Grande Hotel da
Batalha
O Grande
Hotel da Batalha ocupou o prédio onde, antes, tinha
estado o Hotel Maria, cujo proprietário, Manuel Bento
Rodrigues, em Julho de 1913, solicitava à Câmara do Porto uma série de obras
para o acesso ao piso térreo e, em Outubro desse mesmo ano, dava conta à mesma
entidade de que pretendia construir uma “devanture” em ferro, naquele mesmo
piso, que obteria a licença de obra nº 1252/1913,
Desenho de “devanture”, ornamentando o rés-do-chão,
integrante de projecto referente à licença de obra nº 1252/1913
A “devanture”, atrás mencionada, pode ser apreciada na foto
seguinte, quando foram homenageados durante uma visita à cidade do Porto, os
aviadores Brito Paes, Sarmento Beires e Manoel Gouveia.
O Grande Hotel da Batalha tinha sucedido, então, ao Hotel
Maria.
Nesse mesmo local, tinha estado, sucessivamente, o Hotel Estrela do Norte fundado em 1862
e transferido para a Rua de Entreparedes e o Hotel Batalha fundado em 27 de Outubro de 1864.
O Hotel Batalha
não vingou muito tempo, sendo substituído pelo Hotel Particular que, por sua vez, cederia o espaço ao Hotel Oriental que, em 1877, já lá
estava instalado.
Foi então a vez de por lá se instalar o Hotel Gibraltar, de Manoel António Fernandes e, finalmente, o Hotel Maria.
Em 1913, surgiria o Grande
Hotel da Batalha, após uma grande intervenção para melhoria das suas
instalações.
O Grande Hotel da Batalha seria remodelado com um projecto
de 1937 do arquitecto José Porto (1883-1965), cujas obras foram dadas como
concluídas, em 20 de Maio de 1940.
Em 7 de Dezembro de 1944, os irmãos António e José Abrantes
Jorge, donos do Hotel Aliança, situado na Rua Sampaio Bruno, compram o Grande
Hotel da Batalha à “Sociedade Exploradora do Grande Hotel da Batalha no Porto”.
António Abrantes Jorge viria a ser representante à Câmara
Corporativa, representando a União dos Grémios da Indústria Hoteleira e
Similares do Norte e, ainda, vereador na Câmara Municipal do Porto.
O Grande Hotel vai, então, ser sujeito a obras de vulto a
cargo do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães, que se estenderam por alguns
anos permitindo, no entanto, o funcionamento do hotel.
O pedido de licenciamento respectivo é feito à Câmara
Municipal do Porto, na qualidade de requerente, por “Silva Ferraz e Companhia,
Limitada”, obtendo a licença nº 219/1945.
Grande Hotel da Batalha, após remodelação profunda, com um
projecto de 1945 do arquitecto Alfredo Ângelo de Magalhães
Extrato de notícia publicada no jornal “Diário de Lisboa” de
6 de Novembro de 1955 – Cortesia da “Fundação Mário Soares”
À esquerda do Grande
Hotel da Batalha é a Rua de Cima de Vila.
Próximo do fim do milénio, a cadeia Mercure adquire o
“Grande Hotel da Batalha” e passa a ser, a partir de 2003, o hotel “Mercure Porto
Batalha”, após grandes obras de remodelação.
O edifício passa a ter 6 andares, 149 quartos e 9 suites e,
ainda, uma sala de conferências.
Em 2008, o hotel “Mercure Porto Batalha” passa a designar-se
hotel “Mercure Porto Centro”, mas, actualmente, já é o hotel “Mercure Porto
Centro Santa Catarina”.
Grande Hotel do Porto
Grande parte dos terrenos, a poente da Rua de Santa Catrina,
nomeadamente, onde mais tarde foi erguido o Grande Hotel do Porto era, na primeira
metade do século XIX, quintas e terrenos lavradios pertencentes à grande
empresária D. Antónia Adelaide Ferreira, a Ferreirinha do vinho do Porto.
Como se pode observar, abaixo, na planta de Baldwin &
Cradock (Londres 1833), grande parte daquela área estava por
urbanizar.
O quarteirão entre o que são hoje as ruas de Santa Catarina,
Sá da Bandeira, Passos Manuel e Formosa pertencia a Francisco da Cunha
Magalhães e a D. Antónia Ferreira.
Os terrenos onde foi levantado o Grande Hotel do Porto,
pertenceram a D. Adelaide Ferreira, vulgo a “Ferreirinha” da Régua que tinha
uma casa apalaçada nesse local.
Essas terras eram atravessadas por um ribeiro que vinha
desde a Rua das Carvalheiras na Fontinha onde nascia e junto à Estação de S.
