sexta-feira, 21 de maio de 2021

25.123 O Porto de 1901

 
Em 16 de Janeiro de 1898, Mouzinho de Albuquerque chegava à gare da Estação do Pinheiro de Campanhã e era recebido com todas as honras pela cidade do Porto, na sequência de convite que lhe tinha sido endereçado pelo Centro Comercial do Porto.
 
 
Porto, c. 1900 – Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
Passados pouco mais de três anos, em 1 de Outubro de 1901, uma 3ª Feira, Mouzinho de Albuquerque voltava ao Porto, mas, agora, na companhia do príncipe Luís Filipe, herdeiro do trono, que acabava de fazer 14 anos.
 
 
“Aos 13 anos, El-Rei D. Carlos entrega a educação do herdeiro da coroa ao herói das campanhas de África, Mouzinho de Albuquerque, o que faz com que a sua instrução seja essencialmente de teor militar. Começa a realizar, sob supervisão do seu aio, viagens pelo Reino e visita terras como o Porto, Penafiel, Braga, Viana do Castelo e quase toda a região norte de Portugal. Mouzinho de Albuquerque suicida-se em 1902 e o coronel Francisco da Costa é o novo aio do príncipe Real”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
 
 
 

Gare da Estação Ferroviária de Campanhã (sépia), em 1900 – Ed. Blasins Bergamin
 
 

Praça D. Pedro, em 1900

 

Praça (nascente) D. Pedro observando-se o “Grande Café Central” (mais tarde, “Café Imperial” e, à esquerda, a Farmácia Birra (ainda em actividade) e, ainda, o “Café Suisso” (na esquina da Rua de Sá da Bandeira, mais tarde, Sampaio Bruno), em 1900
 
 
 
Tendo-se hospedado no Palácio dos Carrancas, Luís Filipe em visita de caracter extra-oficial seria, no entanto, alvo de todas as honras das autoridades civis, militares e religiosas.
 
 

Palácio dos Carrancas, em 1900 – Ed. Alberto Ferreira; Fonte: AHMP
 
 
Após o almoço, nesse dia, Luís Filipe visitou o quartel de Santo Ovídeo, onde assentaria praça, seguindo depois para a vizinha igreja da Lapa, tendo rezado junto à urna que guarda o coração de D. Pedro IV.
 
 

Quartel de Santo Ovídio, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
 

Igreja da Lapa e Largo da Lapa, c. 1900 – Ed. Photo Guedes; Fonte: AHMP
 
 
O príncipe herdeiro visitaria, ainda, o Palácio de Cristal, o Castelo da Foz e o monumento ao Infante D. Henrique, que tinha sido inaugurado pelos seus pais, no ano anterior.
 
 
 

Palácio de Cristal, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
 
 
 

Estátua do Infante D. Henrique, em 1900, o ano da inauguração – Ed. A. D. Canedo; Fonte: AHMP
 
 
No dia seguinte, a visita foi à Foz do Douro, tomando depois o rumo do porto de Leixões, cuja distância venceu, pedalando uma bicicleta.

 
 

Porto de Leixões, em 1900 – Ed. Emílio Biel; Fonte: AHMP
 
 
A manhã terminaria com uma volta por Leça da Palmeira e por Matosinhos.
 
 
 
Panorâmica de Leça, Matosinhos e o Porto de Leixões, em 1900 - Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP

 
Após o almoço, o herdeiro do trono foi visto a visitar, a igreja de S. Francisco, o Palácio da Bolsa, as Fontainhas, o Seminário Velho e a Feira de S. Miguel, ainda na Praça da Boavista, cujo dia grande era, como habitualmente, a 29 de Setembro, nesse ano, um Domingo.
 
 
 

Praça da Boavista, c. 1900, quando o eléctrico atravessava ainda a praça, com Rua da Boavista pela direita e Rua das Valas (Rua Nª Sª de Fátima) pela esquerda
 
 
Na foto acima, ainda não eram visíveis quaisquer vestígios do monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, cuja primeira pedra só seria lançada oito anos depois, pelo irmão de Luís Filipe, o rei D. Manuel II.
No dia 4 de Outubro, Luís Filipe monta a cavalo, continuando as suas visitas, na companhia de Mouzinho e de um criado, dirigindo-se a Grijó, para visitar o histórico monumento.


