20.16 Quinta da Ponte da Pedra (em ruínas)
Esta quinta localiza-se junto da antiga estrada romana que
ligava a cidade do Porto (Portus) a Braga (Bracara Augusta), uma propriedade de
campo secular que se estende até à margem do rio Leça, que é atravessado por
uma velha ponte de pedra medieval de fundação romana, mais conhecida por Ponte
da Pedra, que daria o nome à quinta.
Desde meados do século XIX, de acordo com escritos de Camilo
Castelo Branco, por aqui se alugavam barcos, que rumavam rio acima e rio
abaixo, desde a Ponte da Pedra até ao Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição.
A Casa e Quinta da Ponte da Pedra, como sempre foi
conhecida, esteve na posse de António Augusto Correia Alves Guimarães
(1844-1899) e, posteriormente, nos seus herdeiros até 1915, ano em que foi
vendida.
Neste ano, houve um grande incêndio e parte do recheio que
ainda não tinha sido retirado desapareceu. Os novos proprietários chegaram a explorar
lá um Casino.
“Situa-se esta quinta
e o respectivo palacete junto à Ponte da Pedra, na Rua Godinho Faria, em Leça
do Balio.
Completamente
abandonada e com o edificado em ruínas, parece ter sido o local onde no século
XIX, funcionando como estalagem, o escritor Camilo Castelo Branco, gostava de
passar algum tempo escrevendo e divertindo-se em passeatas no rio Leça, que
passa próximo. Parece ter sido daqui que D. Miguel aquando do Cerco do Porto
comandou as suas tropas na luta que encetou com seu irmão, D. Pedro.
A última proprietária
não tendo descendência, deixaria a propriedade em testamento para o Estado,
para servir crianças e idosos desfavorecidos, tendo nela funcionado um albergue
de mendicidade.
Após a revolução do 25
de Abril, os idosos que nela habitavam foram desviados para um lar no Monte dos
Burgos e as instalações ocupadas com retornados das ex-colónias.
Seguiu-se um período
de degradação constante e em 2005 deflagrou um incêndio que arrasou as
instalações, restando apenas as paredes exteriores”.
Fonte:
“monumentosdesaparecidos.blogspot”
Sobre o texto anterior, na realidade, Camilo Castelo Branco
frequentava a Estalagem da Ponte da Pedra onde teve uma refrega, que ficou
célebre, com uns seus adversários, a propósito de umas actrizes a actuar no
Teatro S. João e o tal albergue foi inaugurado em 15 de Janeiro de 1949 e começou
por dar morada a 150 necessitados.
Em 1897, entrou em funcionamento, em Leça do Balio, uma praia
fluvial que tomaria a designação dos terrenos que marginavam o rio Leça e que
pertenciam à Quinta da Ponte da Pedra. Ficou a ser conhecida como a “Praia
Fluvial da Ponte da Pedra” ou “Praia de S. Mamede”.
“Foi esta praia
fundada com a finalidade de beneficiar as populações, ofertando-lhes um local
muito aprazível de lazer, pois os seus três criadores afirmavam não pretender
lucros com a iniciativa, mas tão somente beneficiar a freguesia (…).
A afluência foi enorme
logo no início, e promissora
para os anos
subsequentes, pois o jornal mamedense, lamentavelmente de vida efémera, “O
LIDADOR”, em 17/9/1910 referia-se à praia de S. Mamede de Infesta dizendo estar
“espantosamente
animada,
constantemente repleta de banhistas e forasteiros. E decididamente o
rendez-vous da elite, não só de S. Mamede como do Porto”. E noticiava que as
multidões,aos domingos à tarde, tornavam difícil o trânsito por aquelas bandas
(…)”.
Cortesia de Foto-porto
A partir de determinada época, a exploração da praia era
realizada pelo Padre Joaquim de Leça do Balio para ajudar a angariar dinheiro
para a Igreja.
