domingo, 27 de março de 2022

25.154 Companhia Carris de Ferro do Porto – os primeiros passos

Na história dos transportes públicos, na cidade do Porto, a Companhia Carris de Ferro do Porto (CCFP) teve um papel de primordial importância.
A primeira fase da sua longa existência, a da sua afirmação é, deveras, a mais fascinante.




Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)
 
 
 
 

Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)
 
 
 
 
Assim, em 21 de Agosto de 1873, a Câmara Municipal do Porto entrega, em concessão, ao negociante António Manuel Lopes Vieira de Castro e ao engenheiro Evaristo Nunes Pinto, a exploração pelas ruas da cidade de um meio de transporte público, sobre carris de ferro, puxado por bestas.
António Manuel Lopes Vieira de Castro (Santo Ildefonso, 12/09/1839; Matosinhos-Leça da Palmeira, 11/12/1907) viria a ser, em 1897, o 11º presidente da Associação Industrial Portuense.
Ficaria conhecido por ser proprietário da marcenaria a vapor “A Económica”, com instalações fabris na Rua do Freixo, nº 721.
“A Económica” dedicava-se ao fabrico de mobílias de luxo, decoração de casas, artigos de colchoaria, estofos e de tapetes, tendo obtido um Diploma de 1.ª Classe, na Exposição de 1887, e uma Medalha de Ouro, na Exposição de 1888 (Mercê Régia Especial).
 
 
 

Cartão comercial (30 de Dezembro de 1881) da Marcenaria a Vapor do Porto “A Económica”
 
 
 
Na década de 1920, “A Económica” seria comprada pela firma "António do Nascimento e Filhos".

 
 

Edifício com projecto da autoria do arquitecto Marques da Silva, onde se instalaram, em 1927, os Grandes Armazéns Nascimento, com fábrica no Freixo


 
 

O edifício da foto anterior, seria ocupado, a partir de 1939, pelo Café Palladium, na sequência de uma venda do mesmo, em virtude da ocorrência de um incêndio acontecido na fábrica do Freixo, em 1934, que colocou em sérias dificuldades de sobrevivência os “Grandes Armazéns Nascimento”


 
 
Na foto acima destaca-se o porteiro do café Palladium impecavelmente fardado. 
O edifício das fotos anteriores encontra-se hoje ocupado com as lojas das firmas “FNAC” e “C&A”.
António Manuel Lopes Vieira de Castro, proprietário da marcenaria mecânica a vapor “A Económica”, ficaria ainda conhecido por ter presidido, no começo do ano de 1899, a uma comissão de avaliação das condições de trabalho manual dos tecelões da cidade.
Embora, António Manuel Lopes Vieira de Castro fosse afecto a outro sector de actividade, o seu prestígio levou-o a ser proposto para aquela função, no âmbito da indústria têxtil.
Naquela época, os tecelões levariam a cabo uma luta pela melhoria das condições de trabalho, concretamente, em meados de 1903, tendo as suas acções de protesto ficado célebres.
Cerca de três anos antes sobre a entrega daquela concessão a António Manuel Lopes Vieira de Castro e a Evaristo Nunes Pinto, tinha sido permitido ao Barão da Trovisqueira fazer a exploração, também em concessão, de um caminho-de-ferro pelo sistema americano entre a Porta Nobre e S. João da Foz, com possibilidades de prolongamento até Matosinhos.
 
 
 

Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)
 
 
Atente-se no facto de que a concessão solicitada pelo Barão da Trovisqueira viria a ser atribuída pelo Governo, por decreto, dado que ela seria concretizada usando um chão de domínio marítimo, usando os cais ribeirinhos que tinham sido levantados pela Real Companhia Velha, se bem que, a municipalidade tenha sido ouvida e dado o seu parecer, como atesta a narrativa, abaixo.

 
 

Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)
 
 
 
 
 
Entretanto, o Barão da Trovisqueira irá passar a concessão a José Dionísio de Melo e Faro e ao capitalista António Tavares Basto que, em Junho de 1872, solicitam à Câmara licença para estabelecer o caminho-de-ferro-americano em algumas ruas da cidade, nomeadamente, um ramal entre o Largo dos Mártires da Pátria e Massarelos, singrando a Rua da Restauração, que obteve deferimento e entrado ao serviço em Agosto de 1873.
Este ramal irá, assim, ser autorizado ao peticionário, mas os restantes percursos viriam a ter outros destinatários.
 
