Visita real, em
Dezembro de 1863
Estávamos a cerca de meio ano da chegada do comboio às
Devesas (Julho de 1864) quando ao Carregado já tinha chegado em 1856.
Entre 21 de Novembro (Sábado) e 5 de Dezembro de 1863
(Sábado), a família real esteve no Porto, em visita oficial, tendo dado um
salto a Braga, com passagem breve por Famalicão, entre 25 e 29 de Novembro.
O rei Luís I e a rainha Maria Pia tinham, inicialmente,
começado a sua viagem embarcando na Estação de Santa Apolónia, seguindo até ao
Carregado e, daí, até ao norte do País, em carruagem, passando por Alcobaça,
Leiria, donde saiu rumo a Oliveira de Azeméis, em 19 de Novembro (5ª Feira), onde
chegaram às onze horas, do dia 20 de Novembro para, no dia seguinte,
finalmente, se dirigirem ao Porto.
Após a chegada no dia 21 de Novembro, ao Alto da Bandeira,
em V. N. de Gaia, ao começo da tarde, a comitiva real seguiria em direcção à
cidade invicta, para se instalar no Paço.
O Alto da Bandeira é o local de confluência da Rua do
Marquês de Sá da Bandeira e do Largo dos Aviadores.
No dia seguinte, assistiria a uma missa na igreja da Lapa,
pelas 11 horas.
À tarde, aconteceria no Paço, à Rua do Triunfo (actual Rua
D. Manuel II) a recepção para o habitual beija-mão.
À noite, foi levado à cena um espectáculo no teatro S. João,
ao qual assistiram os soberanos.
Na 2ª Feira, 23 de Novembro, ocorreram, durante a manhã,
visitas à casa da Alfândega, Recolhimento das Orfãs de S. Lázaro e Creche de S.
Vicente Paulo.
À noite, no teatro Baquet, subiu ao palco a zarzuela Campanone, mas, antes, houve o jantar no
Paço com a presença de algumas autoridades da cidade destacando-se, entre elas,
o presidente da edilidade, o visconde de Lagoaça.
Teatro Baquet, na Rua de Santo António
No dia seguinte, 3ª Feira, foi oferecido pelos soberanos um almoço ao Corpo de Voluntários da
Rainha e, à noite, houve um grandioso baile no Palácio da Bolsa que, segundo
algumas testemunhas, teve para cima de três milhares de participantes.
Seguir-se-ia, entre 25 e 29 de Novembro, a digressão pelo
Minho.
Neste dia, no regresso ao Porto, as autoridades da cidade invicta
esperaram a comitiva na Ponte da Pedra, onde alguns se deliciaram, enquanto
aguardavam, com os manjares servidos na estalagem frequentada pelo escritor
Camilo Castelo Branco.
Chegados do Minho, no dia anterior, em 30 de Novembro (2ª
Feira), já o casal real visitava a Academia Politécnica, Escola
Médico-Cirúrgica e Instituto Industrial.
Seguir-se-iam as cadeias da Relação e os hospitais do Carmo
e de S. Francisco.
Diga-se que o presidente do conselho de ministros, à época,
o Duque de Loulé, esteve presente em algumas das visitas às instituições
portuenses.
À noite, seria o baile na Associação Britânica.
Como era habitual, enquanto o rei esteve na cidade do Porto,
as ruas apresentavam-se decoradas e iluminadas e houve as habituais sessões de
baile.
Até ao fim da estadia ocorreriam mais dois: na Assembleia
Portuense, no dia 1 de Dezembro e no Club Portuense, no dia 3 de Dezembro.
Com uma parada militar no Campo de Santo Ovídio, no dia 1 de
Dezembro e, no dia seguinte, com as visitas ao Hospital e Liceu da Trindade, à
noite aconteceria uma situação muito desagradável no teatro Baquet.
Um jovem que se dizia aluno da Academia Portuense dirigiu um
poema crítico contra o rei, o que acabou por merecer um abaixo-assinado de
desagravo, por cerca de 250 membros da citada academia.
No dia 3 de Dezembro, seria exarada, finalmente, a acta pela
qual seria fundado o “Estabelecimento de
Artes e Ofícios, do Barão de Nova Cintra”.
Começado a funcionar no Asilo de Mendicidade, às Fontainhas,
onde decorreu aquela cerimónia, acabaria por se instalar em edifício próprio,
cerca de três anos mais tarde, em terrenos adquiridos pelo Barão, em chão por
onde hoje passa a Rua de Nova Sintra.
