“Em 29 de Janeiro de
1933 foi inaugurado o Café Guarany,
no edifício projectado por Miguel Ângelo Soá, com um projecto de Rogério de
Azevedo e um baixo-relevo de Henrique Moreira. A principal inovação era o
sistema de ventilação e filtragem do ar. Nos anos 80 sofreu alterações que o
desvirtuaram, ao ser criado um balcão corrido e eliminadas as mesas.
Recentemente foi recuperado de acordo com o projecto inicial, tendo sido
acrescentados painéis da pintora Graça Morais. Poderá considerar-se um exemplo
de recuperação da imagem e da essência original”.
Fonte: pereira-da-silva.blogspot
O Café Guarany abriria, então, em 29
de Janeiro de 1933, sob o controlo da firma Vieira e Araújo, Lda., tendo como
sócios gerentes José Vieira da Silva e Leonel Monteiro.
Nos dias seguintes, entre as 16 e as 18 horas e, entre as 21
e 24 horas, actuou nas suas instalações a Orquestra
Portuense composta por Raul de Lemos, Manuel Constante, José da Costa, José
Oliveira e Fausto Caldeira.
“A música também desempenhou um papel de
extremo relevo nos cafés do Porto, ao longo dos séculos XIX e XX. Os Cafés Suisso e Lisbonense foram, sem dúvida, os mais afamados. Nestes
estabelecimentos existiam, todas as noites, concertos que iam desde as
“composições ligeiras de Lecoq e de Suppé, até aos trechos classicos de Rossini
e de Wagner”, passando pelas entusiásticas “valsas de Waldteufel”. Ao domingo,
existiam as matinés no Café Lisbonense,
que se realizavam pelas 14 horas da tarde, começando por tocar os principais
artistas a solo, que interpretavam, em piano, os “transcendentes noturnos de Chopin e as belas sonatas
de Beethoven”, em violino, “os arrebatadores trechos de Paganini e Sarasate” e
em violoncelo, “os majestosos caprichos fantasias de Dunkler”. À noite era
costume serem executados 10 números, onde figuravam seleções de óperas,
sinfonias, zarzuelas, entre outros. Destacaram-se como principais executantes,
os violinistas: Júlio Cagiani, Laureano Forssini, José Muner, Luigi Comuni,
entre outros, os violoncelistas: Ferrucio Alberti, José Romagosa, Carlos
Quilez, Mário Vergé, entre outros, os pianistas: Xisto Lopes, Pedro Blanco,
Evélio Burull, Manuel Figueiredo, entre outros, e os contrabaixistas: Francisco
Symaria, Manuel Jorge Paiva, entre outros.
Com a inauguração do Café Guarany, em 1933, atuou, em
exibições diárias, à tarde e à noite, um quinteto, que alcançou grande
notoriedade na cidade. Era este constituído por “Raúl de Lemos, Manuel
Constante, José da Costa, José Oliveira e Fausto Caldeira”. A música foi,
assim, a par com o jogo, um dos principais passatempos dos portuenses, no
interior dos cafés, ao longo dos séculos XIX e XX.
Entre 1918 e 1939 destacam-se a abertura de,
O Majestic, O Excelsior, O Imperial, O Palladium, O Monumental, O Avenida e O
Guarany”.
Com a devida vénia a
Nuno Fernando Ferreira Mendes
Na esquina do prédio
instalou-se o Café Guarany
Esplanada do Café
Guarany em 1941
O café Guarany em
meados do século XX
Café Guarany (actualmente)
Será o empresário
Agostinho Barrias quem vai restituir ao Guarany o seu aspecto primitivo, após
vários anos de intervenções que o desvirtuaram.
“Impulsionado pela situação em que se
provavelmente se encontraria após a morte do seu pai aos 4 anos de idade, da
sua mãe aos 8 e da sua irmã aos 12 — com quem passará a viver— Agostinho
Barrias acabou por cruzar o oceano em busca de pastos mais verdes, tendo-se
estabelecido no Brasil, onde se dedicou sobretudo à restauração. De regresso a
Portugal, o sucesso de vários empreendimentos na área — como é o caso dos cafés
Ofir, Itália, Padrão ou Imperador, entre outros — permitiu-lhe finalmente
dedicar-se a uma paixão que cultivava já desde cedo: a paixão pelos cafés
históricos”.
