a Moacir foi adquirida pelo grupo Cerealis, mas, entretanto, já foi encerrada.
 
 
 

Stand de “Amorim, Lage, Lda.”, numa exposição, no Palácio de Cristal, em 1971 – Fonte: Acervo da empresa
 
 
 
Em 1999, foi adquirida a Companhia Industrial de Transformação de Cereais e Derivados, S.A., detentora da marca Nacional.
Com esta aquisição, nasceria o maior Grupo português no sector Agro-alimentar e o maior Grupo português na área da moagem de cereais e fabrico de massas alimentícias.
 
 
“Impunha-se reorganizar e simplificar a estrutura de participações do Grupo. Consequentemente, reorganizámos a nossa estrutura de participações, reunindo sob a nova designação Cerealis, todas as empresas do anterior Grupo Amorim, Lage. Desta reorganização, resultaram as empresas Cerealis SGPS, S.A. (empresa holding), Cerealis Produtos Alimentares – S.A. (divisão de negócio de todos os produtos destinados ao consumidor final), Cerealis Moagens – S.A. (divisão de negócio de produtos para usos industriais) e Cerealis Internacional – Comércio de Cereais e Derivados, S.A. (divisão responsável pela importação de cereais, matérias-primas para o fabrico de todos os produtos do Grupo e, exportação de produtos acabados) e a Sociedade Imobiliária Paradense (vocacionada para rentabilizar os ativos imobiliários não afetos à indústria). Tendo herdado um património ímpar, Amorim, Lage, S.A. e com uma nova identidade agora como Cerealis, preparámo-nos para assumir novos desafios em novos produtos e novos mercados. A nova designação representa a união, a internacionalização, o dinamismo e a solidez de um dos maiores Grupos Agro-alimentares portugueses”.
Fonte: Cerealis
 
 
 
Centro industrial da Cerealis, Maia, especializado na produção de massas alimentícias (uma semolaria e duas fábricas), assim como na produção de bolachas, sendo ainda o polo logístico mais importante


 
Entretanto, durante a primeira década do século XXI, a unidade da Trofa vai ser ampliada, com uma linha de cereais para criança e outra para adultos quando, anos antes, já tinha sido melhorada tecnologicamente de modo a proceder ao fabrico de cereais de pequeno almoço multigrão e dotada de um novo torrador de Corn Flakes.

 
 

Centro Industrial da Cerealis da Trofa
 
 
Em 2021, o empresário Carlos Moreira da Silva e a família Silva Domingues compram 100% do Grupo Cerealis.
 A aquisição da Cerealis foi realizada pelas empresas de investimentos dos novos acionistas TEAK Capital, B.V. e pela TANGOR Capital, S.A.
Apesar da mudança de propriedade, a Cerealis, continuou a ser comandada por Rui Amorim, sobrinho de José Eduardo Marques Amorim, filho de um dos fundadores da empresa.


 
 

Centro do Porto (Freixo) da Cerealis para moagem de trigo mole e de centeio, com linhas de embalamento de farinhas industriais e expedição directa


 
A unidade do Porto (Freixo) tem as suas raízes na Companhia de Moagem Harmonia SA., que começaria em 1918, a laborar anexa ao Palácio do Freixo.
 
 

Centro industrial da Cerealis, em Lisboa, com uma capacidade moenda de 720 toneladas em 24 horas, uma recepção de cereal que atinge as 200 toneladas por hora e uma capacidade de ensilagem de cereais de 27.000 toneladas
 
 
 
 
Em Março de 2023 a Europasta, empresa Checa situada em Litovel, especialista em massas alimentícias, passa a ser consolidada integralmente nas contas da Cerealis.
 
 
 
 
Fábrica de Moagens Harmonia
 

 

Fábrica de Moagens Harmonia, em 1966 – Ed. SIPA

 
 