 

Entrada da alameda de acesso à igreja (ao fundo) do mosteiro de Grijó
 
 
 
A pequena comitiva seguiu, depois, para a Granja, onde após uma visita à quinta, propriedade de Constantino Pais e jogar uma partida de ténis, foi prestada uma homenagem ao notável visitante, na Assembleia da Granja (nascida em 1869), onde seria saudado pelo conselheiro João Eduardo de Brito e Cunha (1841-1910), neto do herói e mártir, António Bernardo de Brito e Cunha, supliciado em plena Praça Nova, em 1829, pelos algozes miguelistas.
 
 
 
 

Edifício da Assembleia da Granja (estatutos aprovados desde 1869)
 
 
Pelo edifício icónico da Assembleia da Granja, visível na foto acima, construído em 1892, implantado na famosa instância balnear da Granja, em V. N. de Gaia, passaram importantes figuras da sociedade portuense e não só, tendo aqui vivido algumas boas horas de lazer o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia, o Príncipe Luís Filipe, escritores como Eça de Queirós, Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão e Sophia de Mello Breyner e a conhecida violoncelista Guilhermina Suggia, entre muitos outros.
V. N. de Gaia começou a despontar, após a extinção do Termo do Porto, pelas cortes de 1821, e depois de ter readquirido a sua plena autonomia em 1834, passando, desde então, a gerir directamente o seu desenvolvimento.
O mesmo aconteceria com toda a área que passou a administrar. Foi o caso da Granja, que na época balnear começou a ser uma referência da aristocracia portuguesa.
Já entrado o século XX, os clubes continuaram a cumprir a sua função de locais de convívio dos veraneantes.
Assim, bem perto da Assembleia da Granja, entre a Granja e Miramar, seria fundado em 1930, o Clube da Gândara, oficialmente designado como Sport Clube Alberto Sousa, visando a prática do ténis.
Seria Inácio de Sousa o seu grande impulsionador, ao ceder os terrenos onde o clube iria ter existência, e como homenagem ao seu filho Alberto Sousa, que tinha perdido precocemente, atribui ao clube o seu nome.
Algum tempo depois, o clube mudar-se-ia para o espaço que ocupa actualmente, conhecido como o Parque da Gândara, na Rua Moreira Lobo, nº 272.
 
 

Clube da Gândara


 

Mural com o retrato dos fundadores do Clube da Gândara
 
 
 
 

Interior do Clube da Gândara
 
 
 
A partir de meados do século XX, as instalações do clube da Gândara passaram a ser palco de inúmeras reuniões dançantes, onde a juventude da época podia ter contacto com muitos dos seus ídolos da música pop e rock.

 
 

Parque da Gândara em meados do século XX
 
 
No fim do dia, o retorno de Luís Filipe ao Porto envolveu a companhia de um numeroso grupo de cavaleiros.
Na manhã do dia seguinte, D. Luís Filipe e Mouzinho, vão fazer-se fotografar às Fotografias União e Biel & Companhia e, de tarde, visitaram, em V. N. de Gaia, os armazéns da Casa Ferreirinha e da Companhia Vinícola, onde lhes foram ofertadas algumas garrafas de vinhos de diversas colheitas.
 
 

Estúdio fotográfico de Emílio Biel & Cia, na Rua Formosa, 342 (Palácio do Bolhão), em 1901 – Cartão Comercial
 
 
 

Praça Santa Teresa (actual Praça Guilherme Gomes Fernandes), c. 1900
 
 
 
Na foto acima, naquela que ficou também conhecida pela Praça do Pão, no prédio que ostenta um mastro de bandeira, em frente, à esquerda, e denominado palacete do Barroso Pereira (há muito demolido), esteve a “Fotografia União, de Fonseca & Cia” e que, quando recebeu aqueles importantes visitantes, era gerida por Raúl Caldevilla, um jovem de 24 anos que iria singrar na actividade de publicitário e cineasta.
No dia 7, Luís Filipe parte para uma visita ao Minho, tendo retornado ao Porto passados cinco dias, aproveitando para visitar a oficina do escultor Teixeira Lopes 1866-1942) e apreciado as maquetes das estátuas de Soares dos Reis, Eça de Queiroz e Marques Loureiro.
 
 
 

Teixeira Lopes na sua casa de V. N. de Gaia, em 1903
 
 
No dia 13 de Outubro, um Domingo, o herdeiro da coroa retira-se, definitivamente, para Lisboa.

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