Durante mais de um século, a partir de meados do século XIX,
que a Rua das Flores, na sua ala setentrional, foi ocupada por ourivesarias,
porta sim, porta sim.
Em 1955, ainda eram dezanove os estabelecimentos daquele
ramo de actividade.
Entre eles, um dos mais antigos, veio a tornar-se a firma
“José Rosas & C.ª”, na Rua das Flores, nº 245.
“José Rosas”, na Rua das Flores, em meados do século XX
A ala meridional dessa rua era ocupada pelas lojas dos
mercadores, especialmente do ramo têxtil.
No século XIX, era moda, sobre a Rua das Flores, ser entoada
a canção com o seguinte estribilho:
Adeus, cidade do Porto
Adeus, Rua das Flores
De um lado tens só ourives
Do outro tens mercadores
“José Rosas & C.ª” teve a sua origem na primitiva firma “Couto
& Moura”, fundada em 1851, pelos sócios, Manuel Dias Couto e Vicente Manuel
de Moura (1815-1908).
Este último, natural de Montalegre, tendo iniciado a sua
aprendizagem, em ourivesaria, com cerca de 16 anos, na oficina do mestre Manuel
Dias do Couto, tornar-se-ia sócio do seu professor e, a partir de 1865, exerceu
o importante cargo de Contraste Ensaiador
do Ouro no Porto.
Esta sua actividade, por razões desconhecidas, acabaria por
suscitar animosidade no poderoso meio corporativo portuense dos artesãos do
ouro, demitindo-se no ano de 1881. Prosseguiria, no entanto, com esse ofício na
Caixa Filial do Banco de Portugal, no Porto, tendo falecido no ano de 1908.
Por morte de Manuel Dias do Couto, ocorrida em 1865, Vicente
Moura ficou à frente do negócio até 1876, ano em que trespassou a loja ao genro
José Aires da Silva Rosas, que já exercia a actividade de ourives, surgindo,
assim, “José Rosas – Ourivesaria”.
José Rosas vai remodelar todo o funcionamento da ourivesaria
e fazer-se acompanhar, na vertente da concepção das peças, da colaboração do escultor José
Joaquim Teixeira Lopes.
Cartão Comercial de “José Rosas- Ourivesaria”
Catálogo de “José Rosas”, em 1903
Cartaz publicitário de “José Rosas – Ourives Joalheiro”, em
1905
Em 23 de Julho de 1909, entram para sócios da firma, seu filho José Rosas
Júnior (1885-1958) e João Teixeira Duarte.
Com o falecimento de José Rosas (pai) em 7 de Setembro de
1923, na sua casa da Rua das Flores, e de João Teixeira Duarte, em 21 de Junho
de 1944, a sociedade seria renovada.
Assim, em 1944, entra para a firma, Manuel Rosas, filho de
José Rosas Júnior e de Maria Antónia de Castro Ramos Pinto Rosas, os quais
passam a constituir a sociedade com denominação social de “José Rosas & C.ª”.
De referenciar como
marcos importantes para a sociedade, durante o século XX, o facto de José Rosas
Júnior ter feito estudos em Londres e Paris e o seu filho Manuel Rosas ter
tirado o curso de Gemólogo FGA, em
Londres.
Sobre os trabalhos executados ao longo dos anos ficaram para
a posteridade, entre outros, a “Espada de Honra de Mouzinho de Albuquerque”,
que lhe foi oferecida pela Associação Comercial do Porto, em 1898, o “Cofre D.
Manuel II”, oferecido pelas senhoras do Porto a este monarca por ocasião do seu
casamento, em 1913, o “Cofre século XII”, oferecido pela Câmara do Porto ao
Presidente da República, Marechal Carmona, em 1944, a “Cruz-Relicário S. João
de Brito”, oferecida pelo governo Português ao Papa Pio XII, em 1947, a
“Miniatura da Capela do Senhor do Padrão”, oferecida pela Casa dos Pescadores de
Matosinhos ao Presidente do Conselho, Oliveira Salazar e o restauro das joias
da coroa Portuguesa.
A aplicação de filigranas em peças de cristal e cerâmica e a
edição, em 1903, do 1º catálogo de encomendas de joias por correio foram,
também, marcos importantes na vivência da firma, durante o século passado.
“Cofre D. Manuel II” – Ed. Emílio Biel
“José Rosas &
C.ª”, esteve presente em diversos eventos internacionais em representação
de Portugal e nos quais foram obtidos assinaláveis prémios atribuídos às
Secções Portuguesas de Ourivesaria, tendo concorrido e estado presente em
exposições nacionais de que são prova, entre outras, as realizadas no Porto, em
1894, Lisboa ( 1905-1910-1923) e Lourenço Marques (actual Maputo) em 1948.
Em 1951, decorridos 100 anos sobre as primitivas origens da
firma, o Dr. Artur Magalhães Basto acabou por escrever um livro comemorativo
daquele centenário.
Obra comemorativa do centenário de “José Rosas & C.ª”
“…a casa continuou com
seu filho, Dr. Manuel Ramos Pinto Rosas, nascido em Nevogilde em 21 de Julho de
1921, biólogo de formação, mas com um curso de Gemologia em Londres. Nos anos
70 as instalações comerciais migraram para a zona da Boavista, na Rua Eugénio
de Castro, onde se mantém até hoje”.
Fonte: “comerciocomhistoria.gov.pt/”
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