 
 
 

Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)
 
 
 
De igual modo, António Manuel Lopes Vieira de Castro e Evaristo Nunes Pinto tinham, em devido tempo, requerido a exploração daquela actividade de transporte pelas ruas do Porto.
Depois de escusa do governo em ser parte na atribuição da concessão respectiva, pois o transporte em causa desenvolver-se-ia por solos do domínio municipal, aquele acto administrativo passar a ser da responsabilidade apenas da Câmara, tendo saído como contemplados, António Manuel Lopes Vieira de Castro e Evaristo Nunes Pinto.

 
 

Texto extraído de “O Instituto” - Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)

 
 
Na posse da concessão António Manuel Lopes Vieira de Castro e Evaristo Nunes Pinto vão tratar de angariar o capital necessário o que, para o efeito, conduz à formação de uma sociedade anónima de responsabilidade limitada.
Não demorou muito que os respectivos estatutos vissem a luz do dia, dos quais se transcrevem, a seguir, alguns artigos.
Pela sua leitura, se pode observar que os primeiros concessionários cederam a concessão à denominada Companhia Carris de Ferro do Porto (CCFP), em troca de um benefício, explicitado no artigo 3º.
 
 
 
 
Estatutos da Companhia Carris de Ferro do Porto - Texto extraído da Revista Científica e Literária (Coimbra 1964)




A partir de então, no terreno, estavam duas companhias que exploravam o transporte americano.
A primeira a instalar-se no terreno foi a “Companhia Carril Americano do Porto à Foz e Matosinhos”, a “Companhia de Baixo”, que explorava ainda um ramal de ligação que, começando a norte da Cordoaria e seguindo pela Rua da Restauração, acabava em Massarelos. Quando se estendeu para o concelho de Bouças (Matosinhos) percorria, aí, a Rua Juncal de Cima (Rua Brito Capelo).
 
 
 

Estação de recolha da “Companhia de Baixo”, no Largo do Ouro (actual Largo António Calém)

 
 
A outra transportadora era a  “Companhia Carris de Ferro do Porto”, a “Companhia de Cima”, que explorava a ligação entre determinados locais da cidade e que, mais tarde, haveria de solicitar autorização para a introdução, em determinados percursos, da tracção a vapor em substituição da tracção animal.
Começaria por explorar uma linha partindo da Praça Carlos Alberto, seguiria pela Rua do Rosário, Rua da Boavista, Rotunda da Boavista e ligação a Cadouços (Foz Velha).
Este último troço, entre a Rotunda e Cadouços, acabaria por ser feito, a partir de 1878, por tracção a vapor. Mais tarde, estender-se-ia a Matosinhos, por onde entrava na Rua Real de Baixo (Rua Roberto Ivens).
 
 
 

Estação de recolha da CCFP, na Boavista, entre 1872 e 1928


 
 

Carro americano, na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade, desde 27 de Outubro de 1910)

 
 

Carro americano, c. 1900, no Largo de Santo Ildefonso (hoje integrado na Praça da Batalha)
 
 
 
 
A CCFP, por esta altura, já era dirigida por José Vieira de Castro, pois nesse ano ele entra para exercer a sua gerência.
Surgiria, então, em 1878, a ligação de uma linha servida por uma máquina motriz, a vapor, fazendo a ligação entre a Praça da Boavista e Cadouços e que, mais tarde (1882), seria estendida até Matosinhos. Ficou conhecida como a “Máquina”.
Em 1890, quando ainda não se tinha dado a fusão da CCFP (Companhia de Cima) com a Companhia de Baixo, o que só ocorreria três anos depois, uma viagem de ida e volta a Matosinhos custava 80 réis, de acordo com publicidade divulgada.






