sexta-feira, 14 de junho de 2019

25.51 Restaurantes icónicos na Rua do Campinho



Com a crescente onda de demolição de antigos prédios com os quais estávamos, há muito, familiarizados, fazendo surgir negócios virados para a maximização do lucro, está a desaparecer, não só património imobiliário, como unidades comerciais de diferentes ramos de negócio, com particular ênfase, na zona histórica da cidade.
Já que parece inglória a sua preservação física, procuremos, pelo menos, fixar alguma memória, através de algumas linhas escritas.


Restaurante “Irmãos Unidos” (Rua do Campinho, 13 e 15)


“A sua instituição vem de 16 de Março de 1941. E, desde aí, sempre se manteve num «lugar de proa». O seu asseio, a sua confecção, os pratos delicados e, ao mesmo tempo, populares, fizeram deste restaurante uma das «estrelas» da culinária portuense do século XX. E continua o seu labor, sempre na senda de bem servir. Várias salas belamente adornadas, dão-lhe um toque chique, embora com ressaibos dum passado saudoso. Ali, patentes, os dias de glória, que se misturam aos do refrigério do presente.
Duma confecção excelente (iscas, por exemplo), toda a ementa tem dignidade. Não é por aqui que o «gato vai às filhós». E as sobremesas? O pudim francês?”
Cortesia de Guido Monterey, In “Porto 2.”



Restaurante “Irmãos Unidos” – Ed. Guido de Monterey



Hoje, o restaurante “Irmãos Unidos” é, só, uma memória.
Aproveitando as instalações existentes, que foram remodeladas, está um outro estabelecimento – o “Restaurante Senhor Zé”- cujo proprietário é alguém, desde muito jovem, ligado ao ramo da restauração, tendo começado, por sinal, também, na Rua do Campinho, mesmo defronte e sendo, aqui chegado, com 15 anos de idade, vindo de Arouca.
Assim, quase quatro décadas depois, José Canelas (senhor Zé) e Maria da Soledade voltavam bem perto do local onde tinham trabalhado, se conheceram e casaram – O “Restaurante Montenegro”, vulgo “Mamuda”.
Por isso, desde 1980, abraçaram um outro projecto, ainda na área da restauração, na Rua da Alegria, esquina com a Rua do Moreira – “A Casa Nanda”, com uma empregada (Fernanda) da “Mamuda” que daria nome à casa, mas, cuja sociedade acabaram por abandonar, naturalmente, em 2018.
O casal ocupou, então, as instalações dos “Irmãos Unidos”, com o objectivo de continuar a confeccionar as refeições tradicionais da cozinha portuguesa e a servir os seus clientes, com a qualidade habitual.


Restaurante “Casa Nanda” na Rua da Alegria – Fonte: Google maps



Restaurante Montenegro (Mamuda)


Este restaurante situado na Rua do Campinho, fronteiro ao que é hoje o “Restaurante Senhor Zé”, caracterizava-se pela excelente cozinha, com fama também na capital e pela figura da cozinheira, apoiada e ajudada por uma sobrinha (Maria da Soledade, natural de Cabeceiras de Basto).
Os traços físicos da dona e cozinheira faziam jus ao nome – a “Mamuda”.
Conta-se, a propósito, uma história acontecida com o artista Vasco Santana, que visitava frequentemente a cidade para apresentar os seus espectáculos de revista.


«Vasco Santana, o inesquecível actor cómico português, que os mais novos só conhecem dos filmes antigos nacionais que a nossa TV por vezes apresenta, era um bom "gourrat" e um óptimo apreciador da boa mesa, o que fazia jus ao seu volumoso físico...No Porto, terra com bons restaurantes e largas tradições culinárias, andava sempre à cata de lugares onde melhor se pudesse comer.
Ouvindo falar certo dia na "Mamuda", nome porque era conhecido um restaurante de grande fama, o "Restaurante Montenegro", … e que era assim apelidado em virtude da dona ter sido por Deus dotada com volumoso peito capaz de fazer inveja, em "patriotismo", à própria Maria da Fonte ou Padeira de Aljubarrota, quis saber onde ficava, para lá ir com os amigos e colegas da "companhia".
Explicaram-lhe o caminho para lá, mas o nosso Vasquinho não deu com a casa e teve de perguntar.
Logo por azar foi informar-se com a própria:
"É capaz de me dizer, por favor, onde é que fica a "mamuda"? - perguntou com toda a delicadeza.
"Mamuda" era a p... que o p...!" - respondeu-lhe a visada que nem tinha papas na língua nem gostava que lhe bulissem nas..., no..., enfim, no apelido...
E logo o Vasco Santana, voltando-se para os parceiros, que tinham ficado à espera:
"Ó rapazes!...É mesmo aqui...!"»
Fonte: “freamundense.blogspot.com/”

Para a “Mamuda” convergiam muitas figuras ligadas ao teatro e ao fado como o saudoso Vasco Santana, Raúl Solnado e Amália Rodrigues entre outros.


Vasco Santana e Beatriz Costa


O Restaurante Montenegro foi aberto na década de 40, por Manuel Soares Montenegro, natural de Arouca, vindo de uma tasca da Rua de Cima de Vila, tendo sido passado, pouco tempo depois, para as mãos de Bernardino Campos (à data um empregado de mesa do vizinho “Restaurante Ribeiro”, sito na Praça dos Poveiros), irmão da famigerada “Mamuda”, cujo nome por casamento era, Maria das Dores Montenegro, natural de Chaves.
Este projecto não vingaria e o restaurante voltaria para as mãos Manuel Montenegro, tendo durado até 1982, um ano após o falecimento da Maria das Dores, tendo estado, no último ano, com a gerência de Teresa de Jesus, irmã de Maria da Soledade que, também fazia, há muitos anos, parte dos que trabalhavam na “Mamuda”.


À direita da foto era a “Mamuda”, com a Praça dos Poveiros, ao fundo – Fonte: Google maps


Deste restaurante, ainda haverá quem se lembre da porta de entrada de vaivém e duma outra do mesmo estilo, que fazia a separação das duas salas de refeição existentes e, ainda, do seu janelão característico, que abria amplas vistas para a cozinha.
Outros se lembrarão que, no fim das refeições, sentado numa mesa, Manuel Soares fazia as somas necessárias para obtenção das contas dos clientes.

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