Voltando à Quinta da Ponte da Pedra, o Decreto-Lei 48334 de
16 de Abril de 1968 que entregava as instalações ao Albergue Distrital de
Mendicidade do Porto começava assim:
“Considerando que o
Albergue Distrital de Mendicidade do Porto necessita, para alargamento das suas
instalações, de uma propriedade do Estado sita em Ponte da Pedra…”
Palacete em ruínas – Ed. Alexandre Silva em 2017
Entrada da quinta – Ed. Alexandre Silva em 2017
Quinta da Ponte da Pedra – Ed. “portosombrio.blogspot.pt”
“Ainda hoje, apesar do conjunto de intenções
da Câmara Municipal de Matosinhos para proteger a propriedade e reabilitá-la, o
palacete e os edifícios adjacentes da quinta continuam devolutos, ensombrado
uma área repleta de história e vital para a arqueologia e para o
desenvolvimento cultural de Leça de Balio, que é o rio Leça e as áreas de
proximidade do seu notável mosteiro, que se situa nas imediações”.
Fonte: “portosombrio.blogspot.pt”, 2016
Casa de Fafiães e Capela de Nossa Senhora do Desterro –
Fonte: Manuel Almeida Carneiro, In Dissertação de Doutoramento na área de
História (2016)
Na freguesia de Leça do Balio, próximo dos limites do Concelho
da Maia, fica o lugar de Fafiães, que daria o nome a esta quinta.
O topónimo Fafiani
é de origem germânica mas há também quem o relacione com o nome faffianis
ou faffianes dado aos militares da Ordem dos Hospitalários, que esteve aqui
representada.
A Quinta de Fafiães também conhecida por Quinta da Vacaria é
uma propriedade privada, pertencente ao arquitecto e artista plástico Jorge
Pedra. A sua dimensão era bem maior no século XVIII porque abrangia os terrenos
contíguos de outra quinta: a Quinta do Chantre.
O acesso à propriedade é feito pela antiga Estrada Real do
Porto a Braga, que saindo do antigo Campo de Santo Ovídio (Porto), atravessava
Paranhos, S. Mamede de Infesta e o rio Leça na Ponte da Pedra, prosseguindo em
direção à Barca da Trofa e Braga.
A entrada na propriedade é feita por um portão na Estrada
Porto/Braga, agora a Rua Augusto Simões perto da confluência com a Rua Sá e
Melo no lugar de Catassol, seguindo em direcção a Oeste, e encontrando-se a
casa da quinta a cerca de duas centenas de metros depois de percorrido um
caminho que aparenta ser uma «Servidão de Passagem».
No século XVIII a propriedade estava aforada à Baliagem de
Leça.
“A quinta serviu de
habitação temporária ou de recreio a
Manuel Barbosa de Albuquerque, abade reservatório de Cidadelhe. Refira-se que o
reverendo era irmão de Domingos Barbosa de Albuquerque, cónego magistral do
Cabido da Sé do Porto. No início do século XIX, a propriedade se achava na
posse de D. Maria da Natividade, na qualidade de prazo de vidas foreiro à Ordem
de Malta.
O acesso é feito
através de um caminho de terra batida, que descreve uma trajetória curvilínea
ao longo de uma mata frondosa, chamada do Catassol, composta por carvalhos e
pinheiros com cerca de 600 metros de extensão e que desemboca na portada.
A Casa está rodeada
por um muro de alvenaria, rematado por motivos vazados de feição barroca e com
um portão de ferro ao centro. O percurso de aproximação faz-se através do
terreiro que desce em direção à Capela integrada na frontaria do imóvel no
sentido nascente-poente”.
Com o devido crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação
de Doutoramento na área de História (2016)
Contrariando o que
atrás foi dito, no texto seguinte, é apresentada uma outra versão sobre a
ocupação da quinta.
“Manuel Barbosa de
Albuquerque era meio-irmão, por parte do pai, do Dr. Domingos Barbosa. Natural
da Rua de Belmonte, onde os seus pais moravam, como abade reservatário da
Igreja de S. Pedro de Avintes, acedeu ao cargo de chantre a 19 de Novembro de
1732.