Em 1982, Agostinho Barrias adquire assim o
Guarany com o objectivo de devolver ao mítico café a sua antiga glória. Apoiado
pelo filho Fernando, restaura-o finalmente entre 2001 e 2003, introduzindo-se
também dois novos painéis da pintora Graça Morais, intitulados “Os Senhores da
Amazónia”.
Crédito a “portonosso.pt/”
"Os Senhores da Amazónia" de Graça Morais
Era constituído por duas salas. A sala da frente era frequentada por desportistas. Talvez, por isso, muitos dos seus frequentadores denominavam-no como o café dos ciclistas.
A sala do fundo era
o local de encontro de intelectuais como o pintor Júlio Reis Pereira e o
filósofo Leonardo Coimbra. Esta sala será remodelada e alargada e, em 22 de Fevereiro
de 1932, o Café Excelsior reabriria após ser intervencionado pela mão do jovem
arquitecto Guilherme Spratley.
Passados cerca de seis meses, em 28 de Agosto, os portuenses recebem a nefasta notícia do falecimento de Guilherme Spratley, de 26 anos, vitimado por uma congestão quando se banhava no rio Minho.
Passados cerca de seis meses, em 28 de Agosto, os portuenses recebem a nefasta notícia do falecimento de Guilherme Spratley, de 26 anos, vitimado por uma congestão quando se banhava no rio Minho.
Aqui, funcionou o
Café Excelsior
Publicidade ao Café
Excelsior
Interior do Café Excelsior – Fonte: Porto Desaparecido, p. 152
Actualmente, é uma loja da multinacional de equipamentos de óptica, “Leica”.
Interior do espaço
como Papelaria Sousa Ribeiro – Ed. JPortojo
Depois da Segunda
Guerra Mundial, e com o desenrolar da segunda metade do século XX, foi surgindo
uma nova geração de cafés que já não patenteiam da “grandeza e o requinte
decorativo” dos cafés da primeira metade do século, prevalecendo a austeridade.
Destacam-se no seio
desta nova tipologia os cafés: Embaixador, Ceuta e Aviz, todos dotados de bilhares.
Assim: o Café Ceuta, sito na Rua de Ceuta
e aberto ao público a 18 de Julho de 1953; o Café Aviz,
inaugurado em 9 de Julho de 1947, na antiga Travessa da Fábrica (Rua de Avis), próximo da Praça
Filipa de Lencastre; e o Café Embaixador
fundado em 1957 e localizado no núcleo urbano de cafés da Praça e suas
imediações, mais concretamente, na Rua de Sampaio Bruno, com o tal salão de bilhares,
e restaurante no 1º andar, tendo encerrado as portas, em 9 de Dezembro de
2022.
Café Embaixador, no
início do século XXI
Embaixador, Ceuta e Aviz, todos eles
eram detentores de salão de bilhares e os dois últimos localizam-se no núcleo
urbano de cafés do Carmo e suas imediações.
O Café Rialto na Praça D. João I, mas
já encerrado, destacava-se pelo seu requinte.
Inaugurado em 6 de
Dezembro de 1944, com traço do arquitecto Artur Andrade, tinha uma decoração
exigente com murais de Abel Salazar, Guilherme Camarinha e Dórdio Gomes e uma
escultura de João Fragoso.
Após 28 anos de
labor, acabou por encerrar as suas portas em Julho de 1972, para dar lugar a
uma instituição bancária, que conservou o mural de Abel Salazar, mas entaipou
os frescos de Dordio Gomes e Guilherme Camarinha. O baixo-relevo de João
Fragoso foi destruído.
Hoje (2023), o
espaço aloja uma loja chinesa de bugigangas.
“No Café Rialto, que se inaugurará dentro de
breves dias na cidade do Porto foi ontem, 27 de Novembro de 1944, prestada homenagem
à respectiva empresa proprietária e ao arquitecto Artur Vieira de Andrade,
autor do magnífico projecto daquele sumptuoso estabelecimento comercial.
