Palácio do Visconde de Balsemão - Desenho de Carlos Alberto
Nogueira da Silva, In «Archivo Pittoresco», 4, 1861, p. 393
Perspectiva actual da gravura anterior – Fonte: Google maps
A propriedade onde
está implantado este palacete, na Praça de Carlos Alberto e que, antes, foi
chamada de Largo dos Ferradores, em 1718, pertencia a Diogo dos Santos Mesquita
e, alguns anos depois, surge na posse do negociante portuense Luís Correia dos
Santos. Em 1762, o filho deste homem de negócios, Luís Correia
Pacheco, sem herdeiros, deixa a casa nobre e seus terrenos à Santa Casa da
Misericórdia, que a vende em hasta pública a D. Maria Manuel de Azevedo e seu
filho Carlos Alvo Brandão Perestrelo Godinho Pereira de Azevedo, permanecendo nas
mãos desta família até cerca de meados da década de 1840.
A casa passa a ser
conhecida como Palacete Balsemão, a partir de 1800, quando Maria Rosa Alvo
Brandão Perestrelo de Azevedo casa com o 2.º visconde de Balsemão, Luís Máximo
Alfredo Pinto de Sousa Coutinho (Falmouth, 30 de Maio de 1774 — Lamego, 2 de
Outubro de 1832).
Esta personalidade
ficaria conhecida por franquear à população uma rica biblioteca que possuía no
seu palacete no Largo da Feira das Caixas, facto realçado, em 1874, por Pinho
Leal, na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”.
Face às lutas
liberais e ao Cerco do Porto, o 2.º visconde de Balsemão retira-se para
Balsemão onde, entretanto, falece e a sua biblioteca é confiscada.
Em 1834, decorreram
no palacete, as aulas da Academia Real de Marinha, já que, as instalações
próximas do Colégio dos Órfãos estavam a ser recuperadas da destruição que
sofreram com o cerco do Porto.
Na década de 1840,
António Bernardino Peixe alugou o palacete, transferindo a hospedaria que tinha
na Rua do Bonjardim, para este local. O que celebrizou esta hospedaria, conhecida
como Hospedaria do Peixe, foi a estadia, entre 19 e 27 de Abril de 1849, do
exilado rei Carlos Alberto da Sardenha, antes de ir para a Quinta da
Macieirinha (ao Palácio de Cristal), onde viria a falecer, em 28 de Julho de 1849.
Casa da Quinta da Macieirinha e rio Douro, In “Revista
Popular”- Semanário de Litteratura e Industria – Ed. Imprensa Nacional, 1849
Em 1854, o palacete
foi adquirido por José António de Sousa Basto, 1º Visconde e, mais tarde, 1º Conde da
Trindade, grande proprietário e capitalista, que introduziu profundas alterações
no edifício, vindo a casa a atingir o maior esplendor que se lhe conhece.
A famosa hospedaria
vai estabelecer-se, então, na Rua da Porta de Carros, nº 12, troço inicial da
Rua do Bonjardim e, mais tarde, o início da Rua de Sá da Bandeira, facto que
Alberto Pimentel relembre na sua obra "O Porto há 30 anos".
José António de
Sousa Basto (Cabeceiras de Basto, Refojos de Basto 19/03/1805 ;
Porto, Vitória 21/05/1890), partiu para o Brasil em 1823, com dezoito
anos, em busca de fortuna, tendo-se dedicado à vida mercantil e criado com
outros sócios a firma "Amorim & C.ª", que duraria até 1846 e, com
a qual, obteve rápida e crescente prosperidade.
Regressa a Portugal,
aportando em Lisboa, a 16 de Julho de 1850, tinha 45 anos. Vinte e sete anos de
trabalho persistente aliados a uma série de empreendimentos felizes,
permitiram-lhe amealhar considerável fortuna.
No mês seguinte
fixou residência no Porto vindo, algum tempo depois, a comprar um palacete na
Praça Carlos Alberto que pertencia aos Viscondes de Balsemão, que tinham
transferido residência para Lisboa.
Segundo uma carta do
Barão de Forrester ao Jornal Commercio, antes de 1854, o Visconde da Trindade
habitava, ainda, o palacete que tinha sido do Barão de Forrester, na Ramada
Alta.
Proprietário e
capitalista, Fidalgo da Casa Real, José António de Sousa Basto foi presidente
da câmara, entre 2 de Janeiro de 1852 e 31 de Dezembro de 1855, num período
muito delicado para a cidade.
De facto, a cidade
viveu uma situação de cólera associada a uma crise alimentar provocada pelo
aumento exagerado do preço do pão.