A partida da comitiva real, para Lisboa, dá-se em 5 de
Dezembro de 1863, integrando uma caravana de carruagens.
Texto publicado no “Jornal do Porto”, em 7 de Dezembro de
1863, sobre início da viagem de Luís I, de regresso a Lisboa
Palácio do visconde da Borralha edificado, em 1843, por
Francisco Caldeira Leitão Pinto e sua mulher Ignez de Vera Giraldes Mello e
Bourbon, onde Luís I se hospedou, em 1863
Visita real, em
Outubro de 1866
Mais uma vez, o rei Luís I e a rainha Maria Pia visitavam a
cidade, desta vez, para inaugurar a estátua equestre de D. Pedro IV, na Praça
Nova e, pelo meio, seriam inauguradas as novas instalações do “Estabelecimento de Artes e Ofícios, do
Barão de Nova Cintra”.
No dia 19 de Outubro de 1866 (6ª Feira), seria então
inaugurada com a presença daquele casal e do presidente do conselho de
ministros Joaquim António de Aguiar, a estátua equestre de D. Pedro IV sendo,
por isso, decretado aquele dia como feriado.
Na cerimónia, o visconde d’ Almeida seria o representante da
viúva do homenageado e figurado no bronze.
Assim, dando sequência à vontade da imperatriz, viúva, o
visconde entregaria à edilidade a farda e o boné que D. Pedro IV usara durante
o cerco à cidade, em 1833.
Aquela alta personalidade bem como Anatole Calmels, o
escultor da referida estátua e outras importantes individualidades, ficariam
hospedadas no Hotel Francfort.
Na manhã desse dia, pelas 9 horas, seria inaugurado o novo
edifício do “Estabelecimento de Artes e
Ofícios, do Barão de Nova Cintra”, dando seguimento à cerimónia de
lançamento provisório da instituição três anos antes.
No dia anterior, 18 de Outubro de 1866 (5ª Feira), o casal
real e a comitiva chegavam à Estação das Devesas. Eram tempos em que a viagem,
por trem, demorava cerca de 14 horas.
Aquela estação tinha sido inaugurada em 8 de Junho de 1863,
com a ligação das Devezas a Estarreja a efectuar-se numa hora e 38 minutos, à
estonteante velocidade de 25 Km por hora. A ligação a Lisboa só foi realizada
em 7 de Julho de 1864.
A comitiva tomando, então, a direcção do Porto, seria alvo
das boas-vindas da Câmara Municipal, à saída da ponte Pênsil, com palavras
proferidas pelo seu presidente, o visconde de Lagoaça, tendo, aí, o rei
recebido as chaves da cidade, em cerimónia que decorreu num pavilhão levantado
para o efeito.
Seguiu-se um cortejo pelas ruas da cidade até à igreja da
Lapa, onde foi rezada uma missa, após a qual, o destino seria o Paço, na Rua do
Triunfo, onde chegou o rei em carruagem aberta, acompanhado por D. Fernando II
e o conselheiro Fontes Pereira de Melo e o ministro das Obras Públicas,
Comércio e Indústria Andrade Corvo, que tinha uma grande ligação ao
desenvolvimento da ferrovia.
Atrás da carruagem real, seguia um esquadrão de cavalaria 6
e, depois, outros veículos transportando personalidades da Câmara e do corpo
consular, escoltados pelos regimentos de infantaria 3 e 18.
Neste dia, soube-se que o casal real visitou, informalmente,
o Palácio de Cristal e, seguidamente, a quinta de João Pacheco Pereira, à Rua
de Vilar.
No jantar do Paço, que se seguiu, marcaram presença o
presidente do conselho de ministros Joaquim António de Aguiar, Fontes Pereira
de Melo, Andrade Corvo, o governador civil e o visconde da Praia Grande.
Durante o jantar tocou a banda do regimento de infantaria 3.
Visita real para inauguração do Palácio de Cristal em Setembro de 1865
Cerca de um ano antes, sobre a visita acabada de narrar, já
o rei Luís I e a rainha Maria Pia tinham experimentado a viagem por comboio
entre Lisboa e V. N. de Gaia, quando visitaram a cidade do Porto, entre 15 e 21
de Setembro de 1865, para presidirem à inauguração do Palácio de Cristal e da
Exposição Internacional.
Então, os soberanos começaram por desembarcar, a meio da
tarde, na Estação das Devesas-V. N. de Gaia e, após atravessarem a ponte Pênsil
sobre o rio Douro, receberam os votos de boas-vindas e as chaves da cidade, na
Ribeira.
