sábado, 16 de setembro de 2017

(Conclusão) - Actualização em 05/02/2018 e 27/02/2019

20.16 Quinta da Ponte da Pedra (em ruínas)



Esta quinta localiza-se junto da antiga estrada romana que ligava a cidade do Porto (Portus) a Braga (Bracara Augusta), uma propriedade de campo secular que se estende até à margem do rio Leça, que é atravessado por uma velha ponte de pedra medieval de fundação romana, mais conhecida por Ponte da Pedra, que daria o nome à quinta.
Desde meados do século XIX, de acordo com escritos de Camilo Castelo Branco, por aqui se alugavam barcos, que rumavam rio acima e rio abaixo, desde a Ponte da Pedra até ao Mosteiro de Nossa Senhora da Conceição.
A Casa e Quinta da Ponte da Pedra, como sempre foi conhecida, esteve na posse de António Augusto Correia Alves Guimarães (1844-1899) e, posteriormente, nos seus herdeiros até 1915, ano em que foi vendida.
Neste ano, houve um grande incêndio e parte do recheio que ainda não tinha sido retirado desapareceu. Os novos proprietários chegaram a explorar lá um Casino.



“Situa-se esta quinta e o respectivo palacete junto à Ponte da Pedra, na Rua Godinho Faria, em Leça do Balio.
Completamente abandonada e com o edificado em ruínas, parece ter sido o local onde no século XIX, funcionando como estalagem, o escritor Camilo Castelo Branco, gostava de passar algum tempo escrevendo e divertindo-se em passeatas no rio Leça, que passa próximo. Parece ter sido daqui que D. Miguel aquando do Cerco do Porto comandou as suas tropas na luta que encetou com seu irmão, D. Pedro.
A última proprietária não tendo descendência, deixaria a propriedade em testamento para o Estado, para servir crianças e idosos desfavorecidos, tendo nela funcionado um albergue de mendicidade.
Após a revolução do 25 de Abril, os idosos que nela habitavam foram desviados para um lar no Monte dos Burgos e as instalações ocupadas com retornados das ex-colónias.
Seguiu-se um período de degradação constante e em 2005 deflagrou um incêndio que arrasou as instalações, restando apenas as paredes exteriores”.
Fonte:  “monumentosdesaparecidos.blogspot”




Sobre o texto anterior, na realidade, Camilo Castelo Branco frequentava a Estalagem da Ponte da Pedra onde teve uma refrega, que ficou célebre, com uns seus adversários, a propósito de umas actrizes a actuar no Teatro S. João e o tal albergue foi inaugurado em 15 de Janeiro de 1949 e começou por dar morada a 150 necessitados.
Em 1897, entrou em funcionamento, em Leça do Balio, uma praia fluvial que tomaria a designação dos terrenos que marginavam o rio Leça e que pertenciam à Quinta da Ponte da Pedra. Ficou a ser conhecida como a “Praia Fluvial da Ponte da Pedra” ou “Praia de S. Mamede”.

 
 

Praia de S. Mamede

 
 
“Foi esta praia fundada com a finalidade de beneficiar as populações, ofertando-lhes um local muito aprazível de lazer, pois os seus três criadores afirmavam não pretender lucros com a iniciativa, mas tão somente beneficiar a freguesia (…).
A afluência foi enorme logo no início, e promissora
para os anos subsequentes, pois o jornal mamedense, lamentavelmente de vida efémera, “O LIDADOR”, em 17/9/1910 referia-se à praia de S. Mamede de Infesta dizendo estar “espantosamente
animada, constantemente repleta de banhistas e forasteiros. E decididamente o rendez-vous da elite, não só de S. Mamede como do Porto”. E noticiava que as multidões,aos domingos à tarde, tornavam difícil o trânsito por aquelas bandas (…)”.
Cortesia de Foto-porto


 
 

“Praia Fluvial da Ponte da Pedra” ou “Praia de S. Mamede”
 
 
 
A partir de determinada época, a exploração da praia era realizada pelo Padre Joaquim de Leça do Balio para ajudar a angariar dinheiro para a Igreja.
Voltando à Quinta da Ponte da Pedra, o Decreto-Lei 48334 de  16 de Abril de 1968 que entregava as instalações ao Albergue Distrital de Mendicidade do Porto começava assim:
“Considerando que o Albergue Distrital de Mendicidade do Porto necessita, para alargamento das suas instalações, de uma propriedade do Estado sita em Ponte da Pedra…”