Esta fábrica ficava junto do Palácio do Freixo que, ainda, é um pouco visível, ao fundo na foto.
Quando o palácio ficou na posse de José Maria Rodrigues Formigal, vendeu-o com uma propriedade anexa, por 19 contos de réis à sociedade gestora da Companhia de Moagens Harmonia, que se instalou então numa nova fábrica, bem junto do palácio.
Tal ocorreu, após o incêndio acontecido em 1890 numa destilaria de cereais, que anteriormente tinha sido uma fábrica de sabão, situada a poente do palácio. À data, toda a área estava na posse de um cidadão alemão, Gustavo Nicolau Alexandre Peters, que continuou na posse da destilaria e retalhou a propriedade e a vendeu em talhões.
Em 1918, a Companhia de Moagens abre falência e é comprada a seguir por um conjunto de capitalistas portuenses, que reabilita o funcionamento da fábrica.
Em 1918, foi então fundada a Companhia de Moagem Harmonia SA.
A propriedade da empresa e a sua administração, sempre sob a liderança de um grupo de indústriais portuenses que, ao longo dos anos, realizaram os investimentos necessários para o seu desenvolvimento, ampliaram a unidade, em 1932, com o levantamento de mais dois pisos (obra realizada pelo arquitecto José Júlio de Brito) e, introduziram várias melhorias no diagrama de produção, o que lhes possibilitou obter índices de produção sempre crescentes e, manter um lugar competitivo no mercado da região.
Mais tarde, à fábrica foi-lhe acrescentado um silo de 45 metros de altura. A gestão da unidade fabril fazia-se a partir do Palácio do Freixo, cumulativamente com a gestão de uma outra fábrica de briquetes situada a poente do Palácio.
Por outro lado, a propriedade da Companhia de Moagens Harmonia, já era, em meados do século XX, da Companhia União Fabril (CUF) que, em 1951, vai construir mais um silo.
Em 1969, as instalações, até então, da fábrica da Companhia de Moagens Harmonia, são abandonadas e ocupadas umas outras, em espaço contíguo, muito mais modernas, situadas a Norte da Estrada Nacional 108.
Esta unidade, desde há anos, passou a fazer parte do universo da Cerealis.
 

 
Antigas instalações das Moagens Harmonia - Cortesia de Vítor Oliveira
 
 
 
Depois de décadas de peripécias, as instalações da antiga fábrica acabam nas mãos do instituto de Emprego e Formação Profissional, que as cederia à Câmara Municipal do Porto.

 
 

Moagem Ceres
 

“João Ferreira de Figueiredo, oriundo de Viseu, fundou em 1875, no Porto, o seu negócio, que inicialmente era de Comércio de Cereais e Farinhas.
Em 1895, os seus filhos, Abílio e Augusto, juntaram-se como sócios ao negócio do pai, assumindo, passados 6 anos, a responsabilidade de uma nova sociedade, sob a designação de “A. de Figueiredo & Irmão”.
Em 1915, enquanto toda a Europa se debatia numa guerra profunda, os irmão Figueiredo criaram a Fábrica de Moagem junto ao caminhos-de ferro em Campanhã.
Na época conturbada entre as duas Grandes Guerras, em especial na década de 30, quando uma gigantesca crise económica e financeira abalou todo o Mundo, a Sociedade continuou a crescer, adoptando em 1931 a sua designação definitiva, “Moagem Ceres, A. de Figueiredo & irmão, S.A.R.L.”.
Em 1949, após o falecimento quase simultâneo dos dois sócios fundadores, começou a restruturação profunda da Moagem Ceres, que até então mantinha as máquinas e tecnologias com que tinha iniciado a sua actividade. Esta modernização foi acelerada pela publicação em 1961 de uma lei que obrigava a reorganização da indústria moageira.
Em 1965, nas Bodas de Ouro da Sociedade, foram inauguradas as novas máquinas e actuais instalações sendo o grande impulsionador desta reforma o Administrador Arnaldo de Figueiredo. A partir daí, a Moagem Ceres foi crescendo a um ritmo imparável, adoptando sempre a mais moderna tecnologia existente, de modo a satisfazer as crescentes necessidades do mercado.
Desde o 25 de Abril de 1974, sob a égide dos Administradores Armando Miranda e Rogério Figueiredo, a Moagem Ceres aumentou mais de 6 vezes a sua capacidade produtiva, atingindo em 1998, uma capacidade instalada superior a 460 toneladas de trigo por dia e um volume de negócios anual de cerca de 30 milhões de euros. Estando actualmente cotada no top 20 das PME e entre as 500 maiores empresas nacionais tem obtido sucessivas distinções, nomeadamente o "Rating 1" da Dun & Bradstreet e os prémios "PME Prestige", "PME Excelência" e "PME Lider" do IAPMEI.
No dia 1 de Abril de 2015 a Moagem Ceres completou 100 anos de actividade como moagem de cereais, na qual se tem distinguido pelo elevado padrão de qualidade dos seus produtos, pela satisfação dos seus clientes e pela constante inovação”.
Fonte: “moagemceres.pai.pt”

 
 
A Ceres na Rua do Pinheiro de Campanhã


 

A Ceres, actualmente

 
De notar, que o jornal “O Commércio” de 26 de Dezembro de 1854, publicava uma notícia que dava conta da formação de uma sociedade em comandita, sob a firma de Companhia Ceres, cujo objectivo principal era a moagem de cereais, embora esta sociedade pareça nada ter a ver com a lançada, mais tarde, por João Ferreira de Figueiredo.
Na sociedade em comandita há dois tipos de sócios. Os de responsabilidade limitada que só contribuem com capital, e os de responsabilidade ilimitada que contribuem, para além da subscrição de capital, com o trabalho, sobre qualquer forma.
 
