Outros factos
natalícios
O Natal foi sempre
reflectindo as diferentes épocas.
Recuando a épocas
que ainda nos são próximas, como sejam as de 30 até 70 do século passado, éramos
sempre (um pouco) diferentes a cada Natal.
Antigamente, havia
tantas mesas de Natal quantas as zonas do país. No Alentejo comia-se carne de
porco ou até cação de coentrada, no Norte, o bacalhau.
Depois, com o tempo e
a influência da televisão a ceia de Natal dos portugueses foi ficando cada vez
mais parecida.
Hoje, a chamada consoada
minhota influencia os hábitos alimentares do país inteiro. Por todo o Portugal
começou a comer-se bacalhau, couves, rabanadas (mesmo que em muitos sítios se chamem a estas, "fatias douradas").
"Nós que tínhamos 20 ou 30 consoadas
passámos a ter praticamente só uma."
Sobre o costume de
jejum na véspera de Natal, passada a Sul e a comparação com o dos portuenses,
há mais de 100 anos, escreve um lisboeta:
“Hoje em dia, a ceia da véspera de Natal tem
tanta importância como o almoço de dia 25. Mas, há 100 anos, era coisa que
existia essencialmente no Norte do País, acima do Porto. Aí, sim, havia uma
tradição de jantar em família, com bacalhau – cozido ou em pastéis –, polvo
guisado, arroz de polvo ou outros pratos sem carne. Na véspera de Natal, a
família reunia-se à mesa para celebrar a festa em conjunto. E Missa do Galo não
existia na região.
No Norte, ninguém rezava pelo Menino Jesus à
meia-noite. A essa hora toda a gente estava sentada à mesa, à volta de um polvo
ou de um bacalhau. Só as famílias da nobreza nortenha fugiam à tradição. Numa
investigação sobre "os alimentos nos rituais familiares portugueses",
Maria Antónia Lopes, do Centro de História da Sociedade e da Cultura, da
Universidade de Coimbra, publicou um menu de uma ceia de Natal de uma família
nobre do Norte, em 1891: puré de jardineira, arroz de fantasia caseira,
costeletas nacionais e "ervilhas idem" e couve-flor composta. Para
sobremesa, bolo experimental, pudim incógnito e broas de Natal, entre outros.
No final da II Guerra Mundial, o bacalhau
começou então a espalhar-se por todo o país. Segundo Nuno Miguel Costa, do
Museu Marítimo de Ílhavo, o Estado Novo via no bacalhau um prato
"simples" e "humilde" que ajudava a educar o povo a ser
poupadinho e bem comportadinho. Com a massificação da televisão e a
distribuição de bacalhau garantida pelo Estado, a ditadura aproveitou para
impor uma propaganda nacional em defesa do bacalhau, tornando-o tradição em
todo o país.
Com o devido crédito
ao site: “casalmisterio.com”
Nas últimas décadas,
fruto, como é óbvio, de conflitos acontecidos e do desenvolvimento tecnológico e
social, o Natal foi sofrendo alterações pontuais no modo como foi sendo vivido.
«A década de 30, não permitia grandes
euforias e o Natal era sobretudo ocasião de, à boa maneira do
Estado Novo, mostrar caridade para com "os pobrezinhos".
Havia, por exemplo, a Campanha de Camaradagem
do Natal dos rapazes da Mocidade Portuguesa.
"Merecem particular atenção os filiados
mais necessitados", refere o Diário
de Lisboa de 19 de Dezembro de 1943, "para o que têm sido
recrutados todos os rapazes pobres da rua, como ardinas, engraxadores, etc.
Estes rapazes, para além de bens materiais que lhes são concedidos, como
refeição diária e fardamento, recebem uma acção educativa, pois são vigiados e
acompanhados por dirigentes da Mocidade Portuguesa".
(…) Em 1945, os portugueses - e o mundo -
festejam finalmente o primeiro Natal sem guerra. Os anunciantes descontraem.
"Quer agradar à sua esposa? Ofereça-lhe um Electrolux. Aspiradores de pó,
enceradoras, frigoríficos." E tornam-se mais ousados: "Quer dar uma
prenda que nunca seja esquecida? Seja criança ou adulto, se ela gostar de
Desenho, é porque tem habilidade. Oferece-lhe um curso de Desenho (método
americano de estudo em casa). Será um alegre passatempo que poderá trazer uma
bem paga profissão."
(…) Na entrada da década de 50, a situação
económica melhora. Aparecem nos jornais anúncios a voos das grandes companhias
aéreas internacionais para a Suíça e Alemanha, ou até América do Sul e Próximo
Oriente. Faz-se publicidade às máquinas fotográficas Kodak, a aspiradores,
rádios, electrodomésticos.
O jornal Mundo Desportivo promove um concurso que tem como primeiro
prémio uma Lambretta. E o regime decide eleger a "rapariga modelo".
