A história do Coliseu Porto começa antes mesmo da construção
do seu edifício em 1941.
O Salão Jardim Passos Manuel foi o precursor da grande sala
que hoje conhecemos, e foi este espaço que começou por moldar os hábitos de
entretenimento da sociedade portuense do início do século passado.
Em permanência, actuava uma orquestra e dois sextetos.
Sobre o Jardim Passos Manuel, inaugurado em 1908 e encerrado
em 1938, pode ler-se no site: “coliseu.pt”,
“Um local
elegante, com amplos jardins, que proporcionava todo o tipo de entretenimento.
Tinha um jardim-esplanada, um cinematógrafo, uma sala de "loto"
(espaço que hoje é ocupado pelo cinema Passos Manuel), um cinema ao ar livre,
quiosques, um restaurante de luxo, um café de negócios, um café-concerto onde
actuavam permanentemente uma orquestra e dois sextetos, um salão de festas, um
clube nocturno, um coreto em forma de concha onde tocavam as bandas
filarmónicas e um parque para as crianças. Estar no Porto e não ir ao Jardim
Passos Manuel era como ir a Paris e não ver a Torre Eiffel ou ir a Roma e não
ver o Vaticano.
O espaço era de
tal forma importante para a cidade, que até se cunhou uma moeda própria, aceite
nas lojas e cafés das redondezas
Moedas “cunhadas” pelo “Jardim Passos Manuel”
Entrada para o “Jardim Passos Manuel”, no local em que hoje está o
Coliseu do Porto
Sobre o Jardim Passos Manuel, inaugurado em 1908 e sobre a actividade
do seu animatógrafo, dizia a revista “Cine-Revista” de 1 de Julho de 1912:
“Trazendo-nos de
assombro em assombro, a casa Gaumont projectou na semana finda, no écran do
Jardim Passos Manoel, uma autêntica maravilha da cinematografia.
Falamos do film
«Ouro que fascina e mata», e bastará uma enunciação rápida da sua afabulação
para dar a quem o não viu ideia clara da nova obra, formidável de fantasia e
encenação que a casa Gaumont acaba de realizar.
Nunca, talvez, a
sensação de vertigem foi tão nitidamente transmitida e espectadores da
cinematografia.”
Anúncio do Jardim Passos Manuel
Publicidade ao Jardim Passos Manuel, 1910
Em 19 de Dezembro, no local do Jardim Passos Manuel, nascia, fruto do
investimento de 11000 contos, o Coliseu do Porto.
Planta do Coliseu do Porto
Em 1946, num Tripeiro V Série-ano-I, escrevia-se:
«Em 19 Dezembro de 1941, foi inaugurado o Coliseu do
Porto. Ar solene, de gala, e um ambiente de justificada curiosidade.
O interesse despertado durante os 22 meses que demorou a sua construção, pôs os portuenses num estado de espectativa ansiosa pelas maravilhas que já dele se contavam.
De facto, ao abrir as suas portas, o Coliseu foi, para todos, uma revelação. O Porto sentiu-se mais orgulhoso de si por poder mostrar que no seu seio, existe ainda, como outrora, o espirito votado a grandes revelações.
Como Casa de espectáculos para as modalidades de teatro, cinema e circo, o Coliseu do Porto tanto honra o País, como honraria qualquer grande cidade da Europa. Cá, não sofre confrontos; lá fora, poucas com ele rivalizam.
A ideia de dotar o Porto com um Coliseu, com o seu Coliseu, vinha de longa data e constituía uma das mais justas aspirações da cidade. Já desde 1911 que se vinham fazendo estudos e tentativas para isso. No entanto, só ao cabo de trinta anos, essa ideia encontrou quem a materializasse, não só com a forma do nosso tempo, mas também com uma larga visão do futuro.
O incansável propagandista e infatigável animador da sua construção, que se chama João José da Silva, tinha encontrado quem o compreendesse na pessoa do Sr. Joaquim José de Carvalho, presidente do conselho de Administração da Companhia de Seguros Garantia, cuja perseverança e vontade se igualaram, em altura e grandeza, ao sonho de João Silva.