E ali dentro, no delicioso clima duma
quietude reconfortante, tudo se conjugou no sentido duma beleza triunfal,
destacando-se ainda, numa bela exposição decorativa, de alto merecimento
artístico, pinturas murais a «fresco» de Dórdio Gomes e Guilherme Camarinha,
inspiradas em diversos temas mitológicos. Esculturas de cerâmica policromada,
da autoria do escultor João Fragoso, uma das quais de enormes dimensões e
admirável concepção estética”.
In jornal “O
Primeiro de Janeiro” de 28 de Novembro de 1944 – 3ª Feira
Café Rialto
Igualmente
inaugurado, em 1944, foi o Café
Estrela de Ouro. Aquando da inauguração do Café Estrela de Ouro,
dizia-se:
“Pela sua projecção na vida citadina e ainda
pelo seu significado, a inauguração dum estabelecimento como a “Estrela d’Ouro”
não pode passar despercebida. De linhas sóbrias, mas de extraordinário bom
gosto, o novo Café-Restaurante (que é também Confeitaria e Tabacaria) marca,
entre as suas congéneres, um lugar especial.
Situado em plena Rua da Fábrica, em contacto
directo com a Praça da Liberdade, mas, ao mesmo tempo, desviado do tumulto da
«granvia», a «Estrela de Ouro» oferece-nos um raro ambiente, de intimismo,
Alicia, prende.
O acto inaugural, concorridíssimo, ficou
assinalado com um magnífico «Porto de Honra».”
In “Jornal de
Notícias” de 9 Março de 1944 – 5ª Feira (cit. Guido de Monterey, “O Porto 2”,
p. 665-666)
Café Estrela de Ouro
Na segunda metade do século XX muitos outros cafés ficaram
na memória de muitos, pelo que ofereceram a várias gerações, de que se destacam
o
Café Pereira e o Café Imperador, na Praça do
Marquês do Pombal, o Café Garça-Real, junto ao teatro Rivoli, o Café
Bela-Cruz, ao Castelo do Queijo,
o Café
Orfeu, na Rua Júlio Dinis, o Café Tijuca, na Rua
Passos Manuel, nº 208, o Café Java, na Praça da Batalha, o Café
Capitólio, junto da praça General Humberto Delgado, o Café
Saban, na Rua de Sá da Bandeira, em frente à Confeitaria Cunha, na
esquina com a Rua Guedes de Azevedo, o Café Mucaba, à saída do tabuleiro
superior da ponte Luís I, já em V. N. de Gaia e aberto desde 15 de Fevereiro de
1962 e, ainda, o Café Rivoli, já quase, todos desaparecidos.
E, ainda, para além de muitos outros: o café Príncipe, na
Praça Teixeira de Pascoais, onde, depois, se instalaram duas lojas de comércio de
tintas; o café Baptista, na Rua de Santa Catarina, situado um pouco abaixo da
conhecida loja de modas “Os Pinto”; o café Pará, na Rua de Santa Catarina,
defronte da Capela das Almas; o café Poeta, junto da igreja nova do Carvalhido;
o café Dragão, na esquina das ruas Formosa e da Alegria.
Sobre a inauguração do Café Imperador, que surgiu a nascente
da Praça Marquês do Pombal, dizia-se:
“A cidade do Porto,
que conta milénios e nasceu pequenina à volta da Sé, vai crescendo, vai-se
modernizando, vai tomando aspectos de grande capital.
Um dos Bairros de
fluorescente e constante desenvolvimento, é a zona citadina que se estende à
volta da Praça do Marquês do Pombal, o «rendez-vous» da população daquela zona,
bairro alto da cidade, vai hoje inaugurar-se um novo e completo estabelecimento
de café, O Café Imperador, propriedade de Narciso Silva, Agostinho Soares e
José Maria Gonçalves.
Projecto do arquitecto
Mário Fernandes da Silva Teixeira, que planificou o Café Imperador com harmonia
e bom gosto.
De salientar ainda a
sua confortável esplanada que, de hoje em diante, é a melhor da cidade.
Esta obra é inaugurada
hoje pelas treze horas.
