O território da Prelada, que chegou a ir desde do Carvalhido
até, para lá da Estrada da Circunvalação, ao lugar de Seixo, está ligado à
família Pessoa e à família Noronha do morgadio da Quinta das Corujeiras, em
Guimarães, instituído em meados do século XVI por D. Violante Correia de
Mesquita.
Será António de Noronha, um sobrinho desta personagem, que
irá ser o primeiro administrador do morgadio que tinha por cabeça a Quinta das
Corujeiras.
Por outro lado, sabe-se que, em pleno século XVI, um tal
Gonçalo Pessoa, escrivão da Fazenda e escudeiro de el-rei, casado com uma tal
Catarina de Couros, tinha uma casa na Prelada.
Um membro da família Pessoa, de seu nome Luísa Pessoa, que
contrairia matrimónio com um membro da família Figueiroa, tendo residência na
Rua Nova, está também ligado à Prelada.
Por herança, o património de Luísa Pessoa vai passar para um
seu sobrinho, Simão Ribeiro Pessoa, um homem importante na governança da Câmara
do Porto.
Deambulando pela família Pessoa, a Prelada entra na órbita
da família Noronha quando, em 1633, D. Bartolomeu de Noronha casa com Maria
Pessoa de Vasconcelos, herdeira da Casa e Quinta da Prelada.
Em 1758, é D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e
Melo (7º morgado das Corujeiras), casado com D. Isabel de Noronha e Menezes, que vai incumbir Nicolau Nasoni de erguer o
palacete da Prelada.
O título honorífico de “Dom” que precede o nome dos
titulares da Prelada, após a entrada em cena da família Noronha, advém do
morgadio das Corujeiras.
“Situada na freguesia
de Ramalde, junto ao Carvalhido, na rota dos Caminhos de Santiago (antiga
estrada para a Galiza), a Quinta da Prelada elege-se como um dos espaços mais
notáveis e grandiosos do Porto.
De facto, trata-se da
maior obra de arquitetura paisagística concebida pelo arquiteto e pintor
italiano Nicolau Nasoni, concretizada, provavelmente, entre 1743 e 1748. Na
Prelada, Nasoni criou um percurso desde os obeliscos, inicialmente
situados no Carvalhido (a primeira entrada da Quinta), até à mata da
propriedade (antigo Parque de Campismo), que perfazia cerca de 1,5 km. Devido
às alterações urbanas que a zona do Carvalhido sofreu, os obeliscos acabariam
por ser transferidos para o Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, em 1937”.
Fonte: “jf-ramalde.pt”
O palacete da Quinta da Prelada teve, comprovadamente, o risco de Nicolau Nasoni e, também, no terreno envolvente, uma intervenção paisagística de relevo.
“Robert C. Smith sugere que o início da sua construção deverá ter-se iniciado entre 1743 e 1748, uma vez que a Casa da Prelada apresenta grandes semelhanças com outras residências construídas por Nasoni na mesma zona da cidade, nomeadamente no desenho do grande eixo central, assim como na utilização de emblemas heráldicos, que se salientam em diversas partes do conjunto”.
Fonte: José Manuel Lopes Cordeiro, In Jornal Público
“Até à abertura da Via
de Cintura Interna (VCI), a Casa Nobre estava ligada ao recinto onde se
eleva uma torre por um eixo com cerca de 400 metros de extensão. Vulgarmente
designada por "Castelo", esta torre é considerada um testemunho
iniciador do revivalismo em arquitetura. Em breve, parte deste percurso será
refeito, até à VCI, dando origem a um novo espaço cuja designação será de
“Jardim das Quatro Estações”.