Bento era um dos cursos de água que formavam o rio da Vila e alimentava uma
fonte, já demolida, na esquina da Rua de Santa Catarina e da antiga Viela
das Pombas (actual António Pedro) que por isso se chamava Fonte das Pombas.
Na frontaria essa fonte tinha gravada uma alusão à batalha
efectivada na Ponte Ferreira durante o Cerco do Porto.
Na planta acima, é possível ver o percurso do ribeiro
referido que nasce nas Carvalheiras e o traçado da Rua de Santa Catarina a
meio, na vertical, partindo dos largos de Santo Ildefonso e da Batalha e ainda,
notar, como é óbvio, que as ruas de Sá
da Bandeira começada em 1877 e de Passos
Manuel começada em 1874 e o Mercado do Bolhão (por cujo solo passa o
referido ribeiro), ainda não tinham surgido. Para urbanizar a actual Rua do
Ateneu Comercial do Porto foi necessário encanar o ribeiro.
O terreno onde ficava a Fonte
das Pombas foi, a partir de 1904, disputadíssimo, tendo saído como vencedor,
entre diversos pretendentes, o proprietário da vizinha Camisaria Confiança, que
indemnizou um outro concorrente que, aí, já tinha começado a construir.
Um ano depois, acabou por vendê-lo a outro, de nome Avelino
Correia, num negócio deveras escuro, que obrigou a Fazenda a processar o Cunha
da camisaria e o Avelino, por simulação de negócio.
A água daquele ribeiro viria, mais tarde, a ser utilizada
nos sanitários do Café Brasil (ainda existente) ao fundo da Rua da Madeira,
junto da Estação de S. Bento.
O Grande Hotel do
Porto, inaugurado em 27 de Março de 1880, é um dos hotéis de maior
prestígio da cidade, e nasceu por vontade de Daniel Martins de Moura Guimarães, um rico comerciante de arte que
foi para o Brasil com 17 anos e regressou ao Porto em 1867.
Aqui chegado e após viajar pela Europa, desafiou o
arquitecto Silva Sardinha para traçar um hotel de referência na cidade.
Sendo Daniel Moura Guimarães um apaixonado pelas artes e
pelas viagens, autor de um guia que o torna célebre, o “Guia do Amador de
Bellas-Artes” (1871), no qual descreve a arte, o património e os aspetos mais relevantes
dos locais que visita.
É, pois, com base nos conhecimentos adquiridos, e tendo como
objetivo reproduzir, no Porto, o charme das capitais europeias, que decide construir
um hotel semelhante aos que conhecera.
“O “Hotel do Porto”,
talhado desde os alicerces para ser uma casa de hospedagem de primeira ordem, é
propriedade do sr. Daniel Martins de Moura Guimarães e entra amanhã em
exercício das suas funções de hospitalidade, inaugurando-se com o jantar ao
bando que festeja a execução capital do menos perverso do Judas, o de palha.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 26 de Março de 1880;
Fonte: Guido de Monterey – Porto 2, pág.588
Como se observa na notícia acima, o hotel foi inaugurado em
Sábado de aleluia e foi, por detrás da sua fachada vitoriana foi, ao longo dos
tempos, testemunha de amores e espionagem, poiso de fugitivos e ilustres.
À data de inauguração, o hotel oferecia uma série de
serviços que constituíam uma enorme novidade.
“O hotel oferecia 40
quartos, cinco suítes, (uma delas a suite real) e outros espaços: Sala de
Leitura, Sala de Música, Sala de Jogos e Sala da Senhoras. Nas traseiras do
Hotel, na Rua do Ateneu Comercial do Porto, situavam-se os balneários, abertos
ao público com água quente e fria, algo muito raro à época. Daniel Moura
Guimarães convidou o Dr. Ricardo Jorge e o Dr. Augusto Brandão para diretores
de duches e Paulo Lauret para professor de ginástica, naquilo que seria à
altura um antecessor dos modernos spa’s.
O Grande Hotel do
Porto oferecia serviço de banquetes, bailes e festas que atraíam as figuras
notáveis do Reino, da política, da arte e da sociedade”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
Quando o imperador D. Pedro II e sua mulher, a imperatriz
Teresa Cristina Maria, vieram exilados para a cidade do Porto, em 1889, aquando
da implantação da República no Brasil, foi no Grande Hotel do Porto, na Rua de
Santa Catarina, que se hospedaram e, num dos seus quartos, que a imperatriz
morreu na manhã do dia 28 de Dezembro de 1889.