Daqui, a comitiva rumou à igreja da Lapa, onde seria
celebrada uma missa.
O jornal “O Comércio do Porto”, de 16 de Setembro de 1865,
dava conta do horário cumprido durante a viagem dos soberanos.
Como sempre, durante a estadia, as ruas da cidade estiveram
engalanadas com bandeiras e estandartes.
O ponto alto da visita foi, então, a inauguração do Palácio
de Cristal, na 2ª Feira, 18 de Setembro de 1865.
O regresso do casal real a Lisboa deu-se no dia 21 de
Setembro.
No dia anterior, já tinham retornado à capital o rei D.
Fernando II e o infante D. Augusto, Duque de Coimbra.
Visita real, em Julho
de 1872, ao Porto e à Província
Em 25 de Junho de 1872 (3ª Feira), o rei Luís I e a rainha
Maria Pia chegavam, pelas 5 horas e meia da tarde, à estação das Devesas, para
mais uma visita à cidade invicta, como sempre, nestas ocasiões, profusamente
iluminada.
Houve a habitual apresentação de cumprimentos, desfile em
carruagem pela cidade e missa na igreja da Lapa.
No dia seguinte, 26 de Junho, houve recepção no Paço, nas
ruas tocaram as bandas militares e, nessa tarde, realizou-se uma corrida de
touros na praça da Boavista e, à noite, espectáculo de gala no Teatro S. João.
No dia 27 de Junho de 1872, o rei visitou o edifício da nova
Alfândega, o edifício da Associação Comercial e o Hospital Militar D. Pedro V.
À noite, foi levada à cena o espectáculo de benefício, no
teatro Baquet, em favor do actor José Carlos dos Santos.
Em 28 de Junho, a rainha, os príncipes e a comitiva real
passearam pela cidade e visitaram o Palácio de Cristal, tendo o rei partido
pelas 4 horas da manhã em direcção a Viana, com passagens por Vila do Conde,
Póvoa, Barcelos, Guimarães e Ponte de Lima iniciando uma viagem pela província
que incluiria, para além do Minho, o Douro e Trás-os-Montes.
Em 4 de Julho, o jornal “O Comércio do Porto” escreverá, a
propósito da passagem do rei por Guimarães, pela Casa do Carmo do seu grande
amigo o Conde de Margaride (Luís Cardoso Martins da Costa Macedo), quando aí
chegou, na 3ª Feira, 2 de Julho, vindo de Braga, na companhia do seu irmão
Augusto e de António Maria Fontes Pereira de Melo, Ministro da Fazenda, além do
ministro das obras Públicas:
"O almoço foi
servido em baixela de prata e o jantar e café com baixela de ouro. (…) a
riqueza, a boa ordem e o delicado gosto com que tudo estava preparado mereceram
"lisonjeiro reparo por parte dos familiares da Casa Real."
O serviço, referido na notícia anterior, era da Índia e
muito antigo.
Aquela casa, que funcionaria mais uma vez como Paço, localiza-se no
Largo do Carmo (hoje, Martins Sarmento) em Guimarães.
Nos dias 5 e 6 de Julho, já o soberano estará pela Régua.
Na vila do Peso da Régua, o rei atribuiu um donativo para
que fosse aberto um hospital e inteirou-se dos trabalhos de lançamento da ponte
rodoviária de ligação a Lamego, que viria a ser inaugurada a 1 de Dezembro do
ano que decorria e que seria desactivada em 1949, por apresentar sinais de
ruína, mantendo hoje, apenas, um serviço pedonal, após uma grande recuperação.
Entretanto, enquanto o rei se encontrava em digressão pela
província, a rainha visitava algumas instituições da cidade do Porto, como as
que fez no dia 1 de Julho ao Asilo de Infância Desvalida, na Rua das Oliveiras
e à Creche de S. Vicente Paulo.
Dia 7 de Julho, a rainha e várias personalidades, esperavam
o rei, na quinta do Freixo, após a digressão dele pela província.
Na chegada ao Freixo, o barão do Freixo ofereceu a toda a
comitiva um opíparo lanche.
Notícia da chegada de Luís I ao Palácio do Freixo – In
jornal “O Comércio do Porto”, de 7 de Julho de 1972
A imagem anterior do Palácio do Freixo é uma reprodução de
uma gravura de um álbum representando o Palácio do Freixo e a área envolvente,
vista de Vila Nova de Gaia, com o título: «As
margens do Douro, colecção de doze vistas», por Cesário Augusto Pinto,
litografadas por J. C. Vitória Villanova.