Um documento de 1735, indica como proprietário da casa e capela de
Fafiães o reverendo padre Manuel Barbosa, abade reservatário de Cidadelhe.
Roberth C. Smith, além
de suspeitar que a autoria da capela é de Nasoni, acha provável que o
mencionado padre é o chantre Manuel Barbosa de Albuquerque. Somos de opinião
que não se trata da mesma pessoa, uma vez que este último, na data indicada, já
era chantre.
Em 1736 resignou do
cargo no seu sobrinho, Fernando Barbosa de Albuquerque.
O chantre Manuel
Barbosa de Albuquerque faleceu em Vairão, dois anos depois do Dr. Domingos
Barbosa, a 8 de Julho de 1748.”
Fonte: António Jorge Inácio Fernandes, Porto-2006;
Dissertação de Mestrado em História da Arte em Portugal apresentada à Faculdade
de Letras da Universidade do Porto
A Capela da Nossa Senhora do Desterro
“No século XVIII a
Casa desta propriedade achava-se isolada, o que justificava a construção de um
templo em honra de Nossa Senhora de Assunção para satisfazer as necessidades de
culto da família Albuquerque e também da gente do campo que trabalhava na
quinta. A Capela foi concluída em 1735 “com obrigação de missas”.
Robert Smith atribuiu
a Nicolau Nasoni a autoria do risco da capela e dos
arranjos da casa. As
suas suposições baseiam-se nas relações de parentesco existentes entre a
família do reverendo Manuel Barbosa de Albuquerque e o artista italiano. O seu
irmão, Domingos Barbosa, que morava «na rua de Detrás da Sé”, estava
relacionado com Nicolau Nasoni.
(…) O interior da Casa
está unido à Capela por uma passagem perpendicular ao corredor central que liga
diretamente ao coro através de uma escada. Desta forma, os donos ou
usufrutuários podiam assistir aos ofícios religiosos sem se misturarem com a
população que assistia à missa. O teto apresenta-se forrado por caixotões
pintados com motivos celestiais que são dignos de apreço”.
Com o devido crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de
Doutoramento na área de História (2016)
Vista aérea da Casa de Fafiães – Fonte: Google maps
Tanque e Casa da Quinta de Fafiães – Fonte: SIPA
Quinta do Chantre
A casa da Quinta do Chantre localiza-se um pouco a Noroeste
da casa da Quinta de Fafiães da qual dista algumas centenas de metros, com
acesso pela confluência das ruas do Chantre e Nova do Chantre na fronteira do
Concelho da Maia. Esta quinta ergueu-se à custa da Quinta de Fafiães que lhe é
próxima.
A história da Casa da Quinta do Chantre está ligada à figura
do chantre da Sé do Porto, Fernando Barbosa de Albuquerque, que já exercia
aquele cargo em 1736, sucedendo nele a seu tio, Manuel Barbosa de Albuquerque, que
o exerceu desde 1732 até 1736 e que habitava a vizinha Quinta de Fafiães.
Era filho de António Barbosa de Albuquerque e de D. Teresa Angélica
de Sampaio e irmão de Álvaro Barbosa Albuquerque. Nasceu em Matosinhos no ano
de 1716 e faleceu a 26 de Maio de 1772, tendo ficado sepultado na Sé do Porto.
Fernando Barbosa de Albuquerque que herdaria a casa do seu
tio, Dr. Domingos Barbosa na Rua D. Hugo, fez parte do grupo de personalidades
do Cabido que, em Abril de 1757, apelou a Sua Majestade, por intermédio do
Duque de Lafões, que intercedesse com piedade e clemencia para com os
revoltosos que se opunham à Companhia dos Vinhos do Alto Douro.
Tendo em conta a época da construção e os elementos
decorativos que a aproximam do modelo das villas italianas, Robert Smith atribui o projecto da Casa a
Nicolau Nasoni.
Tudo indica que a casa foi reformulada a partir de uma
construção preexistente, tal como também aconteceu nas quintas da Prelada, de
Ramalde, do Rio e de Sam Thiago.