E foi deste modo que o Porto teve o seu Coliseu. Três nomes se aliam, convém não esquecê-lo, aqueles dois: os de Raul Marques, Adão Vaz e Conde da Covilhã, também do Conselho de Administração da mesma Companhia, os quais, contagiados pelo fluxo da própria ideia, igualmente concorreram para a sua magnífica consolidação.
A construção do Coliseu do Porto veio, ainda, demonstrar o quanto de útil e de grandeza da nossa terra se poderia projectar com o formidável potencial financeiro que para aí está parado, em parte, até, ingloriamente gelado, nos cofres da Banca portuense!
O interesse despertado durante os 22 meses que demorou a sua construção, pôs os portuenses num estado de espectativa ansiosa pelas maravilhas que já dele se contavam.
De facto, ao abrir as suas portas, o Coliseu foi, para todos, uma revelação. O Porto sentiu-se mais orgulhoso de si por poder mostrar que no seu seio, existe ainda, como outrora, o espirito votado a grandes revelações.
Como Casa de espectáculos para as modalidades de teatro, cinema e circo, o Coliseu do Porto tanto honra o País, como honraria qualquer grande cidade da Europa. Cá, não sofre confrontos; lá fora, poucas com ele rivalizam.
A ideia de dotar o Porto com um Coliseu, com o seu Coliseu, vinha de longa data e constituía uma das mais justas aspirações da cidade. Já desde 1911 que se vinham fazendo estudos e tentativas para isso. No entanto, só ao cabo de trinta anos, essa ideia encontrou quem a materializasse, não só com a forma do nosso tempo, mas também com uma larga visão do futuro.
O incansável propagandista e infatigável animador da sua construção, que se chama João José da Silva, tinha encontrado quem o compreendesse na pessoa do Sr. Joaquim José de Carvalho, presidente do conselho de Administração da Companhia de Seguros Garantia, cuja perseverança e vontade se igualaram, em altura e grandeza, ao sonho de João Silva.
E foi deste modo que o Porto teve o seu Coliseu. Três nomes se aliam, convém não esquecê-lo, aqueles dois: os de Raul Marques, Adão Vaz e Conde da Covilhã, também do Conselho de Administração da mesma Companhia, os quais, contagiados pelo fluxo da própria ideia, igualmente concorreram para a sua magnífica consolidação.
A construção do Coliseu do Porto veio, ainda, demonstrar o quanto de útil e de grandeza da nossa terra se poderia projectar com o formidável potencial financeiro que para aí está parado, em parte, até, ingloriamente gelado, nos cofres da Banca portuense!
O quanto, em obras de interesse imediato e duradoura
projecção, se poderia fazer com as astronómicas somas que constituem as
reservas das grandes empresas nacionais!
Só por isso - por inteligentemente e utilmente terem aplicado a uma obra de valorização citadina, as disponibilidades financeiras da "Garantia" -, os nomes apontados merecem a simpatia de todos os portuenses, verdadeiramente amigos do progresso da sua terra.
Pode parecer reclamo, mas não é. Regista-se um facto e tira-se dele a sua conclusão lógica. Com as reservas duma empresa, o Porto ganhou um monumento, no género, hoje, único no País, de que os "Tripeiros" se orgulham. Isso é o que interessa ser focado nesta página.
O Coliseu com os seus 3300 lugares espaçosos, honra a cidade. A técnica moderna aplicou ali tudo quanto uma casa de espectáculo exige nos nossos dias. A higiene e o conforto, tanto para o público como para os artistas, ali se encontram também aplicados, de harmonia com as exigências do nosso tempo. à grandiosa construção, ainda, ligados os nomes do Engº Teixeira Rego e Arquitectos Júlio de Brito, Cassiano Branco e Mário Abreu.
