“Casa Primo Madeira é
a designação por que continua a ser conhecido o Círculo Universitário do Porto,
espaço nobre de que a Universidade dispõe no Pólo 3 e utiliza para eventos de
natureza variada. Este palacete dos finais do século XIX localiza-se no n.º 877
da Rua do Campo Alegre, freguesia de Massarelos, paredes meias com a Casa
Burmester, pertença, também, da Universidade do Porto. No jardim que rodeia a
Casa Primo Madeira predomina a vegetação romântica, de natureza idêntica à de
outras propriedades nas imediações, como a Casa Andresen, também património da
U. Porto.
O palacete, cujo
primeiro proprietário foi o Conselheiro Pedro Maria da Fonseca Araújo
(1862-1922), sofreu intervenções da autoria do arquitecto José Marques da Silva
quando foi adquirido por Primo Monteiro Madeira, que lhe conferiu o nome pelo
qual passou a ser conhecido. Na casa principal, de planta rectangular e quatro
pisos, os aposentos distribuíam-se da seguinte forma: na cave, a cozinha, a
lavandaria, a dispensa e arrecadações; no rés-do-chão, salas de entrada, salas
de estar, de bilhar, de jantar e copa; no primeiro piso, quartos e respectivos
sanitários; no segundo piso, quartos e sanitários para o pessoal.
Em 1899, a casa foi
ampliada através da construção de um anexo com cavalariça e cocheira no
rés-do-chão e duas residências para empregados no primeiro pavimento. No
jardim, distribuíam-se uma casa de serviço e uma estufa.
Já na posse da U. Porto,
a casa principal e outras edificações foram reconstruídas entre 1986 e 1988,
observando um projecto do arquitecto Fernando Távora. Em 1990, este projecto
foi galardoado com o Prémio João de Almada, de recuperação do património
arquitectónico da cidade do Porto. O jardim romântico, de inspiração inglesa,
também foi remodelado e adaptado pelo arquitecto paisagista Francisco Caldeira
Cabral (1908-1992)”.
Fonte: “sigarra.up.pt”
“As obras levadas a
cabo pela equipa liderada por Fernando Távora procuraram respeitar a traça
original do edifício, assim como a dos equipamentos de interior. Na cave
mantiveram-se a cozinha, a dispensa, a lavandaria, as arrecadações e as
instalações para o pessoal. O rés-do-chão continuou a ser o piso de recepção,
bem como o das refeições e do lazer. No primeiro pavimento, os quartos deram
lugar a salas de reunião ou de serviços (de secretaria e direcção) e a área do
segundo pavimento foi repartida entre o pessoal de serviço, o ginásio e
gabinetes.
No edifício anexo de
dois pisos, o andar térreo ficou reservado para salas de reunião e recepção e o
superior para quartos de hóspedes da U. Porto. A maior parte das mobílias e dos
candeeiros constituem peças únicas, desenhadas para o efeito. Alguns móveis
foram adquiridos para equipar certas divisões e tirou-se partido da existência
de desenhos e de pinturas da Escola Superior de Belas Artes do Porto e da
Faculdade de Arquitectura para decorar os interiores.
A vegetação do jardim
foi inventariada, seleccionaram-se as espécies a conservar - como o Cedrus
atlântica (cedro do Atlas), o Liriodendron tulipifera (tulípio) e o Platanus
occidentalis (plátano) - e a área de produção foi substituída por uma zona de
lazer composta por relvados e por um jardim formal”.
Com a devida vénia ao Professor Artur Filipe dos Santos
Encerrado em 2013 devido a um incêndio que atingiu o telhado
do edifício, o Círculo Universitário do Porto regressou à actividade em Fevereiro
de 2016, agora com a designação de Clube Universitário do Porto.
Casa Primo Madeira
Casa Primo Madeira em planta de Teles Ferreira de 1892
(quadrícula 162)
O Conselheiro Pedro Maria da Fonseca Araújo a quem Primo
Madeira adquiriu a propriedade, foi industrial e presidente entre 1895-1896 e
1901-1905 da Associação Comercial do Porto, proprietário em 1901 da Quinta
da Brejoeira, em Monção, primitivamente chamada Quinta do Vale da Rosa, tendo
sido, ainda, Presidente da Câmara Municipal do Porto, Governador Civil do
distrito e também deputado às Cortes e Par do reino.