Palácio do Freixo, em 1833 (Gravuras representando as quatro
fachadas do Palácio do Freixo) – Ed. Joaquim Villanova
Não se tendo realizado, no dia 8 de Julho, qualquer
actividade externa, à noite, ocorreria o habitual baile na Assembleia
Portuense.
No dia 9 de Julho, em comemoração da entrada na cidade do
exército libertador, pelas 3 horas da tarde, decorreu uma missa na igreja da
Lapa.
Durante este dia, com as ruas engalanadas, a festa foi
muita. Desfilaram pelas ruas da cidade, tropas aqui aquarteladas e vindas de
fora. Subiram no ar os morteiros e os aplausos da multidão, enquanto que as
bandas de música tocavam o “Hino da Carta”.
A tudo isto, assistiam das varandas da Câmara, o rei, a
rainha e os membros do governo presentes.
Dia 10 de Julho, a rainha e os príncipes não saíram do Paço,
tendo estado ausentes, em visita a Penafiel, o rei e o seu irmão, príncipe
Augusto (Duque de Coimbra).
No dia seguinte, aconteceu uma ida à Fotografia Talbot, por
convite de Albino Pinto, um sócio do estabelecimento, sito à Rua do Bonjardim e
uma visita à Chapelaria a Vapor, de Costa Braga que, à data, ainda ocupava,
apenas, as suas instalações primitivas na Rua de Santo António.
À noite, ocorreu o baile no Club Portuense.
Dia 12 de Julho, da parte da manhã, foram as visitas aos
quartéis de Caçadores 9, Torre da Marca e de Santo Ovídio. O casal real esteve
depois numa missa na igreja da Lapa.
Da parte de tarde, o rei visitou a Fábrica de Lanifícios de
Lordelo, a Fundição do Ouro e a Fundição de Massarelos.
Pelas 18 horas, a família real assistiu à inauguração dos
trabalhos do caminho-de-ferro do Minho.
O pavilhão onde decorreu a cerimónia estava instalado junto
da Estrada de S. Roque, um pouco a sul da capela de S. Roque.
Descrição do local da cerimónia de inauguração dos trabalhos
na linha do Minho – In “Jornal do Porto”, em 13 de Julho de 1872
Descrição da cerimónia de inauguração dos trabalhos na linha
do Minho – In “Jornal do Porto”, em 13 de Julho de 1872
Dia 13 de Julho, pelas 9 horas da manhã, a família real
embarcava, nas Devesas, com destino a Coimbra.
Escolha do local na
cidade para a construção da estação terminal da linha do Norte
À data do lançamento da primeira pedra da linha do Minho, em
S. Roque, em 12 de Julho de 1872, continuava sem ser decidido o local da
estação terminal no Porto, o que só aconteceria no último dia desse ano.
Para esse efeito, um primeiro projecto da autoria de Eusébio
Page seria apresentado em 11 de Fevereiro de 1862, pela “Companhia Real dos
Caminhos de Ferro Portugueses”, empresa que substituíra uma outra, a “Companhia
Central Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal”, que tinha sido formada
para a construção do caminho-de-ferro de Lisboa até à fronteira de Espanha,
passando por Santarém, mas que acabaria por falir.
José Salamanca, empresário, capitalista, banqueiro e
político espanhol, com uma actividade de anos como construtor da via-férrea de
Espanha, propõe-se retomar os projectos que se encontravam suspensos em
Portugal, tutelados por aquela Companhia Real.
Para o atravessamento do rio Douro, na proposta referida,
seria necessário que, à saída da estação das Devesas, deveria ser feito um
túnel que atravessaria a Serra do Pilar e, por intermédio de uma ponte em ferro
de 9 vãos, 27 metros acima do nível da baixa-mar, seria atingido o Esteiro de
Campanhã, onde ficaria a estação ferroviária, entre a foz dos rios Torto e
Tinto. Daqui, seria feita uma ligação às linhas do Minho e do Douro.
Ponte de madeira sobre o rio Torto, ao Esteiro de Campanhã,
reconstruída após um temporal ocorrido na década de 1930
Dada a distância considerável do centro do Porto, a que
ficaria uma estação no Esteiro de Campanhã, a solução não avançaria, apesar de
algumas poucas intervenções efectuadas.
Surge, então, uma segunda hipótese que propunha para a
edificação da estação, a zona das Fontainhas ou do Prado do Repouso.
