“O Pirolito foi um
semanário de humor e caricatura, publicado no Porto entre 24 de Janeiro de 1931
e Janeiro de 1934. O seu proprietário e editor foi Oliveira Valença, embora a
direção fosse assumida por Arnaldo Leite e Carvalho Barbosa e ainda o caricaturista
Cruz Caldas. Posiciona-se politicamente ao centro, como os próprios afirmam: “o
nosso jornal, sendo das esquerdas e das direitas, confessa a sua predilecção
pelo centro”. Quanto ao conteúdo, o mesmo recai sobre a sociedade e os
costumes: a liberdade e autonomia da mulher, a moda, a informalidade das
relações e os espetáculos. Ligados ao Pirolito estão os nomes de Octávio Sérgio
nas artes e Heitor Campos Monteiro como colaborador regular na área das
letras.”
Fonte: “pt.wikipedia.org”
“Em 1924, Arnaldo
Leite e Carvalho Barbosa já tinham dirigido o Córócócó, outro semanário humorístico do Porto, que se manteve
alguns anos (1927?). De resto, esse antepassado foi evocado na “capa” do
primeiro número do Pirolito, o
que leva a crer que deixara boa memória na população tripeira. A preponderância
do humor literário sobre o gráfico será filha da ligação da equipa com o teatro
(comédia e revista).
(…) Materialmente,
cada número compunha-se de 16 páginas, sendo que a primeira e a última faziam
as vezes de uma “capa”, ostentando uma cor extra, além do preto. Referia-se
ainda que o jornal era impresso em papel de tom “rosa” (mais barato que o
branco), característica que por ação da passagem do tempo é hoje uma fragrância
cromática quase impercetível.
Ainda assim, o número
avulso do Pirolito custava 1 escudo, o que não seria propriamente um valor
“popular”. Como termo de referência, considere-se que os diários de grande
circulação custavam, em média, 30 centavos. Quanto à venda por assinatura, os valores fixados para o trimestre, semestre e
ano eram: 11$00, 21$00 e 40$00 escudos, respetivamente. Já a assinatura anual para
as Colónias onerava em 50$00, e para o Brasil atingia os 60$00. Apesar do preço
pouco amigável, o primeiro número ter-se-á esgotado em poucas horas, o que
muito entusiasmou a direção, que no segundo numero já se vangloriava: «digno
filho do “Córócócó”, o jovem “Pirolito” entrou com o pé direito na vida
citadina, fazendo, desde hoje, parte das necessidades do tripeirinho de gêma.”
Cortesia de Rita Correia – 11/12/2014
Capa do jornal «Córócócó» de 27/02/1926 (desenho a tinta da
china) – Fonte: Gisaweb
No desenho acima estão representados Carvalho Barbosa e
Arnaldo Leite, em cima de garnizés com as suas penas (de escrever) numa mão e
agradecendo com a outra à estátua "Porto", que feliz atira flores aos
dois escritores.
Por fundo veem-se a Torre dos Clérigos, a Ponte Luís I e o
Palácio de Cristal, ex-libris da cidade do Porto.
Aparecido numa época de recessão económica que abrangeu o
fim da década de 20 e o começo da década de 30 do século XX, o semanário “O
Pirolito” pretendia face às necessidades económicas da população fidelizar os
leitores oferecendo por exemplo por um destacável do jornal, uma sessão de
cinema semanal e gratuita.
Dessa campanha usufruíam também os leitores do desportivo
“Sporting” de que era proprietário Oliveira Valença, e que tinha sede tal como
“O Pirolito” na já desaparecida Rua da Cancela Velha, nº 30.
Foi também estratégia d’ “O Pirolito” no fim de cada edição
deixar algo em “suspense” para adoçar a curiosidade dos leitores para o número
seguinte, de que fazia parte a realização de vários concursos que tinham
associados uma vasta lista de prémios.
Capa d’ ”O Pirolito” - sábado, 29/12/1931
”O Pirolito”em plena época natalícia - sábado, 29/12/1931,
pág 3
No último número de 1931, o Pirolito lançou o
inquérito “O que será o ano de 1932?”.
No mesmo número, num outro concurso, os leitores teriam que
glosar o tema: “Há muito tempo que
aguardo o dia do fim do mundo.”
O vencedor teria um prémio chorudo - Mil escudos.
O último número d’ “O Pirolito: Bate Que Bate” de que há
notícia foi o nº 158, de 27 de Janeiro de 1934.