Aqui a capela de que se desconhece o orago é mais modesta
que a da Quinta de Fafiães e encontra-se numa das extremidades da casa.
Na aproximação à casa observa-se a escadaria dupla com dois
lanços divergentes / convergentes simétricos, com um patamar intermédio que
culmina no patamar superior, guarnecido por balaústres graníticos que conduzem
ao piso nobre.
A fachada principal está orientada a nordeste, define um
corpo retangular com piso térreo e piso nobre, com eixo vertical formado pela
sequência da portada e a torre. Em relação ao sistema de aberturas temos quatro
janelas, duas de sacada com balaústres em pedra e mais duas de peito
distribuídas em simetria para os dois lados do alçado.
No térreo existem quatro portas que servem as arrecadações.
Note-se que a pedra de armas existente na fachada da Casa da Quinta do
Chantre é igual à da Casa do Dr. Domingos Barbosa.
“A Casa é
constituída por um bloco rectangular, de tendência claramente horizontal,
apenas interrompido pela torre que se ergue ao centro da fachada principal. A
pedra de armas dos Barbosa de Albuquerque encontra-se sobre a janela da torre,
no eixo do portal principal. Esta fachada “(…) é, depois do Palácio do Freixo,
o mais rico exemplar, nos arredores do Porto, da ideia que Nasoni expressou, no
frontispício de Mateus, de uma passagem térrea central flanqueada por uma dupla
escadaria conduzindo à entrada nobre da casa”. De um dos lados da fachada e
formando um ângulo recto com esta, situa-se a capela, rematada por frontão
contra-curvado encimado por pináculos de dimensões consideráveis. O portal
principal e a janela de sacada com balaústres situam-se no mesmo eixo central,
recordando o esquema idêntico utilizado na capela da Casa de Fafiães.
Uma última
referência para os chafarizes implantados junto ao portão, que tal como as
janelas do jardim, apresentam vãos centrais, bastante recortados”.
Fonte: Rosário
Carvalho - IGESPAR
“No Arquivo Distrital do Porto existe o registo de «nomeação
de Legitimação e perfilhação de Custódio de José Barbosa e sua irmã, Dona Ana,
da cidade do Porto, pelo Reverendo Fernando Barbosa de Albuquerque, chantre da
Santa Sé do Porto, morador na quinta do Fafiães», datado de 20 de set. de 1759. Importa sublinhar que o local referido é a Quinta de
Fafiães, onde «[…] por virtude deste publico instromento […] os legitimava e
havia por legitimados de hoje este dia para todo o sempre para que pudessem
herdar uma fazenda e herança e a [h]abelitarsse em tudo e presenteado […] e
para assim cumprir, e sustentar disse que obrigava suas pessoas e todos os seus
bens moveis e de raiz habidos e por haver, direitos e acçoens deles e terço da
sua alma a fim do cumprimento firmeza e validade de todo o conteúdo.
Os pedidos de legitimação partiram da iniciativa do pai,
declarando que “[…] sendo já clérigo de ordem houve três filhos, entre os quais
hum deles chamado José, havido de Maria Rosa, solteira, também moradora na dita
cidade [Porto]”.
Com o devido crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de
Doutoramento na área de História (2016)
“Uma cópia da
Conservatória do Registo Predial de Matosinhos informa que a Quinta do Chantre
ficava no Lugar de Fafiães “[…]
composta de casa nobre [de dois pavimentos],
[capela], [casa] ««dita para caseiros e aidos, tendo terrenos adjacentes
denominados: Campos dos Socalcos,
Campo da Nova, Campo do Meio, Campo do tanque, Campo da Agra, campo da Calçada e Bouça da Agra Pequena e Bouça
da Agra Grande […]”.
[…] A Quinta de
Fafiães foi sendo retalhada ao longo do tempo. Não sabemos muito bem os
contornos que levaram à alienação dos terrenos, mas no século XX a Casa do
Chantre estava confinada ao espaço “entre muros”. António Godinho da Silva,
comerciante abastado e radicado no Brasil onde fez fortuna no Rio de Janeiro,
refere no testamento datado de 12 de agosto de 1887:
“uma quinta de lavoura, chamada quinta do Chantre, sita
no lugar de Fafiães” que deixou a Ana Augusta Lima “senhora que vive em minha
companhia há muitos anos”.