A “Máquina” junto da Estação da Boavista
 
 
 
 


Estação da linha a vapor, na Fonte da Moura. À esquerda, por onde seguia a “Máquina” segue, hoje, a Rua Correia de Sá; pela direita, em frente, a Avenida da Boavista


Estação de Cadouços (actualmente, o Largo Capitão Pinheiro Torres de Meireles)


 
 
 

“A Máquina” perto de Cadouços
 
 
 

A “Máquina”, no cruzamento da Rua de Gondarém e da Rua do Molhe, c. 1900
 
 
 
Seria, também, sob a égide de José Vieira de Castro que a CCFP iria abalançar-se à introdução da tracção eléctrica na cidade do Porto.
Entretanto, em 1893, as duas companhias, que durante cerca de duas décadas foram concorrentes, uniram-se, tendo restado dessa união a denominação de uma delas - “Companhia Carris de Ferro do Porto”.
Para o lançamento da tracção eléctrica foi montada uma estação de produção de energia na Arrábida, depois do funcionamento de uma pequena central, experimental, ao fundo da Rua da Restauração.
O primeiro percurso, em tracção eléctrica, seria efectuado entre Massarelos e o Carmo e inaugurado em Setembro de 1895, a que seguiriam alguns outros, cujos concursos eram sucessivamente ganhos pela CCFP.
 
 
 

Eléctrico rebocando um atrelado (antigo americano) junto a Massarelos
 
 
 
Em 1897, a tracção eléctrica já tinha chegado a Matosinhos e, em 1898, a Leça da Palmeira, atravessando o rio Leça por uma ponte construída em 1887, para servir os americanos.

 
 

Eléctrico atravessando o rio Leça pela ponte construída, antes, em 1887, para servir os carros americanos
 
 
 
 
O nome de José Vieira de Castro ficará para sempre ligado ao sucesso da “Companhia Carris de Ferro do Porto”.
José Ribeiro Vieira de Castro (4 de Março de 1843; 4 de Julho de 1905) foi um empresário e homem de negócios; era filho de João José Ribeiro, natural da freguesia de Rossas, concelho de Vieira do Minho e de Francisca Lopes Vieira de Castro, natural de Antime, concelho de Fafe.
Desde cedo, José Ribeiro Vieira de Castro emigra para o Brasil, onde faz fortuna.
Em 1870, depois de vários anos emigrado no Brasil, José Ribeiro Vieira de Castro retorna a Portugal e toma nas suas mãos a Companhia Industrial de Fafe, dedicada à moagem de cereais e instalada numa queda de água, no rio Ferro, na freguesia de Fafe.
Em 1887, transforma aquela unidade industrial de moagem de cereais numa fábrica têxtil, surgindo no mesmo local a Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe.
A Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe acabará por ter a sua sede na cidade do Porto e, a partir de 1930, num edifício com projecto do arquitecto Júlio José de Brito 1896-1965), que ainda existe, na esquina da Avenida dos Aliados e Rua Rodrigues Sampaio.
 
 
 

Em destaque o edifício da sede da Companhia de Fiação e Tecidos de Fafe
 
 
 
Na cidade do Porto, José Ribeiro Vieira de Castro vai ter a sua vida profissional ligada à Companhia de Gás do Porto e, sobretudo, à Companhia Carris de Ferro do Porto, onde exercerá as funções de Director e Gerente. O percurso de sucesso da CCFP é fruto, em grande medida, da sua dedicação que, nos seus últimos anos de actividade à frente daquela companhia, teve o contributo do engenheiro Américo Augusto Vieira de Castro que, em 1917, haveria de adquirir a fábrica de sabonetes e perfumes "Claus & Schweder, sucessores", nacionalizada pelo governo português, na sequência da 1ª Grande Guerra, por ser detida por dois cidadãos alemães.
Este técnico teve sobre a sua alçada, no âmbito da CCFP, as oficinas centrais da companhia, o serviço de tracção e via e as obras.
Em 1891, José Ribeiro Vieira de Castro foi vice-presidente da Associação Industrial do Porto.

 
 

José Ribeiro Vieira de Castro (Director e Gerente da CCFP) – In Revista Brasil – Portugal, 16 de Janeiro de 1903

 
 

Américo Vieira de Castro (Engenheiro da CCFP) – In Revista Brasil – Portugal, 16 de Janeiro de 1903
 
 
O engenheiro Francisco de Almeida e Sousa, no texto seguinte, resume a actividade de José Ribeiro Vieira de Castro na CCFP.

