Em pleno século XIV, grande parte das construções da cidade
já se encontravam do lado de fora da muralha primitiva, que se limitava a
proteger o morro da Sé.
Foi a vulnerabilidade do burgo a eventuais ataques,
nomeadamente, à sua zona ribeirinha, que levou à construção de uma nova muralha
no século XIV, bastante mais extensa do que a anterior.
Começada no reinado de D. Afonso IV, a muralha só seria
concluída em 1376, já no reinado de D. Fernando (1345-1383), razão pela
qual a cerca defensiva ficou conhecida como Muralha Fernandina.
No século XVI, a área da cidade junto da Porta de Cima de
Vila era referida como o Campo do Pombal e, mais tarde, por Terreiro de Nossa
Senhora da Batalha.
Da porta de Cima de Vila saía um caminho para o Bonfim,
Valongo e Penafiel que passava pelo adro da ermida de Santo Ildefonso (mais
tarde, igreja da mesma invocação) e, um outro, que pelo Arrabalde (S. Lázaro)
rumava a Campanhã.
Na realidade, cerca de 1600, já existiria, do lado de fora
das muralhas, junto da porta de Cima de Vila, uma capela.
Antes, como era habitual, no interior da muralha fernandina,
já se prestava o culto à imagem daquela invocação (exibida numa edícula) e,
ainda, à Senhora dos Remédios.
No século XVIII, a área sofreu grandes transformações, sendo
demolida a muralha e tendo sido levantada em 1799, mais próximo do Real Teatro
S. João, uma outra capela em substituição da existente, que acabaria por ser
demolida em 1924.
Seria nos finais do século XVIII, quando foi edificado o "Palácio da condessa de Pangim"
chamado, mais tarde, palacete dos Guedes da Quinta da Aveleda e erigida a nova
capela de Nossa Senhora da Batalha, que a praça foi alvo de melhoramentos
importantes.
Acresce que, em 1796, já tinham arrancado as obras para
construção do Real Teatro de S. João, que vai ser inaugurado no dia 13 de Maio
de 1798 (data de aniversário do futuro rei D. João VI).
Para que fosse possível levantar o teatro, foi necessário
derrubar um troço da muralha fernandina e, ainda, expropriar cinco prédios que
por lá existiam.
Em 1793, seria, então, derrubada, também, a porta de Cima de
Vila.
O texto que se segue dá uma ideia de como eram vividas as
visitas pelos portuenses ao Real Teatro S. João.
“Não era sem
certos cuidados que algumas famílias se dispunham a ir ao teatro. A mãe dá
ordem à criada que faça a ceia; o pai diz ao galego que ponha duas velas de
cêbo no lampião de folha. Apenas o jantar terminou e o último palito fez a limpeza dentária, vai a família
dormir a sesta, porque tem de perder a noite. À hora própria lá segue a família
para o teatro, porque é bom ir cedo e sem fadiga. O chefe de família leva duas
pistolas no bolso para o que der e vier; atrás, a criada com o merendeiro, os
frangos assados, a vitela, as azeitonas, a pingoleta etc. Chegam as damas ao
camarote, estendem as mantilhas de lapim para fora da borda e colocam-nas
cuidadosamente nuns arcaicos lanceiros de pau que havia nos camarotes; ao fundo
a criada senta-se junto ao cesto da ceia. Os espectadores começam a encher o
teatro e o Aniceto vem distribuir pelas estantes da orquestra os diversos
papéis da partitura; trabalho que faz pacificamente, excepto se algum
frequentador das varandas lhe grita de lá; - Oh Clemente, quebraste a infusa! –
porque então o homem perde a cabeça, troca os papeis e dá por paus e pedras.
Os janotas cumprem
a sua elegante missão de conquistadores; as damas choram ou sorriem, como as
situações da peça o exigem; à hora própria, aproveitam-se os intervalos para a
ceia e tudo corre no melhor dos mundos, se os artistas não desafinam e se as
tormentas teatrais não provocam as pateadas.
Que velhos
costumes e clássicos hábitos da velha sociedade que dormia a sesta e ia cear ao
teatro!”
In revista “O
Tripeiro”, Volume V
Legenda:
B – igreja de Santo Ildefonso;
C – Palacete da condessa de Pangim;
D – Capela de Nossa Senhora da Batalha;
E – Real Teatro de São João;
1 – Rua de Santa Catarina;
2 – Rua de Santo António (actual 31 de Janeiro);
3 – Rua de 23 de Julho (actual Rua Santo Ildefonso);
4 – Calçada da Teresa (actual Rua da Madeira);
5 – Rua de Cima de Vila;
6 – Travessa de Cima de Vila;
7 – Travessa do Cativo;
8 – Rua de Augusto Rosa;
9 – Rua de Entreparedes
Entretanto, no ano de 1860, um edital do Governo Civil
determinou que a Praça da Batalha passasse a englobar o denominado Largo de
Santo Ildefonso (fronteiro à igreja).
A Praça da Batalha passa a contemplar dois espaços.
Um deles, o antigo Largo de Santo Ildefonso, tem a forma
trapezoidal orientado no sentido Nordeste – Sudoeste e é dominado pela igreja
de Santo Ildefonso.