 
 






Fábrica de Moagem Andrades Villares. Moagens Invicta. Sociedade de Moagem Aliança, Lda
 
 
Por volta de 1855, apareceram na cidade do Porto as primeiras moagens a vapor.
As mais importantes foram o Moinho a Vapor do Bicalho, de Pinto Basto e, com aparecimento naquele ano, a Companhia Ceres que viria a ser dissolvida em 1860, passando para a posse do seu principal credor Felix Fernandes Torres.
Na década seguinte, apareceram a Companhia Industrial e Agrícola Portuense (de fiação e moagem de cereais) e a Manuel José Barreto, que mais tarde passaria a Barreto Filho & Genro.
Em 1874, surgiria então a Andrades Villares que, a partir de 1881, aparece com a designação de António Joaquim de Andrade Villares.
Aquela Companhia Ceres não tem qualquer ligação com “Moagem Ceres, A. de Figueiredo & irmão, S.A.R.L.”, surgida muito mais tarde.
 
 
 
“Pertencente a António Joaquim de Andrade Villares, foi fundada em 1874, na Rua de S. Jerónimo, n.º 136, hoje Rua de Santos Pousada. Segundo o Inquérito Industrial de 1881, esta importante fábrica de moagem não vendia farinha mas apenas pão, existindo aí uma padaria.
Parte do cereal que moía, cerca de 1/3, era utilizada na padaria da fábrica; o restante era moído por «conta alheia», isto é, por clientes que aí levavam o cereal, como se de um moinho tradicional se tratasse. Em 1908, é integrada na Companhia de Moagens Invicta e, em 1918, na Sociedade de Moagem Aliança Ltd., mais tarde Sociedade Industrial Aliança, tornando-se esta uma importante unidade do sector moageiro. Foi reconvertida em complexo habitacional”.
Fonte: “cct.portodigital.pt”
 
 
 

Pedido para instalação, em Agosto de 1909, de uma panificação e fabrico de amêndoas, da firma Andrades Villares na Travessa de Fernandes Tomás, nº 84 (hoje a Rua Comandante Rodolfo de Araújo) – Fonte: AHMP
 
 
 
A Companhia de Moagens Invicta formou-se em 1908 e, em 1917, era proprietária de 5 fábricas:
Fábrica de S. Jerónimo (Antiga Andrades Villares – 1874), Fábrica da Afurada (1890), Fábrica do Freixo (1890) e Fábrica de Valbom (1892) e a sociedade passa a ser gerida por Raúl Monteiro Guimarães que,

 
 
“É ele que, em 1915, junta àquele lote, a Fábrica de Barcelos, em Barcelos e, três anos mais tarde, vai organizar a Sociedade de Moagem Aliança, adquirindo em 1920, a Nova companhia Nacional de Moagem, organizando, ainda, a Companhia Industrial de Portugal e Colónias que, por sua iniciativa, adquire o jornal Diário de Notícias”.
Fonte: “A experiência da Primeira República no Brasil e em Portugal” - Alda Mourão e Angela de Castro Gomes


 
A Fábrica de Bolachas Villares, na Rua de Santos Pousada, nº 145 (antes a Rua de S. Jerónimo), coexistiu com a Fábrica Aliança, naquela rua, durante quase todo o século XX, lançando no ar um cheiro característico ao produto final.

 
 
 
A Fábrica de Bolachas Villares esteve por aqui, na Rua de Santos Pousada – Fonte: Google maps




Tampas de caixas de bolachas da “Villares”



Entretanto, a Invicta com a sua unidade fabril da Rua de Santos Pousada, ampliada em 1918, iria ser adquirida pela Aliança.


Desenho da fachada integrante de projecto que obteve licença de obra n.º 396 de 12 de Julho de 1918, para ampliação das instalações da Fábrica de Moagens Invicta, na Rua de Santos Pousada, ainda antes de passar a Fábrica Aliança

 
 
 
De notar, que no projecto a que se refere o desenho anterior, a longa fachada no seu envidraçado central estava dotada com um relógio e a cobertura do edifício era plana para servir de área de secagem das massas.
 
 
 
Agora um condomínio fechado, a fábrica de bolachas da “Aliança” era aqui – Fonte: Google maps

 
 
A marca Aliança foi adquirida em 1997, pela firma “Vieira de Castro” de Famalicão.