Em 1758, Francisco
Mateus Xavier de Carvalho, pároco de Ramalde, esclarece-nos, nas Memórias
Paroquiais, sobre os diversos espaços que constituíam o conjunto paisagístico
da “(…) Quinta, que passa pella melhor destas Provincias (…)” e refere-nos que
“(...) as Cazas estão comesadas com riscos de Nazoni pintor italiano, que vive
na cidade do Porto (...)”. Nesta altura, a propriedade pertencia a D. António de Noronha e Menezes de Mesquita
e Melo, fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, e a sua mulher
D. Isabel de Noronha e Menezes, irmã de D. Manuel de Noronha e Menezes,
arcediago do Porto, que apadrinhou vários filhos de Nicolau Nasoni.
À semelhança do
Palácio do Freixo, o projeto da Casa da Prelada previa quatro torres, tendo
sido executado apenas um quarto da obra. O desenho e a gramática
decorativa empregue nos vãos da Casa da Prelada, onde predominam os elementos
heráldicos dos Noronha e Menezes, é facilmente reconhecível noutras obras de
Nasoni.
O portão nobre,
posteriormente intervencionado por Nasoni, e a primitiva casa devem respeitar à
segunda metade do século XVII. Num desenho do litógrafo Joaquim Villanova,
datado de 1833, vê-se a torre e o corpo central nasoniano, e, adossado a estes,
uma construção mais baixa, restos da casa primitiva. Esta área foi demolida no
século XIX e substituída por um volume que procurou rematar o edifício”.
Com a devida vénia a Artur Filipe dos Santos, In “Capelas do
Porto”, Universidade Sénior-Contemporânea
Casa da Prelada em 1833 – Ed. J. Villanova
“O imóvel teve várias
utilizações ao longo do século XX: Hospital de Convalescentes, em interligação
e na dependência do Hospital de Santo António (1906-1960); Centro de
Recuperação de Diminuídos Físicos (1961-1973); e, finalmente, Lar da Terceira
Idade (1974-2003).
Em 1938, o lago, as
fontes e a escadaria foram classificados como “Imóvel de interesse público”.
Esta classificação foi revogada em 1977 e passou, também, a abranger a casa, os
jardins e a mata.
Em 12 de junho de
2002, a Mesa Administrativa da Misericórdia do Porto deliberou criar-se na Casa
da Prelada um polo cultural destinado a acolher o Arquivo Histórico e a
Provedoria. Esta proposta foi apresentada por Estêvão Samagaio, então
Vice-Provedor com os pelouros do Culto e Cultura. Seguiu-se o lançamento de um
concurso, tendo sido escolhido o projeto apresentado pelo arquiteto António
Leitão Barbosa.
A Casa da Prelada – D.
Francisco de Noronha e Menezes reabriu ao público no dia 12 de maio de 2013,
dia de Nossa Senhora da Misericórdia”.
Fonte – Site: “jf-ramalde.pt”
D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo, seria
eleito provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, em 1756, e o seu neto D. Francisco de Noronha e Menezes viria
a ser o "último fidalgo da Prelada".
O pai de D. Francisco de Noronha, D. Manuel de Noronha e
Menezes de Mesquita e Melo, dotado de imensos bens de fortuna, face ao
falecimento precoce do seu primogénito, distinguiu-o deixando-lhe a terça
disponível, que incluía a Quinta da Prelada na freguesia de Ramalde, então nos
arrabaldes da cidade do Porto.
A Casa da Prelada tinha propriedades em Monção, Braga, Guimarães e no Porto.
D. Manuel de Noronha e Menezes, atrás referido, vivia em Braga rodeado da sua criadagem e com a sua esposa, uma senhora francesa, de seu nome, Francisca Joana Ettenet de Noronha, de quem teve oito filhos.
D. Francisco casaria com D. Maria Cristina Pereira Gaio de
Noronha, sua prima, que viria a falecer em 1883. Tiveram um filho, de seu nome
D. Francisco de Noronha e Menezes Júnior, que faleceu em 1890, vitimado pela
tuberculose.
Em 16 de Maio de 1903, já viúvo, D. Francisco de Noronha e Menezes,
através do seu testamento, lega a Quinta da Prelada à Santa Casa da
Misericórdia do Porto, com a obrigação, entre outras de, na Prelada, ser feito um sanatório para convalescentes.
