O Parque das Camélias foi um espaço, situado na Rua
Alexandre Herculano, próximo à Praça da Batalha que, durante grande parte do
século XX, esteve afecto a diversões variadas, de cariz ambulante e, ainda, a
um clube histórico da cidade, o Sporting Clube Vasco da Gama, cujo nome foi uma
decisão de familiares de emigrantes no Brasil, adeptos do Club de Regatas Vasco
da Gama.
Já nas duas últimas décadas do século XIX, aquele topónimo
era associado ao local, pois, existiu bem perto, o Restaurante Floresta das
Camélias.
A origem fidedigna do topónimo é, porém, desconhecida, mas
deve radicar, de algum modo, naquela flor que viria a tornar-se um símbolo do
Porto, embora originária da Ásia.
Rua Alexandre Herculano e o carnaval de 1906. No terreno
livre, à direita, haveria de surgir o Parque das Camélias e, em parte, também,
a ampliação do Hotel Universal, hoje, a Messe dos Oficiais – Fonte: AHMP
No terreno à esquerda da foto acima, à data, tinha estado o
Teatro D. Afonso (já demolido) e, a partir de 1910, instalar-se-ia o Teatro
Éden, em novo edifício.
“Em 20 de Fevereiro de
1920, na Rua 6, casa 7, do Bairro Herculano, que ficou para a história como
sendo a sua primeira sede, um punhado de jovens operários uniu as mãos e
resolveu fundar o Sporting Clube Vasco da Gama, para ocupar os seus tempos
livres com a prática desportiva. Os sócios fundadores são, entre outros, os
irmãos Quintela, Armando Plácido, João Vidrago, Boaventura, José Garrido
e José Norton. Os dois últimos foram os primeiros presidentes conhecidos do
S.C.Vasco da Gama.
(…) O S.C. Vasco da
Gama sempre jogou em recintos alheios, percorrendo 84 anos de vida desportiva,
a fazer jogos oficiais e a treinar noutros recintos, até que veio parar ao
Parque das Camélias, mas de onde foi expulso na década de 1950, aquando da sua
venda à Direcção Geral dos Transportes Terrestres, que tencionava construir
naquela espaço uma central de camionagem, que nunca chegou a concretizar-se.
Viveram-se a partir dessa data momentos de muita incerteza, tendo-se então
passado a utilizar os recintos do “Grupo Desportivo Ferroviários de Campanhã” e
do “Círculo Católico”, a quem a Câmara Municipal do Porto, a pedido do Vasco da
Gama, cimentou o piso, remodelou os balneários e a instalação eléctrica do
recinto do jogo, ambos recintos ao ar livre. Quando chovia, ou estava mau
tempo, utilizavam os ginásios dos liceus “Alexandre Herculano”, “ Soares dos Reis”, “Oliveira Martins” e “Cal
Brandão”.
(…) Um ano após o 25 de Abril de 1974, mais propriamente
no dia 05 de Abril de 1975, em pleno período de agitação política, um grupo de
associados ocupou, o “Parque das Camélias” que passou a ser de novo a “casa do
Vasco”.
(…) e só a partir de 14 de Fevereiro de 2004, é que
passou a dispor de um recinto coberto, designado por “Oficina de
Basquetebol Alves Teixeira” o qual apesar de lhe faltar uma parede,
permitiu passar a realizar treinos com regularidade, e jogos oficiais de
“Minis”, “Iniciados” e “Cadetes”, o que foi um privilégio, por puderem,
finalmente, jogar, nos escalões citados, no mesmo recinto em que treinam. Em
Abril de 2010, com a ajuda da Câmara Municipal do Porto, foi finalmente
construída a parede em falta, fechando-se o recinto desportivo, continuando nos
escalões superiores (Juniores B/ Juniores A/Seniores) a jogar em pavilhões
alheios”.
Fonte:
“scvascodagama.com”
Homenagem a Joaquim Alves Teixeira, um dos grandes
jornalistas portugueses do século XX, director do jornal “O Norte Desportivo” e
um símbolo do Sporting Clube Vasco da Gama, no acesso às instalações desta
agremiação – Fonte: JPortojo
"O Norte Desportivo" (1934-1983) era um bissemanário (saía às 5ªs Feiras e Domingos) que pretendia defender o universo
portista dos adversários lisboetas.
"O Norte Desportivo" arrancou pela mão do jornalista Rodrigues Teles (1906-1975), um indefectível portista, jornalista do bissemanário desportivo "Sporting" e que se tornaria historiador ao publicar a história do seu clube do coração, desde 1906 a 1933.
