Não existe qualquer unanimidade sobre os primórdios da
Quinta Amarela (Rua Oliveira Monteiro, ao Carvalhido) aceitando-se, com
reservas, que na passagem para o século XIX terá pertencido a António Gonçalves
Pinto, Capitão-Tenente da Armada.
Durante o Cerco do Porto, a quinta terá sido incendiada e
destruída, não havendo dados, no entanto, para precisar quem a ocupou durante o
conflito, embora pareça estar dentro do perímetro afecto aos liberais.
Segundo Eugénio Andrea da Cunha e Freitas, a quinta já devia
estar restaurada em 1835, já que periódicos da época ofereciam para
arrendamento as "Quintas Amarelas".
Entre 1825 e 1840, há referências a proprietários da quinta
ou credores daqueles, por empréstimos efectuados e, para os quais, a
propriedade foi dada como penhor.
Assim, são dados como proprietários Maria Miquelina Amélia
Gonçalves Pinto (possivelmente descendente de António Gonçalves Pinto), João
Baptista Soares Teles e, ainda, Emídio Carlos Amatucci (1811-1872) e sua mulher
Joana de Sousa, efémeros proprietários, em virtude de uma hipoteca existente.
Na qualidade de credores de João Baptista Teles, podem
referir-se João António Lopes e Bernardo Gonçalves Mamede.
Por outro lado, Manuel da Cruz Braga terá sido credor de Emídio
Carlos Amatucci e de sua mulher Joana de Sousa.
Em 1840, a Quinta Amarela era propriedade de Francisco
António de Melo que, em 29 de Agosto, solicita à Câmara o levantamento de um
muro de divisão de uma porção de terreno que tinha aforado.
O assunto é entregue a um procurador de seu nome Manuel
Joaquim Gomes Guimarães e a respectiva licença vai obter o nº 64/1840.
Passados três meses, em 11 de Novembro, o mesmo procurador
vai, em nome de Luiz António de Sá Lima, informar de que o muro atrás referido
tinha ruído, em virtude de umas chuvadas, e a reparação do mesmo embargada por
não ter sido obtida a respectiva licença que então se solicitava. Esta irá
obter o nº 102/1840.
Na última metade do século XIX, outros proprietários se
seguiram.
A propriedade terá, então, ainda na primeira metade do
século XIX, sido dividida e a parte aforada passará para a família Lima que, em
1871, parecia ainda deter o foro, como se constata numa planta de 1871.
Assim, em 17 de Agosto de 1871, o vereador Nascimento Leão
apresenta em sessão da câmara do Porto a planta para continuação da Rua do
Carvalhido, e junto da Quinta Amarela é apresentada uma propriedade, separada
por um muro divisor, como pertencente a D. Rita Lima.
Mais tarde, aquele novo arruamento passará a ser conhecido
como a Rua Oliveira Monteiro.
Até que, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, depois da sua
fundação, em 1919, e de uma passagem pelas salas da Faculdade de Ciências, se
instala nesta quinta em 1921.
Por decisão governamental de 1928, a Faculdade de Letras do
Porto será encerrada e transferida em período liquidatário para um edifício da Rua
do Breyner, nº 164, onde funcionou até ao seu encerramento definitivo, em 1931.
Voltando à história da Quinta Amarela diga-se, que, em Março
de 1916, como resposta à 1ª guerra mundial na qual participávamos, foi fundada a
«Junta Patriótica do Norte», cujas
funções visavam a propaganda patriótica e a assistência-socorro às vítimas da
Guerra, movimento cujos propósitos, tiveram imensas adesões e que teve como
principal dinamizador o eminente professor Alberto de Aguiar. Graças a ele e a
muitas outras vontades, em 25 de Junho de 1917, a Junta Patriótica do Norte
funda a Casa dos Filhos dos Soldados, instalando-a num prédio que para o efeito
aluga na Rua de Cedofeita.
A Casa dos Filhos
dos Soldados recolhe, então, os primeiros 50 órfãos de guerra, de ambos os
sexos, alguns deles apenas com meses de idade. A obra vinga e prospera mercê de
grandes dedicações, especialmente do núcleo Feminino de Assistência Infantil
que trabalha agregado à Junta, e ao qual preside uma ilustre senhora D.
Filomena Sequeira de Oliveira. Conjugando as suas funções de creche com outras,
a Casa dos Filhos dos Soldados procura ministrar aos seus educandos, consoante
as idades, a par duma sólida educação moral e cívica, uma instrução elementar
primária, precedida do ensino "Jardim-Escola" e seguida de educação
profissional nomeadamente em artes e ofício.
Os filhos dos soldados, na casa da Rua de Cedofeita, do
“Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte”
Festa realizada no Palácio da Bolsa, no Porto, promovida
pelo Núcleo Feminino de Assistência Infantil, em Dezembro de 1916 – Fonte:
Jornal Público
Em 20 de Julho de 1934, a Junta Patriótica do Norte consegue
ver realizada a sua aspiração de ampliação das instalações de que carece para a
sua actividade, comprando por 110 contos a propriedade designada por “Quinta
Amarela” na Rua Oliveira Monteiro, nº 833, com uma área total de 11.200 m2
incluindo 1.500 de habitação.
Em 1935, a Junta Patriótica do Norte começa a lutar com
enormes dificuldades para manter a Casa dos Filhos dos Soldados e, finalmente,
em 24 de Janeiro de 1938, a Liga dos Combatentes assina a escritura que lhe
confere a posse da Casa dos Filhos dos Soldados.
A Liga dos Combatentes tinha sido criada em 1921, com a
denominação de Liga dos Combatentes da Grande Guerra. Ao ser criada tinha como
objectivo reunir numa associação os militares e ex-militares portugueses que
tinham combatido na 1.ª Guerra Mundial, mas só em 1929, seria oficializado com a
eleição dos dirigentes e publicação dos estatutos.
Hoje o Complexo Social Nossa Senhora da Paz, localizado na
Quinta Amarela, na dependência da Liga dos Combatentes, desfruta de um espaço
natural, com uma área de 11 580m2, constituído por várias espécies de elementos
arbóreos e vegetação controlada que lhe conferem uma situação privilegiada no
meio urbano em que se insere. É constituído por três valências, a saber: Creche,
Jardim-de-Infância e Residência Sénior.
Quinta Amarela – Fonte: “ligacombatentes.org.pt”
Rua da Quinta Amarela em 1948 e edifício da quinta, à
esquerda – Fonte: AHMP
Mesma perspectiva da foto anterior, actualmente, com a Quinta Amarela, à
esquerda – Fonte: Google maps
Vista aérea do edificado da Quinta Amarela – Fonte: Google
maps
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