quinta-feira, 28 de setembro de 2017

(Continuação 11)

21.12 Casa do Campo Pequeno ou Palacete Pinto Leite


A propriedade sita na Rua da Maternidade, onde a Casa do Campo Pequeno foi edificada, foi adquirida por Joaquim Pinto Leite em 1854.
A construção do edifício teria durado alguns anos, pois, em 1862 há notícia de que a obra de pedreiro ainda decorreria e, por essa razão, não estaria totalmente acabada.
Joaquim Pinto Leite (Cucujães 1805; Porto, 27 Fev.1880) foi muito novo para o Brasil juntamente com os irmãos, onde esteve cerca de uma dezena de anos, entre 1820 e 1829, regressando com uma considerável fortuna. Em 1830 tinha fundado uma casa comercial no Porto e crê-se que levou a sua vida, nessa época, entre o Brasil e Portugal.
Em 1838 já estava a residir regularmente no Porto, na Rua dos Lavadouros. De facto, em 9 de Março desse ano entrou para a Irmandade da Lapa, instituição da qual chegou a ser Vice-presidente (1853).
Contudo, só em 1840, tendo 36 anos, fez o competente bilhete de residência. Nessa altura, era súbdito brasileiro e tinha, por isso, de dar conta da sua morada ao administrador do respectivo bairro, necessitando também de passaporte para circular no continente português. No referido bilhete de residência, declarou ir morar para o Largo dos Lóios nº 30.

“Não sabemos se esse ano de 1840 marcará a mudança de residência para o prédio dos Lóios que, ainda hoje, faz esquina com a Calçada dos Clérigos e onde, em 1854, Joaquim Pinto Leite morava (no número 56), possuindo no rés-do-chão o seu estabelecimento de tecidos. De facto, na época do Cerco do Porto (1833), Joaquim Pinto Leite residiu já no Largo dos Lóios, num prédio que foi isento de aboletamento precisamente pelo facto de Joaquim Pinto Leite se ter então declarado cidadão brasileiro. Joaquim Pinto Leite adquiria fazendas por grosso e vendia a retalho. Este importante negócio de tecidos na cidade do Porto era detido por Joaquim Pinto Leite, mas foi iniciado em sociedade com os irmãos António Pinto Leite, Caetano Pinto Leite e, mais tarde, também com Sebastião Pinto Leite. Desde cedo, Joaquim Pinto Leite dedicou-se também simultaneamente ao empréstimo de capital, acabando por formar uma importante casa bancária, em conjunto com o irmão José Pinto Leite, que fora residir para Londres. Assim, a casa bancária Pinto Leite & Brother (mais tarde Pinto Leite & Brothers, com a entrada de Sebastião Pinto Leite, que também se estabeleceu em Inglaterra), possuía escritório em Londres e no Porto, na esquina entre o Largo dos Lóios e a Rua dos Clérigos (n.º 91).
(…) Os irmãos Pinto Leite andaram associados, tendo sido feitas várias sociedades, conforme uns voltavam do Brasil ou se estabeleciam fora do Porto. Em 1840, a partir de 1 de Janeiro, a firma Joaquim Pinto Leite & Ca. passava a designar uma sociedade comercial entre Joaquim Pinto Leite e seu irmão Sebastião, tendo cessado a que Joaquim Pinto Leite possuía desde 8 de Agosto de 1837 com os irmãos Caetano e João. Joaquim Pinto Leite e seus irmãos investiam em quase tudo o que fosse lucrativo, como era comum na época por parte de capitalistas com espírito arejado e conhecedores dos negócios mais rentáveis no Brasil e em outros países. É o caso do negócio da fundição: a firma Pinto Leite & Irmão, que possuía filiais em Manchester e Liverpool na década de 1860, importava dali materiais para as fundições do Porto”.
Fonte: J. Francisco Ferreira Queiroz, In Revista da Faculdade de Letras Porto, 2004

Voltando a centrar o interesse no Palacete Pinto Leite, ele é já referenciado como uma das casas importantes da cidade e, por isso, assinalado no folheto distribuído aos visitantes da Exposição Internacional do Palácio de Cristal em 1865, sendo referido que era de construção bem recente.
Porém, segundo J. Francisco Ferreira Queiroz e a propósito da representação naquele folheto da casa do Campo Pequeno diz:

“A julgar pela planta do Porto de Joaquim da Costa Lima Júnior, de 1839, ao lado da casa que Joaquim Pinto Leite mandou erigir, existia já uma casa recuada e murada, com jardim pela frente (no terreno onde está hoje a Maternidade Júlio Dinis). Numa planta de 1865, assinala-se claramente o palacete de Joaquim Pinto Leite, mas no referido terreno, o que deve ser um erro de quem elaborou a planta. De qualquer modo, o ter confundido o local da nova casa apalaçada com o de uma outra anterior (da família Gubian) demonstrará talvez como a de Joaquim Pinto Leite era bem mais marcante”.