Mais tarde, Rodrigues Teles completaria a tarefa, contando-a em fascículos, em 1955, reunidos em 3 volumes em 1958 e publicação completa em 1962.
Nesses tempos, a “Bola” era do SL Benfica, o “Record” do
SCPortugal e o “Mundo Desportivo” balançava entre os dois principais clubes da
capital.
“Saído para as bancas
a 18 de fevereiro de 1934, o Norte Desportivo foi uma outra publicação que
obteve bastante sucesso durante o tempo que durou. Sucessor d’O Porto
Desportivo, “O Norte”, como era conhecido, era um bissemanário de qualidade, em
formato grande, à semelhança dos melhores jornais generalistas da altura. Em
outubro de 1936 passou a exibir o subtítulo: “O jornal da especialidade com
maior tiragem e expansão aquém Mondego.” Nesta fase, esta reconhecida
publicação contava com colaboradores de enorme prestígio. Não fugindo à regra,
a guerra obrigou O Norte Desportivo a suspender as suas publicações entre julho
de 1941 e janeiro de 1942, devido à escassez de condições económicas. Após
retornar às 13 bancas, o jornal foi sofrendo alterações tanto no formato como a
nível gráfico, passando a ter cor vermelha no cabeçalho e nos títulos. Apesar
de todas as dificuldades com que se deparou durante o período da guerra, aliado
ao demolidor impacto da concorrência, O Norte Desportivo foi o único jornal a
sobreviver à chegada de A Bola e do Record.
Conseguiu manter-se
com sucesso durante as décadas seguintes, afirmando-se como o claro sucessor do
Sporting no que toca à defesa dos interesses do Porto e do Norte, tanto no
desporto como na vida nacional. Assim foi até junho de 1983, altura em que
desapareceu a primeira série deste jornal”.
Cortesia de Pedro Miguel Silva Ferreira, Mestre em Jornalismo (2017)
Cortesia de Pedro Miguel Silva Ferreira, Mestre em Jornalismo (2017)
O jornal do Alves Teixeira, como alguns diziam, tinha uma edição
no final da tarde de Domingo que saía um pouco depois de acabarem os jogos da
jornada, com começo geral, às 15 horas.
Minutos após os seus términos, eram afixados os resultados
das partidas, à porta do Jornal “O Primeiro de Janeiro”, em cujas oficinas
tipográficas, na Rua de Santa Catarina, ele era impresso e onde, por norma, se
apinhava uma multidão.
Ao fim dessas tardes de Domingo, pelas praças do Porto, ouviam-se
os ardinas num pregão, bem cantado, que se tornou bem conhecido:
- “Olha… o Norte Desportivo, Olha…“O Norte”!
Cabeçalho de “O Norte Desportivo” de 6 de Dezembro de 1973,
que dava conta da chegada ao F. C. do Porto, do jogador Teófilo Cubillas
Saído que era “O Norte Desportivo”, da edição de Domingo,
pouco depois das 18 horas, os portuenses invadiam os cafés da Praça da
Liberdade e da Avenida dos Aliados e, devorando as crónicas dos jogos, com os
dedos sujos de tinta da impressão ainda recente, comentavam as peripécias dos
jogos, obtidas através de sucessivos telefonemas ao longo da duração dos mesmos,
de repórteres que transmitiam para as redacções, de tempos-a-tempos, alguns
factos.
Da colagem final desses telefonemas resultava a crónica.
A partir de determinada altura, a tecnologia evoluiu e os
resultados dos jogos começaram a aparecer quase, como se diz agora, on-line,
impressos num placard de luzes (dinâmico), situado no cimo do Palacete das
Cardosas, na Praça da Liberdade, que passava notícias recentes e que os
transeuntes liam de pescoço esticado para o céu.
Nesse placard, os “pixels do screen” dos nossos dias, eram
realizados por uma miríade de pequenas lâmpadas incandescentes que acendiam e
apagavam a preceito.
Não visível nesta foto o placard luminoso de notícias, situava-se
à direita do anúncio à máquina de costura Husqvarna. O café mais à esquerda era
o Astória
Cabeçalho do “Mundo Desportivo” no ocaso da década de 1960
“Quem se lembra do
Parque das Camélias? Por muito que pesquise, não encontro referências sobre
este espaço, com o seu ringue onde se praticava o andebol e o basquetebol,
digamos que era a casa do Vasco da Gama. E de vez enquanto armava-se outro
ringue para a Luta-Livre Americana, onde o espanhol Saludes era o mau da fita.
O campeão era sempre o mesmo, o nosso José Luís. Mas havia também o Mascarilha,
não me lembro já se era este o seu nome "artístico".