Anúncio de concurso d’ “O Pirolito: Bate Que Bate”
Como se disse “O Pirolito” com a sua redacção e demais
serviços administrativos estava sedeado na Rua da Cancela Velha, já
desaparecida. Para nos situarmos quanto à localização daquela artéria, diga-se
que ela implantava-se entre a fonte (Fonte dos Aliados) que actualmente está um
pouco à frente da estátua de Garrett, ao cimo da Avenida dos Aliados e a Rua do
Bonjardim, aqui terminando, no que agora é, o nº 368.
Note-se que o Palácio dos Correios, à data, ainda não
existia, bem como a Rua Costa Carvalho.
A linha a preto representa a implantação da desaparecida Rua
da Cancela Velha fruto da demolição do chamado Laranjal para abertura da
Avenida dos Aliados
Legenda:
1. Fonte dos Aliados que tenta recriar uma outra que era
também enterrada e que para se ter acesso à sua bica (que estava lá em baixo,
ao centro e brotava do chão) se descia por uma escadaria.
Por razões óbvias, o povo baptizou-a por Fonte do Olho do
Cu.
A pequena praça onde estava essa fonte, mais tarde
substituída por um chafariz que veio do Largo de S. Domingos e que agora está,
mais acima, junto à igreja da Trindade, chamava-se Largo do Laranjal.
2. Términos da Rua da Cancela Velha, um pouco acima da Casa
Januário que fica na esquina da Rua Formosa com a Rua do Bonjardim.
3. Estátua de Almeida Garrett em frente da Câmara Municipal
Estátua de Almeida
Garrett na Avenida dos Aliados
Fonte dos Aliados –
Ed. JPortojo
“Maria Rita”
Este semanário humorístico do Porto manteve-se nas bancas desde
23 de Abril de 1932 até 9 de Dezembro de 1933. Saía aos Sábados.
A 4 de Agosto de 1934, Maria Rita teve um «Número Especial» dedicado à 1.ª
Exposição Colonial Portuguesa, inaugurada no Palácio de Cristal, no Porto, a 16
de Junho de 1934.
O legado do Maria Rita
fixou-se, portanto, em 86 números mais um, «Especial» e único.
O Maria Rita era a versão feminina do Zé Povinho,
criado por Bordalo Pinheiro, a quem foi rendida homenagem no primeiro número.
A linha editorial está condensada e explicitada no texto
seguinte:
“«Engano! A vida é
diabolicamente linda, como um sorriso de Greta Garbo, e prodigiosamente alegre,
como uma carteira a transbordar. Mas, mesmo que assim não fosse, − tristezas
não pagam dívidas. Cá em casa não se admitem lágrimas, a não ser o
«lacrima-cristi». E ainda assim, prefere-se-lhe o champanhe: no cristal
transparente da Verdade, a espuma saltitante do Riso.»”
Cabeçalho de apresentação do “Maria Rita”
Anúncio do “Maria Rita” publicitando um concurso em
25/06/1932
No anúncio acima pode-se verificar o selo no canto inferior
direito: “Visado pela Comissão de Censura”. Eram tempos do início da ditadura.
Regras e prémios de concurso natalício e de fim de ano do
“Maria Rita” no ano de 1932
“É um jornal de
pequeno formato (32 cm), com 16 páginas, impressas a duas cores; a primeira
era, em regra, ocupada com um cartoon (vinheta
cómica). A estrutura de secções foi variando ao longo do tempo e assumindo a
forma de uns supostos «suplementos» que foram crescendo em número. Apresenta
publicidade, mas com a particularidade de ser temperada com humor. O preçário
do Maria Rita era o seguinte:
avulso – 1 escudo; as condições de assinatura contemplavam as opções ano e
semestre e variavam de acordo com a geografia - Continente e ilhas
(45$00/24$00); Colónias (50$00/70$00); Estrangeiro – 60$00/100$00).
O semanário era
propriedade da empresa editora do «Magazine “Civilização”», célebre mensário da invicta, fundado uns anos
antes (julho de 1928) por Ferreira de Castro e Abílio Campos Monteiro, que
partilharam a sua direção.
(…) Na Grande
Enciclopédia Portuguesa e Brasileira «Maria Rita» é apresentada como uma figura
associada ao folclore, por via de um «contarelo popular» que canta o seu
espirito otimista, a sua atitude “não te importes” e zombeteira, o que lhe
valeu o morrer a rir. Referem ainda que foi a origem da expressão adjetivante
«é como a Maria Rita», que entretanto caiu em desuso.