 
Moagem do Ouro
 



Moagem do Ouro na Rua do Ouro – Ed. Espólio Fotográfico Português


 
 

O edifício da Moagem do Ouro, actualmente – Fonte: Google maps


 
Após ter sido a Moagem do Ouro, por lá esteve uma garagem pertencente ao exército e serviu, ainda, de armazém ligado à indústria têxtil.
Hoje, alberga uma leiloeira e um restaurante.


 
 
Fábrica de Moagem da Senhora da Hora
 
 
A conhecida, no fim dos anos 20 do século passado, como “Fábrica de Moagem da Senhora da Hora” começou a laborar em 1900, fundada por Francisco Joaquim Pinto e sendo, de início, conhecida por “Fábricas a Vapor de Moagem de Trigo da Senhora da Hora”.
Esta unidade de moagem de cereais da Senhora da Hora, tinha escritório no Porto, na Travessa da Fábrica, nº15 (hoje é a Rua de Avis).

 
 
Fábricas a Vapor de Moagem de Trigo da Senhora da Hora – Postal de 1910

 
 
Fachada principal (parcial) da Moagem da Senhora da Hora c. 1927 – Fonte: Fotograma de filme da Cinemateca
 
 


“Germen-Moagem de Cereais Sa”
 
 
 
A fábrica de Joaquim Francisco Pinto iniciou, então, em 1900 (fábrica original a vapor), foi ampliada em 1905 (segunda fábrica a vapor) e passou para novos sócios em 1920 (Sociedade de Fomento Industrial Lda). 
Hoje, após a passagem inexorável dos anos, a antiga unidade de moagem é apenas uma memória, mas, no mesmo local (gaveto formado pela Rua de Joaquim Pinto – uma homenagem ao seu fundador há mais de 100 atrás - e a Avenida Fabril do Norte), está uma importante fábrica de moagem de cereais que faz parte de um grupo moageiro conhecido por “Germen-moagem de cereais Sa”.
A Fábrica de Moagem da Senhora da Hora foi, a par com a EFANOR (Empresa Fabril do Norte, SA, que abriria em 1907), uma das unidades industriais mais importantes da Senhora da Hora que, entre 1836 e 1853, tinha sido a sede do concelho de Bouças, mas que viria a perder esse estatuto para Matosinhos.
 
 
 
Fábrica de Bolachas Imperial
 
 
Com início de actividade nos anos 30 do século XX esta fábrica tinha instalações na Rua de Entreparedes nº 21, e tinha a particularidade de aromatizar com o cheiro doce das bolachas que aí eram fabricadas, toda a rua até à Praça da Batalha, que lhe ficava próxima. Encerrada já neste século mudou instalações para V. N. de Gaia sob a orientação do actual e único sócio-gerente e proprietário da fábrica, António Rocha, que nos últimos anos apenas se dedica ao embalamento de bolachas, compradas em Espanha, por ser mais "rentável".


 
Fábrica de Bolachas Imperial, na Rua de Entreparedes, nº 21-23 – Fonte: Google maps


 
 
Publicidade à Fábrica Imperial em calendário para 1983

sexta-feira, 28 de março de 2025

25.271 O Sidonismo e a cidade do Porto

 
Sidónio Bernardino Cardoso de Silva Pais (Caminha, 1 de Maio de 1872 – Lisboa, 14 de Dezembro de 1918), casou com 23 anos com uma mulher mais velha que ele, em 1895, com a qual teve cinco filhos e, naquele ano, matriculou-se para retomar o curso de Matemática na Universidade de Coimbra, que interrompera, anos antes, para frequentar a Escola do Exército.
Em 1898, sai doutor em Matemática e, em Outubro de 1910, chega a vice-reitor da Universidade de Coimbra.
Vai militar no Partido Unionista. Em 1910, ainda é Presidente da Câmara de Coimbra e no 1.º governo da República, em 1911, vai ser ministro do Fomento, no governo de João Chagas e, depois, abraça a pasta das Finanças, no governo de Augusto de Vasconcelos Correia.
Foi, depois, representante diplomático de Portugal em Berlim, desde 17 de Agosto de 1912, retornando a Portugal após termos sido envolvidos na 1.ª Guerra Mundial.
O mês de Dezembro de 1917 vai ser recheado de notícias relacionadas com uma insurreição armada acontecida na capital.
Entre os dias 5 e 8 de Dezembro de 1917, Sidónio Pais veste a farda de militar e ocupa a Praça do Marquês do Pombal em Lisboa. O papel do povo é determinante no desfecho da contenda.
Na madrugada do dia 8 de Dezembro fora exonerado o governo liderado por Afonso Costa, transferindo-se o poder para a Junta Revolucionária presidida por Sidónio Pais.
Bernardino Machado é destituído do cargo de Presidente da República e vai acabar exilado.
No dia seguinte à tomada de poder por Sidónio Pais e do derrube do governo de Afonso Costa, os portuenses começam a ter uma ideia mais concreta do que teria acontecido pela capital.
Eram tempos difíceis, em que os portugueses sentiam os efeitos do conflito mundial 1914-1918 e os portuenses sofriam, ainda, os de um tifo exantemático, que se estenderia pelo ano seguinte de 1918.
Acresce que, após a implantação da República, eram muitas as desavenças entre os republicanos entrincheirados em diversas facções.
No Porto, em 9 de Dezembro, na sequência do golpe de Estado, começam a sentir-se os ventos dos novos tempos. Assim, são detidos e levados para bordo de um barco ancorado em Leixões, Afonso Costa, que se encontrava de visita pelo Porto e hospedado no Grande Hotel do Porto, Augusto Soares, Rómulo de Oliveira, Caldeira Scévola, António Martins, Cristiano Carvalho e Domingos Tomé.
O Café Chaves, ao Laranjal, é encerrado.
 