O outro, orientado no sentido Noroeste – Sudeste, é
longilíneo e limitado a Norte pelo antigo Palácio da condessa de Pangim e o
Cinema Batalha e, a Sul, pelo Teatro Nacional de S. João, com a estátua de D.
Pedro V dominando o espaço, com implantação descentrada.
Na década de 1860, a Praça da Batalha é alvo de uma nova
intervenção importante como resultado da instalação no local de uma estátua em
memória de D. Pedro V.
Assim, o monumento da autoria de Teixeira Lopes, pai
(1837-1918), cuja primeira pedra foi lançada em 11 de Julho de 1862, pelo
general visconde de Rivas, seria inaugurado em 1866.
Para isso, o local teve que ser alvo de um desaterro, que
implicou que o Palácio da condessa de Pangim ficasse com o seu piso térreo a
uma cota mais elevada. A solução foi atribuir uma indemnização aos
proprietários para um rebaixamento interior daquele piso.
Nesta foto, em comparação com a gravura anterior, é possível
adivinhar o desaterro a que a área foi sujeita, pela altura das janelas do 1º
piso
Um pouco antes, em 1853, já o pavimento que, até aí, era de
pedra miúda e com passeios muito irregulares, seria inteiramente substituído
por macadame.
Foram, então, delimitadas as vias de circulação e criada uma
plataforma central em calçada portuguesa, demarcada com árvores, definindo um
espaço de estar.
Em conclusão: no centro da praça, foi colocado, o monumento
de homenagem ao rei D. Pedro V (1837-1861).
Em meados do séc. XIX, a praça já era zona de hotéis,
restaurantes e cafés e, assim, continuaria, até à chegada do novo século.
O grande surto urbanístico da Batalha começou, em 1881,
quando se deu início aos trabalhos de construção da ponte de Luís I, que
culminou com a inauguração, em 1886, do tabuleiro superior e com a conclusão, em
1888, do seu tabuleiro inferior.
Em sequência, para permitir o acesso da Praça da Batalha às
Fontainhas, em 1887, foi aberta a Rua Nova da Batalha, actualmente designada por
Rua de Alexandre Herculano.
Na madrugada de 11 para 12 de Abril de 1908, um violento
incêndio reduziria o Real Teatro de São João a um montão de escombros
calcinados. Poucos anos depois, iniciou-se a construção de um novo edifício, a
cargo do arquitecto José Marques da Silva (1869-1947). A obra foi uma
oportunidade para o realinhamento dos prédios das imediações, com o objectivo
de aumentar o espaço que antecedia o teatro.
Em 1913, sucedendo à sala de projecção do cinema Salão High
Life, vinda da Cordoaria, e onde esteve sedeada, antes, "A
Construtora", de Campos & Morais, armazém de ferragens e materiais de
construção, surgiria o novo edifício do Cinema Batalha que iria dar origem, em
1943, a um outro, que ainda hoje existe.
A 7 de Março de 1920, era inaugurado o novo Teatro S. João.
Em 1924, foram demolidos diversos edifícios, incluindo a
capela que albergava a imagem de Nossa Senhora da Batalha, que passou para a
Casa do Cabido da Sé do Porto, onde ainda se encontra.
Na década de 1950, atendendo a um aumento do trânsito
auto, foi derrubada uma parte das árvores existentes, e a placa central passou
a ser uma simples passagem de transportes públicos, ficando as vias periféricas para o trânsito auto.
A situação descrita
vigorou até 1982, quando aconteceram obras de certa monta, na sequência de um
novo projecto camarário.
A Praça da Batalha
é, então, dotada de um pavimento tipo “calçada portuguesa”.
A última intervenção na praça vai ocorrer aquando da
realização do evento “Porto - capital europeia da cultura, em 2001”.
O projecto para este local da cidade, é da autoria dos
arquitectos Adalberto Dias (n.1953), Fernando Távora (1923-2005) e Bernardo
Távora (n.1958).
Do que foi proposto, seria reintroduzida uma plataforma
central e um novo alinhamento de novas árvores.
O átrio do Teatro Nacional de S. João seria prolongado para
o exterior, a exemplo do que acontecia no século XIX.
A estátua de D. Pedro V sofreria um reposicionamento,
passando a situar-se no enfiamento da entrada do antigo Palácio da condessa de
Pangim, agora, um hotel.
Uma fonte circular passou a estabelecer a articulação com o
espaço fronteiro à igreja de Santo Ildefonso.
Praça da Batalha, após intervenção em 2001, observando-se a
estátua no seu novo poiso e a nova fonte circular – Cortesia de Paula Catrica
No que à área adjacente à igreja diz respeito, ficaram por
recolocar as escadas entre a igreja de Santo Ildefonso e a Rua de 31 de Janeiro
e, ainda, o obelisco que lá esteve até há cerca de 100 anos e, entretanto, foi
recolhido no terreno interior, que foi antigo cemitério.
Igreja de Santo Ildefonso ostentando o seu obelisco e com
escadaria comunicando com a Rua de Santo António – Gravura de Joaquim Villanova
em 1833
Igreja de Santo Ildefonso, c. 1910, com a escadaria de
ligação à Rua de Santo António, encimada com o icónico obelisco – Ed. Alvão
Nesta última requalificação na praça seria introduzido o
serviço de carros eléctricos, num canal central e, na periferia, uma via para
veículos automóveis.
Sem comentários:
Enviar um comentário