“Localizada na Rua do
Tronco, junto à Via Norte, esta quinta constituía um bem patrimonial da Casa de
Minotes, da nobre família Martins da Costa, da freguesia de Fermentões,
concelho de Guimarães.
Francisco Martins da
Costa, fidalgo da Casa Real, herdou-a da tia, D. Luísa Rosa de Araújo Martins,
por testamento de 1854.
Em 10/6/1856, por
escritura, ele empraza a quinta da Amieira a Manuel de Fontes, negociante e
esposa, D. Maria da Glória Fontes, por prazo fateusim perpétuo.
Era a aludida
propriedade constituída pela quinta da Amieira, constando de casas nobres de
três andares, capela, casas de caseiros, pátio, aidos, palheiros, terras de
lavradio, ramadas, árvores de frutos, pomar, noras, minas, água de bica,
tanques e mais pertenças, tudo cercado de muro alto.
No dia seguinte ao
emprazamento, Manuel de Fontes contrai um empréstimo de quatro contos de reis
junto do senhorio directo. Justifica a necessidade de tal quantia para negócios
úteis ao casal, dando como garantia a própria quinta. No dia 5 de Agosto, morre
Francisco Martins da Costa, que era simultaneamente o senhorio directo e credor
com garantia hipotecária sobre o domínio útil. Sucedeu-lhe sua filha única, D.
Margarida Cândida de Araújo Martins, que casara em 20-9-1852 com o 21º Conde de
Vila Pouca, Rodrigo de Sousa Teixeira da Silva Alcoforado. Ora, em 21-11-1865,
faleceu D. Margarida Cândida, sem descendentes, pelo que sucedeu como única
herdeira universal sua mãe, D. Maria José da Silva Costa, viúva do credor
originário.
Posteriormente, a
quinta passou para propriedade da família Calém, em cujas mãos se consolidou
o domínio directo com o domínio útil.
Nela viveram António Alves Calém, nascido em 1829 e esposa.
Em 10-6-1911, a
cerimónia do casamento da filha de António Alves Calém Júnior (1860-1932), D.
Júlia de Oliveira Calém com Alfredo Leopoldo Carlos Hoelzer, teve lugar na
capela da quinta. Outra das filhas, D. Maria Joaquina de Oliveira Calém também
aí casou com António Montez Champalimaud, em 7-6-1919.
Um incêndio na
madrugada do dia 10-2-1921 destruiu grande parte da casa, juntamente com o
acervo de arte de António Champalimaud. Também em 6-5-1922, Joaquim de Oliveira
Calém casou na capela da quinta com D. Maria Helena Pacheco. Tem sido tradição
desta família o casamento na capela desta quinta. Duas filhas deste ultima
casal, casaram com os gémeos Almeida Garrett, respectivamente em 1951 e 1955.
Há um caso insólito nesta quinta. Em 25-4-1918, aí se bateram em duelo de
espada, o capitão Jorge Dias da Costa, ao tempo subchefe do Estado-maior e o
capitão Alfredo Meio de Carvalho, comissário geral da Policia do Porto. Em
escassos vinte segundos foi o capitão Meio de Carvalho ferido, tendo o duelo
terminado aí com a reconciliação das partes”.
Fonte – Site: uniaojf-sminfesta-srahora.pt
Entrada da Quinta da Amieira – Ed.
manueljosecunha.blogspot.pt
Casa e Capela da Quinta da Amieira - Fonte: “abelsalazar-10p-mamedeinfesta-18.blogspot.pt”
Quinta da Amieira
A Quinta da Amieira à data do emprazamento por prazo
fateusim perpétuo a Manuel Fontes e esposa, feito por escritura lavrada nas
notas do tabelião portuense Tomás Megre Restier, tinha as confrontações
indicadas no texto seguinte.