Concluindo: sob as ruínas do velho "Passos Manuel", de tão velhas como gloriosas tradições portuenses, pede a generosa vontade dos homens, com o dinheiro duma das maiores empresas portuenses a "Garantia" -, erguer uma das mais modernas, das mais belas e das mais grandiosas do Porto e de Portugal. Bem hajam!»
Só por isso - por inteligentemente e utilmente terem aplicado a uma obra de valorização citadina, as disponibilidades financeiras da "Garantia" -, os nomes apontados merecem a simpatia de todos os portuenses, verdadeiramente amigos do progresso da sua terra.
Pode parecer reclamo, mas não é. Regista-se um facto e tira-se dele a sua conclusão lógica. Com as reservas duma empresa, o Porto ganhou um monumento, no género, hoje, único no País, de que os "Tripeiros" se orgulham. Isso é o que interessa ser focado nesta página.
O Coliseu com os seus 3300 lugares espaçosos, honra a cidade. A técnica moderna aplicou ali tudo quanto uma casa de espectáculo exige nos nossos dias. A higiene e o conforto, tanto para o público como para os artistas, ali se encontram também aplicados, de harmonia com as exigências do nosso tempo. à grandiosa construção, ainda, ligados os nomes do Engº Teixeira Rego e Arquitectos Júlio de Brito, Cassiano Branco e Mário Abreu.
Concluindo: sob as ruínas do velho "Passos Manuel", de tão velhas como gloriosas tradições portuenses, pede a generosa vontade dos homens, com o dinheiro duma das maiores empresas portuenses a "Garantia" -, erguer uma das mais modernas, das mais belas e das mais grandiosas do Porto e de Portugal. Bem hajam!»
Após o sarau de
gala de inauguração do Coliseu do Porto, realizaram-se ao longo dos anos,
espectáculos que ficaram na memória de muitos.
“Desde logo a programação dava particular atenção à
ópera, ao ballet e aos espetáculos de variedades. Um ecletismo que faz parte do
ADN desta sala. Da década de 40 até ao final dos anos 60, pisaram o palco do
Coliseu figuras como Beatriz Costa, Marcel Marceau, Hermínia Silva, Rudolf
Nureyev, entre tantas outras. As óperas La Bohème e Rigoletto pela Orquestra
Sinfónica Nacional e pela Escola do Corpo Coral do Teatro São Carlos, os filmes
musicais West Side Story e Música no Coração, e o Festival da Canção Portuguesa
são exemplos da popularidade de alguns géneros artísticos à época.”
Fonte: “coliseu.pt”
No que às óperas
diz respeito, em Maio de 1945, são apresentadas as óperas “La Bhoème” de Bizet
e “Rigoletto” de Verdi, pela Orquestra Sinfónica Nacional e pela Escola do Corpo
Coral do Teatro de S. Carlos;
Em Fevereiro de
1946, o “Elixir do amor” de Donizette e o “Trovador” de Verdi, pela Grande
companhia de Ópera Italiana, dirigida por Ino Savini;
Em 1950 “Tosca” de
Pusccini e Rigoleto de Verdi;
Em Dezembro de
1959, “Rosas de todo o ano” e “O Cavaleiro das mãos irresistíveis”, pela
Companhia de Ópera portuguesa”;
Já em 1990,
apresentou-se a ópera de Pequim.
O tenor Beniamino Gigli também passou pelo Coliseu do Porto.
Assim, em 3 de Março de 1947, seria a estreia da Grande Companhia Lírica Italiana, no Coliseu do Porto, cantando o tenor italiano, Beniamino Gigli, a "Aida" de Verdi, em homenagem à Armada Real Britânica que, por essa altura, estava de visita à cidade e que, passados três dias, era presenteada com um baile de gala no Palácio da Bolsa.
“De acordo com os
dados recolhidos por um dos seus mais recentes biógrafos, Luigi Inzaghi, Gigli
terá visitado Portugal só depois da Guerra, por quatro ocasiões – 1946, 1947, 1948 e 1955 –, as primeiras das três apresentando-se tanto em Lisboa (São
Carlos, Coliseu dos Recreios, Tivoli) como no Porto (Rivoli, Coliseu e no, já então, Cinema São
João, no qual, a 10 de Março de 1947, realizou uma récita de beneficência,
seguida da apresentação do seu filme Mamma).
