quinta-feira, 14 de setembro de 2017

(Continuação 13) - Actualização em 26/07/2019 e 21/04/2021




Não existe qualquer unanimidade sobre os primórdios da Quinta Amarela (Rua Oliveira Monteiro, ao Carvalhido) aceitando-se, com reservas, que na passagem para o século XIX terá pertencido a António Gonçalves Pinto, Capitão-Tenente da Armada.
Durante o Cerco do Porto, a quinta terá sido incendiada e destruída, não havendo dados, no entanto, para precisar quem a ocupou durante o conflito, embora pareça estar dentro do perímetro afecto aos liberais.
Segundo Eugénio Andrea da Cunha e Freitas, a quinta já devia estar restaurada em 1835, já que periódicos da época ofereciam para arrendamento as "Quintas Amarelas".
Entre 1825 e 1840, há referências a proprietários da quinta ou credores daqueles, por empréstimos efectuados e, para os quais, a propriedade foi dada como penhor.
Assim, são dados como proprietários Maria Miquelina Amélia Gonçalves Pinto (possivelmente descendente de António Gonçalves Pinto), João Baptista Soares Teles e, ainda, Emídio Carlos Amatucci (1811-1872) e sua mulher Joana de Sousa, efémeros proprietários, em virtude de uma hipoteca existente.
Na qualidade de credores de João Baptista Teles, podem referir-se João António Lopes e Bernardo Gonçalves Mamede.
Por outro lado, Manuel da Cruz Braga terá sido credor de Emídio Carlos Amatucci e de sua mulher Joana de Sousa.
Em 1840, a Quinta Amarela era propriedade de Francisco António de Melo que, em 29 de Agosto, solicita à Câmara o levantamento de um muro de divisão de uma porção de terreno que tinha aforado.
O assunto é entregue a um procurador de seu nome Manuel Joaquim Gomes Guimarães e a respectiva licença vai obter o nº 64/1840.


 

Requerimento que obterá a licença nº 64/1840
 
 
 
Passados três meses, em 11 de Novembro, o mesmo procurador vai, em nome de Luiz António de Sá Lima, informar de que o muro atrás referido tinha ruído, em virtude de umas chuvadas, e a reparação do mesmo embargada por não ter sido obtida a respectiva licença que então se solicitava. Esta irá obter o nº 102/1840.


 

Requerimento que obteve a licença nº 102/1840

 
 
Na última metade do século XIX, outros proprietários se seguiram.
A propriedade terá, então, ainda na primeira metade do século XIX, sido dividida e a parte aforada passará para a família Lima que, em 1871, parecia ainda deter o foro, como se constata numa planta de 1871.
Assim, em 17 de Agosto de 1871, o vereador Nascimento Leão apresenta em sessão da câmara do Porto a planta para continuação da Rua do Carvalhido, e junto da Quinta Amarela é apresentada uma propriedade, separada por um muro divisor, como pertencente a D. Rita Lima.
Mais tarde, aquele novo arruamento passará a ser conhecido como a Rua Oliveira Monteiro.

 
 

In “Jornal do Porto” de 18 de Agosto de 1871
 
 
 

Planta (da zona da Quinta Amarela) referente à abertura da ligação do Carvalhido à Rua da Boavista




Até que, a Faculdade de Letras da Universidade do Porto, depois da sua fundação, em 1919, e de uma passagem pelas salas da Faculdade de Ciências, se instala nesta quinta em 1921.
Por decisão governamental de 1928, a Faculdade de Letras do Porto será encerrada e transferida em período liquidatário para um edifício da Rua do Breyner, nº 164, onde funcionou até ao seu encerramento definitivo, em 1931.



Faculdade de Letras da Universidade do Porto, na Quinta Amarela




Voltando à história da Quinta Amarela diga-se, que, em Março de 1916, como resposta à 1ª guerra mundial na qual participávamos, foi fundada a «Junta Patriótica do Norte», cujas funções visavam a propaganda patriótica e a assistência-socorro às vítimas da Guerra, movimento cujos propósitos, tiveram imensas adesões e que teve como principal dinamizador o eminente professor Alberto de Aguiar. Graças a ele e a muitas outras vontades, em 25 de Junho de 1917, a Junta Patriótica do Norte funda a Casa dos Filhos dos Soldados, instalando-a num prédio que para o efeito aluga na Rua de Cedofeita.
A Casa dos Filhos dos Soldados recolhe, então, os primeiros 50 órfãos de guerra, de ambos os sexos, alguns deles apenas com meses de idade. A obra vinga e prospera mercê de grandes dedicações, especialmente do núcleo Feminino de Assistência Infantil que trabalha agregado à Junta, e ao qual preside uma ilustre senhora D. Filomena Sequeira de Oliveira. Conjugando as suas funções de creche com outras, a Casa dos Filhos dos Soldados procura ministrar aos seus educandos, consoante as idades, a par duma sólida educação moral e cívica, uma instrução elementar primária, precedida do ensino "Jardim-Escola" e seguida de educação profissional nomeadamente em artes e ofício.
 
 
 

Emissão de selos alusivos à Junta Patriótica do Norte




Os filhos dos soldados, na casa da Rua de Cedofeita, do “Núcleo Feminino de Assistência Infantil da Junta Patriótica do Norte”




Festa realizada no Palácio da Bolsa, no Porto, promovida pelo Núcleo Feminino de Assistência Infantil, em Dezembro de 1916 – Fonte: Jornal Público



Em 20 de Julho de 1934, a Junta Patriótica do Norte consegue ver realizada a sua aspiração de ampliação das instalações de que carece para a sua actividade, comprando por 110 contos a propriedade designada por “Quinta Amarela” na Rua Oliveira Monteiro, nº 833, com uma área total de 11.200 m2 incluindo 1.500 de habitação.
Em 1935, a Junta Patriótica do Norte começa a lutar com enormes dificuldades para manter a Casa dos Filhos dos Soldados e, finalmente, em 24 de Janeiro de 1938, a Liga dos Combatentes assina a escritura que lhe confere a posse da Casa dos Filhos dos Soldados.
A Liga dos Combatentes tinha sido criada em 1921, com a denominação de Liga dos Combatentes da Grande Guerra. Ao ser criada tinha como objectivo reunir numa associação os militares e ex-militares portugueses que tinham combatido na 1.ª Guerra Mundial, mas só em 1929, seria oficializado com a eleição dos dirigentes e publicação dos estatutos.
Hoje o Complexo Social Nossa Senhora da Paz, localizado na Quinta Amarela, na dependência da Liga dos Combatentes, desfruta de um espaço natural, com uma área de 11 580m2, constituído por várias espécies de elementos arbóreos e vegetação controlada que lhe conferem uma situação privilegiada no meio urbano em que se insere. É constituído por três valências, a saber: Creche, Jardim-de-Infância e Residência Sénior.



Quinta Amarela – Fonte: “ligacombatentes.org.pt”



Rua da Quinta Amarela em 1948 e edifício da quinta, à esquerda – Fonte: AHMP



Mesma perspectiva da foto anterior, actualmente, com a Quinta Amarela, à esquerda – Fonte: Google maps



Perspectiva invertida da foto anterior – Fonte: Google maps




Vista aérea do edificado da Quinta Amarela – Fonte: Google maps

Sem comentários:

Enviar um comentário