Com o devido
crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação
de Doutoramento na área de História (2016)
António Godinho da Silva que, à data do seu falecimento, era proprietário da Quinta do Chantre, de acordo com o texto anterior, foi um
emigrante brasileiro que, em 8 de Junho de 1874, adquiriu terrenos até ao mar
para concluir o traçado da actual Rua do Godinho, em Matosinhos. Antes, em
1867, já tinha entrado na posse dos terrenos desde Santana, o lugar em que
construiu a sua habitação, junto do chamado “campo do chouso”, até a Rua do Juncal
de Cima, actual Rua Brito Capelo, que foram posteriormente oferecidos à Câmara
Municipal de Matosinhos, depois da rua traçada e macadamizada.
Em 27 Fevereiro de 1887, António Godinho morre sem deixar descendência, deixando parte do seu património à Confraria do Bom Jesus, com a determinação expressa de cuidar das escolas criadas pela Confraria e atribuir prémios pecuniários aos alunos.
“Antonio GODINHO da
Silva nasceu na aldeia de Linhares de Cima da então freguesia de Sam Salvador
de Bouças de Matosinhos a 30/11/1807, sendo filho de João Godinho (natural da
freguesia de São Cristovão no concelho de Ovar) e de D. Maria Moreira (natural
da freguesia de Romariz no concelho da Feira), neto paterno de Manoel Jose da
Cunha e Rosa Godinho, e neto materno de Manoel Caetano e Rosa Moreira (ambos
naturais de Romariz).
foi batizado na Igreja do Sam Salvador de Bouças de Matosinhos a 02/12/1807 pelo padre Coadjutor Francisco Alvares de Carvalho, tendo sido seus padrinhos Jose Antonio Aroso (de Nevogilde) e Jozefa Maria (de Cimo de Vila) casada com João Martins.
(…) Um grupo de amigos seus, atendendo às suas nobres virtudes, conseguiu que o Ministro do Reino de então lhe concedesse o título de Conde de Santana que ele recusou usar”.
Cortesia de José Rodrigues
O palacete onde
viveu António Godinho da Silva, em Matosinhos é, hoje, Monumento de Interesse
Municipal, pelo Anúncio n.º 59/2021, DR, 2.ª série, n.º 67.
Para que tal fosse possível, na década de 1990, a casa seria adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos à família Costa Braga sendo, em 1997, readaptada para Casa da Juventude, com projecto de remodelação e desenho do mobiliário a cargo do arquitecto Siza Vieira.
A partir de finais do
século XIX, a Quinta do Chantre teve vários proprietários e, em 1972, Francisco
Luís Proença de Sá Morais (jurista) vendê-la-ia a António Alves Quelhas, viúvo
de Albina Duarte de Sousa e Silva (construtor civil) que a manteve na sua posse
até 1978. Voltando à história da Quinta do Chantre, após pertencer a
António Godinho da Silva (1807-1883) e por herança à sua companheira, Ana
Augusta Lima, a partir de finais do século XIX teve vários proprietários e, em
1972, Francisco Luís Proença de Sá Morais (jurista) vendê-la-ia a António Alves
Quelhas, viúvo de Albina Duarte de Sousa e Silva (construtor civil) que a
manteve na sua posse até 1978.
Nesta data, passou para “Empreendimentos Turísticos” de Thierry Roussel e Christina Onassis, a famosa filha do armador grego e no mesmo ano pelo DL de 12 de Setembro, ocorre a Reclassificação da Quinta do Chantre (Imóvel de Interesse Público), com o objetivo de passar a incluir a Alameda das Tílias.
Desde 1988, acabou nas mãos do actual proprietário, Manuel
Jesus Pereira Pinto (empresário), depois de ter sido propriedade do BPI (Banco Português de Investimento),
grupo financeiro formado em 1985.