Durante o dia temos o
prazer de oferecer a todos quantos nos honrarem com a sua visita, um cálice do
delicioso licor «Juvininho».”
In jornal “O Primeiro de Janeiro” de 11 de Outubro de 1958 –
Sábado
Painel de azulejos do Café Imperador – Ed. Guido de Monterey
Café Pereira, a sul da Praça do Marquês - Fonte: Google Maps
Café Garça-Real - Fonte: Google Maps
O café Garça-Real, acima representado, ocupou as instalações
de um outro conceituado café (pouso de salgueiristas), "O Flórida" que, a 22 de Março de 1947, reabriria após obras de beneficiação como
"Confeitaria e Casa de Chá Flórida", mas sem a exibição da sua antiga orquestra.
O Bela Cruz, ao Castelo do Queijo, um outro estabelecimento
do mesmo ramo de actividade afirmar-se-ia, no mercado, a partir de 21/06/1952,
como um tradicional café, mas, também, como casa de chá.
O sucesso do Bela Cruz deveu-se a Ulisses Moreira, seu
gerente e proprietário até Março de 2004.
Café Bela-Cruz, em 1956
Em 1989, o Bela Cruz traçou um novo percurso, com uma nova
realidade de iniciativa empresarial, revelando-se pela primeira vez como o
'Bela Cruz Club', num projecto que consistiu num investimento de expansão do
edifício, dando-lhe uma nova vida ao espaço, que se tornou rapidamente
conhecido na cidade e gerou um ponto de encontro para várias gerações.
De Março de 2004 a Abril de 2011, o espaço foi arrendado a
terceiros e começaria, então, um processo de descaracterização do espaço.
Após 2011, o espaço volta a ganhar novo impulso,
apresentando-se renovado, com uma decoração sofisticada e uma oferta alargada,
com serviço de restaurante e 'wine bar'.
Em 28 de Dezembro de 2015, o Bela Cruz seria alvo de um
incêndio, provocado por um dos sócios, devido a desavenças conjugais.
O Bela Cruz não iria resistir muito mais.
Em Outubro de 2021, a Câmara Municipal do Porto tornava
público, que se opunha a qualquer acção de demolição do espaço.
Café Bela-Cruz - Fonte: Google Maps
Café Orfeu - Fonte: Google Maps
Café Tijuca - Fonte: Google Maps
Café Java – Fonte: Google maps
Café e Cervejaria Capitólio
Em 22 de Dezembro de 2022, após 80 anos de portas abertas, o café e cervejaria Capitólio fechava para sempre.
Na esquina era o Café Mucaba - Fonte: Google Maps
Café Rivoli - Fonte: Google Maps
O café Rivoli ficava em frente ao teatro Rivoli, no piso
térreo do prédio de esquina que se vê na foto anterior, e que hoje é o depósito
da Fábrica da Marinha Grande, na esquina da Rua do Bonjardim com a Rua de
Magalhães Lemos.
“Inaugurou-se ontem o
café Rivoli. Um novo e magnífico estabelecimento que muito honra a cidade.”
In jornal “O Comércio do Porto”, 19 de Maio de 1949 – 5ª
Feira
Alguns outros cafés, bem mais recentes, passaram a fazer
parte do imaginário dos portuenses.
São os casos do Café Ofir (ao Covelo, junto da
Escola Filipa de Vilhena), do Café do Padrão (Largo do Padrão) e do
Café
Cenáculo (localizado na esquina das ruas Antero de Quental e do Campo
Lindo) - todos eles chegaram a ter como gerente o conhecido empresário
Agostinho Barrias.


































O antigo Café Rialto - hoje agência bancária não destruiu os frescos do Dórdio nem o do Camarinha. Ainda lá existem. Não estão à vista de toda a gente. Mas isso é outro problema que não posso abordar aqui. Aqui há uns anos tive a possibilidade de os visitar assim como outras obras ainda existentes do Dórdio Gomes presentes na cidade.
ResponderEliminarAgradeço a informação e a sua disponibilidade e colaboração.
ResponderEliminarComo pode observar, já corrigi o texto baseado na sua chamada de atenção.
Cumprimentos.