Para obstar a esta
situação, a Câmara comprou algumas toneladas de milho que distribuiu a um preço
acessível pelas camadas mais desfavorecidas da população.
Apesar da crise
económica, o seu mandato ficou marcado pela abertura de algumas ruas.
Assim, a Rua da
Boavista foi prolongada até à rotunda; a Praça da Batalha foi embelezada e a Rua
da Restauração chegou à Cordoaria; foram criadas escolas primárias e as
posturas municipais foram coligidas numa só legislação municipal.
Seria ainda demolido
o Arco de Vandoma considerado um empecilho no avanço urbanístico da urbe e, em
1855, foi construído o Cemitério de Agramonte, para servir o lado ocidental da
cidade.
De um 2º casamento
com Josefa Rosa de Amorim, José António de Sousa Basto, entre outros, tem uma
filha, Josefina Henriqueta de Sousa Basto, que viria a casar com Augusto
Correia Pinto Tameirão, 3º Barão do Vallado.
Decorrente desta
união, o palacete é por vezes designado como Palacete do Barão do Vallado, já
que, o casal, fixou aí residência.
No palacete, haveria
de nascer alguém que se viria a tornar uma figura típica da cidade (devido a
uma característica física) e que na transição do século XIX para o século XX,
pontificava no Porto – Jaime Valado.
Jayme Augusto
Teixeira Correia Pinto Tameirão Valado, de seu nome completo, tinha nascido na
freguesia de Santo Ildefonso, Porto, a 21 de Agosto de 1874, sendo funcionário
da Direcção-Geral dos Caminhos-de-Ferro do Minho e Douro, distinto desportista,
cavaleiro tauromáquico amador, e que acabaria por falecer, ainda em vida de seu
pai, o 3º barão do Valado, a 10 de Março de 1913.
Na gíria do povo,
era: O Valado da cabeça ao lado!
Este epíteto era
devido ao facto de a dita personagem ter a cabeça um pouco inclinada para um
dos lados, embora isso, não o impedisse de apresentar um porte, segundo
apreciação de Arnaldo Leite,
“dum
verdadeiro gentleman, vestindo com distinção. Viam-no à tarde de fraque de cor
e luvas amarelas; nessa mesma noite, se fosse inverno, chapéu mole e luvas
brancas, a saírem das mangas dum varino avivado a vermelho; se ia aos touros,
na sua charrette lustrosa e asseada – que dois cavalinhos levavam como um
brinquedo de luxo – como bom aficcionado que era, colocava na cabeça o seu
mazantini, de abas largas brunidas. Passadas duas ou três horas, o mesmo Jaime
Valado,estava no teatro S. João a ouvir ópera, elegantemente vestido,
correctíssimo na sua casaca impecável. Vestia bem.”
Como curiosidade,
diga-se que o 2º Visconde da Trindade, José António de Sousa Basto Júnior, que
nasceu a 5 de Julho de 1843, filho primogénito varão do segundo casamento de
seu pai, casaria no Rio de Janeiro com D. Mariana Rochedo, actriz do teatro
Baquet.
Em 1887, o palacete é arrendado ao Centro Comercial do Porto e, a partir de 1896, passa também a albergar, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Em 6 de Julho de
1906, a filha do Visconde da Trindade, Josefina Henriqueta e o 3.º Barão do
Valado, Augusto Correia Pinto Tameirão, arrendam o palacete da Praça Carlos
Alberto, à Companhia de Gás do Porto, que tinha sido constituída em
1900 e, mais tarde, receberia os Serviços Municipalizados de Gás e de
Eletricidade e a EDP.
Anúncio da “Companhia do Gaz do
Porto” dando conta de mudança de morada – In jornal “A Voz Pública”, de 10 de
Abril de 1907
Em 1959, a câmara
Municipal do Porto compra o palacete, que a partir de 1995, passa a albergar a
Direcção Municipal de Cultura.
Assim, está instalado
desde 2010 no Palacete Viscondes de Balsemão, o “Banco de Materiais” que se
destina a recolher e expor os mais variados exemplares decorativos e
construtivos provenientes da arquitetura portuense como azulejos, estuques,
ferros, etc, provenientes sobretudo de demolições, e que constituiu um
verdadeiro museu.
Estantes de
exposição de azulejos, no Banco de Materiais, instalado no Palacete Balsemão
Palacete Balsemão e
estátua de Humberto Delgado – Ed. JPortojo
Escadaria de entrada
- Ed. JPortojo
Estuques do tecto -
Ed. JPortojo
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