Em 16 de Janeiro de 1898, Mouzinho de Albuquerque chegava à
gare da Estação do Pinheiro de Campanhã e era recebido com todas as honras pela
cidade do Porto, na sequência de convite que lhe tinha sido endereçado pelo
Centro Comercial do Porto.
Porto, c.
1900 – Ed. Leopoldo Wagner; Fonte: AHMP
Passados pouco mais de três anos, em 1 de Outubro de 1901,
uma 3ª Feira, Mouzinho de Albuquerque voltava ao Porto, mas, agora, na
companhia do príncipe Luís Filipe, herdeiro do trono, que acabava de fazer 14
anos.
“Aos 13 anos, El-Rei
D. Carlos entrega a educação do herdeiro da coroa ao herói das campanhas de
África, Mouzinho de Albuquerque, o que faz com que a sua instrução seja
essencialmente de teor militar. Começa a realizar, sob supervisão do seu aio,
viagens pelo Reino e visita terras como o Porto, Penafiel, Braga, Viana do
Castelo e quase toda a região norte de Portugal. Mouzinho de Albuquerque
suicida-se em 1902 e o coronel Francisco da Costa é o novo aio do príncipe Real”.
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
Praça (nascente) D. Pedro observando-se o “Grande Café
Central” (mais tarde, “Café Imperial” e, à esquerda, a Farmácia Birra (ainda em
actividade) e, ainda, o “Café Suisso” (na esquina da Rua de Sá da Bandeira,
mais tarde, Sampaio Bruno), em 1900
Tendo-se hospedado no Palácio dos Carrancas, Luís Filipe em
visita de caracter extra-oficial seria, no entanto, alvo de todas as honras das
autoridades civis, militares e religiosas.
Após o almoço, nesse dia, Luís Filipe visitou o quartel de
Santo Ovídeo, onde assentaria praça, seguindo depois para a vizinha igreja da
Lapa, tendo rezado junto à urna que guarda o coração de D. Pedro IV.
O príncipe herdeiro visitaria, ainda, o Palácio de Cristal,
o Castelo da Foz e o monumento ao Infante D. Henrique, que tinha sido
inaugurado pelos seus pais, no ano anterior.
No dia seguinte, a visita foi à Foz do Douro, tomando depois
o rumo do porto de Leixões, cuja distância venceu, pedalando uma bicicleta.
A manhã terminaria com uma volta por Leça da Palmeira e por
Matosinhos.
Após o almoço, o herdeiro do trono foi visto a visitar, a
igreja de S. Francisco, o Palácio da Bolsa, as Fontainhas, o Seminário Velho e
a Feira de S. Miguel, ainda na Praça da Boavista, cujo dia grande era, como
habitualmente, a 29 de Setembro, nesse ano, um Domingo.
Praça da Boavista, c. 1900, quando o eléctrico atravessava
ainda a praça, com Rua da Boavista pela direita e Rua das Valas (Rua Nª Sª de
Fátima) pela esquerda
Na foto acima, ainda não eram visíveis quaisquer vestígios
do monumento aos Heróis da Guerra Peninsular, cuja primeira pedra só seria
lançada oito anos depois, pelo irmão de Luís Filipe, o rei D. Manuel II.
No dia 4 de Outubro, Luís Filipe monta a cavalo, continuando
as suas visitas, na companhia de Mouzinho e de um criado, dirigindo-se a Grijó,
para visitar o histórico monumento.
A pequena comitiva seguiu, depois, para a Granja, onde após uma
visita à quinta, propriedade de Constantino Pais e jogar uma partida de ténis, foi
prestada uma homenagem ao notável visitante, na Assembleia da Granja (nascida
em 1869), onde seria saudado pelo conselheiro João Eduardo de Brito e Cunha (1841-1910),
neto do herói e mártir, António Bernardo de Brito e Cunha, supliciado em plena
Praça Nova, em 1829, pelos algozes miguelistas.
Pelo edifício icónico da Assembleia da Granja, visível na
foto acima, construído em 1892, implantado na famosa instância balnear da
Granja, em V. N. de Gaia, passaram importantes figuras da sociedade portuense e
não só, tendo aqui vivido algumas boas horas de lazer o Rei D. Carlos e a
Rainha D. Amélia, o Príncipe Luís Filipe, escritores como Eça de Queirós,
Camilo Castelo Branco, Ramalho Ortigão e Sophia de Mello Breyner e a conhecida
violoncelista Guilhermina Suggia, entre muitos outros.
V. N. de Gaia começou a despontar, após a extinção do Termo
do Porto, pelas cortes de 1821, e depois de ter readquirido a sua plena
autonomia em 1834, passando, desde então, a gerir directamente o seu
desenvolvimento.
O mesmo aconteceria com toda a área que passou a
administrar. Foi o caso da Granja, que na época balnear começou a ser uma
referência da aristocracia portuguesa.
Já entrado o século XX, os clubes continuaram a cumprir a
sua função de locais de convívio dos veraneantes.
Assim, bem perto da Assembleia da Granja, entre a Granja e
Miramar, seria fundado em 1930, o Clube da Gândara, oficialmente designado como
Sport Clube Alberto Sousa, visando a prática do ténis.
Seria Inácio de Sousa o seu grande impulsionador, ao ceder
os terrenos onde o clube iria ter existência, e como homenagem ao seu filho
Alberto Sousa, que tinha perdido precocemente, atribui ao clube o seu nome.
Algum tempo depois, o clube mudar-se-ia para o espaço que
ocupa actualmente, conhecido como o Parque da Gândara, na Rua Moreira Lobo, nº
272.
A partir de meados do século XX, as instalações do clube da
Gândara passaram a ser palco de inúmeras reuniões dançantes, onde a juventude
da época podia ter contacto com muitos dos seus ídolos da música pop e rock.
No fim do dia, o retorno de Luís Filipe ao Porto envolveu a
companhia de um numeroso grupo de cavaleiros.
Na manhã do dia seguinte, D. Luís Filipe e Mouzinho, vão
fazer-se fotografar às Fotografias União e Biel & Companhia e, de tarde,
visitaram, em V. N. de Gaia, os armazéns da Casa Ferreirinha e da Companhia
Vinícola, onde lhes foram ofertadas algumas garrafas de vinhos de diversas
colheitas.
Estúdio fotográfico de Emílio Biel & Cia, na Rua
Formosa, 342 (Palácio do Bolhão), em 1901 – Cartão Comercial
Na foto acima, naquela que ficou também conhecida pela Praça
do Pão, no prédio que ostenta um mastro de bandeira, em frente, à esquerda, e
denominado palacete do Barroso Pereira (há muito demolido), esteve a
“Fotografia União, de Fonseca & Cia” e que, quando recebeu aqueles
importantes visitantes, era gerida por Raúl Caldevilla, um jovem de 24 anos que
iria singrar na actividade de publicitário e cineasta.
No dia 7, Luís Filipe parte para uma visita ao Minho, tendo
retornado ao Porto passados cinco dias, aproveitando para visitar a oficina do
escultor Teixeira Lopes 1866-1942) e apreciado as maquetes das estátuas de
Soares dos Reis, Eça de Queiroz e Marques Loureiro.
No dia 13 de Outubro, um Domingo, o herdeiro da coroa
retira-se, definitivamente, para Lisboa.
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