Esta quinta também é
referida como Quinta do Viso por aí ter existido, na época romana, um posto de
vigia (ou “Viso”).
Na Idade Média, terá
sido erguido, por aquelas bandas, um pequeno templo em honra de S. Gens de Arles. Pertenceu no
passado à freguesia de Ramalde e, antes da criação desta, à de Cedofeita. Hoje,
pertence à freguesia da Senhora da Hora, concelho de Matosinhos.
A quinta esteve
ligada, por séculos, ao morgadio instituído em Ramalde, um pouco antes de 1542,
por João Dias Leite, tendo passado aos seus descendentes.
Entre 1725 e 1738
surgiu a casa senhorial da Quinta de São Gens, com seu corpo retangular, um
torreão central recuado, um grande pátio fronteiro à casa, escadas exteriores,
e passagem central sob o patamar das escadas, a dar acesso ao rés-do-chão.
Quinta de S. Gens
vista da estrada da Circunvalação
Porta de entrada da
Quinta de S. Gens virada a poente para a Rua do Senhor – Ed.
“manueljosecunha.blogspot.pt”
Casa da Quinta de S.
Gens em 2006 – Ed. José Eduardo Gama
“A Quinta de São
Gens parece ser uma das que andaram ligadas durante séculos ao morgadio
instituído em Ramalde, um pouco antes de 1542, por João Dias Leite. Até à data
da intervenção de Nasoni nas quintas de Ramalde e de São Gens, o morgadio de
Ramalde foi administrado sucessivamente pelo fundador e por seus descendentes.
Terá sido durante a administração de D. Maria Leite (falecida em 1738), ou de
seus filhos, que nas Quintas de Ramalde e de São Gens se realizaram as obras
credivelmente delineadas por Nasoni, sendo notável a similitude entre ambas as
casas.
Num percurso
ainda residencial, na década de 1920, a Quinta de São Gens foi vendida a um
brasileiro, o qual executou na casa diversas obras de remodelação, depois desta
ter sido alvo de um incêndio; em 1928, a Quinta foi adquirida pelo Estado para
nela instalar a Estação Agrária do Douro Litoral, sendo hoje uma das quintas de
apoio à acção da Direcção Regional de Agricultura de Entre Douro e
Minho…Conforme se afirmou anteriormente consta que, na década de 1920, a casa
sofreu um incêndio, vindo a ser remodelada, ao que parece, pelo brasileiro que
a comprou aos antigos proprietários; terá sido então que lhe foi acrescentado
um prolongamento para o lado Norte e que se ampliou o pátio para o mesmo lado,
suprimindo as escadas exteriores e ajardinando o terreiro fronteiro, com
canteiros abiscoutados, plantados de palmeiras e arbustos, em obediência ao
gosto então expandido entre nós por numerosos emigrantes enriquecidos no
Brasil, podendo-se levantar a hipótese de ter sido nessa altura que se realizou
a transferência das estátuas, tanque e bancos atribuídos a Nasoni. Na década de
1930, o ajardinamento do pátio foi, de novo, remodelado, sob a orientação do
Engº Ruela e plantado com fruteiras; finalmente, já em fins da década de 1980,
sob a orientação do Arq. Ilídio de Araújo, foi realizado novo arranjo do
jardim”.
Com a devida vénia a Elvira Rebelo – IGESPAR
Com os terrenos envolventes, em tempos englobados no Morgadio de Ramalde, originalmente, toda a arquitectura da casa era idêntica à da Casa de Ramalde (cabeça do morgadio). Porém, após a intervenção que a casa sofreu, a partir do início da década de 1920, ela perderia a escadaria situada na fachada principal que, em parte, foi transferida para as traseiras e com o acrescento de um bloco lateral perderia, também, a simetria característica identificativa do barroco.
Hall de entrada do
solar da Quinta de S. Gens – Fonte: “viverramalde.wordpress.com”
As Quatro Estações –
Ed. “luadmarfim.blogspot.pt”
As estátuas acima
representadas e presentes nos jardins, são atribuídas a Nicolau Nasoni e
representam as quatro estações.
Aspecto dos Jardins da
Quinta de S. Gens - Ed. “luadmarfim.blogspot.pt”
Fontanário da Quinta
de S. Gens - Ed. “luadmarfim.blogspot.pt”
Exploração de caulino em S. Gens
Nas imediações desta quinta, para além da exploração de
granito efectuada no Monte de S. Gens e usado na construção dos molhes do Porto
de Leixões, durante o início do século XX, algumas empresas dedicaram-se, nos
terrenos anexos, à exploração de caulino, um minério composto de silicatos
hidratados de alumínio, como a caulinita e a haloisita e que apresenta
características especiais que permitem sua utilização na fabricação de papel,
cerâmica, tintas, etc.
A zona do Porto possui uma história longa em termos de
exploração de caulino, Telheira, Fojo, Custóias, S. Gens, Senhora da Hora,
foram locais onde se situaram explorações daquele importante mineral
industrial.
Hoje, fruto da acentuada urbanização, as explorações foram
sendo encerradas.
O Couto Mineiro de Matosinhos foi criado para a exploração
de caulino e funcionou até aos anos 90 do séc. XX.
Entre todas as empresas do ramo, pontificava a Companhia
Anglo Portuguesa de Caulinos (no Viso de Cima, Nordeste), instalada em 1924 e
que, começando por ser o principal concessionário do couto mineiro de
Matosinhos, vai adquirindo, progressivamente, a exploração dos restantes concessionários
das minas que delas passaram a ser portadores, quando a área de concessão foi
aumentada, em finais da década de 1930, de 662 hectares para cerca de 932
hectares.
Em 1961, a Companhia Anglo Portuguesa de Caulinos já tinha
300 empregados, o que levou a empresa a solicitar a instalação de
uma escola para os seus filhos, pedido que não foi concedido.
Entretanto, poder-se-á também referir, pela sua importância,
a empresa de António Fernandes de Oliveira (Monte de São Gens, Noroeste)
e a de António Guimarães, na Rua Nova de São Gens, no lugar de São Gens.
Durante praticamente todo o século XX, era facilmente
observável de quem transitava na Estrada da Circunvalação, no sentido Monte dos
Burgos – Matosinhos, antes um pouco da Quinta de S. Gens, lá longe, à direita, um
monte completamente branco resultante da exploração do caulino.
A Companhia Anglo Portuguesa de Caulinos reconverter-se-ia,
em 1991, numa empresa de Gestão de Empreendimentos Imobiliários, comercializando
os projectos urbanísticos dos terrenos que possuía.
Aconteceu que a indústria do papel, uma das principais
destinatárias do caulino, passou a ter exigências no que reportava à qualidade
da matéria-prima, que tornaram não rentável a exploração daquele minério.
Gostei, obrigado
ResponderEliminar