Escalada da Torre dos Clérigos em 1917
No dia 11 de Julho de 1917, o Porto acorda e é surpreendido pelo aparecimento na Cruz da Torre dos Clérigos, das bandeiras portuguesa, francesa e inglesa que, viria a saber-se depois, ali foram colocadas pelo famoso escalador José Puertollano.
Era o prenúncio do que passados quatro dias os portuenses iriam assistir.
Dois acrobatas
espanhóis, José e Miguel Puertollano, pai e filho, escalaram no Domingo, a 15
de Julho de 1917, a Torre dos Clérigos.
Quando chegaram ao
topo, e após fazerem umas acrobacias na cruz, tomaram chá acompanhado por
bolachas Invicta, uma marca recente que estava a ser promovida na altura.
Depois lançaram panfletos para, dizia-se, as 150 mil (????) pessoas que estavam na rua a
assistir.
À época, as bolachas
Invictas esgotaram rapidamente.
“...Houve ainda a
escalada da Torre, desde a base até ao vértice, pelos Puertollanos ocorrida, se
a memória nos é fiel, em 1917. Também assistimos de ânimo inquieto, ao
escalamento feito pelos dois sujeitinhos, de moldura em moldura, sem nenhuma
batota, sem nenhuma ajuda, atidos apenas às suas boas unhas, que dir-se-iam
garras aduncas e firmes.
Quando chegaram à
bola cimeira (que Camilo diz “ser menos dura e menos tapada que a cabeça de Basílio
Fernandes Enxertado”), já tinham sido providos através da última “ventana”, das
vitualhas que iriam saborear nos braços da cruz de ferro, que é remate da
Torre. E, atónitos, todos assistimos àquele chazinho das 5, gostosamente
beberricando a setenta e tantos metros de altura, isto, muitos anos antes do
chá que é servido agora pelas hospedeiras aeronautas. Depois da chazada,
vagarosamente libada nos braços da cruz, os acrobatas despediram, para os
espectadores, miríades de papelinhos onde se enalteciam as excelência das
bolachas, com que os ginastas estavam a acompanhar o seu chá nas nuvens.
Os papelinhos diziam o nome das bolachas do seu fabricante, mas nós não o
repetiremos agora, para não fazermos graciosa, uma vez que o Puertollanos também
a não fizeram…”
In O Tripeiro Série
VI, Ano IX
“Meu pai contava-me que assistiu à escalada,
em 15/7/1917, muito ansioso com o receio de ver a queda do trepador. E digo-o
no singular, pois o atleta foi só o Pertollano (pai), tendo o seu filho subido
pelo interior e só ter escalado a bola e a cruz.
Também, segundo meu pai, e já li algures, a
escalada a que ele assistiu foi patrocinada por um comerciante do Porto”.
Rui Cunha, In
portoarc.blogspot
Publicidade às bolachas “Invicta” – Fonte: portoarc.blogspot
Convite feito à população para subir à Torre dos Clérigos -
Fonte: portoarc.blogspot
Na gravura acima um folheto de publicidade lançado do alto
da Torre dos Clérigos em Julho de 1917.
Este feito ficou
gravado num filme chamado “O Homem que subiu à Torre dos Clérigos”, produzido por
Raul de Caldevilla e que teve estreia no Salão Jardim Passos Manuel, no dia 28
de Julho de 1917.
Os Puertollanos haveriam de voltar à cidade do Porto. Assim,
no dia 24 de Outubro de 1917, uma grande multidão esperava os dois escaladores
que desembarcariam na estação ferroviária de S. Bento. Houve música e foguetes.
Quatro dias depois, no Domingo, 28 de Outubro, D. José e D.
Miguel escalariam novamente a Torre dos Clérigos para tomarem o seu “Chá nas
Nuvens”, com 10 mil espectadores a assistir.
Em sequência, no dia 1 de Novembro, a firma Nunes de Matos & Cia estreia no cinema Águia d'Ouro, com tremendo sucesso, o filme "Um Chá nas Núvens" dirigido por Raul Caldevilla.
Publicidade do Cinema Águia d’Ouro ao filme da escalada
Notícia da escalada na Ilustração Portuguesa de 26 de
Novembro de 1917
Torre dos Clérigos vista da Cordoaria no 1º quartel do século
XX
No dia 21 de Novembro de 1917, os Puertollanos fariam,
ainda, uma escalada não anunciada, na torre da igreja da Lapa para
verificar “in loco” as obras necessárias de reparação de que ela carecia.
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