Casa, solar, palacete são vocábulos inerentes a diversos
tipos de habitação que irão ser citados a seguir variadíssimas vezes.
«O termo solar aparece com frequência nas regiões de Entre
Douro e Minho, nas Beiras e Trás-os-Montes, como sinónimo de casa ou de
linhagem nobre. Vocábulo proveniente do latim: solum que significa chão, terra,
lugar, casa ou edifício, “em que teve principio algua família nobre de
Hespanha”. Acrescenta o Pe Rafael Bluteau que:
“Em demonstração da Nobreza desta terra edificavão os
senhores dela hua casa forte, ou torre, a qual também servia para se defender
dos rebates dos Mouros ou outros inimigos.” Em função das origens ou raízes
genealógicas havia várias categorias de fidalgos: fidalgos de solar, fidalgos
de solar conhecidos, fidalgos de solar notório e fidalgos de grande solar. Os
valores da sua reputação manifestavam-se no prestígio da linhagem por via da
ostentação das pedras de armas nos portais ou nas fachadas das casas nobres e na
posse da terra.
José Sarmento de Matos distingue dois tipos de solares: o
solar campestre da nobreza provinciana e o solar urbano implantado nas cidades
ou vilas.”(…).
(…) A partir dos finais do século XVIII a paisagem urbana
passou a ser dominada pelo “típico «palacete» do Porto” que se transformou no
estereótipo das residências portuenses edificadas pela burguesia capitalista e
sobretudo pelos brasileiros. Vejamos a sua tipologia descrita por Henrique
Duarte e Sousa Reis:
“[…] há ainda huma caza antiga, ou palacete de dous andares,
dos quais o segundo he de janelas de sacada e vem a ser o nobre, e o inferior
com as suas pequenas janelas rasgadas até ao pavimento, pertencem aos
compartimentos em que se divide esse primeiro andar, destinado á vivenda dos hospedes
ou creados, pois formando interiormente sallas e quartos aos dous lados da
porta principal e átrio d`entrada, que he espaçoso e amplo no gosto das
melhores cazas desta natureza, nas epochas passadas ministrão acomodações para
grande numero de pessoas […]”.
Com a devida vénia ao Professor Manuel Almeida Carneiro;
Dissertação de Doutoramento, 2016
21.1 Palacete Braguinha /Escola de Belas Artes
Palacete Braguinha
António Ribeiro Fernandes Forbes (1791-1862), natural de
Fafe e emigrante no Brasil, regressou a Portugal em 1857 e escolheu a zona de S. Lázaro para se instalar. Em 1861 adquiriu um terreno na Rua de São Lázaro (antes Rua do Reimão),
hoje Avenida de Rodrigues de Freitas, onde pretendia construir a sua
residência. Os acasos da vida, porém, não o deixaram levar avante este
projecto, que apenas foi concretizado pela sua viúva, D. Maria do Carmo
Calazans Rodrigues (1816-1901), entre 1863 e 1873.
Entretanto, em 1875, o imponente palacete da Viúva Forbes,
de refinado trabalho da pedra e madeiras exóticas, dotado de um grandioso
jardim, foi vendido a outro brasileiro por 70 contos de reis. O novo
proprietário, José Teixeira da Silva Braga (1811-1890), de igual modo natural
de Fafe e emigrante no Brasil, regressara a Portugal em 1860 e, aqui residiu, até
falecer.
O seu herdeiro, José Braga Júnior, o segundo dos
"braguinhas" portuenses, casado com Celisa da Rocha Leão Braga, que
exerceu o cargo de Vice-cônsul do Brasil, no Porto, promoveu concertos na casa
da Rua de São Lázaro e a construção de um novo jardim, da autoria do arquitecto
paisagista belga, Florent Claes. No jardim foram introduzidas espécies
exóticas, sobretudo sul-americanas, e criado um núcleo museológico de História
Natural.
Em 26 de Abril de 1904, morre José Teixeira da Silva Braga
Júnior, sócio da Academia Real das Ciências e da Sociedade de Geografia.
