SACOR e a Refinaria
de Leça da Palmeira
Começou esta unidade industrial, ligada à refinação de
produtos petrolíferos, por ser conhecida, após a sua abertura em Junho de 1970,
como a Refinaria da SACOR, a empresa que a administrou desde o seu início e que
a criou.
A SACOR seria a primeira empresa do sector petrolífero a
dominar todo o processo desde a importação, transporte, refinação e
distribuição dos produtos.
Desde 1947, a SACOR tinha começado a laborar na refinaria de
Cabo Ruivo.
Até então, o País importava, desde há muitos anos, toda a
gama de produtos petrolíferos já refinados.
Empresas do ramo ficaram na memória de muitos, entre outras:
a “Vacuum Oil Company, a partir de 1896; a “Lisbon Coal and Oil Fuel Company”,
a partir de 1910; em 1930, começamos a ouvir falar da “Shell Company of
Portugal”, quando a marca “Shell” estava já no mercado, desde 1914; a “BP”, a
partir de 1955 e que, antes, desde 1929, tinha sido a “Companhia Portuguesa de
Petróleos Atlântico” e a Mobil Oil Portuguesa.
Nacionalizada a SACOR, no 25 de Abril de 1974, juntamente
com a Sonap, Cidla e Petrosul, surgiria a “Petrogal-Petróleos de Portugal,
S.A.”, actualmente, a “GALP Energia”, que decide em 2021, encerrar
definitivamente a refinaria de Leça-Perafita.
Refinaria de Leça da Palmeira
Vista aérea da refinaria de Leça da Palmeira
A história da refinaria ficará para sempre ligada à SACOR
(Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados), empresa constituída em
1937, quando um romeno de origem judia, Martin Saim é autorizado pelas
autoridades portuguesas a instalar, em Cabo Ruivo, uma refinaria.
Esta unidade desapareceria com as obras de implantação da
Expo 98, quando já, em 1979, tinha sido desactivada pela entrada em funções da
refinaria de Sines.
No dealbar da década de 1960, a SACOR decide abrir uma nova
refinaria no norte do país e o local escolhido situa-se entre a Boa Nova e o
Cabo do Mundo.
O local era estratégico: perto do Porto de Leixões onde iria
ser construído um terminal petrolífero; com o aeroporto, então, de Pedras
Rubras bem perto; com boas vias de acesso e muito terreno em volta.
Aeroporto de Pedras Rubras, c. 1950
O vasto areal que confinava com o mar, adjacente a esse
terreno, era conhecido como Praia do Aterro, por ser para aí que tinham sido
despejados os inertes extraídos da foz do rio Leça, resultantes das dragagens
para formação da Doca nº 1 do Porto de Leixões.
Começou, então, a refinaria por ocupar cerca de 270
hectares, mas acabaria por atingir os 400 hectares.
Com projecto de 1966 e início dos trabalhos em 1967, em
1969, arranca a laboração, mas com a inauguração a ocorrer, apenas, em 5 de
Junho de 1970.
Preparação do terreno para construção da Sacor, em 1967
Construção da refinaria da Sacor, em Perafita, em 30 de
Abril de 1968
Inauguração da Refinaria de Leça da Palmeira-Perafita, em
1970
No entanto, um homem haveria de fazer todos os esforços para
que a refinaria não fosse implantada naquele local. Tratou-se do então
presidente da Câmara de Matosinhos Pinto de Oliveira, que ambicionava para essa
frente marítima, a instalação de áreas de lazer e turísticas, nomeadamente um
grandioso campo de golfe.
Foi acompanhado nessa luta pelo Diretor-Geral dos Portos do
Douro e Leixões, o engenheiro Henrique Schreck.
Os esforços desenvolvidos por uns quantos não resultaram,
acabando por sair vencedores os poderes instalados em Lisboa, estribados numa
ideologia, na qual as decisões políticas relacionadas com o sector industrial
assentavam numa protecção desmedida, às empresas de cariz monopolistas, o que
era o caso.
Acrescia que a SACOR, mesmo sendo uma empresa privada, tinha
aliados poderosos junto do governo de Salazar e uma dessas personalidades era o
líder do partido único, a União Nacional, em Guimarães, Daniel Freitas do
Amaral, deputado da Nação e vice presidente da SACOR, conhecido por ser o pai
do Dr. Freitas do Amaral, o fundador do CDS.
Esta personagem tinha sido também o secretário de Oliveira
Salazar, quando o ditador fora ministro das Finanças.
De facto, Pinto de Oliveira não tinha qualquer hipótese de
êxito na luta que encetou.
Em Março de 1970, Pinto de Oliveira já não seria reconduzido
como presidente da Câmara de Matosinhos.
Estação de Serviço da SACOR, na antiga EN 109, em Miramar,
V. N. de Gaia
Em 1939, a SACOR, já tinha fundado uma empresa icónica que
ficou para sempre na memória de muitos portugueses, para comercialização e
distribuição de gás, a “Cidla-
Combustíveis Industriais e Domésticos, Lda.”, da qual detinha 51% do
capital, para comercialização do gás butano sob a marca, “Gazcidla” e o gás propano sob a marca “Propacidla”.
Óleo para motor da SACOR (1974)
“Mobil” no Cais do
Cavaco
Nos Estados Unidos, em 1879, a “Standard Oil Co.” adquire
uma participação de três quartos na “Vacuum Oil Company”, fundada em 1866.