Texto de JPortojo
No auge dos anos dos
espectáculos com palco montado a preceito, no Parque das Camélias, os
espectadores vibravam com as sessões de boxe, em que pontificava o ídolo da
modalidade da época, o José Santa Camarão.
O Camarão era
alcunha de família. Família de pescadores, está claro! Nascido em Ovar, passou
muitos anos no Brasil e nos Estados Unidos, onde casou. Era um atleta de
excepção, mas com um carácter muito bondoso. Teve uma carreira muito vitoriosa
naqueles países e na Europa, em especial na Alemanha.
Em 1930 entrou no
filme “Amor e Ringue” sobre a vida do pugilista alemão Max Schmeling.
Arthur Duarte, actor,
realizador, director de “O Leão da Estrela” e de “A Menina da Rádio”, fazia um
papel pequeno, secundário, de manager, naquele filme.
Santa Camarão entrou
em combates históricos. Como o do Madison Square Garden, em Nova Iorque, no dia
6 de Dezembro de 1932, em que defrontou o campeão do mundo de pesos pesados,
Primo Carnera, tendo, porém, desistido, devido a uma lesão.
No dia 5 de Abril de
1968, faleceu José Santa “Camarão”, com 66 anos de idade, que durante sete anos
foi campeão nacional de todas as categorias, entre os anos vinte e trinta do
século passado.
Célebres, ficaram as
sessões contínuas de cinema exibidas no Salão-Cinema do Parque das Camélias.
Conta quem lá esteve, as horas seguidas a ver o mesmo filme ou uma sucessão de
filmes, versando temas diferentes, sem quaisquer paragens.
Santa Camarão
Pela porta à esquerda, que dá acesso a uma longa rampa, se
faz a entrada para o antigo Parque das Camélias – Ed. MAC
O Parque das Camélias, em meados do século XX, haveria de
comunicar com a Rua Augusto Rosa, para instalação de uma central de camionagem,
que ainda funciona nos nossos dias, mantendo o topónimo, tendo deixado de ser,
porém, o local de diversão que, foi, durante algumas décadas.
Por sua vez, o topónimo Augusto Rosa pretende homenagear o actor Augusto Rosa, que se estrearia, no Porto, no Teatro Baquet, em 31 de Janeiro de 1872, interpretando a personagem de António Soares, do Morgado de Fafe de Camilo C. Branco.
Aquele actor era filho e irmão de dois outros grandes actores, João Anastácio Rosa e João Rosa, respectivamente.
Antes, o arruamento era identificado por Rua da Batalha e, brevemente, por Rua dos Matadouros - "em frente da Casa Pia."
O Parque das Camélias fixar-se-ia, em grande parte, na área
alodial com entrada pela Rua de Alexandre Herculano com comunicação com a Rua
Duque de Loulé – Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892
Entre a “Casa de Sousa Avides” e o Hotel Universal esteve,
em tempos, instalado o hotel “Nova Itália”, onde muitos dos artistas a actuar
no Teatro S. João costumavam hospedar-se. Era conhecido, ainda, por no seu
restaurante, praticar o serviço de self-service, uma novidade para a época.
Planta de casas com frente para a Rua da Batalha (actual Rua
Augusto Rosa) – Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892
Dos prédios com frente para a Rua da Batalha, apresentados
na planta acima, foram demolidos para a instalação dos acessos à central de
camionagem, todos os situados entre os delimitados a amarelo, incluindo a
capela.
Entre eles, destacam-se os que chegaram a ser identificados
como “Casa de Manuel José Duarte Guimarães”, com uma capela anexa, e a “Casa de
Manuel de Sousa Avides”.
Rua Augusto Rosa no local da saída da central de camionagem
antes das demolições (vista no sentido descendente). A antiga capela, atrás referida,
encontra-se à direita e, à esquerda, está a casa de Sousa Avides– Fonte: Ed.
Teófilo Rego; AHMP
Rua Augusto Rosa no local da saída da central de camionagem
antes das demolições (vista no sentido ascendente). A antiga capela, atrás
referida, encontra-se à direita, a meio da foto – Fonte: AHMP
Em 1947, começa a ser dada execução à instalação no antigo
Parque das Camélias de uma central de camionagem, de acordo com a planta
cadastral apensa ao projecto respectivo – Fonte: AHMP
À direita, ficaria a “Casa Manuel José Duarte Guimarãres –
Ed. MAC
À esquerda, ficaria a “Casa Manuel Sousa Avides” – Ed. MAC
Para orientação, diga-se que no número de polícia, nº 83, à
data de 1892, está hoje, na actual Rua Augusto Rosa, 172, o Café Sagres.