 
 


 
 
 
Em 1904, por sugestão da “Companhia Carris de Ferro do Porto”, a Câmara do Porto mostrava-se receptiva a atribuir-lhe uma concessão com o exclusivo para 99 anos.
Em 1906, face ao repúdio público pela situação de privilégio que gozava a CCFP, a Câmara do Porto ver-se-ia pressionada, então, ao lançamento de um concurso que pressupunha que o vencedor passaria a prestar o serviço de transporte público por tracção eléctrica em regime de monopólio.
A CCFP não concorreu.
Escolhido o vencedor do citado concurso, em sequência, seria adjudicada e atribuída a concessão, a partir de 5 de Abril de 1906, a Paiva e Irmãos, de Lisboa, e a Mathieu Lugan, do Porto.
Os concessionários transferem, então, um ano depois, os seus direitos para uma nova empresa “Companhia Viação Eléctrica do Porto”, que passa a ter o direito exclusivo da exploração dos transportes colectivos urbanos eléctricos, continuando a “Companhia Carris de Ferro do Porto” a explorar, apenas, transportes de viação americana.
A “Companhia Viação Eléctrica do Porto”, no entanto,  não chega a dar início a qualquer actividade e, em 1908, é absorvida pela "Companhia Carris de Ferro do Porto", que vem a beneficiar da concessão.
Em poucos anos, uma nova fase se seguiria com a implantação da viação eléctrica com o desaparecimento completo das ruas da cidade da tracção animal, em 22 de Setembro de 1904 e a de vapor, em 1914.


 

Carro eléctrico passando, em 1907, junto ao palacete Andresen, na Rua do Castelo do Queijo (Avenida de Montevideu, desde 1926)



Assim, em 1906, é decidido atribuir uma concessão para o transporte citadino.
Um grupo de investidores ganha a concessão.
O vencedor tinha de direito o exclusivo da exploração dos transportes colectivos urbanos, continuando a “Companhia Carris de Ferro do Porto”, que não concorreu, a explorar os transportes de viação americana.
Aquele grupo de investidores viria a constituir, um ano depois (1907), a Companhia Viação Eléctrica do Porto” que, tendo durado apenas 1 ano, não chega a dar início a qualquer actividade.
Em 1908, “A Viação Eléctrica do Porto”, é absorvida pela "Companhia Carris de Ferro do Porto", que vem a beneficiar da concessão.
A partir de então, vai ter um papel de enorme importância na Companhia Carris de Ferro do Porto, Severiano José da Silva, o seu Administrador-Delegado que exercerá até à data do seu falecimento em 1937.
Severiano José da Silva era natural de Salreu, Estarreja, onde nasceu em 1865. Cursou medicina, no Porto, tendo-se formado em 1890 e abriu consultório na Rua das Taipas.
No campo político, sendo um republicano convicto, cedo adquiriu certa notoriedade, mormente, na posição que tomou contra a cedência de Portugal aos interesses dos ingleses na Guerra dos Boers. Em 1910, faz mesmo parte das Cortes Constituintes.
Quis o destino que viesse a contrair matrimónio com a viúva de João Henrique Andresen (falecido em 1900), Joana Andresen, cuja família era accionista da Companhia Carris de Ferro do Porto.
Durante o seu mandato na Companhia Carris de Ferro do Porto, as vicissitudes enfrentadas na Guerra 14-18, que privou a Central de Massarelos da ulha inglesa, para a qual tinham sido concebidas as respectivas caldeiras, e levou ao consumo do pobre carvão de S. Pedro da Cova, foi tarefa de monta. Neste caso, Severiano José da Silva teve a ajuda preciosa dos engenheiros Rodrigo Sarmento Beires, Carlos Braga e Manuel Correia de Barros.
O carvão de S, Pedro da Cova chegava ao Monte Aventino por teleférico, cujo cabo de 9 km tinha sido instalado em 1914, seguindo, depois, em zorras para Massarelos.
Aos últimos anos atribulados, com o aproximar do fim da concessão, o Dr. Severiano já não assistiu porque faleceu em 1937.
A "Companhia Carris de Ferro do Porto" (CCFP) que durou com esta designação, 73 anos, pelo que, ainda hoje, há muita gente que, seguindo o velho hábito, ao referir-se ao Serviço de Transportes Colectivos do Porto (S.T.C.P.), continua a chamar-lhe "Carris".
Em 1936, a CMP avisa a CCFP, com base no artigo 31º da escritura de concessão para a exploração da viação eléctrica, que o contrato seria rescindido em 1941.
Em virtude de determinados acontecimentos, entre eles, a deflagração da 2ª Guerra Mundial, aquela decisão seria adiada.
Então, em 1946 a CCFP, ao fim de 73 anos de laboração dá lugar ao STCP, liderado pela Câmara Municipal do Porto.
A designação do Serviço de Transportes Colectivos do Porto (STCP) surge, então, em 1946, com o resgate da concessão referida, feita pela Câmara Municipal do Porto a um grupo de empresários. 