(…) Maria Rita, filha da Civilização, teve por
diretores literários, Arnaldo Leite, Carvalho Barbosa e José Artimanha,
pseudónimo usado por Heitor Campos Monteiro; e como diretor artístico, Octávio
Sérgio que desempenhava também as funções de «Secretário da Redacção». O editor era E. Costa Monteiro. A partir de
julho de 1933, a direção do Maria Rita
passou a ser assegurada apenas pelos dois irmãos Campos Monteiro, Heitor
(José de Artimanhas) e Germano (Dr. Knox).
A Redação e
Administração do Maria Rita estavam
sedeadas na Rua do Almada, 107- 2.º, no Porto. O espaço era partilhado com a Civilização, que até ali tinha estado
sedeada na Rua Duque de Loulé, 151 – 1.º, na mesma cidade.
Já no que tocava aos serviços
de composição e impressão recorriam a tipografias diferentes, sendo a do Maria Rita a Imprensa Portuguesa, na
Rua Formosa, 116. As duas publicações também partilhavam redatores,
ilustradores, colaboradores (literários e gráficos) e, provavelmente, muitos
outros recursos humanos, técnicos e materiais, daí que não surpreenda a
constatação de uma série de semelhanças e afinidades, quer na forma, quer na
substância.
(…) Nessa altura, Maria Rita vangloriou-se sim de ser
descendente ou continuadora da estirpe de outra Maria Rita nascida também no Porto, em 1885: «Só os que forem muito velhos, acima dos setenta e tantos anos, se
lembrarão ainda da Maria Rita, esse Demócrito de saias e chinelas de ourelo que passou a vida a rir, e a rir deu a alma
ao Criador, certo dia em que
dois ou três casos grotescos desabaram sobre ela, ao mesmo tempo,
como uma nuvem densa de gases hilariantes».
Relativamente a essa antepassada as memórias
não só escasseiam como não são completamente coincidentes. Recorreu-se aos
apontamentos de Augusto Xavier da Silva Pereira (1838-1902) porque são coevos e
reúnem mais informação. De acordo com a sua descrição, Maria Rita foi iniciada a 16 de junho de 1885 e manteve-se até 14
de setembro de 1886; foram seus dirigentes Sá Albergaria e António Cruz e o ilustrador
J. M. Pinto; no primeiro número, foi explicado que o título era inspirado num dos
vultos políticos do partido monárquico; e trazia na primeira página o retrato
da
«Maria Rita (mulher do povo que dizem morreu
a rir)», sendo evidentes as
semelhanças com «um distincto general de engenharia que foi
ministro d’estado num dos gabinetes organizados pelo partido progressista.»”
Cortesia de Rita Correia, Lisboa, 2/08/2017
Na sequência da morte de Abílio de Campos Monteiro, a 4 de
Dezembro de 1933, foi anunciado o fim do Maria Rita, no “último” número
sequencial, no qual lhe foi rendida homenagem.
Abílio de Campos Monteiro usava os pseudónimos «Marcial Jordão», para
assinar o editorial «Factos a prestações. Crónica
anacrónica», e «Turiddu» na
secção «Peças e Fitas».
De entre outras colaborações destacam-se:
Heitor de Campos Monteiro que encarnava a figura do director
«José de Artimanha» que assinava a
secção «O passado… passado a ferro»;
Germano de Campos Monteiro que tudo indica ter sido o «Dr. Knox» que
redigia as histórias «De arrepiar os Cabelos» e que,
a partir de Julho de 1933, passou a figurar no cabeçalho do semanário como director;
Tomaz Ribeiro Colaço assinava a crónica «Folhas de Alface,
cartas da Capital»;
Abreu e Sousa e Ascensão Barbosa eram os «Irmãos Unidos», que redigiam a crónica
«Por Mal dos Nossos Pecados (Impressões de dois lisboetas de empréstimo)»;
Arnaldo Leite e Carvalho Barbosa, ambos directores
literários, que escreviam a coberto de um nome inventado.
Sobre as secções e rubricas destacam-se:
«Coisas de fora»,
notícias curtas do estrangeiro;
«Bola ao Centro»
noticiário de futebol;
«Nas bocas do mundo»
que acompanhava a atividade das «emissoras portuenses»;
«Peças e Fitas»,
secção dedicada ao teatro;
«Rés-do-chão.
Balancete da semana», uma crónica em verso;
«Escola do Cadela»,
apontamentos de cultura geral;
«Meio conto por
semana ou 500$00 de prosa»;
«Farrapos da ciência»;
«Viagens
Maravilhosas»;
«Arte de bem
redigir»;
«Mariaritadas»;
«ANUNCIOS da Maria
Rita», entre outras.
Humor (1) do “Maria Rita” em 1932
Humor (2) do “Maria Rita” em 1932
Capa do Último “Maria Rita”
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