“Era então a aludida propriedade constituída
pela quinta da Amieira sita no lugar assim denominado, da freguesia de Leça do
Balio, constante de casas nobres de três andares, com capela, casas de
caseiros, pátio, aidos, palheiros, terras lavradias, ramadas, árvores de fruta,
pomar, noras, minas, água de bica, tanques e mais pertenças, tudo cercado de
muros altos, a confrontar do nascente com o caminho de servidão da quinta e de
diversos consortes, do poente com caminho de servidão, norte com o campo do
Queirão ou Reimão, pertença da mesma quinta, do sul Manuel da Silva Jorge e com
a Boucinha, também pertença da quinta; uma boucinha de terra de mato junto à
quinta pelo lado sul, vedada com parede, a confrontar do nascente com o campo
da Amieira, nos limites da freguesia de S. Mamede de Infesta; o campo do
Queirão ou Reimão, de terra lavradia e videiras, que está junto à quinta pelo
norte; o campo chamado O Chapéu de Três Bicos, de terra lavradia, a confrontar
do nascente com o caminho de servidão da quinta e de outros consortes, do
poente com a estrada que vai do Porto para o Padrão da Légua, do sul caminho de
servidão; o campo do Redondo e da Cancela, de terra lavradia, a confrontar do
nascente com caminho de servidão, norte herdeiros de Manuel Silva Guimarães e
sul Manuel da Silva Jorge; o campo da Benfolga, de terra lavradia e videiras; a
bouça do Talho, de mato e pinheiros; a bouça da Gatanheira, de mato e pinheiros
e parte cultivada que confrontava do poente com caminho público do Porto ao
Padrão da - Légua; todos estes campos e bouças sitos na freguesia de Leça do
Balio; e finalmente o campo da Amieira, no lugar assim chamado que, como já foi
dito, ficava no limite da freguesia de S. Mamede de Infesta, composto de terra
lavradia com videiras, com uma presa que recebia águas da quinta da Amieira, a
confrontar do nascente com Domingos de Almeida e Silva, António Wenceslau da
Costa Dourado que era o proprietário da quinta do Dourado, e outros, do poente
e norte com caminho de servidão.
Vê-se, pelas confrontações dos diversos bens pertencentes à quinta e nela
integrados, que se estendia desde o campo da Amieira, já em S. Mamede de
Infesta, a nascente, até à estrada do Porto para o Padrão da Légua, actualmente
denominada Rua Nova do Seixo, a poente, onde terminava a bouça da Gatanheira e
o campo Chapéu de Três Bicos. Ainda hoje, o prolongamento da Rua Central do
Seixo se denomina Rua da Amieira”.
Fonte: “abelsalazar-10p-mamedeinfesta-18.blogspot.pt”
Casa em ruínas da Quinta da Amieira – Fonte: Google maps
Por comparação com foto anterior a casa e a capela já tiveram
melhores dias.
A família Calém que já, em plena 2ª metade do século XIX se
torna proprietária da quinta, é bem conhecida no mercado vinícola nacional e
internacional. Das dezenas de marcas de Vinho do Porto, a Porto Calém
destaca-se como uma das mais famosas.
A Porto Calém foi fundada por António Alves Calém, em 1859 e
manteve-se na mesma família por quatro gerações.
Em 1859 “D. Pedro V
tinha sido coroado há apenas quatro anos, o oídio tinha feito os primeiros
estragos nas vinhas do Douro há apenas sete e seria ainda necessário esperar
mais quatro para que a filoxera manifestasse pela primeira vez o seu poder
destruidor na freguesia de Gouvinhas. No Porto, António Alves Cálem dedica-se
pela primeira vez a negociar vinho do Porto para o mercado brasileiro. O seu
símbolo, uma imponente embarcação que simbolizava as travessias do Atlântico
sul, com carregamento de vinho para lá e o regresso com madeiras nobres das
florestas tropicais. (…)
(…) Como a maioria das
empresas que nasceram na viragem da primeira metade do século XIX, a Cálem
criou raízes com as alterações fiscais do primeiro-ministro britânico
Gladstone, que se queixava, com razão, que os impostos altos sobre o Port Wine
impediam os pobres de lhe aceder. E terá sem dúvida beneficiado do facto de a
filoxera ter arrasado as vinhas francesas antes de chegar ao Douro, o que fez
com que durante anos a procura mundial de vinhos durienses tenha disparado para
perto de 60 mil pipas anuais. E, visto em perspectiva, a Cálem, como a
Ramos-Pinto ou a Wiese & Krohn, sofreu das mesmas agruras das pequenas
firmas. Mas foi capaz de resistir até à década de 1990. Aí, como aconteceu a
uma grande parte das empresas do sector do vinho do Porto, sucumbiu ao processo
de concentração.”
Fonte: Jornal Público, Vinho- Histórias, 31/10/2009
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