Cronologia dos factos mais importantes relacionados com o sistema de transportes portuense


sexta-feira, 18 de março de 2022

25.153 O Porto despertava para o transporte ferroviário

 
 
Visita real, em Dezembro de 1863
 
Estávamos a cerca de meio ano da chegada do comboio às Devesas (Julho de 1864) quando ao Carregado já tinha chegado em 1856.
Entre 21 de Novembro (Sábado) e 5 de Dezembro de 1863 (Sábado), a família real esteve no Porto, em visita oficial, tendo dado um salto a Braga, com passagem breve por Famalicão, entre 25 e 29 de Novembro.
O rei Luís I e a rainha Maria Pia tinham, inicialmente, começado a sua viagem embarcando na Estação de Santa Apolónia, seguindo até ao Carregado e, daí, até ao norte do País, em carruagem, passando por Alcobaça, Leiria, donde saiu rumo a Oliveira de Azeméis, em 19 de Novembro (5ª Feira), onde chegaram às onze horas, do dia 20 de Novembro para, no dia seguinte, finalmente, se dirigirem ao Porto.
Após a chegada no dia 21 de Novembro, ao Alto da Bandeira, em V. N. de Gaia, ao começo da tarde, a comitiva real seguiria em direcção à cidade invicta, para se instalar no Paço.
O Alto da Bandeira é o local de confluência da Rua do Marquês de Sá da Bandeira e do Largo dos Aviadores.
No dia seguinte, assistiria a uma missa na igreja da Lapa, pelas 11 horas.
À tarde, aconteceria no Paço, à Rua do Triunfo (actual Rua D. Manuel II) a recepção para o habitual beija-mão.
À noite, foi levado à cena um espectáculo no teatro S. João, ao qual assistiram os soberanos.
Na 2ª Feira, 23 de Novembro, ocorreram, durante a manhã, visitas à casa da Alfândega, Recolhimento das Orfãs de S. Lázaro e Creche de S. Vicente Paulo.
À noite, no teatro Baquet, subiu ao palco a zarzuela Campanone, mas, antes, houve o jantar no Paço com a presença de algumas autoridades da cidade destacando-se, entre elas, o presidente da edilidade, o visconde de Lagoaça.


 
Teatro Baquet, na Rua de Santo António
 
 
No dia seguinte, 3ª Feira, foi oferecido pelos soberanos um almoço ao Corpo de Voluntários da Rainha e, à noite, houve um grandioso baile no Palácio da Bolsa que, segundo algumas testemunhas, teve para cima de três milhares de participantes.
Seguir-se-ia, entre 25 e 29 de Novembro, a digressão pelo Minho.
Neste dia, no regresso ao Porto, as autoridades da cidade invicta esperaram a comitiva na Ponte da Pedra, onde alguns se deliciaram, enquanto aguardavam, com os manjares servidos na estalagem frequentada pelo escritor Camilo Castelo Branco.
 
 

Estalagem da Ponte da Pedra, no início do século XX
 
 
 
 
Chegados do Minho, no dia anterior, em 30 de Novembro (2ª Feira), já o casal real visitava a Academia Politécnica, Escola Médico-Cirúrgica e Instituto Industrial.
Seguir-se-iam as cadeias da Relação e os hospitais do Carmo e de S. Francisco.
Diga-se que o presidente do conselho de ministros, à época, o Duque de Loulé, esteve presente em algumas das visitas às instituições portuenses.
À noite, seria o baile na Associação Britânica.
Como era habitual, enquanto o rei esteve na cidade do Porto, as ruas apresentavam-se decoradas e iluminadas e houve as habituais sessões de baile.
Até ao fim da estadia ocorreriam mais dois: na Assembleia Portuense, no dia 1 de Dezembro e no Club Portuense, no dia 3 de Dezembro.
Com uma parada militar no Campo de Santo Ovídio, no dia 1 de Dezembro e, no dia seguinte, com as visitas ao Hospital e Liceu da Trindade, à noite aconteceria uma situação muito desagradável no teatro Baquet.
Um jovem que se dizia aluno da Academia Portuense dirigiu um poema crítico contra o rei, o que acabou por merecer um abaixo-assinado de desagravo, por cerca de 250 membros da citada academia.
No dia 3 de Dezembro, seria exarada, finalmente, a acta pela qual seria fundado o “Estabelecimento de Artes e Ofícios, do Barão de Nova Cintra”.
Começado a funcionar no Asilo de Mendicidade, às Fontainhas, onde decorreu aquela cerimónia, acabaria por se instalar em edifício próprio, cerca de três anos mais tarde, em terrenos adquiridos pelo Barão, em chão por onde hoje passa a Rua de Nova Sintra.
 