Este último acabou por habitar a casa, o que não aconteceu praticamente com a generalidade dos anteriores donos, que foi alvo de uma intervenção, para o efeito, da autoria do arquitecto Carlos Prata.
Em 27 Fevereiro de 1887, António Godinho morre sem deixar descendência, deixando parte do seu património à Confraria do Bom Jesus, com a determinação expressa de cuidar das escolas criadas pela Confraria e atribuir prémios pecuniários aos alunos.
foi batizado na Igreja do Sam Salvador de Bouças de Matosinhos a 02/12/1807 pelo padre Coadjutor Francisco Alvares de Carvalho, tendo sido seus padrinhos Jose Antonio Aroso (de Nevogilde) e Jozefa Maria (de Cimo de Vila) casada com João Martins.
(…) Um grupo de amigos seus, atendendo às suas nobres virtudes, conseguiu que o Ministro do Reino de então lhe concedesse o título de Conde de Santana que ele recusou usar”.
Cortesia de José Rodrigues
Para que tal fosse possível, na década de 1990, a casa seria adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos à família Costa Braga sendo, em 1997, readaptada para Casa da Juventude, com projecto de remodelação e desenho do mobiliário a cargo do arquitecto Siza Vieira.
Palacete do Godinho, na Avenida Afonso Henriques, observado
a partir do início da Rua do Godinho – Fonte: Google maps
Voltando à história da Quinta do Chantre, após pertencer a
António Godinho da Silva (1807-1883) passou por herança à sua companheira, Ana Augusta
Lima. Por diversas ocasiões terá sido arrendada. Assim, em 26 de Maio de 1892,
surgia o anúncio do seu arrendamento, de acordo com publicidade inserida no
jornal “O Comércio do Porto”.
Nesta data, passou para “Empreendimentos Turísticos” de Thierry Roussel e Christina Onassis, a famosa filha do armador grego e no mesmo ano pelo DL de 12 de Setembro, ocorre a Reclassificação da Quinta do Chantre (Imóvel de Interesse Público), com o objetivo de passar a incluir a Alameda das Tílias.
Este último acabou por habitar a casa, o que não aconteceu praticamente com a generalidade dos anteriores donos, que foi alvo de uma intervenção, para o efeito, da autoria do arquitecto Carlos Prata.
A traça da Casa de Recarei data dos séculos XVII e XVIII,
embora alguns manuscritos do séc. XV mencionem já a sua existência. O Mosteiro
de Leça do Balio, nomeadamente a Ordem de Malta, foi o primeiro proprietário da
quinta.
No declinar do séc. XVI, a quinta pertencia a Lopo Camelo e
esposa D. Inês Coelho. Foi herdada por sua bisneta, Maria Nunes Camêlo, que casou
com Aleixo Alão de Morais, fidalgo da nobre família dos Alões, que a
conservaram até 1958.
Foi membro ilustre desta distinta família, D. Cristóvão Alão
de Morais, notável Genealogista e autor da Pedatura Lusitana que casaria com
uma senhora da Corte, irmã colaça (irmã de leite) de D. Afonso VI e D. Pedro II.
Foi nesta época que construíram os deslumbrantes jardins, fronteiros à fachada
poente, desenhados por Nicolau Nasoni, (estilo barroco).
Desvinculada das ordens religiosas, é portanto nas mãos da
família Alão de Morais que casa sofre profundas intervenções, nasce o jardim e
são plantadas algumas das espécies que ainda hoje lhe dão vida, cor e aromas
intensos.
É neste período que Nasoni, artista italiano responsável
pelo projecto da Igreja e Torre dos Clérigos entre outras obras barrocas
edificadas no Norte do País naquele período, desenvolve a pedido da família
Alão o fontanário octogonal de estilo barroco que é hoje é ex-libris do jardim.