Eça de Queirós era hóspede frequente da unidade hoteleira, e
o Duque de Windsor também aqui esteve, e tem sala com o seu nome.
Em 1912, à porta do Grande Hotel do Porto, uns passageiros
entram numa caleche de aluguer – Ed. Alberto Marçal Brandão (1848-1919)
Fachada do Grande Hotel do Porto, em 1913, quando era seu único proprietário, desde há alguns anos, José de Oliveira Basto
A fachada do hotel da gravura anterior manter-se-ia até 1917
quando, José de Oliveira Basto, brasileiro de torna-viagem que, a partir do fim
do século XIX, se torna co-proprietário do hotel e, depois, único proprietário,
pois compra a parte adquirida aos herdeiros de Moura Guimarães, vai realizar obras
de vulto no hotel.
Extrato de artigo da autoria de Simão de Laboreiro, sobre o
Grande Hotel do Porto, In jornal “A Situação” (jornal Republicano da manhã), em
28 de Agosto de 1818
Na sequência das obras surge, na cobertura de edifício, um
Terraço Panorâmico.
O Terraço era uma novidade na cidade do Porto e atraía
muitas personalidades que aproveitavam para apreciar a vista que
oferecia.
Após as obras mencionadas, transposta a entrada do hotel,
apresentava-se um grande vestíbulo, de acesso à sala de leitura, à sala de
visitas, à sala de estar e ao corredor, dotado de colunas.
Nos 23 anos que se seguiram às obras executadas sob a
orientação de José d’Oliveira Basto, as instalações do hotel foram
sucessivamente intervencionadas e melhoradas, sem necessidade de interromper o
seu funcionamento.
Este foi, também, o hotel onde ficaram alojados Gago
Coutinho e Sacadura Cabral, alguns meses após a sua travessia do Atlântico
Sul e onde, foram alvo de uma manifestação de carinho popular, por parte da
população, a 4 de Dezembro de 1922.
Antes, em Dezembro de 1917, aquando do golpe de estado de
Sidónio Pais, nas instalações foi preso o primeiro-ministro Afonso Costa, aí
hospedado
Publicidade ao Grande Hotel do Porto, em 1934
O hotel será, entretanto, vendido.
“O hotel é vendido a
D. Ângelo Vasquez Enriquez e António Maria Lopes. Os novos donos continuam a
ampliação e reforma do espaço: é criada uma nova cozinha, no vão que existia
entre o hotel e a então Camisaria Confiança”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
Chegados à década de 1940, é introduzido o Livro de honra e
surge o Salão de Inverno.
“Um novo espaço nasce
no Grande Hotel do Porto. O Salão de Inverno apresentava uma claraboia e um fogão
de sala, que funcionava nos meses de inverno. A decoração foi da
responsabilidade da Casa Nascimento. Hoje é aqui que encontramos a Sala Douro”.
Fonte: “grandehotelporto.com”
Entre 1940 e 1960, uma série de obras são realizadas e António Maria Lopes torna-se o único proprietário
da unidade hoteleira.
Assim, para além da implantação de um segundo elevador, nas
áreas comuns é criada uma boutique na antiga Sala de Leitura e o bar é
remodelado.
Os quartos são equipados com novo mobiliário e passam a ser
alcatifados.
Até aos nossos dias as obras de remodelação dos espaços são
constantes, destacando-se as levadas acabo em 2002, e o hotel, presentemente,
apresenta 95 quartos.
Hall de recepção, restaurante e fachada principal do Grande
Hotel do Porto, actualmente
No Grande Hotel do Porto, Guilhermina Suggia conheceria Dr. Carteado
Mena e acabariam por contrair matrimónio em 1927.
O ministro de Salazar, António Ferro era frequentador para
“curar as feridas de Lisboa”, confessou em livro de memórias.
Por lá se alojavam, também, quando visitavam a cidade do
Porto, os escritores Assis Pacheco, Luís de Sttau Monteiro, o poeta Teixeira de
Pascoaes, pseudónimo de Joaquim Teixeira de Vasconcelos, o historiador José
Hermano Saraiva e o músico António Vitorino d’Almeida, entre outras
personalidades.
Outra figura pública, do mundo da música, Pedro Abrunhosa,
diz estar ligado ao Grande Hotel do Porto por ser trineto do fundador, Daniel
Moura Guimarães e neto de Álvaro Machado, que terá exercido as funções de
director da unidade hoteleira, em meados do século XX.
Em 2021, a Câmara Municipal do Porto abriu o procedimento de
classificação como Monumento de Interesse Municipal (MIP) do Grande Hotel do
Porto, por considerar que o imóvel representa um “valor cultural de significado
relevante”.