 


In “Jornal do Porto”, em 4 Dezembro 1863

 
 

Asilo de Mendicidade, às Fontainhas, antes, o matadouro da cidade
 
 
 
A partida da comitiva real, para Lisboa, dá-se em 5 de Dezembro de 1863, integrando uma caravana de carruagens.


 

Texto publicado no “Jornal do Porto”, em 7 de Dezembro de 1863, sobre início da viagem de Luís I, de regresso a Lisboa

 
 

Palácio do visconde da Borralha edificado, em 1843, por Francisco Caldeira Leitão Pinto e sua mulher Ignez de Vera Giraldes Mello e Bourbon, onde Luís I se hospedou, em 1863
 
 
 
 
Visita real, em Outubro de 1866
 
 
Mais uma vez, o rei Luís I e a rainha Maria Pia visitavam a cidade, desta vez, para inaugurar a estátua equestre de D. Pedro IV, na Praça Nova e, pelo meio, seriam inauguradas as novas instalações do “Estabelecimento de Artes e Ofícios, do Barão de Nova Cintra”.
No dia 19 de Outubro de 1866 (6ª Feira), seria então inaugurada com a presença daquele casal e do presidente do conselho de ministros Joaquim António de Aguiar, a estátua equestre de D. Pedro IV sendo, por isso, decretado aquele dia como feriado.
Na cerimónia, o visconde d’ Almeida seria o representante da viúva do homenageado e figurado no bronze.
Assim, dando sequência à vontade da imperatriz, viúva, o visconde entregaria à edilidade a farda e o boné que D. Pedro IV usara durante o cerco à cidade, em 1833.
Aquela alta personalidade bem como Anatole Calmels, o escultor da referida estátua e outras importantes individualidades, ficariam hospedadas no Hotel Francfort.
Na manhã desse dia, pelas 9 horas, seria inaugurado o novo edifício do “Estabelecimento de Artes e Ofícios, do Barão de Nova Cintra”, dando seguimento à cerimónia de lançamento provisório da instituição três anos antes.

 
 

“Estabelecimento de Artes e Ofícios, do Barão de Nova Cintra”, c. 1900
 
 
 
No dia anterior, 18 de Outubro de 1866 (5ª Feira), o casal real e a comitiva chegavam à Estação das Devesas. Eram tempos em que a viagem, por trem, demorava cerca de 14 horas.
Aquela estação tinha sido inaugurada em 8 de Junho de 1863, com a ligação das Devezas a Estarreja a efectuar-se numa hora e 38 minutos, à estonteante velocidade de 25 Km por hora. A ligação a Lisboa só foi realizada em 7 de Julho de 1864.

 
 

Estação da Granja, início do século XX
 
 
 
A comitiva tomando, então, a direcção do Porto, seria alvo das boas-vindas da Câmara Municipal, à saída da ponte Pênsil, com palavras proferidas pelo seu presidente, o visconde de Lagoaça, tendo, aí, o rei recebido as chaves da cidade, em cerimónia que decorreu num pavilhão levantado para o efeito.


 

Ponte Pênsil com o Porto, em fundo
 
 
 
Seguiu-se um cortejo pelas ruas da cidade até à igreja da Lapa, onde foi rezada uma missa, após a qual, o destino seria o Paço, na Rua do Triunfo, onde chegou o rei em carruagem aberta, acompanhado por D. Fernando II e o conselheiro Fontes Pereira de Melo e o ministro das Obras Públicas, Comércio e Indústria Andrade Corvo, que tinha uma grande ligação ao desenvolvimento da ferrovia.
Atrás da carruagem real, seguia um esquadrão de cavalaria 6 e, depois, outros veículos transportando personalidades da Câmara e do corpo consular, escoltados pelos regimentos de infantaria 3 e 18.
Neste dia, soube-se que o casal real visitou, informalmente, o Palácio de Cristal e, seguidamente, a quinta de João Pacheco Pereira, à Rua de Vilar.
No jantar do Paço, que se seguiu, marcaram presença o presidente do conselho de ministros Joaquim António de Aguiar, Fontes Pereira de Melo, Andrade Corvo, o governador civil e o visconde da Praia Grande.
Durante o jantar tocou a banda do regimento de infantaria 3.