Nesta hipótese, a partir das Devesas o percurso seria feito
até à Pedra Salgada, sendo o rio atravessado por uma ponte 27 metros acima do
nível da maré-cheia, a que se seguiria um viaduto sobre o vale do rio Torto até
à aldeia do Pego Negro, onde ligaria directamente à solução proposta para a
estação.
Como as expropriações seriam imensas, o projecto não
vingaria. Acresce o aparecimento de um diferendo entre o Governo e a empresa
construtora sobre o atravessamento em via dupla pela ponte que uniria as duas
margens, hipótese que José Salamanca rejeitava.
Após uma intervenção de um tribunal arbitral e de outras
negociações, é acordado que a concepção da ponte, com possibilidade de
introdução futura de uma 2ª via, seja abandonada e é fixado que a estação fique
no Campo do Cirne.
“O espaço em questão
era, até 1880, um imenso território dividido a meio pela estrada de Campanhã
(Rua de Reimão/ 29 de Setembro/Heroísmo), pertença dos mesmos proprietários da
Quinta do Fragoeiro (…).
O Campo do Cirne, com
os seus extensos terrenos ao sul do Campo de Mijavelhas, até ao Prado do Bispo
e à Quinta da Fraga, eram da quinta do Reimão, pertença da família Cirne de
Madureira desde pelo menos o século XVI. Esta quinta de dimensões assinaláveis
permanecia por urbanizar sete anos depois da chegada do primeiro comboio a
Campanhã, sendo naturalmente um lugar apetecível para o efeito”.
Cortesia de Jorge Ricardo Pinto – In “O Porto Oriental no
final do século XIX”
Em Maio de 1864, já alguns proprietários de terrenos, no Campo do Cirne, procuravam transaccioná-los, tendo em consideração a estação ferroviária projectada para o local.
In jornal "O Commercio do Porto" de 23 de Maio de 1864
Nesta solução, seria então no Campo do Cirne, atravessado
pela Estrada de Campanhã, que seria realizada a ligação às linhas do Douro e
Minho, tentando ainda aproveitar-se algum do trabalho já feito, anteriormente.
Estávamos em 8 de Novembro de 1869. Porém, os diferendos
entre as partes envolvidas continuaram.
É, por fim, apresentado ao governo uma nova solução da
autoria de Manuel Afonso Espregueira, Pedro Inácio Lopes e Gustav Eiffel, em 31
de Dezembro de 1872.
Então, tudo se mantinha até ao Alto da Bandeira, junto a
General Torres. O percurso seguinte era feito através de um túnel de 200 metros
e, na margem elevada do rio, em frente ao Seminário, seria lançada uma ponte
metálica de 355 metros, à altura de 62 metros acima do nível da baixa-mar.
Na margem direita do rio, por intermédio de um túnel no
Seminário e outro na Quinta da China, alcançava-se o local da estação terminal,
em terrenos da Quinta do Pinheiro.
Em 3 de Fevereiro de 1875, é celebrado o contrato com a casa
Eiffel Constructions Métalliques, de Paris e, em 4 de Novembro de 1877 é, por
fim, inaugurada a ponte Maria Pia com a presença do casal real que, nessa
manhã, assistiram a uma missa na capela de Carlos Alberto, ao Palácio de
Cristal, honrando deste modo a rainha a memória do seu avô – o rei Carlos
Alberto.
Chegada a comitiva real, ao Porto, em 3 de Novembro de 1877,
por aqui ficaria até ao dia 9 de Novembro, com um programa que, para além da
inauguração da travessia do Douro e da Estação de Campanhã (que já vinha
funcionando desde há cerca de dois anos), teve ainda associado diversos
aspectos lúdicos, entre eles se destacando as corridas de cavalos acontecidas
no Hipódromo de Matosinhos.
Notícia da chegada do casal real à Estação das Devesas para
presidirem à inauguração da ponte Maria Pia - In jornal “O Comércio do Porto”
de 4 de Novembro de 1877
O projecto da ponte é do Eng.º Théophile Seyrig. O Início de
construção ocorreu a 5 de Janeiro de 1876 e a conclusão da obra foi a 31 de
Outubro de 1877.
Foi inspirado nesta ponte que, anos mais tarde, em França,
seria lançado o célebre viaduto Garabit.
Construção da ponte Maria Pia, observando-se no cimo do
monte o antigo edifício do Seminário Maior, ainda em ruínas, fruto das lutas do
Cerco do Porto, de 1833
Construção do viaduto do caminho-de-ferro para acesso da
estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, à ponte Maria Pia, em 1876.
Cronologia de algumas
intervenções importantes nos caminhos-de-ferro
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