 
 
Na esquina (nos dias hoje será o local, sensivelmente, da implantação da estátua da “Menina da Avenida”) do prédio esteve, desde 1900 até 1918, o Café Chaves, no Laranjal, poucos meses antes de ser transferido para a Cordoaria

 
 
O Café Chaves, em 15 de Maio de 1918, iria abrir portas no "chalet" da Cordoaria.
 
 
 

À esquerda, o Chalet da Cordoaria para onde se transferiu o Café Chaves

 
 
Alberto Midões, António Barbosa e Pedro Mourão serão detidos no Clube Português, à Rua Formosa, no dia 10 de Dezembro.
D. António Barroso, que se encontrava no exílio, é autorizado a regressar à sua Diocese e, no dia 20 de Dezembro, fá-lo viajando incógnito, recolhendo ao Paço de Sacais, no Bonfim, por estar ocupado com os serviços camarários o Paço Episcopal, à Sé.
As primeiras medidas de Sidónio Pais foram alterar “Lei de Separação das Igrejas e do Estado”, suscitando de imediato a reacção dos republicanos históricos e da Maçonaria, mas colhendo o apoio generalizado dos católicos, dos republicanos moderados e da população rural, então a vasta maioria dos portugueses.


 
 

Início da demolição da Câmara do Porto, em 1916, para abertura da Avenida dos Aliados
 
 
 
 

Paço de Sacais, na Rua António Granjo, onde em 1918 iria falecer D. António Barroso


 
É suspenso o decreto sobre o Ensino Secundário, que vinha provocando grande agitação nos meios estudantis e, em sequência, termina a greve dos estudantes liceais do Porto.
No Porto, Belchior de Figueiredo vai desempenhar a função de chefe do Comité Revolucionário; o Governador Civil, Dr. Nunes da Ponte dá posse, no dia 16 de Dezembro, ao novo Comissário Geral da Polícia, capitão José de Melo Carvalho e ao novo Inspector da Polícia, Alfredo Carlos Dias da Costa.
No dia 30 de Dezembro, são encarcerados os políticos Hamilton Carramão, Carlos Lopes do Vale, Francisco António da Gama e, ainda, António Ferreira Seixas Júnior, que era o director dos jornais “A Montanha” e a “Lanterna”.
Chegado o novo ano de 1918, a 12 de Janeiro, Sidónio Pais visita o Porto, hospeda-se no Grande Hotel do Porto e, na tarde do dia seguinte (chovia a cântaros), vai à Bolsa, presidir à cerimónia de devolução do edifício à Associação Comercial, na pessoa do seu presidente António Alves Cálem Júnior.
 
 
 

Fachada do Grande Hotel do Porto, à data, da hospedagem de Sidónio Pais e onde, no mês anterior, tinha sido preso Afonso Costa. Em 1918, o hotel receberia obras e a fachada foi um pouco alterada

 
 
 
No dia 15 de Janeiro, Sidónio Pais assiste a um baile em sua honra no hotel em que estava hospedado e, no dia seguinte, visita a Universidade, o Hospital Militar e outras instituições e assiste, ainda, na gare da estação de S. Bento, à partida de um contingente de Artilharia 6, que partia para Moçambique.
Em 11 de Março, de 1918, ressurge nas bancas “A Voz Pública”, que se tinha publicado, no Porto, entre 1891 e 1909.
Nesta ocasião, diz ser um Diário Republicano Conservador. Na verdade é um defensor do novo regime.
 
 
 

Cabeçalho do jornal “A Voz Pública” de 30 de Abril de 1918
 
 
 
Em 12 Março de 1918, na sequência de ideia que vinha germinando desde o golpe de Estado de abrir no Porto a filial do Colégio Militar, é anunciado que foi escolhido para o efeito o Convento do Sardão, em Vila Nova de Gaia.