Visita real para inauguração do Palácio de Cristal em Setembro de 1865


Cerca de um ano antes, sobre a visita acabada de narrar, já o rei Luís I e a rainha Maria Pia tinham experimentado a viagem por comboio entre Lisboa e V. N. de Gaia, quando visitaram a cidade do Porto, entre 15 e 21 de Setembro de 1865, para presidirem à inauguração do Palácio de Cristal e da Exposição Internacional.
Então, os soberanos começaram por desembarcar, a meio da tarde, na Estação das Devesas-V. N. de Gaia e, após atravessarem a ponte Pênsil sobre o rio Douro, receberam os votos de boas-vindas e as chaves da cidade, na Ribeira.
Daqui, a comitiva rumou à igreja da Lapa, onde seria celebrada uma missa.
O jornal “O Comércio do Porto”, de 16 de Setembro de 1865, dava conta do horário cumprido durante a viagem dos soberanos.
 

 


 
 
 
Como sempre, durante a estadia, as ruas da cidade estiveram engalanadas com bandeiras e estandartes.
O ponto alto da visita foi, então, a inauguração do Palácio de Cristal, na 2ª Feira, 18 de Setembro de 1865.


 

Editorial, In jornal “O Comércio do Porto”
 
 
 
O regresso do casal real a Lisboa deu-se no dia 21 de Setembro.
No dia anterior, já tinham retornado à capital o rei D. Fernando II e o infante D. Augusto, Duque de Coimbra.
 
 
 
 
 
Visita real, em Julho de 1872, ao Porto e à Província
 
 
Em 25 de Junho de 1872 (3ª Feira), o rei Luís I e a rainha Maria Pia chegavam, pelas 5 horas e meia da tarde, à estação das Devesas, para mais uma visita à cidade invicta, como sempre, nestas ocasiões, profusamente iluminada.
Houve a habitual apresentação de cumprimentos, desfile em carruagem pela cidade e missa na igreja da Lapa.
No dia seguinte, 26 de Junho, houve recepção no Paço, nas ruas tocaram as bandas militares e, nessa tarde, realizou-se uma corrida de touros na praça da Boavista e, à noite, espectáculo de gala no Teatro S. João.



In “Jornal do Porto”, em 26 de Junho de 1872
 
 
 
No dia 27 de Junho de 1872, o rei visitou o edifício da nova Alfândega, o edifício da Associação Comercial e o Hospital Militar D. Pedro V.
À noite, foi levada à cena o espectáculo de benefício, no teatro Baquet, em favor do actor José Carlos dos Santos.
Em 28 de Junho, a rainha, os príncipes e a comitiva real passearam pela cidade e visitaram o Palácio de Cristal, tendo o rei partido pelas 4 horas da manhã em direcção a Viana, com passagens por Vila do Conde, Póvoa, Barcelos, Guimarães e Ponte de Lima iniciando uma viagem pela província que incluiria, para além do Minho, o Douro e Trás-os-Montes.
Em 4 de Julho, o jornal “O Comércio do Porto” escreverá, a propósito da passagem do rei por Guimarães, pela Casa do Carmo do seu grande amigo o Conde de Margaride (Luís Cardoso Martins da Costa Macedo), quando aí chegou, na 3ª Feira, 2 de Julho, vindo de Braga, na companhia do seu irmão Augusto e de António Maria Fontes Pereira de Melo, Ministro da Fazenda, além do ministro das obras Públicas:
 
"O almoço foi servido em baixela de prata e o jantar e café com baixela de ouro. (…) a riqueza, a boa ordem e o delicado gosto com que tudo estava preparado mereceram "lisonjeiro reparo por parte dos familiares da Casa Real."
 
 
O serviço, referido na notícia anterior, era da Índia e muito antigo.
Aquela casa, que funcionaria mais uma vez como Paço, localiza-se no Largo do Carmo (hoje, Martins Sarmento) em Guimarães. 
 