Para uma sua criada, Maria José, que nos últimos anos lhe fez companhia, Francisco Menezes deixou o recheio da Casa da Prelada e o usofruto das suas propriedades de Guimarães.
Maria José haveria de casar com um empregado da Companhia Carris de Ferro e passaria a viver na Casa da Prelada.
D. Francisco de Noronha e Menezes morreria em 26 de Fevereiro de 1904.
Nos últimos anos de vida, ajuda o seu irmão António, que malbarata a legítima e vivia em Monção.
As visitas muito badaladas de D. Francisco de Noronha e Menezes e seu filho ao Café Lisbonense, situado
na então Rua do Bonjardim são-nos descritas nos textos seguintes.
“Este fidalgo era D. Francisco de Noronha e
Menezes, proprietário da Quinta da Prelada, uma das maiores e mais afamadas da
cidade. Ele e seu filho eram exímios jogadores de bilhar e espalhavam esta sua
arte em vários botequins da cidade, que atraía muito público masculino. O seu
filho faleceu aos 25 anos em resultado de uma tuberculose. D. Francisco pouco
lhe sobreviveu. Não havendo qualquer outra descendência deixou à S.C.M. do
Porto a sua quinta com o desejo de aí ser construído um hospital para
convalescentes. Faleceu em 1904”.
Fonte:
portoarc.blogspot.pt
“Já vai perdido
na recordação dos dias distantes o velho café Lisbonense que eu e outros meus companheiros
frequentávamos todas as noites. O Café Lisbonense ficava na Rua do Bonjardim,
do lado direito (no troço que hoje é Rua de Sá da
Bandeira, entre a Rua de 31 de Janeiro e Sampaio Bruno).
Um bom salão, que
se dividia em dois, sendo o da frente para a especialidade do café com as suas
mesas de mármore e cadeiras para os seus velhos frequentadores.
Atraía uma
frequência numerosa e distinta, do meio intelectual do Porto. Numa das
primeiras mesas do lado esquerdo era a nossa. Depois das 8 horas vinham
chegando um por um. A nossa despesa diária era baratinha: uma chávena de café
para cada um, a 30 reis por cabeça; bebidas brancas nenhumas. Nesta mesa havia
alegria, mocidade e vida! Discutia-se tudo, nada ficava para a noite seguinte.
O Lisbonense nessa época tinha boa música; um terceto completo de verdadeiros
mestres. Os concertos do Café Lisbonense marcaram pelo sucesso de Arte que eles
faziam todas as noites durante o Inverno.
No salão de trás
ficavam os bilhares, também com a sua numerosa clientela. Quando o D. Francisco
da Prelada jogava com o seu filho o número de espectadores crescia
extraordinariamente para os ver jogar!”
Fonte: portoarc.blogspot.pt; In “O Tripeiro” da Série III, de 15/10/1927
Fonte: portoarc.blogspot.pt; In “O Tripeiro” da Série III, de 15/10/1927
Casa da Prelada - Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
Casa da Prelada
Lago e Castelo (torre)
Chafariz do Cágado e Torre ao fundo
Chafariz da Quinta da Prelada (desenho de Nicolau Nazoni) –
Ed. JPortojo
Na foto acima a também chamada, segundo Rui Cunha (“portoarc.blogspot.pt”),
“Fonte de Bruguel com cabeça de medusa que lança água pela
língua e cujos cabelos transformados em cobras deitam água pelos olhos”.
Caro Américo, não era necessário uma "vénia" mas obrigado por citar a fonte. Um abraço e parabéns pela qualidade do blogue e por ajudar à perpetuação da história e da memória da nossa cidade do Porto!
ResponderEliminarAgradeço as suas amáveis palavras, esperando que continue a seguir este trabalho que faço com todo o gosto.
ResponderEliminarQuanto à citação das fontes é uma preocupação que tenho desde sempre, embora, por vezes, me seja impossível fazê-lo.
Cumprimentos