sexta-feira, 15 de setembro de 2017

(Continuação 14)


“Localizada na Rua do Tronco, junto à Via Norte, esta quinta constituía um bem patrimonial da Casa de Minotes, da nobre família Martins da Costa, da freguesia de Fermentões, concelho de Guimarães.
Francisco Martins da Costa, fidalgo da Casa Real, herdou-a da tia, D. Luísa Rosa de Araújo Martins, por testamento de 1854.
Em 10/6/1856, por escritura, ele empraza a quinta da Amieira a Manuel de Fontes, negociante e esposa, D. Maria da Glória Fontes, por prazo fateusim perpétuo.
Era a aludida propriedade constituída pela quinta da Amieira, constando de casas nobres de três andares, capela, casas de caseiros, pátio, aidos, palheiros, terras de lavradio, ramadas, árvores de frutos, pomar, noras, minas, água de bica, tanques e mais pertenças, tudo cercado de muro alto.
No dia seguinte ao emprazamento, Manuel de Fontes contrai um empréstimo de quatro contos de reis junto do senhorio directo. Justifica a necessidade de tal quantia para negócios úteis ao casal, dando como garantia a própria quinta. No dia 5 de Agosto, morre Francisco Martins da Costa, que era simultaneamente o senhorio directo e credor com garantia hipotecária sobre o domínio útil. Sucedeu-lhe sua filha única, D. Margarida Cândida de Araújo Martins, que casara em 20-9-1852 com o 21º Conde de Vila Pouca, Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado. Ora, em 21-11-1865, faleceu D. Margarida Cândida, sem descendentes, pelo que sucedeu como única herdeira universal sua mãe, D. Maria José da Silva Costa, viúva do credor originário.
Posteriormente, a quinta passou para propriedade da família Calém, em cujas mãos se consolidou o domínio directo com o domínio útil. Nela viveram António Alves Calém, nascido em 1829 e esposa.
Em 10-6-1911, a cerimónia do casamento da filha de António Alves Calém Júnior (1860-1932), D. Júlia de Oliveira Calém com Alfredo Leopoldo Carlos Hoelzer, teve lugar na capela da quinta. Outra das filhas, D. Maria Joaquina de Oliveira Calém também aí casou com António Montez Champalimaud, em 7-6-1919.
Um incêndio na madrugada do dia 10-2-1921 destruiu grande parte da casa, juntamente com o acervo de arte de António Champalimaud. Também em 6-5-1922, Joaquim de Oliveira Calém casou na capela da quinta com D. Maria Helena Pacheco. Tem sido tradição desta família o casamento na capela desta quinta. Duas filhas deste ultima casal, casaram com os gémeos Almeida Garrett, respectivamente em 1951 e 1955.
Há um caso insólito nesta quinta. Em 25-4-1918, aí se bateram em duelo de espada, o capitão Jorge Dias da Costa, ao tempo subchefe do Estado-maior e o capitão Alfredo Meio de Carvalho, comissário geral da Policia do Porto. Em escassos vinte segundos foi o capitão Meio de Carvalho ferido, tendo o duelo terminado aí com a reconciliação das partes”.
Fonte – Site: uniaojf-sminfesta-srahora.pt



Entrada da Quinta da Amieira – Ed. manueljosecunha.blogspot.pt


Casa e Capela da Quinta da Amieira - Fonte: “abelsalazar-10p-mamedeinfesta-18.blogspot.pt”


Quinta da Amieira




A Quinta da Amieira à data do emprazamento por prazo fateusim perpétuo a Manuel Fontes e esposa, feito por escritura lavrada nas notas do tabelião portuense Tomás Megre Restier, tinha as confrontações indicadas no texto seguinte.