“O sítio de Recarei
deverá ter sido um dos primeiros locais habitados da freguesia de Leça do
Bailio, surgindo referenciado em documentos desde o século XI. Todavia, a Casa
e respectiva Quinta remontam ao século XV, sendo que o edifício que observamos
actualmente foi construído no século XVI e modificado nas centúrias
imediatamente posteriores.
Igualmente conhecida
por Quinta do Alão, a Casa de Recarei deve esta designação à família Alão de
Moraes, proprietária deste espaço desde o século XVII, em consequência do
casamento de Maria Nunes Camelo, herdeira da Quinta, com Aleixo Alão de Moraes.
As armas da família encontram-se patentes no portão da propriedade, num outro
portão de dimensões mais reduzidas e ainda numa das fontes.
A Casa, de planta em
forma de U, foi associada à capela de Nossa Senhora da Assunção já no século
XVIII. Esta, apresenta fachada de linhas simples, rematada na empena por uma torre
sineira, situada no eixo do portal principal e da janela que se lhe sobrepõe. O
alçado da Casa é bastante regular, destacando-se a escadaria e a varanda,
melhoramentos contemporâneos da intervenção na capela.
O jardim, magnífico
exemplar de arquitectura paisagística do século XVII, deverá remontar à época
em que habitou a casa D. Cristóvão Alão de Morais, célebre genealogista e autor
da Pedatura Lusitana. Organizado
em plataformas desniveladas, tão características dos jardins do Norte, este
espaço beneficia de um sistema de distribuição de águas, integrado no pavimento
em caleiras de granito, que ainda existe. O que explica a existência de
diversas fontes e chafarizes, que deveriam funcionar como reservatórios de
água, a ser distribuída conforme necessário.
Os diferentes
elementos arquitectónicos dispersos pelo jardim têm vindo a ser atribuídos a
Nicolau Nasoni. Entre os mais significativos encontra-se uma fonte, cujo muro é
rematado lateralmente por flores-de-lis e pináculos característicos da obra
deste arquitecto italiano, ou o chafariz com um golfinho, motivo bastante
utilizado por Nasoni. De acordo com Pinho Brandão, os pináculos que rematam as
colunas, na entrada da Quinta, o portal de entrada no terreiro (semelhante a um
outro da Quinta de Santa Cruz do Bispo), ou as duas edículas do jardim, deverão
ser, igualmente, obra de Nicolau Nasoni”.
Com o devido crédito a Rosário Carvalho; IPPAR
Portão de Entrada da Quinta do Alão – Ed. José Eduardo Gama
(2006); IPPAR
Casa de Recarei da Quinta do Alão
Francisco Assis Jácome de Vasconcelos é desde há mais de 40
anos, o proprietário da quinta que se situa na Rua da Mainça nº 204, Leça do
Balio, Matosinhos, sucedendo a Jorge Nuno Matos, que estava na posse dela desde
1960.
A quinta está classificada como Imóvel de Interesse Público
desde Fevereiro de 2002.
“Os actuais jardins, notavelmente bem
mantidos, têm um cunho seiscentista – com os típicos bancos, alegretes, lago
octogonal de desenho barroco, contrafortes e muros talhados em grandes blocos
de granito – com alguns acrescentos recentes de bom gosto. São talvez os
jardins antigos mais bem conservados de toda a região do Porto.
Destacam-se, pelo
porte, várias japoneiras e rododendros, um salgueiro e alguns fetos arbóreos;
e, pela sua raridade, um teixo multi-secular, de tronco tipicamente encordoado,
que no Verão dá grande profusão de bagas vermelhas. A antiga horta e pomar
foram transformados no século passado num bosquete com uma grande variedade
botânica, exibindo exemplares bem desenvolvidos de Araucaria bidwillii,
Araucaria angustifolia, Ginkgo biloba e Metasequoia glyptostroboides. Ladeia
este jardim recente um caminho de buxo coberto por uma arcada de glicínias de
flor roxa e perfume intenso”.
Fonte: “campoaberto.pt”
Uma metasequoia na Quinta do Alão – Ed. “campoaberto.pt”
Jardim da Quinta do Alão - Ed. “campoaberto.pt”
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