Convento do Sardão
 
 
 
 
Em 18 de Abril de 1918, a capela da Rua de Gondarém, que tinha sido transladada pedra por pedra desde o seu primitivo local de instalação, junto à igreja de S. Francisco, em S. Nicolau, pertencente à confraria dos ourives da prata e que tinha sido encerrada, é devolvida ao culto, por decisão do governo de então, em decreto assinado por Sidónio Pais.
 
 
 

Capela da Rua de Gondarém, em 1907
 
 
 
Em 28 de Abril de 1918, Sidónio Pais foi eleito por sufrágio directo dos cidadãos eleitores, obtendo 470 831. Foi proclamado Presidente da República, a 9 de Maio, do mesmo ano, sem sequer fazer consulta ao Congresso e passando a gozar de uma legitimidade democrática directa.
Estava legitimada pelo voto a República Nova.
Para a expressiva votação, Sidónio Pais contou muito com a sua popularidade junto dos católicos, ainda que fosse ateu, mas também assistia, frequentemente, à celebração de missas.
O contexto religioso na data da ida às urnas, para além da religiosidade crónica dos portugueses, experimentava outras vivências.
Um ano antes, numa charneca da aldeia de Aljustrel, na serra de Aire, três crianças analfabetas (Lúcia Santos, de 10 anos, Francisco Marto, de 9 anos e Jacinta Marto, de 7 anos) disseram ter vivido uma experiência mística, quando uma “senhora de luz” lhes falou de cima de uma azinheira e, cerca de seis meses antes, uma multidão presente no local da visão narrada, assistiram à “dança do sol”, o que foi entendido como um milagre.
Em Maio de 1918, Sidónio Pais está de volta ao Porto.
No dia 17, chega ao Porto e visita a Ilha dos Galegos, ao Monte Pedral, dando ordens para arrasar com aquelas autênticas pocilgas que não eram para alojar seres humanos.
Na realidade, passada uma semana, no dia 24, o Dr. Almeida Garrett que tinha tomado posse, quatro dias antes, do cargo de representante do Governo para o combate à epidemia de tifo exantemático, consegue que os 100 habitantes da Ilha dos Galegos sejam alojados no Bairro Municipal da Prelada.
Até partir para Lisboa, no dia 19 de Maio, Sidónio Pais visita os doentes de tifo internados no Hospital Joaquim Urbano, demorando-se no quarto do Dr. Freitas Veloso, sub-director do mesmo hospital, contagiado em serviço e ainda visitou a Exposição de Rosas que estava pela nave do Palácio de Cristal.
No dia 19, Sidónio Pais inaugura uma Sopa dos Pobres e de visita ao Aljube decide que fossem imediatamente libertados todos os presos políticos que aí se encontravam, o que caiu muito bem nos portuenses.
Na realidade, o tempo de prisão sem culpa formada, já tinha passado dos oito dias previstos no tempo de Afonso Costa para os sessenta dias.
Por outro lado, as forças mais conservadoras da sociedade começavam a sentir-se mais libertas e, no Porto, vão manifestar o seu contentamento junto do Dr. Alfredo Magalhães, nomeado Ministro da Instrução que, embora não fosse um portuense, era uma figura de relevo na vida citadina.
Em 1890, o Dr. Alfredo de Magalhães tinha-se matriculado no curso de Medicina da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, curso que terminou em 1896.
No ano de 1899, parte para França, onde permanece até 1901, período durante o qual frequenta na Universidade de Paris um curso de especialização em Dermatologia e Sifiligrafia.
Foi contratado como professor substituto da Escola Médico-Cirúrgica do Porto, onde leccionava as disciplinas de Histologia, Matéria Médica e Terapêutica Geral, cargo que acumulava com o exercício da medicina provada e com aulas no Instituto Superior do Comércio Portuense. Em 1911, é nomeado professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto em resultado da integração da Escola Médico-Cirúrgica na recém-fundada Universidade do Porto.
 
 
“José Alfredo Mendes de Magalhães (Valença do Minho, São Salvador de Gandra, 20 de Abril de 1870 — Porto, 17 de Outubro de 1957), mais conhecido por Alfredo de Magalhães, foi médico, professor de Medicina, publicista e político republicano com actividade no período da Primeira República Portuguesa e do Estado Novo. Entre outras funções foi reitor da Universidade do Porto, procurador à Câmara Corporativa, Ministro da Instrução Pública,  governador-geral de Moçambique e presidente da Câmara Municipal do Porto. Foi membro da Maçonaria, com iniciação feita na loja Fernandes Tomás, da Figueira da Foz”.
Cortesia de Carlos Gomes (Blogue do Minho)
 
 
 
Narrativa das manifestações envolvendo o Dr. Alfredo Magalhães, em 19 e 21 de Julho de 1918, respectivamente
 


Os sidonistas, sentindo chegada a hora da vingança, começam a retaliar contra todos que representavam a velha ordem.
Em Julho, foram alvos preferidos os jornais anti-clericais.
 