Quanto às personalidades que por aqui habitaram, é de
relevar que Manuel de Sousa Avides (1854-1920) foi um médico e político
associado ao Partido Regenerador.
Foi conselheiro (1904), vereador da Câmara Municipal do Porto
(1893-1905) e presidente da Câmara Municipal do Porto (1902-1905).
Com a instauração da República, abandonou a vida política
para se dedicar à administração empresarial e corporativa, tendo sido director
da Companhia de Seguros Urbana Portuguesa e integrado os corpos gerentes do Banco
Aliança.
Foi ainda membro da Irmandade da Lapa e Provedor da Ordem de
Cristo.
Por sua vez, Manuel José Duarte Guimarães (1795-1845) foi um
brasileiro que ficou conhecido por explorar, por arrendamento, o convento dos
Congregados, abrindo lojas com portas nessas instalações, na fachada voltada
para a Praça D. Pedro (actual Praça da Liberdade), procedimento que já era
adoptado, antes, pelos frades, por baixo da abóbeda da construção.
Foi casado com Rita Vitória Guimarães, falecida, já viúva,
em 1860.
O nome de Camilo Castelo Branco ficou associado a esta
família, pois, o escritor, faria o elogio fúnebre dum filho do casal, de seu
nome Joaquim José Duarte Guimarães (1823-1850), falecido prematuramente, em
primeira página do jornal “O Nacional”.
Em 1842, Manuel José Duarte Guimarães já vivia na zona do
Largo da Batalha, pois, para a sua residência aí situada, pediu licenciamento
para a instalação de uma canalização para transporte de água desde uma mina
situada na Rua do Bonfim (Licença de obra n.º: 355/1842).
“Após a extinção das
ordens religiosas fruto de uma consolidação dos ideais liberais pelo decreto de
Joaquim António de Aguiar de 30 de Maio de 1834, foi o edifício do Convento da
Congregação do Oratório da regra de S. Filipe de Néri, à Praça Nova das Hortas,
posto em almoeda e adquirido, à Fazenda Nacional: uma parte pelos Contratadores
do Tabaco (que tinham a ideia de aí fazer montar a sua fábrica), sendo a outra
comprada pelo cidadão brasileiro Manuel José Duarte Guimarães. Passado algum
tempo, o capitalista brasileiro diligenciou, e conseguiu, comprar aos
contratadores todo o vasto edifício, do qual fazia parte uma torre erguida do
lado poente da igreja da qual se lobrigava vista muito assinalável: No sítio da
torre e no da portaria conventual, cuja demolição começou em Dezembro de 1842,
mandou o novo proprietário construir duas casas de dois andares com frente para
o Largo da Feira de S. Bento, que em meados do século passado (1852), estavam
arrendadas ao cabeleireiro Heitor Guichard [...] e sua esposa, que ali geria um
armazém de modas. // Do lado da Praça de D. Pedro, aproveitando as boas caves
de abóbada que os padres costumavam alugar a particulares, mandou outrossim o
mesmo novo senhorio, ao rés-da-rua, abrir portas regulares para
estabelecimentos e rasgar mais janelas de varanda a todo o correr do primeiro
andar. // Depois de concluída a respectiva obra de adaptação, é que os
botequins, pouco a pouco, começaram a concentrar-se à volta do extinto edifício
do Convento dos Congregados, tanto para a banda da Praça, como para a de Sá da
Bandeira (actual de Sampaio Bruno) como ainda para a do Bonjardim (actual Rua
de Sá da Bandeira).
Fonte: Horácio Marçal – “Os antigos botequins do Porto”, In O
Tripeiro. 6.ª Série, Ano IV, n.º 3. Porto: Março 1964, p. 72.
Em 27 de Agosto de 1845, por ofício, o Governo Civil remeteu
a planta alta oferecida pelo falecido Manuel José Duarte Guimarães para
melhorar a frente do edifício do extinto Convento dos Congregados, sobre a
Praça de D. Pedro, dando satisfação a pedido solicitado pela Câmara Municipal,
em ofício de 20 de Agosto de 1845, onde eram feitas várias considerações sobre
a execução da mesma planta.
Nos dias de hoje, toda a área, que esteve de um modo ou
outro, em diferentes épocas, afecta ao Parque das Camélias, compreende uma
central de camionagem, com saída para a Rua Augusto Rosa, um parque automóvel
que tem serventia pela Rua Duque de Loulé e as instalações desportivas do
Sporting Clube Vasco da Gama.
Sem comentários:
Enviar um comentário