O ano de 1948 é
particularmente extraordinário, porque, primeiro em Lisboa, depois no Porto, de
seguida de volta a Lisboa, com uma passagem por Évora, Gigli permanece em
Portugal entre 19 de Fevereiro e 8 de Maio, participando em 12 óperas, além de
concertos.”
Cortesia de Paulo Eduardo Carvalho
Entretanto, no
estilo da zarzuela (estilo musical e teatral tipicamente espanhol), pode ser
referida a 1ª temporada, em 1945, em Novembro, com a actuação da “Grande
Companhia Sagi-Vela”.
Na dança é de
destacar, em 1961, o “Ballet do Marquis de Cuevas”, em 1962, o “London’s Royal
Ballet”, com Margot Fontayne e Rudolf Nureyev e, ainda, o “Ballet de câmara de
Paris”.
A partir dos anos
70, sucederam-se as actuações de companhias soviéticas.
Na música clássica
são de destacar as actuações de dois meninos, Roberto Benzi e Pierino Gamba,
dois prodígios.
Sobre os músicos Roberto Benzi e Pierino Gamba, alguém que
assistiu aos espectáculos, em 1950, escreveu:
“Assistimos, maravilhados, aos concertos
dados, em 1950, por estes dois meninos, prodígio, maestros de orquestra,
a dirigir as Orquestras do Porto e a Nacional. Foram noites inesquecíveis!”
Cortesia de Rui
Cunha, em “portoarc.blogspot.com”
De facto, Piero
Gamba (1936-2022), o menino-prodígio, esteve no dia 21 de Dezembro de 1948, no Coliseu do Porto, a dirigir a Orquestra Sinfónica de Madrid e, no ano seguinte, em Março, voltaria a visitar a cidade.
Então, vai actuar no Coliseu do Porto, nos dias 16 e 17 de Março de 1949, em concertos nos quais dirigiu a Orquestra Filarmónica do Conservatório de Música do Porto.
Na continuação da
sua visita à cidade, no dia 28 de Março de 1949, esteve presente no Teatro S.
João, dando um recital de piano na abertura da festa das "Pequenas Cantoras do Postigo do Sol", que vinham fazendo as delícias dos portuenses, nomeadamente, pelo seu desempenho, nas vésperas do Natal anterior quando, no Teatro S. João, actuaram sob a direcção de Virgílio Pereira.
No dia seguinte, Piero Gamba visitou o Orfeão do Porto, onde lhe foi oferecido o emblema de ouro da
colectividade.
Nos dois últimos
dias daquele mês de Março, o maestro dirigiu a Orquestra Sinfónica do
Conservatório em mais dois concertos, ainda no Coliseu do Porto.
Ainda, reportando à
música, em 5 de Novembro de 1954, Ino
Savini, regendo a orquestra Sinfónica de Música do Conservatório do Porto, apresenta Maria João Pires, uma menina com apenas 9 anos, cuja interpretação do concerto K:V. 246 de Mozart é considerada genial.
A 8 de Junho de 2009, o Coliseu do Porto assistiria a um
concerto que ficou registado em lápide.
Nesse dia, o Presidente da República agraciou Álvaro Cassuto
com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Santiago e Espada, durante a realização
de um concerto comemorativo dos 50 anos de carreira daquele músico (mais um
nascido no Porto), e homenageou-o, descerrando uma lápide no "foyer" do Coliseu.
Nascido no Porto, em 1938, Álvaro Cassuto diplomou-se em
director de orquestra pelo conservatório de Viena. A partir daí, adquiriu fama
mundial tornando-se assistente do famoso Leopold Stokowski junto da "American
Symphony" de Nova Iorque.
Como compositor, Álvaro Cassuto afirmou-se como um dos
compositores de destaque da vanguarda portuguesa dos anos 60.
(Continua)
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