 
 


 
Em 12 de Outubro, com origem em Lisboa, várias cidades, incluindo o Porto, se revoltam contra a ditadura instituída, mas sem resultado.
(Porém, um ano depois, já derrubado o ditador, as forças republicanas passariam a lembrar a data com Marcha Luminosa pelas ruas da cidade e sessão evocativa levada a cabo no Teatro Carlos Alberto).
O jornal “A Voz Pública”, afecto ao governo, não escapa à saga vingativa dos ultra-sidonistas e, no dia 9 de Novembro de 1918, a sua sede é assaltada e destruídas a redacção e as oficinas.
As instalações do Aljube não têm descanso.
No dia 16 de Novembro, são detidos por motivos políticos Mário Mesquita de Barros, Alberto Ferreira das Neves Álvaro Nascimento, Joaquim de Sousa Loureiro, José Francisco Pereira, João José Duarte e muitos mais.
No dia seguinte, a 17 de Novembro, o General Macedo e Silva, comandante da Região Militar Norte, determina a proibição de circulação de veículos, excepto oficiais e serviços de socorros.
No dia 20, numa fábrica de calçado da Rua dos Caldeireiros, é descoberto um arsenal de bombas, armas e munições.
O chefe da polícia, o capitão Solari Alegro, faz horas extra na perseguição aos opositores do regime, entretanto, denominado de República Nova e, em contra-partida, não cessam as manifestações de carinho e as homenagens de que é alvo, durante almoços e jantares dos quais é o centro das atenções e, normalmente, têm lugar no restaurante do Palácio de Cristal.


 
 

Restaurante do Palácio de Cristal

 
 
Entretanto, era já perceptível que as divisões dentro da República Nova eram imensas.
Belchior de Figueiredo, o líder do movimento no Porto, já se tinha afastado.
Entre muitas visões distintas de encarar a governação, a decisão de acabar com os Ministros transformando-os todos em Secretários de Estado, foi a machadada final. Por isto, Feliciano Costa, o braço direito de Sidónio, abandona o barco e é recambiado do Ministério do Trabalho para Roma como embaixador.
No dia 2 de Junho de 1918, no Porto, forças de Cavalaria 9 e de Infantaria 6 tomam conta da Estação de Campanhã, enquanto contingentes da GNR e da Polícia se concentram na Estação de S. Bento e Estação das Devesas, (V.N. de Gaia), para neutralizarem uma greve de pessoal da CP a que, por solidariedade, já tinham aderido, também, pessoal da Linha do Minho e Douro.
Em 14 de Junho, na sequência desta greve nos caminhos-de-ferro, afasta-se, também, Machado Santos.
No dia 6 de Dezembro de 1918, chega a notícia de Lisboa que Sidónio Pais tinha sido alvo de um atentado, mas que sobreviveu. Acalmaram-se as hostes.
No dia anterior, tinha acontecido uma espectacular parada militar na Avenida da Boavista para comemorar o primeiro aniversário da revolta chefiada por Sidónio Pais.
O general Macedo e Brito passaria revista às tropas em parada. Então, foi apresentada pela primeira vez uma Charanga de Cavalaria 9 e um contingente armado da Polícia com um grupo de corneteiros e tambores.
Naquela 6.ª Feira, 6 de Dezembro, a Câmara Municipal do Porto seguia no ritmo habitual, decidindo pedir ao conde de Vizela a cedência, para o museu municipal, da pedra de armas de um velho prédio que estava a ser demolido na Rua do Correio, o que foi aceite pelo destinatário.
 
 
 

Pedra de Armas que decorou um prédio na Rua do Correio
 
 
 
No dia 14 de Dezembro, causaria grande emoção e comoção a notícia de mais um atentado sofrido por Sidónio Pais.
Desta vez, na Estação do Rossio quando se preparava para embarcar em direcção à cidade do Porto para mais uma visita. Sidónio Pais, sobrevivendo, momentaneamente, viria, no entanto, a morrer no hospital.
Foi seu algoz, Júlio Costa que, em 1918, aquando de uma greve dos trabalhadores rurais de Vale de Santiago, assumiu a posição de negociador entre as autoridades e os revoltosos, conseguindo um acordo.
A actuação daqueles trabalhadores, liderados pela ala anarquista da Comuna da Luz de António Gonçalves Correia, foi considerada como perigosa para a ordem pública, e o Governo não aceitou os termos do acordo, sendo os grevistas severamente punidos, sendo alguns deportados para África.
Sentindo-se traído pela falta de palavra das autoridades, o já inconformado José Júlio da Costa radicalizou-se e jurou vingar os seus conterrâneos do Vale de Santiago, decidindo assim assassinar Sidónio Pais
José Júlio da Costa faleceu em 1946, com 52 anos de idade, internado no Hospital Miguel Bombarda, depois de 28 anos de prisão sem direito a julgamento.



