domingo, 3 de setembro de 2017

(Continuação 2) - Actualização em 19/02/ e 12/10/2018




Na freguesia de  Massarelos, localizava-se o Museu Romântico da Quinta da Macieirinha, rodeado pela mancha verde dos Jardins do Palácio de Cristal e que voltado para o Rio Douro, beneficiava de uma estratégica posição panorâmica. Em 2021, a edilidade decidiu destruí-lo, na sequência de uma decisão estranha dado que, três anos antes, tinha reaberto após obras de restauro.
A casa fora construída, em meados do século XVIII, para habitação de recreio.
A Quinta da Macieirinha pertenceu à família Pinto Basto e foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto, em 1972, para aí ser criado o museu.
Conhecida também por Quinta do Sacramento, porque pertenceu em tempos idos à Confraria do Santíssimo Sacramento da freguesia de Santo Ildefonso, a quem havia sido doada por Manuel de Sousa Carvalho, em 1796, pertenceu a um tal Carlos Page.
Na casa da quinta funcionou, então, durante muitos anos um espaço museológico que recriava ambientes interiores de uma casa abastada do século XIX, abordando as estéticas, os modos e os costumes relacionados com o Romantismo, a cidade do Porto Oitocentista, assim como, perpectuar a memória de Carlos Alberto de Sabóia, rei da Sardenha e príncipe do Piemonte, com capital em Turim. 
Era o Museu Romântico que, por intervenção do presidente da Câmara, Dr. Rui Moreira, em 2021, encerraria, para mágoa de muitos portuenses.


«Em 2021 a Câmara Municipal desmantelou o Museu retirando o seu recheio sem que tenha havido consulta pública para ali passar a funcionar a "Extensão do Romantismo do Museu da Cidade do Porto" e foi desta forma que foi anunciado ao público "o espaço despiu-se dos adereços de casa burguesa oitocentista e vestiu-se de contemporaneidade”».
Fonte: pt.wikipédia.org




A Quinta da Macieirinha seria a última morada de Carlos Alberto, rei da Sardenha, durante o seu breve exílio.
O rei Carlos Alberto morreria na casa da Quinta da Macieirinha a 28 de Julho de 1849, tendo o seu corpo sido transladado para o Panteão dos Sabóia em Itália, tendo porém, a sua meia-irmã, mandado construir uma capela, actualmente, incorporada nos jardins do Palácio de Cristal. 




“É minha convicção de que a maioria dos portuenses, sobretudo o setor das camadas mais jovens, não sabe quem foi Carlos Alberto que deu o nome a uma das mais pitorescas e conhecidas praças do Porto.
Ora, este Carlos Alberto foi rei da Sardenha e, nos começos de 1849, andava empenhado na unificação de Itália. Na primavera daquele ano, no entanto, em Novara, foi derrotado pelas tropas austríacas e, na sequência desse desaire, abdicou do trono no seu filho, Vitor Emanuel, e abandonou a Itália. Menos de um mês depois, em abril (dia 19), Carlos Alberto chegou ao Porto, cidade que elegera para o seu exílio e para onde viajara sob o nome de conde de Barge.
Dizem as gazetas da época que “as autoridades citadinas “ o foram esperar ao Carvalhido que era, então, o limite da cidade. Lá compareceram o bispo, D. Jerónimo Rebelo; o governador civil mais o presidente da Câmara, que era Vieira de Magalhães, barão de Alpendorada, conhecido, particularmente, pelos maus tratos que dava à gramática.
Num jornal da época escreveu-se mesmo que, para se sair airosamente nesta inesperada situação, o presidente da Câmara “anda a estudar o discurso que há – de recitar na ocasião em que tiver que saudar o rei, para não empregar palavras como num faz minga, cunsante e cangirão…” Naqueles tempos a sátira nos jornais não poupava ninguém.
O rei Carlos Alberto, perdão, o conde de Barge, chegou ao Porto acompanhado por dois criados, Gamalleri e Vallenti. Viajou de barco até Vigo e desta cidade galega veio para o Porto montado num simples garrano. Quando o pequeno cortejo do régio exilado se aproximava do Carvalhido as autoridades da terra adiantaram-se ao encontro dele. O governador deu as boas vindas e o rei agradeceu a hospitalidade. Ainda Carlos Alberto não tinha acabado o agradecimento e já o presidente da Câmara preparava outro discurso. Mas a leitura foi de imediato interrompida. Foi o próprio rei que a interrompeu. Pediu, delicadamente, desculpa e lembrou aos presentes que vinha doente lembrando que, do que mais precisava, naquela altura, era de uma cama e que, por isso, o deixassem chegar depressa à estalagem.
“À estalagem, ah, isso não “ – protestou o bispo, oferecendo o seu paço para o alojamento de Carlos Alberto. O monarca disse aos presentes que nada queria que lhe lembrasse grandezas ou fausto e que apenas pretendia que o levassem a uma hospedaria. E assim foi feito. Carlos Alberto hospedou-se no palacete da praça dos Ferradores que fora residência dos viscondes de Balsemão e onde, na altura da sua chegada ao Porto, funcionava a célebre hospedaria do Peixe, nome do proprietário.
O rei vinha mesmo doente. Tão doente que os criados tiveram que o levar ao colo para os aposentos que lhe haviam sido destinados. Três dias depois mudou-se para uma vivenda na atual rua de D. Manuel II e a 14 de maio foi viver para a casa de campo do capitalista António Ferreira Pinto Basto, na rua de Entre Quintas onde hoje está o Museu Romântico”.
Com a devida vénia a Germano Silva




Quatro anos após a morte de Carlos Alberto, chegou ao Porto, sua irmã, Frederica Augusta de Montléart, que teve autorização da Câmara para a construção da capela em memória de Carlos Alberto, numa parcela de terreno, demarcada em Abril de 1854, no Campo do Duque de Bragança




Quinta da Macieirinha



A gravura, acima, é de 1849, da autoria do pintor e gravador portuense, Joaquim Cardoso Vitória Villanova.
O Museu Romântico da Quinta da Macieirinha estava enquadrado pelo jardim, bosque e antigos terrenos agrícolas, que lhe emprestavam um bucólico ambiente romântico. 

 
 

Casa Museu – Ed. MAC
 
 
 

Interior do Museu – Ed. MAC






Casa da Quinta da Macieirinha, In “Revista Popular”- Semanário de Litteratura e Industria – Ed. Imprensa Nacional, 1849

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