 “Era então a aludida propriedade constituída pela quinta da Amieira sita no lugar assim denominado, da freguesia de Leça do Balio, constante de casas nobres de três andares, com capela, casas de caseiros, pátio, aidos, palheiros, terras lavradias, ramadas, árvores de fruta, pomar, noras, minas, água de bica, tanques e mais pertenças, tudo cercado de muros altos, a confrontar do nascente com o caminho de servidão da quinta e de diversos consortes, do poente com caminho de servidão, norte com o campo do Queirão ou Reimão, pertença da mesma quinta, do sul Manuel da Silva Jorge e com a Boucinha, também pertença da quinta; uma boucinha de terra de mato junto à quinta pelo lado sul, vedada com parede, a confrontar do nascente com o campo da Amieira, nos limites da freguesia de S. Mamede de Infesta; o campo do Queirão ou Reimão, de terra lavradia e videiras, que está junto à quinta pelo norte; o campo chamado O Chapéu de Três Bicos, de terra lavradia, a confrontar do nascente com o caminho de servidão da quinta e de outros consortes, do poente com a estrada que vai do Porto para o Padrão da Légua, do sul caminho de servidão; o campo do Redondo e da Cancela, de terra lavradia, a confrontar do nascente com caminho de servidão, norte herdeiros de Manuel Silva Guimarães e sul Manuel da Silva Jorge; o campo da Benfolga, de terra lavradia e videiras; a bouça do Talho, de mato e pinheiros; a bouça da Gatanheira, de mato e pinheiros e parte cultivada que confrontava do poente com caminho público do Porto ao Padrão da - Légua; todos estes campos e bouças sitos na freguesia de Leça do Balio; e finalmente o campo da Amieira, no lugar assim chamado que, como já foi dito, ficava no limite da freguesia de S. Mamede de Infesta, composto de terra lavradia com videiras, com uma presa que recebia águas da quinta da Amieira, a confrontar do nascente com Domingos de Almeida e Silva, António Wenceslau da Costa Dourado que era o proprietário da quinta do Dourado, e outros, do poente e norte com caminho de servidão.
Vê-se, pelas confrontações dos diversos bens pertencentes à quinta e nela integrados, que se estendia desde o campo da Amieira, já em S. Mamede de Infesta, a nascente, até à estrada do Porto para o Padrão da Légua, actualmente denominada Rua Nova do Seixo, a poente, onde terminava a bouça da Gatanheira e o campo Chapéu de Três Bicos. Ainda hoje, o prolongamento da Rua Central do Seixo se denomina Rua da Amieira”.
Fonte: “abelsalazar-10p-mamedeinfesta-18.blogspot.pt”



Casa em ruínas da Quinta da Amieira – Fonte: Google maps


Por comparação com foto anterior a casa e a capela já tiveram melhores dias.
A família Calém que já, em plena 2ª metade do século XIX se torna proprietária da quinta, é bem conhecida no mercado vinícola nacional e internacional. Das dezenas de marcas de Vinho do Porto, a Porto Calém destaca-se como uma das mais famosas.
A Porto Calém foi fundada por António Alves Calém, em 1859 e manteve-se na mesma família por quatro gerações.


Em 1859 “D. Pedro V tinha sido coroado há apenas quatro anos, o oídio tinha feito os primeiros estragos nas vinhas do Douro há apenas sete e seria ainda necessário esperar mais quatro para que a filoxera manifestasse pela primeira vez o seu poder destruidor na freguesia de Gouvinhas. No Porto, António Alves Cálem dedica-se pela primeira vez a negociar vinho do Porto para o mercado brasileiro. O seu símbolo, uma imponente embarcação que simbolizava as travessias do Atlântico sul, com carregamento de vinho para lá e o regresso com madeiras nobres das florestas tropicais. (…)
(…) Como a maioria das empresas que nasceram na viragem da primeira metade do século XIX, a Cálem criou raízes com as alterações fiscais do primeiro-ministro britânico Gladstone, que se queixava, com razão, que os impostos altos sobre o Port Wine impediam os pobres de lhe aceder. E terá sem dúvida beneficiado do facto de a filoxera ter arrasado as vinhas francesas antes de chegar ao Douro, o que fez com que durante anos a procura mundial de vinhos durienses tenha disparado para perto de 60 mil pipas anuais. E, visto em perspectiva, a Cálem, como a Ramos-Pinto ou a Wiese & Krohn, sofreu das mesmas agruras das pequenas firmas. Mas foi capaz de resistir até à década de 1990. Aí, como aconteceu a uma grande parte das empresas do sector do vinho do Porto, sucumbiu ao processo de concentração.”
Fonte: Jornal Público, Vinho- Histórias, 31/10/2009

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