 

Casa do Carmo
 
 
Nos dias 5 e 6 de Julho, já o soberano estará pela Régua.
Na vila do Peso da Régua, o rei atribuiu um donativo para que fosse aberto um hospital e inteirou-se dos trabalhos de lançamento da ponte rodoviária de ligação a Lamego, que viria a ser inaugurada a 1 de Dezembro do ano que decorria e que seria desactivada em 1949, por apresentar sinais de ruína, mantendo hoje, apenas, um serviço pedonal, após uma grande recuperação.
Entretanto, enquanto o rei se encontrava em digressão pela província, a rainha visitava algumas instituições da cidade do Porto, como as que fez no dia 1 de Julho ao Asilo de Infância Desvalida, na Rua das Oliveiras e à Creche de S. Vicente Paulo.
Dia 7 de Julho, a rainha e várias personalidades, esperavam o rei, na quinta do Freixo, após a digressão dele pela província.
Na chegada ao Freixo, o barão do Freixo ofereceu a toda a comitiva um opíparo lanche.

 

Notícia da chegada de Luís I ao Palácio do Freixo – In jornal “O Comércio do Porto”, de 7 de Julho de 1972
 
 
 

Descrição da chegada do rei à quinta do Freixo

 
 

Palácio do Freixo, em 1849 
 
 
A imagem anterior do Palácio do Freixo é uma reprodução de uma gravura de um álbum representando o Palácio do Freixo e a área envolvente, vista de Vila Nova de Gaia, com o título: «As margens do Douro, colecção de doze vistas», por Cesário Augusto Pinto, litografadas por J. C. Vitória Villanova.



 




Palácio do Freixo, em 1833 (Gravuras representando as quatro fachadas do Palácio do Freixo) – Ed. Joaquim Villanova
 
 
 

Palácio do Freixo
 
 
 
Não se tendo realizado, no dia 8 de Julho, qualquer actividade externa, à noite, ocorreria o habitual baile na Assembleia Portuense.
No dia 9 de Julho, em comemoração da entrada na cidade do exército libertador, pelas 3 horas da tarde, decorreu uma missa na igreja da Lapa.
Durante este dia, com as ruas engalanadas, a festa foi muita. Desfilaram pelas ruas da cidade, tropas aqui aquarteladas e vindas de fora. Subiram no ar os morteiros e os aplausos da multidão, enquanto que as bandas de música tocavam o “Hino da Carta”.
A tudo isto, assistiam das varandas da Câmara, o rei, a rainha e os membros do governo presentes.
Dia 10 de Julho, a rainha e os príncipes não saíram do Paço, tendo estado ausentes, em visita a Penafiel, o rei e o seu irmão, príncipe Augusto (Duque de Coimbra).
No dia seguinte, aconteceu uma ida à Fotografia Talbot, por convite de Albino Pinto, um sócio do estabelecimento, sito à Rua do Bonjardim e uma visita à Chapelaria a Vapor, de Costa Braga que, à data, ainda ocupava, apenas, as suas instalações primitivas na Rua de Santo António.
À noite, ocorreu o baile no Club Portuense.
Dia 12 de Julho, da parte da manhã, foram as visitas aos quartéis de Caçadores 9, Torre da Marca e de Santo Ovídio. O casal real esteve depois numa missa na igreja da Lapa.
Da parte de tarde, o rei visitou a Fábrica de Lanifícios de Lordelo, a Fundição do Ouro e a Fundição de Massarelos.
Pelas 18 horas, a família real assistiu à inauguração dos trabalhos do caminho-de-ferro do Minho.
O pavilhão onde decorreu a cerimónia estava instalado junto da Estrada de S. Roque, um pouco a sul da capela de S. Roque.
 
 
 

Descrição do local da cerimónia de inauguração dos trabalhos na linha do Minho – In “Jornal do Porto”, em 13 de Julho de 1872
 
 
 

Descrição da cerimónia de inauguração dos trabalhos na linha do Minho – In “Jornal do Porto”, em 13 de Julho de 1872
 
 
 
Dia 13 de Julho, pelas 9 horas da manhã, a família real embarcava, nas Devesas, com destino a Coimbra.
O dia 4 de Novembro de 1877, data da inauguração da Ponte Maria Pia, aproximava-se.