O escultor Henrique Moreira nasceu em V. N. de Gaia,
Avintes, em 9 de Maio de 1890, no seio de uma família modesta de lavradores.
O seu pai, Manuel de Araújo Moreira fora tanoeiro e a sua
mãe Josefa da Silva toucinheira, em Magarão, tornando-se depois merceeiros no
lugar de Cabanões (actual Rua 5 de Outubro), em Avintes.
Faleceu na sua casa, na Avenida Antunes Guimarães, no Porto, em 16 de Fevereiro de 1979.
“Na infância, Henrique
frequentou a Escola Primária de Cabanões, onde revelou o talento para o
desenho. O exame da 4ª classe foi realizado no Porto. Nesses tempos, como o
próprio contava, os seus passatempos favoritos eram desenhar bonecos e modelar
figuras em barro.
Depois de concluídos
os estudos básicos trabalhou na loja do pai, mas, ao contrário dos irmãos
Joaquim e Cesário, o negócio familiar não o seduziu, pois a sua paixão
continuava a ser o desenho. Foi também aprendiz de sapateiro e de santeiro.
Em 1905, com 15 anos
de idade ingressou na Academia Portuense de Belas Artes. Nesta escola, então
instalada nos claustros do convento de Santo António da Cidade (atual
Biblioteca Pública Municipal do Porto) rapidamente se notabilizou. No primeiro
ano de frequência completou o correspondente a dois anos letivos e seis anos
mais tarde terminou o curso com a classificação final de dezassete valores.
Nas Belas Artes foi
discípulo de José de Brito, António Teixeira Lopes, Sousa Pinto e Marques da
Silva, e condiscípulo dos escultores Diogo de Macedo, António de Azevedo,
Zeferino Couto, Sousa Caldas, Manuel Martins e Azulina Gouveia, dos pintores
Joaquim Lopes, Heitor Cramez e Armando Basto e ainda dos arquitetos Manuel e
Francisco Marques.
Após a conclusão da
licenciatura passou a trabalhar no atelier do Mestre Teixeira Lopes, vindo,
poucos anos depois, a seguir um caminho autónomo.
A 29 de Novembro de
1913 casou com Adelina Campos Nunes, sua conterrânea, na Igreja Paroquial de
Avintes, tendo por padrinhos Joaquim de Oliveira Lopes e a mulher, e como
testemunhas Teixeira Lopes e o seu sobrinho Maciel. O casal viveu os primeiros
anos em comum em Vila Nova de Gaia (na casa dos sogros, na Rua da Rasa, na
Serra do Pilar, e no Candal) e posteriormente no Porto na Foz do Douro e por
fim na Avenida Antunes Guimarães. Tiveram cinco filhos.
Dedicou toda uma vida
somente à produção escultórica, em Portugal (apenas viajou até Espanha), apesar
de ter sido convidado, por diversas ocasiões, pelo amigo Sousa Caldas para
lecionar na Escola Faria Guimarães, declinando a proposta com a alegação de que
os rígidos horários escolares afetariam o seu trabalho”.
Fonte: “sigarra.up.pt”
“O atelier de Henrique Moreira, talvez o
escultor que mais obras deixou no Porto, ficava na antiga casa das máquinas do
antigo elevador dos Guindais, desactivada depois do acidente. Amigo de nossa
família, ainda o visitei em jovem, tendo ficado assombrado com a quantidade das
esculturas em gesso que aí estavam “semeadas”. Uma boa parte delas eram de
obras já executadas. Na foto ainda se vêm pedras e trabalhos.
Desde o século XIX a escola de Belas artes do
Porto tem-se distinguido por grandes escultores tais como Soares dos Reis
(1847-1889), Teixeira Lopes (pai) (1837-1918), Teixeira Lopes (filho)
(1866-1942), Américo Gomes, António Fernandes Sá (1874-1959), Henrique Moreira
(1890-1979) e tantos outros”.
Com a devida vénia a
Rui Cunha
As obras deste escultor estão dispersas por todo o País.
A maioria dos portuenses, por certo, passa ao lado de muitas
delas, sem se aperceber de quem foi o seu autor.
Por exemplo, e fazendo referência apenas a uma parte do que
foi a sua produção artística, apresentam-se algumas obras do mestre.
Obras de Henrique
Moreira
Monumento aos
Mártires da Grande Guerra (1928)
O monumento de homenagem aos mártires da 1ª Guerra Mundial
está na Praça Carlos Alberto. Foi inaugurado em 9 de Abril de 1928, e acabaria
por substituir um primeiro monumento, construído na cidade, em 1924, por
iniciativa da Junta Patriótica do Norte.
Busto de Camilo
Castelo Branco na Avenida Camilo
Em 16 de Março de 1925, é inaugurado um busto de Camilo
Castelo Branco, por iniciativa do jornal “O Comércio do Porto”, no início da
avenida com o nome do escritor, nos 100 anos do seu nascimento. Durante muito
tempo, houve diversas tentativas de erigir uma estátua, mas sem sucesso.