De acordo com as informações disponíveis, e a crer nas
referências de Dora Wordsworth, aquando da sua passagem por Portugal em 1845, a
construção deste imóvel ter-se-ia iniciado em data próxima de 1806, devendo-se
a iniciativa da sua edificação a Luís Pereira Velho de Moscoso.
Em estilo neo-clássico e planta em L, já que, Luís Pereira
Velho de Moscoso não sendo um nobre não lhe era possível construir o palácio
com quatro torres e planta quadrangular.
“Fizemos uma agradável
e verdejante viagem a cavalo, apesar do calor, até à magnífica mansão da
Berjoeira (sic), sede da família de
P____de M___. Foi começada há cerca de 40 anos; e, de acordo com o projecto,
deveria ser um edifício quadrangular com 180 pés de extensão para cada um dos
quatro lados; mas somente metade do foi terminado. A casa contém grandes
conjuntos de alojamentos, com tectos e painéis mal pintados. Num dos salões há
retratos de família, em toda a fealdade de caricaturas de uma rigidez
esborratada.
Os quadros da casa, de
todos os géneros, são espécimes deploráveis de arte.
Os jardins são muito
bonitos e bem arranjados; alamedas frescas, canteiros de flores cobertos de
parreiras, fontes, sacadas com arbustos, passeios de gravilha, caramanchões
cobertos de telhas azuis com vários padrões estão entre os ornamentos destes
jardins.
A casa ergue-se,
talvez, no centro dos terrenos; pois dela não se desfrutam panoramas de monta,
e nem um vislumbre de água corrente.
O território
envolvente é, contudo, rico e florestado; e as montanhas remotas fazem um
bonito cenário em todas as partes desta zona”.
Dorothy Wordsworth – “Diário de uma viagem a Portugal e ao
Sul de Espanha”
A construção do palácio, que demorou 28 anos a ser erguido,
foi autorizada por D. João VI que, porém, nunca o chegou a visitar, e terá sido
entregue ao Mestre Domingos Pereira, natural da freguesia de Sopo, Vila Nova de
Cerveira, e as pinturas dos salões entregues ao Mestre Clemente, de Valença, e
ao seu colaborador Julian Martinez.
Foi Simão Pereira Velho de Moscoso, personagem dada a serões
festivos, quem terminou a obra de seu pai.
O grande poder económico da família Velho de Moscoso
decorria da sua ligação à família Caldas que tinha adquirido a sua imensa
riqueza no Brasil.
Simão Moscoso faleceu em 1881, sem descendência. O Palácio
foi herdado pelas famílias Caldas e Palmeirim de Lisboa, tendo sido colocado á
venda, em hasta pública, 20 anos depois, sendo então, adquirido pelo
Conselheiro Pedro Maria da Fonseca Araújo, que realizou algumas benfeitorias como
sejam a construção de um teatro e um jardim de Inverno, e mandado colocar painéis
de azulejo, da autoria de Jorge Pinto, no átrio e escadaria, entre algumas
outras.
Foi também nesta época que a quinta foi toda murada e que o
portão principal construído.
Em 23 de Junho de 1910, foi o palácio classificado como
Monumento Nacional.
Em 1937, o palácio foi vendido ao comendador Francisco de
Oliveira Paes, que o ofereceu à sua filha Maria Hermínia Silva d’Oliveira Paes como
prenda do 18º aniversário.
Decorrente de dificuldades económicas, a família Paes vende
a propriedade a Feliciano do Anjos Pereira, companheiro de Hermínia Paes, que
construiu uma moderna adega e, em 1977, lançou no mercado, com grande sucesso, uma
marca própria, o vinho Alvarinho "Palácio da Brejoeira".
Após o falecimento de Feliciano dos Anjos Pereira, a
propriedade passou para Maria Hermínia Silva d'Oliveira Paes, em partes iguais,
com os herdeiros de seu companheiro Feliciano.
Maria Hermínia d’Oliveira Paes, falecida em 2015, com 97
anos, sempre esteve, até aí, à frente dos destinos da quinta.
Em 2021, a propriedade é posta à venda por 25 milhões de
euros, sendo Emílio Sousa Magalhães o accionista principal da sociedade, agora
proprietária, e que inclui apenas mais um segundo sócio.
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