 “…há porém diversos palacetes de construção moderna, que muito aformozeam a cidade, tornando-se mais notáveis os de Antonio Bernardo Ferreira, no Largo da Trindade; do conde do Bulhão, na rua Formosa; do visconde de Pereira Machado, na rua da Alegria; e de Joaquim Pinto Leite, no Campo pequeno.”
João Antonio Peres Abreu, Roteiro do Viajante no Continente e nos Caminhos de Ferro de Portugal em 1865, Imprensa da Universidade Coimbra 1865. (pág.119); Fonte: Ricardo Figueiredo, administrador “doportoenaoso.blogspot.pt”


“Desconhece-se o autor do projecto, mas pelo estilo neopalladiano presume-se que tenha tido influências inglesas, contrário ao gosto da arquitectura portuense do século XIX, mais na influência das belas-artes francesas. Os azulejos que recobrem o edifício são originários de uma fábrica inglesa, a Minton, Hollings & Company, de Stoke-on-Trent(…).
(…) Há notícia de que, em 1866, celebrou-se no palacete o casamento entre Orísia Pinto Leite e Arsénio Pinto Leite, primos e ambos moradores no dito palacete. Não é demais sublinhar que, nesta família, o casamento entre primos foi comum. A impressa da época elogia a casa, sóbria mas elegantíssima, comparando-a a uma rica moradia no melhor bairro de Londres.
O edifício possuía quartos de banhos principescamente luxuosos e tecnicamente inovadores, contando com torneiras banhadas a ouro e sanitários em porcelana de Sèvres. No exterior, ainda existe um pavilhão ou casa de fresco, espaço de lazer, também conhecido como casa das bonecas e uma estufa de floricultura.
Actualmente, a decoração da Casa do Campo Pequeno está marcada por modificações do início do século passado, que a tornaram menos sóbria aproximando-a das casas ricas da cidade. O seu carácter singular foi-se diluindo”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”


Palacete Pinto Leite – Ed. JPortojo, 2011


O palacete seria adquirido aos herdeiros pela Câmara Municipal do Porto (CMP) em 1966 para lá instalar o Conservatório de Música, o que veio a acontecer só em 1975 e onde funcionou até 2008.
Nas antigas cocheiras recuperadas começou a CMP, desde 1986, a instalar as reservas dos Museus Municipais que, actualmente, se encontram em processo de requalificação.

“No ano de 1951 o arquiteto Prof. Emanuel Paulo Vitorino Ribeiro e sua mulher Alice Celestina da Fonseca Azevedo Ribeiro doaram à Câmara Municipal do Porto as coleções de arte que vinham sendo recolhidas pela família Vitorino Ribeiro, ao longo de duas gerações.
As Reservas Municipais concentram num mesmo espaço a coleção Vitorino Ribeiro, que se encontrava na Casa Vitorino Ribeiro em Contumil, as coleções de mobiliário da Casa Museu Marta Ortigão Sampaio e do Museu Romântico, de pintura da Câmara Municipal do Porto e de mobiliário e pintura da Casa Oficina António Carneiro”. 
Fonte: “cm-porto.pt”

Àquele espólio citado no texto anterior, acresce o avulso proveniente de locais vários, pertencentes ao Município do Porto (Paços de Concelho, Quinta de São Roque da Lameira, Palacete dos Viscondes de Balsemão, etc.).
Por sua vez, o Conservatório de Música tinha sido fundado em 1917. Passou pelo Carregal, depois pela Casa do Campo Pequeno e seguiu depois para um espaço no antigo Liceu D. Manuel II, hoje Rodrigues de Freitas.
Devido a pressões de ordem económica a Câmara do Porto em Fevereiro de 2016, acabaria por vender o Palacete Pinto Leite por 1,643 milhões de euros a uma empresa do ex-futebolista, António Oliveira e de António Moutinho Cardoso, coleccionador de arte que prometem ali criar um "ex-líbris cultural” aberto à cidade.


Hall de entrada – Ed. JPortojo, 2011


Jardim e traseiras do palacete – Ed. JPortojo, 2011

Como outros palacetes do século XIX tinha no seu último andar uma capela.


Capela do palacete – Ed. JPortojo, 2011


Edifício que foi das antigas cavalariças – Ed. JPortojo, 2011

Vista da cidade a partir do palacete – Ed. JPortojo, 2011


Na foto acima é possível observar, sobre a esquerda, com mais destaque, a Torre dos Clérigos e à sua esquerda a torre sineira da igreja dos Carmelitas. À direita, na linha do horizonte, é possível descortinar o Monte da Virgem e a antena da RTP.


Nota de rodapé

O lançamento vertente sobre o Palacete Pinto Leite, é uma singela homenagem à memória de Jorge Portojo como administrador de “portojofotos.blogspot.pt” e, cujo perfil em auto-retrato, era:

“Reformado há meia dúzia de anos, tento agora descobrir especialmente a minha Cidade Natal, o Porto. Gosto de a fotografar, ler a sua história e dos seus monumentos, ruas e jardins.
Na net divulgo o que vou aprendendo”.

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