“Menina da Avenida”,
“Menina Nua” ou “Juventude” (1929) na Avenida dos Aliados
“Chamava-se,
Aurélia Magalhães Monteiro, e era conhecida por Lela, Lelinha ou pela «Ceguinha
do 9» (cegou aos 43 anos) - para a eternidade ficará sempre a ser a «Menina
Nua» da Av. dos Aliados. Nasceu no dia 4 de Dezembro de 1910, na freguesia do
Bonfim, e pouco tempo antes de falecer, dizia-me «que tinha sido uma das
mulheres mais apreciadas e cobiçadas do seu tempo» … Estive duas semanas a
«posar» e ainda hoje recordo com alegria e saudade aqueles momentos de
trabalho, pois posso morrer amanhã que todos ficarão a saber quem era a Lela...
se a memória não me falha, comecei com o mestre Teixeira Lopes, na
figura-modelo da rainha D. Amélia, esta estátua encontra-se actualmente no
Museu com o mesmo nome, em Vila Nova de Gaia… fiz de modelo para vários
mestres, entre eles: Acácio Lino, Joaquim Lopes, Dórdio Gomes, Sousa Caldas,
Augusto Gomes, Camarinha e os consagrados, Henrique Moreira e Teixeira Lopes…”
Aurélia Magalhães Monteiro, a Lela, Lelinha, ou a «Ceguinha do 9», faleceu no
dia 2 de Junho de 1992, com 82 anos de idade; no entanto a «Menina Nua»,
continua viva, fixa e eterna, ali na Av. dos Aliados envolta nos nevoeiros
citadinos, perpétua e ardente, nos dramas e vitórias deste povo.
Extraído do livro
“Pasteleira City”, de Raul Simões Pinto. Edições Pé de Cabra, Fevereiro de 1994
“Os Meninos”, ou
“Abundância”, ou "No País das Uvas" (1931), na Avenida dos Aliados
“No primeiro talhão da
Av. dos Aliados foi colocado ontem, 27 de Fevereiro de 1932, um novo motivo
decorativo, da autoria do distinto escultor Henrique Moreira.
“No País das Uvas” é
uma formosa concepção artística, representando três crianças, trabalhadas em
bronze, que sustentam uma taça transbordante do precioso fruto.”
In jornal “O Comércio do Porto” de 28 de Fevereiro de 1932 –
Cit. de Guido Monterey (“O Porto 2”, p. 465)
“O Salva-vidas” ou
“Lobo-do-mar” (1937) junto da praia do Molhe
Monumento de
homenagem a Raul Brandão (1967) na Foz do Douro – Ed. “Mapio.net”
Estátua do Padre
Américo (1961) no Jardim da Praça da República - Ed. JPortojo
Monumento aos Heróis
da Guerra Peninsular na Rotunda da Boavista - Ed. “Mapio.net”
"O Triunfo da Indústria" (1946) na fachada do Palácio do
Comércio, na Rua de Sá da Bandeira
“O Pedreiro” (1933)
no Largo Alexandre Sá Pinto
Este pedreiro, várias vezes, desceu do seu pedestal.
Colocado num jardim fronteiro à Escola Infante D. Henrique,
por vezes, os estudantes condoídos, sentavam-no na relva com o letreiro: “A
descansar”.
A escultura veio para aqui transferida do Jardim da
Cordoaria, onde esteve, antes.
Busto de Antero de
Figueiredo (1966) junto ao Mercado da Foz do Douro
Monumento de
homenagem ao Dr. Joaquim G. Ferreira Alves em Valadares – Benemérito, Fundador
e Director Clínico do Sanatório de Valadares
Baixo-relevo no
interior do Coliseu do Porto
Baixos-Relevos
coloridos no interior da loja “Lopo
Xavier & Cia. Lda” (Praça Carlos Alberto), in Lojas do Porto,
volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco
No interior desta loja, conservam-se dois baixos-relevos de
Henrique Moreira (acima reproduzidos), alusivos ao trabalho familiar que o
negócio da firma pretende promover.
Sobre esta retrosaria, icónica da cidade do Porto, diz-se no
seu site:
“A Lopo Xavier & Companhia
Lda., é uma loja da cidade do Porto dedicada à revenda de produtos de
retrosaria, fios e tecidos. Foi fundada em 1934 por Lopo Xavier e Idalino
Pacheco, com a colaboração benemérita de Gustavo Burmester.
Em 1972 os sócios
fundadores Lopo Xavier e Idalino Pacheco convidaram a juntar-se-lhe na direção
da firma, os seus trabalhadores: Arnaldo Sotto-Mayor, Bernardino Ribeiro Silva
e Mário Martins Ribeiro.
A firma manteve toda a
sua tradição apesar do desaparecimento dos seus sócios: o Sr. Lopo Xavier em
1980, o Sr. Arnaldo Sotto-Mayor em 1988, o Sr. Idalino Pacheco em 1997 e por
último o Sr. Bernardino Ribeiro da Silva em 2013”.
A loja “Lopo Xavier
& Cia. Lda” que, em 6 de Outubro de 1934, foi alvo de
uma alteração da fachada, segundo um projecto do arquitecto Aucíndio Ferreira
dos Santos, é um dos poucos estabelecimentos comerciais (históricos) que ainda
permanecem, naquela zona da cidade, abertos ao público.
Desde há dois anos, que esta loja vem resistindo a uma ordem
de despejo, vinda da venerável Ordem do Carmo, o senhorio de sempre.
Maria João Alonso e Ana Maria Alonso Oliveira, as actuais proprietárias, vêm lutando com
denodo, para que não sejam obrigadas a cessar a actividade comercial do estabelecimento, após terem conseguido que o município o declarasse com interesse histórico, e para que não
se perca mais uma, memória da cidade.
Desenho do alçado da fachada, in Lojas do
Porto, volume 1, Edições Afrontamento Porto 2009 de Luís Aguiar Branco
Fachada actual de “Lopo
Xavier & Cia. Lda” – Ed. Manuela Campos (2019)
A fachada actual desta loja é da autoria do arquitecto
Avelino dos Santos, da “ARS-Arquitectos” e data de 1947.
Baixos-Relevos no
Frigorífico do Peixe (1935/39), hoje um hotel, em Massarelos
(Continua)
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