Em 1928, o edifício seria
ocupado pela Escola de Belas Artes do Porto, após ter servido para alojar, na década
de 1920, o Instituto Superior de Comércio do Porto e ter sido usado, também, como
Palácio Presidencial nas visitas que os Chefes do Estado faziam ao Porto. Foi o
caso da visita de António José de Almeida para as comemorações do 1º centenário
da revolução liberal portuense.
Entretanto, em 1932, o edifício ainda albergava também parte
do espólio pertencente ao Museu Industrial e Comercial, transferido do Circo
Olímpico, ao Palácio de Cristal.
Em 1934, o arquitecto e professor Manuel Marques foi
incumbido de gizar um plano de remodelação para o edifício. Nesse mesmo ano, o
mestre José Marques da Silva executou um projecto de reestruturação do imóvel.
Este projecto teve uma existência atribulada e a sua
concretização apenas avançou no final dos anos 40 após as diligências
efectuadas pelo Director da ESBAP, Joaquim Lopes, e pelo respectivo Conselho
Escolar.
A 27 de Abril de 1950, foi inaugurado o primeiro de 4
pavilhões destinados a Arquitectura, Desenho e Biblioteca, segundo um programa
da Secção de Estudos da Direcção dos Edifícios Nacionais, orientado pelo
engenheiro e arquitecto Manuel Lima Fernandes de Sá.
Átrio do Palacete Braguinha – Ed. JPortojo
Escultura nos jardins
Em 1951, teve lugar
a abertura do Pavilhão de Pintura/Escultura desenhado pelo arquitecto Carlos
Chambers Ramos e sob a orientação de Manuel Fernandes de Sá, ficaram concluídos
os primeiros estudos para os pavilhões de Arquitectura e de Exposições,
inaugurados em 1954.
O projecto de
recuperação e ampliação do palacete foi idealizado pelo arquitecto Octávio Lixa
Filgueiras e executado pelo arquitecto Eduardo Brito.
Desde 2006, a
Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto passou a dispor de um outro
edifício com 5 pisos, traçado pelo arquitecto Alcino Soutinho e erguido em
terrenos afectos à Faculdade, no Campo Alegre.
A propriedade
adjacente ao edificado é dotada de um grandioso jardim com plantas tropicais de
várias espécies, algumas delas, ainda hoje raras e únicas em Portugal. O jardim
foi desenhado pelo autor dos jardins do Palácio de Cristal, Florent Claes.
“(…) a propriedade seria convertida no
primeiro parque de diversões, o “Tivoli” – imaginem que no espaço do actual
Pavilhão de Madeiras e Metais já existiu um ringue de patinagem…
Hoje em dia os jardins, apesar de conservarem
ainda parte da estrutura original, já não têm a área de antigamente, pois
tiveram que ceder espaço para os edifícios da escola nos anos cinquenta do
século passado, altura que a Escola de Belas Artes do Porto foi elevada à
categoria de ensino superior. As alterações que então o espaço sofreu
acrescentaram-lhe um conjunto de esculturas de autores consagrados, como
Teixeira Lopes, Barata Feyo, Lagoa Henriques ou José Rodrigues. À entrada do
jardim subsiste um pequeno lago, guardado pela escultura de Gustavo Bastos,
outrora habitat de gansos e palco habitual de performances.”
Vera Dantas - Fonte:
“portoenvolto.com”
Pinho Leal no
“Portugal Antigo e Moderno” aponta a data de 1840 de instalação, neste
local, do Tivoli Portuense:
“N’esta quinta se
estabeleceu, pelos anos de 1840, uma espécie de pavilhão-Mobille com uma
montanha russa e varios jogos. Denominava-se isto - o Tivoli Portuense”.
Em 28 de Junho de 1839, o “Periódico dos Pobres” informa que, no dia
seguinte, abrirá o salão Tivoli, exclusivamente para assinantes.
“Em 17 de
Junho de 1849 -
Antigo Tivoli: M.
Menay anuncia a função no domingo no sítio onde esteve o antigo Tivoli, com
entrada pela praça S. Vítor. O divertimento consistirá em física, deslocação,
pantomina, ascensão por uma corda, etc.”
“Periódico dos Pobres”, de 15 Jun.1849, p. 557 – 6ª Feira
Sem comentários:
Enviar um comentário