Palacete em ruínas – Ed. Alexandre Silva em 2017




Entrada da quinta – Ed. Alexandre Silva em 2017




Quinta da Ponte da Pedra – Ed. “portosombrio.blogspot.pt”



“Ainda hoje, apesar do conjunto de intenções da Câmara Municipal de Matosinhos para proteger a propriedade e reabilitá-la, o palacete e os edifícios adjacentes da quinta continuam devolutos, ensombrado uma área repleta de história e vital para a arqueologia e para o desenvolvimento cultural de Leça de Balio, que é o rio Leça e as áreas de proximidade do seu notável mosteiro, que se situa nas imediações”.
Fonte: “portosombrio.blogspot.pt”, 2016 






Casa de Fafiães e Capela de Nossa Senhora do Desterro – Fonte: Manuel Almeida Carneiro, In Dissertação de Doutoramento na área de História (2016)



Na freguesia de Leça do Balio, próximo dos limites do Concelho da Maia, fica o lugar de Fafiães, que daria o nome a esta quinta.
 O topónimo Fafiani é de origem germânica mas há também quem o relacione com o nome faffianis ou faffianes dado aos militares da Ordem dos Hospitalários, que esteve aqui representada.
A Quinta de Fafiães também conhecida por Quinta da Vacaria é uma propriedade privada, pertencente ao arquitecto e artista plástico Jorge Pedra. A sua dimensão era bem maior no século XVIII porque abrangia os terrenos contíguos de outra quinta: a Quinta do Chantre.
O acesso à propriedade é feito pela antiga Estrada Real do Porto a Braga, que saindo do antigo Campo de Santo Ovídio (Porto), atravessava Paranhos, S. Mamede de Infesta e o rio Leça na Ponte da Pedra, prosseguindo em direção à Barca da Trofa e Braga.
A entrada na propriedade é feita por um portão na Estrada Porto/Braga, agora a Rua Augusto Simões perto da confluência com a Rua Sá e Melo no lugar de Catassol, seguindo em direcção a Oeste, e encontrando-se a casa da quinta a cerca de duas centenas de metros depois de percorrido um caminho que aparenta ser uma «Servidão de Passagem».
No século XVIII a propriedade estava aforada à Baliagem de Leça.


“A quinta serviu de habitação temporária ou de recreio a Manuel Barbosa de Albuquerque, abade reservatório de Cidadelhe. Refira-se que o reverendo era irmão de Domingos Barbosa de Albuquerque, cónego magistral do Cabido da Sé do Porto. No início do século XIX, a propriedade se achava na posse de D. Maria da Natividade, na qualidade de prazo de vidas foreiro à Ordem de Malta.
O acesso é feito através de um caminho de terra batida, que descreve uma trajetória curvilínea ao longo de uma mata frondosa, chamada do Catassol, composta por carvalhos e pinheiros com cerca de 600 metros de extensão e que desemboca na portada.
A Casa está rodeada por um muro de alvenaria, rematado por motivos vazados de feição barroca e com um portão de ferro ao centro. O percurso de aproximação faz-se através do terreiro que desce em direção à Capela integrada na frontaria do imóvel no sentido nascente-poente”.
Com o devido crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de Doutoramento na área de História (2016)



Contrariando o que atrás foi dito, no texto seguinte, é apresentada uma outra versão sobre a ocupação da quinta.


“Manuel Barbosa de Albuquerque era meio-irmão, por parte do pai, do Dr. Domingos Barbosa. Natural da Rua de Belmonte, onde os seus pais moravam, como abade reservatário da Igreja de S. Pedro de Avintes, acedeu ao cargo de chantre a 19 de Novembro de 1732.
Um documento de 1735, indica como proprietário da casa e capela de Fafiães o reverendo padre Manuel Barbosa, abade reservatário de Cidadelhe.
Roberth C. Smith, além de suspeitar que a autoria da capela é de Nasoni, acha provável que o mencionado padre é o chantre Manuel Barbosa de Albuquerque. Somos de opinião que não se trata da mesma pessoa, uma vez que este último, na data indicada, já era chantre.
Em 1736 resignou do cargo no seu sobrinho, Fernando Barbosa de Albuquerque.
O chantre Manuel Barbosa de Albuquerque faleceu em Vairão, dois anos depois do Dr. Domingos Barbosa, a 8 de Julho de 1748.”
Fonte: António Jorge Inácio Fernandes, Porto-2006; Dissertação de Mestrado em História da Arte em Portugal apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto




A Capela da Nossa Senhora do Desterro


“No século XVIII a Casa desta propriedade achava-se isolada, o que justificava a construção de um templo em honra de Nossa Senhora de Assunção para satisfazer as necessidades de culto da família Albuquerque e também da gente do campo que trabalhava na quinta. A Capela foi concluída em 1735 “com obrigação de missas”.
Robert Smith atribuiu a Nicolau Nasoni a autoria do risco da capela e dos
arranjos da casa. As suas suposições baseiam-se nas relações de parentesco existentes entre a família do reverendo Manuel Barbosa de Albuquerque e o artista italiano. O seu irmão, Domingos Barbosa, que morava «na rua de Detrás da Sé”, estava relacionado com Nicolau Nasoni.
(…) O interior da Casa está unido à Capela por uma passagem perpendicular ao corredor central que liga diretamente ao coro através de uma escada. Desta forma, os donos ou usufrutuários podiam assistir aos ofícios religiosos sem se misturarem com a população que assistia à missa. O teto apresenta-se forrado por caixotões pintados com motivos celestiais que são dignos de apreço”.
Com o devido crédito  a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de Doutoramento na área de História (2016)



Vista aérea da Casa de Fafiães – Fonte: Google maps


Tanque e Casa da Quinta de Fafiães – Fonte: SIPA







Quinta do Chantre



A casa da Quinta do Chantre localiza-se um pouco a Noroeste da casa da Quinta de Fafiães da qual dista algumas centenas de metros, com acesso pela confluência das ruas do Chantre e Nova do Chantre na fronteira do Concelho da Maia. Esta quinta ergueu-se à custa da Quinta de Fafiães que lhe é próxima.
A história da Casa da Quinta do Chantre está ligada à figura do chantre da Sé do Porto, Fernando Barbosa de Albuquerque, que já exercia aquele cargo em 1736, sucedendo nele a seu tio, Manuel Barbosa de Albuquerque, que o exerceu desde 1732 até 1736 e que habitava a vizinha Quinta de Fafiães.
Era filho de António Barbosa de Albuquerque e de D. Teresa Angélica de Sampaio e irmão de Álvaro Barbosa Albuquerque. Nasceu em Matosinhos no ano de 1716 e faleceu a 26 de Maio de 1772, tendo ficado sepultado na Sé do Porto.
Fernando Barbosa de Albuquerque que herdaria a casa do seu tio, Dr. Domingos Barbosa na Rua D. Hugo, fez parte do grupo de personalidades do Cabido que, em Abril de 1757, apelou a Sua Majestade, por intermédio do Duque de Lafões, que intercedesse com piedade e clemencia para com os revoltosos que se opunham à Companhia dos Vinhos do Alto Douro.
Tendo em conta a época da construção e os elementos decorativos que a aproximam do modelo das villas italianas,  Robert Smith atribui o projecto da Casa a Nicolau Nasoni.
Tudo indica que a casa foi reformulada a partir de uma construção preexistente, tal como também aconteceu nas quintas da Prelada, de Ramalde, do Rio e de Sam Thiago.
Aqui a capela de que se desconhece o orago é mais modesta que a da Quinta de Fafiães e encontra-se numa das extremidades da casa.
Na aproximação à casa observa-se a escadaria dupla com dois lanços divergentes / convergentes simétricos, com um patamar intermédio que culmina no patamar superior, guarnecido por balaústres graníticos que conduzem ao piso nobre.
A fachada principal está orientada a nordeste, define um corpo retangular com piso térreo e piso nobre, com eixo vertical formado pela sequência da portada e a torre. Em relação ao sistema de aberturas temos quatro janelas, duas de sacada com balaústres em pedra e mais duas de peito distribuídas em simetria para os dois lados do alçado.
No térreo existem quatro portas que servem as arrecadações.
Note-se que a pedra de armas existente na fachada da Casa da Quinta do Chantre é igual à da Casa do Dr. Domingos Barbosa.



“A Casa é constituída por um bloco rectangular, de tendência claramente horizontal, apenas interrompido pela torre que se ergue ao centro da fachada principal. A pedra de armas dos Barbosa de Albuquerque encontra-se sobre a janela da torre, no eixo do portal principal. Esta fachada “(…) é, depois do Palácio do Freixo, o mais rico exemplar, nos arredores do Porto, da ideia que Nasoni expressou, no frontispício de Mateus, de uma passagem térrea central flanqueada por uma dupla escadaria conduzindo à entrada nobre da casa”. De um dos lados da fachada e formando um ângulo recto com esta, situa-se a capela, rematada por frontão contra-curvado encimado por pináculos de dimensões consideráveis. O portal principal e a janela de sacada com balaústres situam-se no mesmo eixo central, recordando o esquema idêntico utilizado na capela da Casa de Fafiães.
Uma última referência para os chafarizes implantados junto ao portão, que tal como as janelas do jardim, apresentam vãos centrais, bastante recortados”.  
 Fonte: Rosário Carvalho - IGESPAR



“No Arquivo Distrital do Porto existe o registo de «nomeação de Legitimação e perfilhação de Custódio de José Barbosa e sua irmã, Dona Ana, da cidade do Porto, pelo Reverendo Fernando Barbosa de Albuquerque, chantre da Santa Sé do Porto, morador na quinta do Fafiães», datado de 20 de set. de 1759. Importa sublinhar que o local referido é a Quinta de Fafiães, onde «[…] por virtude deste publico instromento […] os legitimava e havia por legitimados de hoje este dia para todo o sempre para que pudessem herdar uma fazenda e herança e a [h]abelitarsse em tudo e presenteado […] e para assim cumprir, e sustentar disse que obrigava suas pessoas e todos os seus bens moveis e de raiz habidos e por haver, direitos e acçoens deles e terço da sua alma a fim do cumprimento firmeza e validade de todo o conteúdo.
Os pedidos de legitimação partiram da iniciativa do pai, declarando que “[…] sendo já clérigo de ordem houve três filhos, entre os quais hum deles chamado José, havido de Maria Rosa, solteira, também moradora na dita cidade [Porto]”.
Com o devido crédito  a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de Doutoramento na área de História (2016)



“Uma cópia da Conservatória do Registo Predial de Matosinhos informa que a Quinta do Chantre ficava no Lugar de Fafiães “[…] composta de casa nobre [de dois pavimentos], [capela], [casa] ««dita para caseiros e aidos, tendo terrenos adjacentes denominados: Campos dos Socalcos, Campo da Nova, Campo do Meio, Campo do tanque, Campo da Agra, campo da Calçada e Bouça da Agra Pequena e Bouça da Agra Grande […]”.
[…] A Quinta de Fafiães foi sendo retalhada ao longo do tempo. Não sabemos muito bem os contornos que levaram à alienação dos terrenos, mas no século XX a Casa do Chantre estava confinada ao espaço “entre muros”. António Godinho da Silva, comerciante abastado e radicado no Brasil onde fez fortuna no Rio de Janeiro, refere no testamento datado de 12 de agosto de 1887:
“uma quinta de lavoura, chamada quinta do Chantre, sita no lugar de Fafiães” que deixou a Ana Augusta Lima “senhora que vive em minha companhia há muitos anos”.
Com o devido crédito a Manuel Almeida Carneiro; Dissertação de Doutoramento na área de História (2016)



António Godinho da Silva que, à data do seu falecimento, era proprietário da Quinta do Chantre, de acordo com o texto anterior, foi um emigrante brasileiro que, em 8 de Junho de 1874, adquiriu terrenos até ao mar para concluir o traçado da actual Rua do Godinho, em Matosinhos. Antes, em 1867, já tinha entrado na posse dos terrenos desde Santana, o lugar em que construiu a sua habitação, junto do chamado “campo do chouso”, até a Rua do Juncal de Cima, actual Rua Brito Capelo, que foram posteriormente oferecidos à Câmara Municipal de Matosinhos, depois da rua traçada e macadamizada.
Em 27 Fevereiro de 1887, António Godinho morre sem deixar descendência, deixando parte do seu património à Confraria do Bom Jesus, com a determinação expressa de cuidar das escolas criadas pela Confraria e atribuir prémios pecuniários aos alunos.
 
 
 
“Antonio GODINHO da Silva nasceu na aldeia de Linhares de Cima da então freguesia de Sam Salvador de Bouças de Matosinhos a 30/11/1807, sendo filho de João Godinho (natural da freguesia de São Cristovão no concelho de Ovar) e de D. Maria Moreira (natural da freguesia de Romariz no concelho da Feira), neto paterno de Manoel Jose da Cunha e Rosa Godinho, e neto materno de Manoel Caetano e Rosa Moreira (ambos naturais de Romariz).
foi batizado na Igreja do Sam Salvador de Bouças de Matosinhos a 02/12/1807 pelo padre Coadjutor Francisco Alvares de Carvalho, tendo sido seus padrinhos Jose Antonio Aroso (de Nevogilde) e Jozefa Maria (de Cimo de Vila) casada com João Martins.
 (…) Um grupo de amigos seus, atendendo às suas nobres virtudes, conseguiu que o Ministro do Reino de então lhe concedesse o título de Conde de Santana que ele recusou usar”.
Cortesia de José Rodrigues
 
 
O palacete onde viveu António Godinho da Silva, em Matosinhos é, hoje, Monumento de Interesse Municipal, pelo Anúncio n.º 59/2021, DR, 2.ª série, n.º 67.
Para que tal fosse possível, na década de 1990, a casa seria adquirida pela Câmara Municipal de Matosinhos à família Costa Braga sendo, em 1997, readaptada para Casa da Juventude, com projecto de remodelação e desenho do mobiliário a cargo do arquitecto Siza Vieira.
 
 

Palacete do Godinho, na Avenida Afonso Henriques, observado a partir do início da Rua do Godinho – Fonte: Google maps


Voltando à história da Quinta do Chantre, após pertencer a António Godinho da Silva (1807-1883) passou por herança à sua companheira, Ana Augusta Lima. Por diversas ocasiões terá sido arrendada. Assim, em 26 de Maio de 1892, surgia o anúncio do seu arrendamento, de acordo com publicidade inserida no jornal “O Comércio do Porto”.

 
 


 
A partir de finais do século XIX, a Quinta do Chantre teve vários proprietários e, em 1972, Francisco Luís Proença de Sá Morais (jurista) vendê-la-ia a António Alves Quelhas, viúvo de Albina Duarte de Sousa e Silva (construtor civil) que a manteve na sua posse até 1978. 
Voltando à história da Quinta do Chantre, após pertencer a António Godinho da Silva (1807-1883) e por herança à sua companheira, Ana Augusta Lima, a partir de finais do século XIX teve vários proprietários e, em 1972, Francisco Luís Proença de Sá Morais (jurista) vendê-la-ia a António Alves Quelhas, viúvo de Albina Duarte de Sousa e Silva (construtor civil) que a manteve na sua posse até 1978.
Nesta data, passou para “Empreendimentos Turísticos” de Thierry Roussel e Christina Onassis, a famosa filha do armador grego e no mesmo ano pelo DL de 12 de Setembro, ocorre a Reclassificação da Quinta do Chantre (Imóvel de Interesse Público), com o objetivo de passar a incluir a Alameda das Tílias.
Desde 1988, acabou nas mãos do actual proprietário, Manuel Jesus Pereira Pinto (empresário), depois de ter sido propriedade do BPI (Banco Português de Investimento), grupo financeiro formado em 1985.
Este último acabou por habitar a casa, o que não aconteceu praticamente com a generalidade dos anteriores donos, que foi alvo de uma intervenção, para o efeito, da autoria do arquitecto Carlos Prata. 





A traça da Casa de Recarei data dos séculos XVII e XVIII, embora alguns manuscritos do séc. XV mencionem já a sua existência. O Mosteiro de Leça do Balio, nomeadamente a Ordem de Malta, foi o primeiro proprietário da quinta.
No declinar do séc. XVI, a quinta pertencia a Lopo Camelo e esposa D. Inês Coelho. Foi herdada por sua bisneta, Maria Nunes Camêlo, que casou com Aleixo Alão de Morais, fidalgo da nobre família dos Alões, que a conservaram até 1958.
Foi membro ilustre desta distinta família, D. Cristóvão Alão de Morais, notável Genealogista e autor da Pedatura Lusitana que casaria com uma senhora da Corte, irmã colaça (irmã de leite) de D. Afonso VI e D. Pedro II. Foi nesta época que construíram os deslumbrantes jardins, fronteiros à fachada poente, desenhados por Nicolau Nasoni, (estilo barroco). 
Desvinculada das ordens religiosas, é portanto nas mãos da família Alão de Morais que casa sofre profundas intervenções, nasce o jardim e são plantadas algumas das espécies que ainda hoje lhe dão vida, cor e aromas intensos.
É neste período que Nasoni, artista italiano responsável pelo projecto da Igreja e Torre dos Clérigos entre outras obras barrocas edificadas no Norte do País naquele período, desenvolve a pedido da família Alão o fontanário octogonal de estilo barroco que é hoje é ex-libris do jardim.



“O sítio de Recarei deverá ter sido um dos primeiros locais habitados da freguesia de Leça do Bailio, surgindo referenciado em documentos desde o século XI. Todavia, a Casa e respectiva Quinta remontam ao século XV, sendo que o edifício que observamos actualmente foi construído no século XVI e modificado nas centúrias imediatamente posteriores.
Igualmente conhecida por Quinta do Alão, a Casa de Recarei deve esta designação à família Alão de Moraes, proprietária deste espaço desde o século XVII, em consequência do casamento de Maria Nunes Camelo, herdeira da Quinta, com Aleixo Alão de Moraes. As armas da família encontram-se patentes no portão da propriedade, num outro portão de dimensões mais reduzidas e ainda numa das fontes.
A Casa, de planta em forma de U, foi associada à capela de Nossa Senhora da Assunção já no século XVIII. Esta, apresenta fachada de linhas simples, rematada na empena por uma torre sineira, situada no eixo do portal principal e da janela que se lhe sobrepõe. O alçado da Casa é bastante regular, destacando-se a escadaria e a varanda, melhoramentos contemporâneos da intervenção na capela.
O jardim, magnífico exemplar de arquitectura paisagística do século XVII, deverá remontar à época em que habitou a casa D. Cristóvão Alão de Morais, célebre genealogista e autor da Pedatura Lusitana. Organizado em plataformas desniveladas, tão características dos jardins do Norte, este espaço beneficia de um sistema de distribuição de águas, integrado no pavimento em caleiras de granito, que ainda existe. O que explica a existência de diversas fontes e chafarizes, que deveriam funcionar como reservatórios de água, a ser distribuída conforme necessário.
Os diferentes elementos arquitectónicos dispersos pelo jardim têm vindo a ser atribuídos a Nicolau Nasoni. Entre os mais significativos encontra-se uma fonte, cujo muro é rematado lateralmente por flores-de-lis e pináculos característicos da obra deste arquitecto italiano, ou o chafariz com um golfinho, motivo bastante utilizado por Nasoni. De acordo com Pinho Brandão, os pináculos que rematam as colunas, na entrada da Quinta, o portal de entrada no terreiro (semelhante a um outro da Quinta de Santa Cruz do Bispo), ou as duas edículas do jardim, deverão ser, igualmente, obra de Nicolau Nasoni”.
Com o devido crédito a Rosário Carvalho; IPPAR




Portão de Entrada da Quinta do Alão – Ed. José Eduardo Gama (2006); IPPAR



Casa de Recarei da Quinta do Alão


Francisco Assis Jácome de Vasconcelos é desde há mais de 40 anos, o proprietário da quinta que se situa na Rua da Mainça nº 204, Leça do Balio, Matosinhos, sucedendo a Jorge Nuno Matos, que estava na posse dela desde 1960.
A quinta está classificada como Imóvel de Interesse Público desde Fevereiro de 2002.



 “Os actuais jardins, notavelmente bem mantidos, têm um cunho seiscentista – com os típicos bancos, alegretes, lago octogonal de desenho barroco, contrafortes e muros talhados em grandes blocos de granito – com alguns acrescentos recentes de bom gosto. São talvez os jardins antigos mais bem conservados de toda a região do Porto.
Destacam-se, pelo porte, várias japoneiras e rododendros, um salgueiro e alguns fetos arbóreos; e, pela sua raridade, um teixo multi-secular, de tronco tipicamente encordoado, que no Verão dá grande profusão de bagas vermelhas. A antiga horta e pomar foram transformados no século passado num bosquete com uma grande variedade botânica, exibindo exemplares bem desenvolvidos de Araucaria bidwillii, Araucaria angustifolia, Ginkgo biloba e Metasequoia glyptostroboides. Ladeia este jardim recente um caminho de buxo coberto por uma arcada de glicínias de flor roxa e perfume intenso”.
Fonte: “campoaberto.pt”



Uma metasequoia na Quinta do Alão – Ed. “campoaberto.pt”



Jardim da Quinta do Alão - Ed. “campoaberto.pt”

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