20.10 Quinta da China
A Quinta da China, localizada junto ao rio Douro, na sua
margem direita, já existia nos finais do século XVIII, sendo ocupada com uma brévia
dos padres gracianos de Santo Agostinho de Belomonte.
As grandes intervenções que a tornaram numa das quintas mais
notáveis do Porto realizaram-se, porém, já no século XIX.
A estrutura da propriedade assenta numa hábil ocupação da
escarpa que se ergue a partir do rio, obtido através da construção de muros de
suporte e de um conjunto de outros elementos decorativos, sendo também de
destacar o terraço ajardinado fronteiro à casa e voltado para o Douro, rematado
por um parapeito de grande interesse.
Em 1721 pertencia a João de Freitas que faleceu nesse ano a
8 de Setembro.
Em 1788 a quinta da China pertencia ao negociante João Lopes
Ferraz e, alguns anos mais tarde, em 1869, foi adquirida por António Martins de
Souza e Olinda Perez, pais de Aurélia de Sousa e Sofia de Sousa, ambas notáveis
pintoras.
Filha de emigrantes portugueses no Brasil e no Chile,
Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, no Chile, em 13 de Junho de 1866, sendo
a quarta de sete filhos do casal. Viria a mudar-se para Portugal juntamente com
os pais, com apenas três anos, passando a habitar a Quinta da China comprada
por seu pai, vindo este a falecer em 1874 quando Aurélia tinha apenas oito
anos.
Aurélia em 1893 entrou para a Academia de Belas-Artes do
Porto, onde foi aluna de João Marques de Oliveira, o qual muito influenciou a
sua obra.
Em 1898, Aurélia mudou-se,
acompanhada de sua irmã, Sofia, (mais
nova do que ela 4 anos) para Paris, onde frequentaram na Academia Julian, os
cursos de Jean-Paul Laurens e de Jean-Joseph Benjamin-Constant.
Sem direito a bolsas, que não eram atribuídas depois dos 25
anos, as duas irmãs só conseguem viver e estudar em Paris graças ao apoio
financeiro dos seus cunhados, José Augusto Dias, casado com Helena, a irmã mais velha, e Vasco
Ortigão Sampaio, casado com Estela.
A importante colecção de arte da família seria herdada e
prosseguida por uma filha de Estela, Marta Ortigão Sampaio, também ela,
pintora.
Parte do espólio das duas irmãs e da sua sobrinha pode ser
hoje apreciado no museu de Marta Ortigão Sampaio na Rua Nossa Senhora de
Fátima, antiga Rua das Valas, constituído por várias obras e pelo edifício
doados à cidade, por aquela que deu o seu nome ao museu.
Com um acervo que, para lá dos espólios de Aurélia e Sofia
de Sousa e da restante colecção de pintura de alguns outros autores, inclui
obras de Marta Ortigão e das suas valiosas joias e, ainda, louças das Caldas da
Rainha, móveis e reconstituições dos ambientes da grande burguesia portuense de
meados do século XX.
O museu está instalado num edifício modernista da Rua de
Nossa Senhora de Fátima, encomendado ao arquitecto José Carlos Loureiro, que o
construiu nos anos 50 em diálogo com a sua obra-prima de arquitectura de
habitação, o vizinho e contemporâneo Edifício Parnaso, pertença da irmã de
Marta Sampaio, Maria Feliciana e do músico Fernando Corrêa de Oliveira.
Marta Ortigão que casou aos 54 anos e ficou viúva 4 anos
depois acabaria por nunca viver no edifício da Rua Nossa Senhora de Fátima e
por falecer com 81 anos, a 26 de março de 1978, na Quinta de S. Mamede, hoje,
em dia, uma casa de apoio a crianças com deficiências intelectuais.
Casa da Quinta de S. Mamede na Rua Godinho de Faria nº 305
O rio Douro e o Areinho vistos da quinta da China por
Aurélia de Sousa – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
Aurélia de Souza (1866-1922) reproduziu a Quinta da China e
as paisagens que daí se desfrutavam, em várias das suas telas.
Na quinta da China
viveu Aurélia com a sua irmã Sofia, que deixaria de exercer a sua arte após o
falecimento com 55 anos de Aurélia de Sousa, ao que se disse, por doença
pulmonar acontecida por contacto com os químicos exalados das tintas aplicadas
nas suas telas.
Rio Douro visto a partir do Monte do Seminário – Lady
Jackson, In: “Fairy Lusitania” em 1873
Outra panorâmica a partir do Monte do Seminário – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
A Quinta da China, velha de muitos séculos, ainda existe e continua
a ter uma privilegiada situação sobranceira ao rio Douro.
Sobre a quinta, Agostinho Rebelo da Costa na sua
"Descrição topográfica e histórica da cidade do Porto", publicada em
1788, escreveu:
"na grandeza da
sua casa, do seu terreno, jardins, árvores e muros tem poucas
semelhantes".
O nome da quinta, segundo uma antiga tradição, tem a ver com
a actividade comercial do proprietário, que negociava com produtos provenientes
da China, nomeadamente louças e tecidos.
Durante o Cerco do Porto (1832/1833), foi montada ali uma
bateria dos liberais e quando se construiu a estrada ao longo da margem direita
do rio Douro, entre o Freixo e os Guindais, a parte mais baixa desta
propriedade desapareceu.
Nessa época desapareceria uma capela de planta poligonal revestida de azulejos.
Nessa época desapareceria uma capela de planta poligonal revestida de azulejos.
Actualmente a propriedade é pertença do grupo Mota-Engil.
Casa da Quinta da China e Capela vista de Norte em 1969 –
Ed. Teófilo Rego, AHMP; Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
Próximo à Quinta da
China - Ed. José Manuel Barbosa em 2012
Na foto acima a caminho do Rego do Lameiro ainda é visível o
que sobrou de uma capela.
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