Como pioneira em lubrificantes, a “Vacuum Oil Company” apresentava
uma série de produtos populares, incluindo o revolucionário óleo de cilindro a
vapor Gargoyle 600-W.
Em 1899, já detinham a marca Mobil.
Em 1911, de acordo com as leis anti-trust, a “Vacuum Oil
Company” tornou-se novamente uma empresa independente.
Em 1931, a “Vacuum-Oil Company, inc” volta a fundir-se com
“Standard Oil Co.”, formando a “Socony-Vacuum Corp”.
Em 1955, a empresa tornou-se “Socony Mobil Oil Company”.
Em 1966, foi renomeada como “Mobil Oil Corporation”, mais
tarde, abreviado para “Mobil Corporation”, de cuja panóplia de produtos
continuaram a distinguir-se no mercado, as conhecidas marcas “Mobil”,
“Mobilgas” e Mobiloil”.
O famoso “Pégaso” da Mobil
Em 1999, a “Mobil” funde-se com a Exxon para formar uma
empresa-mãe chamada " ExxonMobil ".
Em Portugal, a “Vacuum-Oil Company, inc” terá por subsidiária,
a partir de 1896, a “Vacuum Oil Company” e com idêntica ligação à empresa-mãe
americana, sucessivamente, em 1941, a “Socony-Vacuum Oil Company”, em 1952, a
“Socony Vacuum Portuguesa” e, a partir de 1955, a “Mobil Oil Portuguesa”.
A “Vacuum Oil Company” teria uma grande implantação no País,
a partir da década de 1920, com a comercialização dos seus fogões a petróleo.
Fogão a petróleo da “Vacuum Oil Company”, 1928
Publicidade aos caloríferos da “Vacuum Oil Company”, 1929
A “Vacuum-Oil Company” que distribuía, em Portugal, a
gasolina aos automóveis através de bombas da marca “Auto-Gazo”, seria responsável pela montagem de uma campanha para
instituir no País, em 1 de Junho de 1928, a circulação pela faixa direita das
vias que, até aí, se fazia pela esquerda.
“Auto-Gazo”, em 1927, distribuidora da gasolina da “Vacuum
Oil Company”
Campanha para a condução automóvel pela direita
Escritórios da “Socony-Vacuum”, na Praça do Infante, junto
da igreja de S. Nicolau. À direita, um Fiat “Topolino”
A “Mobil Oil Portuguesa”, a exemplo das empresas nacionais
que lhe deram origem, continuou a actividade de distribuidora de gás, de que se
destacava a conhecida marca “Mobilgás” e de lubrificantes da marca já
consagrada “Mobiloil”, para além da distribuição a granel de petróleo e de combustíveis.
Camião cisterna da Mobil
A “Mobil Oil Portuguesa” ficou ainda conhecida por, a exemplo
da “Vacuum Oil Company” que a antecedeu, por ter continuado o abastecimento de
gasolina, através de bombas auto medidoras espalhadas pelas ruas e estradas do
País, nos chamados postos da Mobil.
A partir de 1962, a “Mobil Oil Portuguesa” inaugura e começa
a explorar um terminal de gás butano, no Cais do Cavaco, na margem esquerda do
rio Douro, em frente a Massarelos, contemporâneo da inauguração da Ponte da
Arrábida.
A unidade funcionará como um posto de armazenamento e
distribuição de gás butano.
Ampliação do texto do anúncio anterior
“Quando a empresa
Mobil deliberou estabelecer um posto para descarga e distribuição de gás butano
nas margens do rio Douro, foi escolhido o lugar do cais do Cavaco por
apresentar duas características importantes e favoráveis, ou seja por estar
afastado de zonas habitacionais e pela profundidade do rio no local.
Estes factores já
havia de há muito tempo sido escolhidos para local de fundeadouro para navios
com cargas perigosas – inflamáveis ou explosivas, e ainda para navios de
grandes dimensões e calado, ou navios em dificuldades.
As instalações foram
inauguradas em 02/06/1962 com a entrada na barra do Douro do navio butaneiro
Dinamarquês KARIN THOLSTRUP, um navio de pequeno porte, mas as instalações
foram utilizadas por navios de cerca 100m de comprimento f.f., e 3.000tb.,
entre outros os Portugueses BANDIM e CIDLA e o Espanhol BUTADOS.
Infelizmente, as
condições a que o estado da barra chegara mais tarde, e as alterações
introduzidas nos sistemas de transporte e distribuição, além do aumento das
dimensões dos navios, levaram à suspensão das escalas dos butaneiros no rio
Douro e transferência dos serviços para o porto de Leixões. As instalações do
Douro mantiveram-se, por mais algum tempo, limitadas ao serviço de distribuição
de gás por auto-tanques e foram encerradas por volta de 1990”.
Rui Amaro, In “naviosavista.blogspot.com/”
O "Karin Tholstrup", atracado no terminal da
Mobil, em 1962
O “Butados” junto do terminal da Mobil, no Cais do Cavaco,
em 02/09/1967 – Ed. Rui Amaro
Aspecto das instalações da Mobil, no Cais do Cavaco
Local onde estiveram as instalações da Mobil no cais do
Cavaco e prédio que as integrava, mandado remodelar por Primo Monteiro Madeira,
em 1925 – Fonte: “autocaravanismo.pt”
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