 
 

Assassinato de Sidónio Pais
 
 
Começam as prisões dos políticos oposicionistas e diversas guarnições militares começam a chegar à cidade do Porto para reforçar as que já cá estavam sediadas.
Rejubilam os oposicionistas, lamenta o povo.
Apesar de a República Nova encarnar uma ditadura, o povo admirava o ditador.
Sidónio deixava-se fotografar com anciãos, pegava ao colo as criancinhas, visitava enfermos, visitava os casebres e ilhas onde o povo vivia, instituía locais de distribuição de alimentos denominados “Sopa dos Pobres” e andava entre os mais necessitados.
A vida das populações, regra geral, pouco se alterou, assim: continuavam as necessidades inerentes a uma guerra que atingia Portugal; o regimento em La Lys foi massacrado e, mesmo após o Armistício, não houve engenho para repatriar os sobreviventes; a fome grassava e sucediam-se os assaltos aos armazéns de comida e os assaltantes repelidos a tiro pelas forças policiais.
No dia 23 de Dezembro, chegam à cidade os Regimentos de Infantaria 32, de Penafiel e de Artilharia 4, de Amarante, unidades aboletadas no Matadouro Municipal e na Serra do Pilar, respectivamente.
No dia 26, chegam os regimentos de Artilharia 7, de Viseu que vai ser aquartelado no Monte Aventino, Regimento de Infantaria 8, de Braga e Regimento de Infantaria 20, de Guimarães, ambos aquartelados no Matadouro Municipal.
Dia 27, chega ao Porto o Regimento de Infantaria 9, de Lamego.
Para assegurar a ordem é criada, no dia 18, a Junta Militar do Norte pelos coronéis Gaspar Cunha Prelada e António Maria da Silva Ramos, tenente-coronel Jaime Carvalho da Silva e capitães Aires de Abreu e Solari Alegro.
No dia 24, o comando das tropas da Junta Militar do Norte é assumido pelo general Tamagnini de Abreu.
A última noite de 1918, seria passada com o rebentamento de petardos, um deles junto da residência, à Rua Antero de Quental, de Alberto Meneses, Governador Civil do Porto.
Não tinha passado um mês, a 19 de Janeiro de 1919, a Guarnição Militar do Porto, reunida no Monte Pedral, sob o comando de Paiva Couceiro, declara a restauração da Monarquia.
O Porto, mais uma vez, no olho do furacão.
A proclamada “Monarquia do Norte” durou 25 dias. Ficou como a Revolta do Quarteirão.
Como mera curiosidade, diga-se que o jornalista Afonso de Bragança (Porto, 19/12/ 1897 - Porto, 2/11/1922), que exerceu a actividade no Diário de Lisboa e em outros órgãos de comunicação foi, também, secretário particular de Sidónio Pais.
Afonso de Bragança ficaria com o seu nome atribuído a um prémio de Jornalismo do Secretariado de Propaganda Nacional, uma década após a sua morte.
No dia 17 de Setembro de 1919, cerca de 9 meses após o assassinato de Sidónio Pais e cerca de seis meses depois do derrube da Monarquia do Norte, a Polícia apreendeu na residência de Afonso de Bragança, à Rua da Fábrica, documentação de cariz político e de interesse para as autoridades.
Mais tarde, a Câmara do Porto haveria de lhe prestar uma homenagem, identificando com uma placa a sua residência.
 
 
 

Residência de Afonso de Bragança, na Rua da Fábrica 




O sidonismo tinha trazido algo de premonitório e o 28 de Maio de 1926 perfilava-se no horizonte.

 
 

Postal, 1918 – Ed. Monteiro
 
 
 
O corpo de Sidónio Pais foi embalsamado e sepultado nos Jerónimos, uma semana depois de ter sido morto, mas os seus restos mortais foram, posteriormente, transladados para o Panteão Nacional pelo Estado Novo.
Passados dois anos sobre o atentado que vitimou Sidónio Pais, em 1920, Fernando Pessoa homenageou-o num longo poema intitulado “Presidente-Rei”. Começa assim: