segunda-feira, 11 de outubro de 2021

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SACOR e a Refinaria de Leça da Palmeira
 
Começou esta unidade industrial, ligada à refinação de produtos petrolíferos, por ser conhecida, após a sua abertura em Junho de 1970, como a Refinaria da SACOR, a empresa que a administrou desde o seu início e que a criou.
A SACOR seria a primeira empresa do sector petrolífero a dominar todo o processo desde a importação, transporte, refinação e distribuição dos produtos.
Desde 1947, a SACOR tinha começado a laborar na refinaria de Cabo Ruivo.
Até então, o País importava, desde há muitos anos, toda a gama de produtos petrolíferos já refinados.
Empresas do ramo ficaram na memória de muitos, entre outras: a “Vacuum Oil Company, a partir de 1896; a “Lisbon Coal and Oil Fuel Company”, a partir de 1910; em 1930, começamos a ouvir falar da “Shell Company of Portugal”, quando a marca “Shell” estava já no mercado, desde 1914; a “BP”, a partir de 1955 e que, antes, desde 1929, tinha sido a “Companhia Portuguesa de Petróleos Atlântico” e a Mobil Oil Portuguesa.
Nacionalizada a SACOR, no 25 de Abril de 1974, juntamente com a Sonap, Cidla e Petrosul, surgiria a “Petrogal-Petróleos de Portugal, S.A.”, actualmente, a “GALP Energia”, que decide em 2021, encerrar definitivamente a refinaria de Leça-Perafita.
 
 
Refinaria de Leça da Palmeira
 
 
Vista aérea da refinaria de Leça da Palmeira
 
 
A história da refinaria ficará para sempre ligada à SACOR (Sociedade Anónima de Combustíveis e Óleos Refinados), empresa constituída em 1937, quando um romeno de origem judia, Martin Saim é autorizado pelas autoridades portuguesas a instalar, em Cabo Ruivo, uma refinaria.
Esta unidade desapareceria com as obras de implantação da Expo 98, quando já, em 1979, tinha sido desactivada pela entrada em funções da refinaria de Sines.
No dealbar da década de 1960, a SACOR decide abrir uma nova refinaria no norte do país e o local escolhido situa-se entre a Boa Nova e o Cabo do Mundo.
O local era estratégico: perto do Porto de Leixões onde iria ser construído um terminal petrolífero; com o aeroporto, então, de Pedras Rubras bem perto; com boas vias de acesso e muito terreno em volta.
 
 
Aeroporto de Pedras Rubras, c. 1950
 
 
 
O vasto areal que confinava com o mar, adjacente a esse terreno, era conhecido como Praia do Aterro, por ser para aí que tinham sido despejados os inertes extraídos da foz do rio Leça, resultantes das dragagens para formação da Doca nº 1 do Porto de Leixões.
Começou, então, a refinaria por ocupar cerca de 270 hectares, mas acabaria por atingir os 400 hectares.
Com projecto de 1966 e início dos trabalhos em 1967, em 1969, arranca a laboração, mas com a inauguração a ocorrer, apenas, em 5 de Junho de 1970.


 
Preparação do terreno para construção da Sacor, em 1967

 
 
Construção da refinaria da Sacor, em Perafita, em 30 de Abril de 1968
 
 
 
Inauguração da Refinaria de Leça da Palmeira-Perafita, em 1970
 
 
 
No entanto, um homem haveria de fazer todos os esforços para que a refinaria não fosse implantada naquele local. Tratou-se do então presidente da Câmara de Matosinhos Pinto de Oliveira, que ambicionava para essa frente marítima, a instalação de áreas de lazer e turísticas, nomeadamente um grandioso campo de golfe.
Foi acompanhado nessa luta pelo Diretor-Geral dos Portos do Douro e Leixões, o engenheiro Henrique Schreck.
Os esforços desenvolvidos por uns quantos não resultaram, acabando por sair vencedores os poderes instalados em Lisboa, estribados numa ideologia, na qual as decisões políticas relacionadas com o sector industrial assentavam numa protecção desmedida, às empresas de cariz monopolistas, o que era o caso.
Acrescia que a SACOR, mesmo sendo uma empresa privada, tinha aliados poderosos junto do governo de Salazar e uma dessas personalidades era o líder do partido único, a União Nacional, em Guimarães, Daniel Freitas do Amaral, deputado da Nação e vice presidente da SACOR, conhecido por ser o pai do Dr. Freitas do Amaral, o fundador do CDS.
Esta personagem tinha sido também o secretário de Oliveira Salazar, quando o ditador fora ministro das Finanças.
De facto, Pinto de Oliveira não tinha qualquer hipótese de êxito na luta que encetou.
Em Março de 1970, Pinto de Oliveira já não seria reconduzido como presidente da Câmara de Matosinhos.
 
 
 
Estação de Serviço da SACOR, na antiga EN 109, em Miramar, V. N. de Gaia
 
 
Estação de serviço da Sacor, na Avenida Fernão de Magalhães, junto à Rua de Contumil
 
 
 
Em 1939, a SACOR, já tinha fundado uma empresa icónica que ficou para sempre na memória de muitos portugueses, para comercialização e distribuição de gás, a “Cidla- Combustíveis Industriais e Domésticos, Lda.”, da qual detinha 51% do capital, para comercialização do gás butano sob a marca, “Gazcidla” e o gás propano sob a marca “Propacidla”.

 
 
Distribuição de botijas de Gazcidla, em 1957, na Rua de Fernandes Tomás
 
 
 
 
Óleo para motor da SACOR (1974)
 
 
 
 
 
“Mobil” no Cais do Cavaco
 
 
Nos Estados Unidos, em 1879, a “Standard Oil Co.” adquire uma participação de três quartos na “Vacuum Oil Company”, fundada em 1866. 
Como pioneira em lubrificantes, a “Vacuum Oil Company” apresentava uma série de produtos populares, incluindo o revolucionário óleo de cilindro a vapor Gargoyle 600-W.
Em 1899, já detinham a marca Mobil.
Em 1911, de acordo com as leis anti-trust, a “Vacuum Oil Company” tornou-se novamente uma empresa independente.
Em 1931, a “Vacuum-Oil Company, inc” volta a fundir-se com “Standard Oil Co.”, formando a “Socony-Vacuum Corp”.
Em 1955, a empresa tornou-se “Socony Mobil Oil Company”.
Em 1966, foi renomeada como “Mobil Oil Corporation”, mais tarde, abreviado para “Mobil Corporation”, de cuja panóplia de produtos continuaram a distinguir-se no mercado, as conhecidas marcas “Mobil”, “Mobilgas” e Mobiloil”.
 
 
 
O famoso “Pégaso” da Mobil
 
 
 
 
Em 1999, a “Mobil” funde-se com a Exxon para formar uma empresa-mãe chamada " ExxonMobil ".
Em Portugal, a “Vacuum-Oil Company, inc” terá por subsidiária, a partir de 1896, a “Vacuum Oil Company” e com idêntica ligação à empresa-mãe americana, sucessivamente, em 1941, a “Socony-Vacuum Oil Company”, em 1952, a “Socony Vacuum Portuguesa” e, a partir de 1955, a “Mobil Oil Portuguesa”.
A “Vacuum Oil Company” teria uma grande implantação no País, a partir da década de 1920, com a comercialização dos seus fogões a petróleo.

 
 
Fogão a petróleo da “Vacuum Oil Company”, 1928


 
Publicidade aos caloríferos da “Vacuum Oil Company”, 1929
 
 
 
 
A “Vacuum-Oil Company” que distribuía, em Portugal, a gasolina aos automóveis através de bombas da marca “Auto-Gazo”, seria responsável pela montagem de uma campanha para instituir no País, em 1 de Junho de 1928, a circulação pela faixa direita das vias que, até aí, se fazia pela esquerda.

 
 
“Auto-Gazo”, em 1927, distribuidora da gasolina da “Vacuum Oil Company”

 
 
Campanha para a condução automóvel pela direita
 
 
 
Escritórios da “Socony-Vacuum”, na Praça do Infante, junto da igreja de S. Nicolau. À direita, um Fiat “Topolino”

 
 
A “Mobil Oil Portuguesa”, a exemplo das empresas nacionais que lhe deram origem, continuou a actividade de distribuidora de gás, de que se destacava a conhecida marca “Mobilgás” e de lubrificantes da marca já consagrada “Mobiloil”, para além da distribuição a granel de petróleo e de combustíveis.
 
 
 
Camião cisterna da Mobil




Anúncio da “Mobiloil” na revista Panorama, em 1947 (Nº 32 e 33)
 
 
 
 
A “Mobil Oil Portuguesa” ficou ainda conhecida por, a exemplo da “Vacuum Oil Company” que a antecedeu, por ter continuado o abastecimento de gasolina, através de bombas auto medidoras espalhadas pelas ruas e estradas do País, nos chamados postos da Mobil.
 
 
 
Estação de serviço da Mobil, na Avenida Brasil, no edifício Belo Horizonte
 

 
Estação de serviço da Mobil, em Leça do Balio, junto à Estalagem da Via Norte
 

 
A partir de 1962, a “Mobil Oil Portuguesa” inaugura e começa a explorar um terminal de gás butano, no Cais do Cavaco, na margem esquerda do rio Douro, em frente a Massarelos, contemporâneo da inauguração da Ponte da Arrábida.
A unidade funcionará como um posto de armazenamento e distribuição de gás butano.
 
 
 
 
Anúncio da Mobil, em 1963, aquando da inauguração da Ponte da Arrábida

 
 
Ampliação do texto do anúncio anterior
 
 
 
“Quando a empresa Mobil deliberou estabelecer um posto para descarga e distribuição de gás butano nas margens do rio Douro, foi escolhido o lugar do cais do Cavaco por apresentar duas características importantes e favoráveis, ou seja por estar afastado de zonas habitacionais e pela profundidade do rio no local.
Estes factores já havia de há muito tempo sido escolhidos para local de fundeadouro para navios com cargas perigosas – inflamáveis ou explosivas, e ainda para navios de grandes dimensões e calado, ou navios em dificuldades.
As instalações foram inauguradas em 02/06/1962 com a entrada na barra do Douro do navio butaneiro Dinamarquês KARIN THOLSTRUP, um navio de pequeno porte, mas as instalações foram utilizadas por navios de cerca 100m de comprimento f.f., e 3.000tb., entre outros os Portugueses BANDIM e CIDLA e o Espanhol BUTADOS.
Infelizmente, as condições a que o estado da barra chegara mais tarde, e as alterações introduzidas nos sistemas de transporte e distribuição, além do aumento das dimensões dos navios, levaram à suspensão das escalas dos butaneiros no rio Douro e transferência dos serviços para o porto de Leixões. As instalações do Douro mantiveram-se, por mais algum tempo, limitadas ao serviço de distribuição de gás por auto-tanques e foram encerradas por volta de 1990”.
Rui Amaro, In “naviosavista.blogspot.com/”
 
 
 
O "Karin Tholstrup", atracado no terminal da Mobil, em 1962
 
 
 
O “Butados” junto do terminal da Mobil, no Cais do Cavaco, em 02/09/1967 – Ed. Rui Amaro

 
 
Aspecto das instalações da Mobil, no Cais do Cavaco
 
 
 
Local onde estiveram as instalações da Mobil no cais do Cavaco e prédio que as integrava, mandado remodelar por Primo Monteiro Madeira, em 1925 – Fonte: “autocaravanismo.pt”



Veleiro junto do Cais do Cavaco, em 1894


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