Noticia o DN: "O aspecto inteiramente inédito, a objectividade e o
elevado sentido moral do questionário relativo ao Concurso Internacional da
Rapariga Modelo e ainda a circunstância de proporcionar singular oportunidade
de exteriorização de opiniões, gostos e formas de ser e sentir despertaram
excepcional interesse entre as raparigas portuguesas."
Os bodos aos pobres continuam, as meninas nas
escolas competem para fazer o berço mais bonito para oferecer a uma família
pobre que esteja à espera de mais um filho. E as grande empresas - a General
Motors, a Kodak, a Shell, a Sacor, a Mobil Oil - oferecem festas de Natal aos
filhos dos seus funcionários, todas elas com direito a notícia (e em muitos
casos fotografia) nos jornais diários. Nas principais cidades do país, o
Automóvel Clube de Portugal promove o Natal do Sinaleiro, em que os
automobilistas deixam junto aos polícias sinaleiros prendas "traduzindo o
reconhecimento pela meritória acção" daqueles.
A revista para rapazes O Cavaleiro Andante promove em
grande o seu número especial de Natal com 100 páginas, por dez escudos, e com
três prémios, entre os quais uma bicicleta motorizada.
(…) Anos 60 e o mundo acelerou.
O nível de vida dos portugueses ia subindo
gradualmente, mas nos anos 60 muitas famílias ainda podiam ser descritas como
"remediadas". O dinheiro "ia dando", mas para um dia
"um bocadinho melhor" era preciso fazer algumas economias. Não é por
acaso que em 1960 surge o Cabaz do Natal, uma iniciativa do Clube das Donas de
Casa, que se torna um enorme sucesso.
Nos primeiros meses do ano começava a
aparecer nas revistas o anúncio ao cabaz, com o respectivo boletim de
inscrição. Uma família sorridente - pai, mãe, avó e neta - olha encantada para
o que vai receber no Natal por um custo de 650 escudos (pouco mais de três
euros), pago em prestações mensais de 65 escudos: latas de Atum Toneca,
Nesquik, tomate Guloso, Nescafé, Puré de Batata Maggi, bolachas Triunfo, vinho
do Porto, brandy, espumante, vinho de mesa, uma "maravilhosa boneca",
um "brinde para o marido", brinquedos, leite creme, fruta líquida,
chocolates, caramelos e drops, e muitas outras coisas.
O mundo começava a mudar e um dos factores
dessa mudança era a televisão, que chegou a Portugal em 1957. O Natal dos
Hospitais já conta com a colaboração da Radiotelevisão e da Philips portuguesa.
Portugal parece mais aberto a esse mundo que
lhe chega agora pela televisão. Em 65, o DN manda um enviado especial a Berlim para relatar, junto
do "Muro da Vergonha", o Natal na cidade dividida. Do lado ocidental
há repórteres da Europa ocidental, do outro lado há russos, jugoslavos,
chineses. No dia de Natal, o jornal noticia, optimista, que "desde o Rio
até Saigão a humanidade celebra o espírito de fraternidade e Amor".
(…) O mundo parece girar mais depressa.
E, no entanto, Portugal continua a ser um
país pobre e de emigrantes, que no Natal regressam para estar com as famílias.
O ano de 1965 ficou marcado por uma enorme tragédia: perto de três dezenas de
mortos e mais de uma centena de feridos no descarrilamento do Sud-Express. Os
relatos na imprensa são carregados de drama: "Dos destroços
impressionantes de uma das locomotivas esmagadas pelo espantoso choque, mãos
piedosas e ensanguentadas descem o cadáver desfigurado de um dos
ferroviários."»
Fonte: “publico.pt/”,
2009
Como ficou expresso
no texto anterior, o “Cabaz do Natal”, na segunda metade do século XX, foi um
sucesso enorme.
Apareceu em 1960
como resultado da actividade do “Clube das Donas de Casa”.
O programa do Clube
das Donas de Casa começou na Rádio Renascença em 1960, tendo, mais tarde, em
1964, sido emitido pelo Rádio Clube Português.
Nesse programa, com
conselhos para o público feminino, era promovido o “Cabaz do Natal”. Era, a
venda deste, o seu principal objectivo.
Como o nome indica
era um cabaz com os mais variados produtos de uso na quadra natalícia e que
tinha associado um concurso de âmbito nacional.
Durante a emissão
daqueles programas foram lançados, por exemplo, concursos como a eleição da
“Mulher Ideal” e o “Abril em Portugal”.
Henrique Mendes,
Júlio isidro, Ana Zanatti, João David Nunes e muitas outras vozes conhecidas da
rádio desses tempos passaram por lá.
Maria Emília
Trigueiros (pertencente à alta sociedade da época) vencedora em 1973 do
concurso “Mulher Ideal”
Publicidade em 1964
ao “Cabaz do Natal” – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Publicidade em 1966
ao “Cabaz do Natal” – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Publicidade em 1976
ao “Cabaz do Natal” – Fonte: “restosdecoleccao.blogspot.com”
Agradecimento
público e calendário do “Lar do Orfanato” de Ruílhe em 1968 – Fonte:
“restosdecoleccao.blogspot.com”
Publicidade em 1963
ao Atum Toneca
Publicidade de Natal
das bolachas “Triunfo”
Publicidade da Confeitaria Cunha no Natal de
1950
A revista Eva, começada a publicar em 1925, viria, mais
tarde, com o seu número de Natal, conhecido como a “Eva do Natal”, a preencher
o imaginário de muitos portuenses pelos prémios que sorteava durante aquela quadra
festiva.
Quem comprasse a revista habilitava-se a um concurso de
âmbito nacional.
Lista de prémios do concurso “Eva do Natal” de 1963
Capa da revista “Eva do Natal” de 1939 – Fonte: “diasquevoam.blogspot.pt”
Capa da revista “Eva do Natal” de 1950
A revista era dirigida ao público feminino e tornar-se-ia um
veículo de propaganda do Estado Novo, embora, por vezes, tentasse afrontar o
braço tentacular da censura.
“Uma tiragem média de
18 mil exemplares é indicativa de uma expansão considerável, principalmente ao
relembrar a existência de somente 25 mil mulheres cujo grau de capital escolar
as tornaria aptas à fruição da revista. Por forma a apelar a tão vasto público,
a revista focava-se em temáticas muito diversas, com enfoque em modas e
sociedade (registo próximo ao da atual imprensa "cor-de-rosa",
principalmente a partir de 1935: notícias de Hollywood, alguns eventos sociais
nacionais), mas sem desconsiderar as lides domésticas, o cuidado com a
cosmética e a literatura leve. Paralelamente, dinamizava sorteios, concursos e
outras iniciativas de captação e participação de público. A edição de Natal era
o pináculo disto: mais extensa, colorida e oferecendo prémios sorteados de
valor avultado, incluindo casas e carros, dependendo da situação financeira. Posteriormente
esmiúça-se a iniciativa paralela que mais relevo apresenta para a temática
orientadora desta dissertação, que é a dinamização da Escola Técnica de Donas
de Casa, uma campanha de sucesso que contou com várias edições”.
Com o devido crédito a Francisco Pereira da Silva Pais Rodrigues – Mestrado em Sociologia, FLUP
Outra actividade que a cidade não dispensa é o circo que se
realiza em vários locais e se repete todos os anos.
Um deles, como já é
tradição desde 1941, tem lugar no Coliseu Porto.
Coliseu do Porto –
Ed. “sapo.pt”
Espectáculo de circo
no Coliseu do Porto em 12 de Dezembro de 1996
O espectáculo da
foto acima teve lugar decorridos que foram cerca de 3 meses desde o incêndio aí
acontecido em 28 de Setembro daquele ano.
A sala só ficaria
completamente recuperada 2 anos depois, reabrindo com a ópera Carmen, de Bizet,
em 24 de Novembro de 1998.
Hoje, pelo Parque da Cidade do Porto (Queimódromo), outrora
pelo Palácio de Cristal, Campo 24 de Agosto, Campo do Luso, Praça das Flores,
Covelo (Paranhos), Seca do Bacalhau (junto do antigo Bairro de Xangai), Campo
do Lima (antigo estádio do Lima) e Bairro Fernão de Magalhães, levantaram tenda
várias companhias de circo que fizeram as delícias de muitos.
Uma realização que perdura nos nossos dias é o Natal dos Hospitais.
O Natal dos
Hospitais é, hoje, um programa de televisão e uma festa que se realiza todos os
anos.
Em tempos, o evento
tinha a parceria da RTP, Diário de Notícias e Philips.
“Este evento foi inaugurado em 1944 pelo
jornal Diário de Notícias para trazer um sorriso às pessoas que estão nos hospitais
durante o Natal. Começou a ser transmitido na RTP em 1958 com a apresentação de
Henrique Mendes e cujo início foi com a artista Beatriz Costa, tornando-se
assim no programa de entretenimento mais antigo da RTP.
Tem origem no anterior "Natal das Crianças
dos Hospitais", um evento promovido pela poetisa algarvia Lutegarda
Guimarães de Caires no início do século XX.
Em 1962 começou a ser transmitido em
simultâneo com a antiga Emissora Nacional e tal transmissão se prolongou, de
uma maneira bastante irregular, até ao fim do século XX na RDP- Antena 1.
Nos anos 70, o Natal dos Hospitais era
transmitido entre as 14 e as 19 horas, e era transmitido às vezes fora dos
hospitais, e em lugares públicos conhecidos, como o Casino Estoril e o Coliseu
dos Recreios”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
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